sábado, 12 de janeiro de 2013

DEUS SEGUNDO SPINOZA


“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.

Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?

Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?

Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.

A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre.

Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.

Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.

Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.

Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.

Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me!

Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.

A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.

Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora!

Não me acharás.

Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti".

Baruch Spinoza.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Três cartas ao prefeito

Abro a primeira coluna de 2013 com um brinde de Cesar Maia, o espirituoso político do DEM e um bom pensador de nossa cultura política. Conta ele o caso das três cartas a um prefeito.

O prefeito em fim de mandato entrega três cartas ao que assume, recomendando abri-las em cada crise. Primeira crise. O novo prefeito abre a carta e lê: "Coloque toda a culpa na herança perversa que recebeu". Na segunda crise, abrindo a carta, leu: "Mostre que há necessidade de ajustes no seu primeiro escalão e faça mudanças no secretariado". Na terceira crise, ao abrir a última carta, o prefeito se assustou ao ler: "escreva três cartas para seu sucessor".

Os bilhetinhos de Jânio

Recebo do amigo Luis Costa uma cópia em xerox do Livro "Bilhetinhos de Jânio", de autoria de J. Pereira, que foi assessor de imprensa do ex-presidente. Costa adquiriu esse livro em 14/9/1960. Vou juntar à coleção sobre Jânio, na qual desponta o meu amigo jornalista Nelson Valente, autor de uns 15 livros sobre a figura ímpar de Jânio da Silva Quadros. Duas historinhas do livro que recebo:

A morte

Por mais de uma vez, no Rio de Janeiro, noticiaram-se coisas a respeito da saúde precária de Jânio que, efetivamente, em várias ocasiões quase o levaram desta para melhor. Em determinada ocasião as emissoras cariocas chegaram a noticiar a sua morte. Os telefones dos Campos Elíseos não cessavam de tocar. Os jornais queriam saber o que se passava. Jânio, apesar de enfermo, enviou este "bilhetinho" ao chefe do seu Serviço de Imprensa, J. Pereira :

-Pereira. Declare àqueles que noticiam a minha morte, que tudo indica não ter o fato ocorrido, e tudo farei, ao meu alcance, para que não ocorra, nos próximos decênios. Pode acrescentar que, nascido em 1917, ainda continuo forte".

Passo inadmissível

Um "amigo e admirador" de Jânio, sr. Hamleto Rosato, por intermédio do deputado Athiê Jorge Curi, ofereceu a ele, a fim de integrar a coleção do "Zoo", um jaboti de curiosa espécie. Eis o "bilhetinho" de agradecimento:

-Prezado Hamleto. Agradeço o jaboti, que será enviado ao zoológico. Minha filha deseja-o, contudo, e por uns dias, no Palácio. Só vejo conveniência, eis que o bicho, no ritmo deste casarão, vai ter que andar mais depressa. Aqui não se admite "passo de tartaruga" ... Depois, já educado, terá aquele destino. Abraços".

Primeiros cenários

O Brasil abre 2013 sob chuvas de versões e uma seca cheia de grandes interrogações. Entre as versões: 1. Lula poderá vir a ser candidato em 2014; 2. Serra quer voltar a ser candidato e prepara-se para lançar novo partido com o deputado Roberto Freire; 3. Alckmin será empurrado para as prévias do PSDB, disputando com Aécio a candidatura à presidência; 4. Serra teria caminho livre para ser candidato ao governo de SP; 5. Eduardo Campos fecha com Dilma em 2013, mas deixa a porta aberta para se candidatar à presidência em 2014. Entre as interrogações: 1. PIB de 2013 passará dos 3%? 2. Haverá racionamento de energia, mesmo com os desmentidos da presidente Dilma e do ministro Lobão? 3. Eduardo Campos será mesmo candidato em 2014 ? 4. O PSD de Kassab ganhará mesmo o Ministério da Micro e Pequena Empresa? 4. O PMDB presidirá a Câmara e o Senado, garantindo o nome de Michel Temer como vice de Dilma em 2014? 5. As oposições terão alguma chance em 2014?

Primeiras respostas

A leitura das linhas e entrelinhas, sob a tessitura político-institucional e a colcha de conveniências e circunstâncias, permite oferecer as seguintes respostas: a. Lula não será candidato em 2014 nem a presidente da República nem a governador de SP. O país já não é o mesmo de seu tempo de mandatário; b. Serra poderá vir a ser candidato, mas não à presidência da República. Seu ciclo de vida nessa esfera esgotou-se; c. É pequeno o tempo para se formar um novo partido e disputar com ele a campanha de 2014; d. Aécio deverá ser mesmo o candidato tucano em 2014; e. Eduardo Campos quer permanecer em evidência. Para tanto, desdobra-se para agradar gregos e atrair troianos; f. PIB ínfimo terá consequências nefastas sobre a candidatura situacionista, favorecendo oposições. Mas o patamar de 3% é até confortável; g. PSD de Kassab ganhará Ministério; h. PMDB deve comandar as duas Casas legislativas; i. As oposições só terão chance em 2014 se a economia sair totalmente dos trilhos.

Disputa na Câmara

Henrique Eduardo Alves deverá ser eleito, com folga, para a presidência da Câmara dos deputados. Trata-se do parlamentar com o maior número de mandatos. Mais que preparado, Henrique sabe tudo de política, área em que teve um grande mestre: seu pai, Aluizio Alves, fundador da UDN, um dos quadros políticos mais brilhantes do país, ex-deputado, ex-governador do RN e ex-ministro. Henrique Alves chegará ao comando da Câmara, coroando um ciclo de vida no PMDB, onde faz parte do quadro dirigente. Trata-se de um parlamentar que conhece profundamente os meandros do Congresso Nacional. Júlio Delgado, o parlamentar do PSB mineiro, sai candidato por conta própria. Não tem o apoio da direção partidária. Já a deputada Rose de Freitas, atual vice-presidente da Câmara, tem o apoio do núcleo feminino, mas sua candidatura, caso a mantenha até o final, expressa mais um gesto simbólico.

Disputa no Senado

No Senado, a tradição é que a maior bancada tem direito a comandar a Casa. O PMDB possui a maior bancada. E no partido, quem agrega o maior número de votos é Renan Calheiros. Há uns quatro ou cinco senadores do partido que gostariam de eleger outro nome. Mas Renan faz uma boa maioria. Não há vetos a seu nome no âmbito do Palácio do Planalto. Logo, Renan é franco favorito.

Sociedade condenada

"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Filósofa russo-americana Ayn Rand, judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920).

Apagões I

O testemunho é de Iêdo Moroni, engenheiro da CHESF por mais de 20 anos, onde exerceu seis cargos comissionados. Veja o que diz sobre os apagões: "Se o sistema é radial, o apagão afeta apenas o trecho desligado, não ocorrendo os desligamentos em cascata como hoje ocorrem. ..A presidente está sendo enganada com essas desculpas dadas pelos gestores do NOS. Toda a culpa dos apagões é jogada nas linhas de transmissão, sempre em desfavor das descargas atmosféricas, acusadas como grandes vilãs....as linhas "acusadas" de serem desligadas por descargas atmosféricas são super dimensionadas para esses eventos, razão pela qual, é estranhável que sejam causas francas de apagões".

Apagões II

"...trocando em miúdos, a possibilidade de uma descarga atmosférica é probabilisticamente inexpressiva, e, caso isso venha a acontecer, o sistema deve ter a sua coordenação de proteção minimamente seletiva para isolar a linha e acionar alternativa que impeça o chamado efeito cascata. O resto é conversa para enganar a sociedade. Ocorre que o nosso setor elétrico está sendo administrado hoje politicamente, como é o caso da CHESF. O diretor de operações passou anos como especialista em previdência privada, e por ser militante do PT, foi guindado ao cargo. Antes dele todos os demais diretores de operação eram engenheiros formados no sistema operacional da empresa. Poderia até haver nomeações políticas, mas o indicado teria que possuir curriculum vitae compatível com o cargo a exercer... operação de sistema elétrico, por mais simples que ele seja, tem que ser comandada por técnicos preparados e experientes, pois trata-se da área mais importante da empresa por ser ligada diretamente ao bem-estar e à segurança da sociedade".

Repercussão geral

O julgamento do mensalão abrirá um ciclo de maiores cuidados na frente política. As Cortes Judiciais, das mais altas à primeira instância, deverão incorporar lições ético-morais e uma interpretação mais rigorosa das leis, tendo como baliza a decisão da Suprema Corte. Pode-se apostar na hipótese de melhoria nos aparatos políticos com seus costumes e práticas. A conferir.

DEM se afasta do PSDB

Está chegando ao fim o casamento entre DEM e PSDB. Demorou um bom tempo. O DEM percebeu que, ao lado dos tucanos, tem mais ônus que bônus. Vai passar um tempo olhando para os dois lados. Independente? Difícil. Pois os Demistas precisam, eles também, do adjutório (e adjutório forte) do governo Federal. ACM Neto que o diga. Aliás, o prefeito de Salvador promete dar uma grande mexida na administração municipal.

Ciro comentarista?

Ciro Gomes foi contratado pela rádio Verdes Mares para ser comentarista esportivo. Este analista tem pequena observação: como comentarista, Ciro será um político destinado a perder muitos pênaltis. Ou a ser flagrado em muitos impedimentos. Mas... como diz minha velha mãe: "nunca diga, desta água não beberei".

E o mensalão, hein?

Após o recesso, STF deverá concluir o julgamento do mensalão. Até parece que as coisas nessa área terminaram. Tem muita água a correr por baixo da ponte.

E os casos Cachoeira e Rose, hein?

O primeiro se veste do glamour social de uma lua de mel no paraíso tropical da Bahia; o segundo atravessa os corredores das convocações pela Justiça. Externamente, o primeiro parece ser um happy end. Quanto ao segundo, muitas interrogações no ar. Internamente, envolvidos devem estar com a cabeça fervendo.

Sérgio assume SESCON/SP e AESCON/SP

No dia 2 de janeiro, o empresário contábil Sérgio Approbato Machado assumiu a presidência do SESCON/SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo) e da AESCON/SP (Associação das Empresas de Serviços Contábeis) para 2013-2015. "Nosso trabalho será para reforçar e ampliar a posição das entidades em relação a temas de relevância para a sociedade, bem como valorizar e defender as categorias representadas em busca pela melhoria do ambiente empreendedor brasileiro", ressalta ele. A nova gestão reitera o compromisso na luta pela desburocratização, simplificação e redução da carga tributária e em prol do empreendedorismo brasileiro.

Foco da gestão

Um dos focos da nova gestão do SESCON/SP e da AESCON/SP será a ampliação do leque de serviços e opções visando a educação permanente. "O empresário e o profissional contábil estão no centro das grandes mudanças legislativas, tributárias e tecnológicas. Suas responsabilidades têm crescido gradualmente e uma de nossas missões é prepará-los para os constantes desafios", enfatiza Approbato Machado. A cerimônia oficial de posse das novas diretorias será no dia 18 de janeiro no Salão Nobre do Clube Atlético Monte Líbano.

Assessor de Hollande

O presidente da França François Hollande solicitou o conselho do jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Contratados, dois peritos em comunicações propuseram três soluções para reconquistar o coração dos franceses: vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio"); cuidar de sua atitude corporal; por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool; e atentar para sua roupa; exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada. (Observação de César Maia)

Graciliano Ramos

O velho Graça, monumento de nossa literatura, para quem não sabe, foi prefeito de Palmeira dos Índios/AL. Sabia fingir. Por sentimentalismo ou vergonha, finge-se mais áspero do que é, mais espinhoso que um mandacaru. Sertanejo magro, de ombros curvos, um cigarro ardendo entre os dedos ou na boca, de roupas simples mas asseadas, mãos limpas (em todos os sentidos). Cria fama de grosseiro por causa de diálogos como estes:

- Bom dia, mestre Graça.

- Você acha, meu filho?

Ou então:

- Mestre Graça, se a situação continuar desse jeito, vamos comer merda - diz-lhe o romancista José Lins do Rego, nos tempos da ditadura de Getúlio Vargas.

- Se sobrar pra nós, Zé Lins. Se sobrar...

Conselho aos novos prefeitos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes dos Poderes da República. Hoje, volta sua atenção aos novos prefeitos:

1. Priorizem os compromissos assumidos na campanha, escolhendo as ações imediatas e os programas de médio e longo prazo.

2. Exijam rígido controle de metas e programas a cargo das secretarias, fazendo cobranças periódicas.

3. Em sua situação de precariedade, como a que vivem os municípios, cortem despesas inócuas, projetos sem interesse social, ações personalistas e tentem diminuir os espaços de assistencialismo populista.

____________

(Gaudêncio Torquato)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

LUIZ GONZAGA - MUITO ALÉM DE UM SANFONEIRO (POR DIDEUS SALES)




Dia treze de dezembro
O mais extraordinário
Cantador e sanfoneiro
Que se tornara lendário
Por seu dom e sua saga,
O gênio Luiz Gonzaga,
Se tornará centenário.

Expoente da sanfona,
Arauto da alegria,
Mensageiro do Nordeste,
Apóstolo da melodia.
Nasceu o guri peralta
No dia em que se exalta
A virgem Santa Luzia.

Luiz Gonzaga nasceu
Na fazenda Caiçara
Em Exu, no Pernambuco,
De cor parda e mente clara,
Saiu de lá muito novo
Pra poder brindar o povo
Com sua criação rara.

Desde a infância mostrou
Para música vocação,
Aos oito anos fez sua
Primeira apresentação,
Com elegância e ternura
Mostrando desenvoltura
Pra futura profissão.

Na fazenda onde nasceu,
Na terra pernambucana,
Estreou feito um artista
Que se exibe e se ufana,
Perante muitos matutos
Sob os olhares argutos
De Januário e Santana.

Com brilhantismo tocou
E cantou a noite inteira,
Com permissão de Santana
Envaidecida e fagueira.
Vinte mil réis o cachê,
Suficiente pra que
Deixasse a mãe prazenteira.

E Luiz de Januário
Cada vez mais se apaixona
Pelo som da concertina
Confiando que a matrona
Conceda-lhe permissão
Pra fazer aquisição
Da tão sonhada sanfona.

O desenvolto Luiz
Gonzaga do Nascimento,
Com treze anos comprou
O seu primeiro instrumento,
E cheio de esperteza
Espalhou na redondeza
Seu carisma e seu talento.

No albor da adolescência
Peregrinou sem fadigas,
As cercanias do Exu
Levando suas cantigas
Adornadas de harmonia,
Derramando simpatia
Às camponesas amigas.

Por Nazarena Alencar
Gonzaga se enamora,
A família dela, contra,
Santana se apavora,
Dá em Luiz uma pisa,
E veloz que nem a brisa
Luiz decide ir embora.

Com decepção tamanha
Por essa paixão frustrada,
Com apenas dezessete
Anos pôs os pés na estrada.
Com pensamentos errantes,
Conquistou muitas amantes
E não quis mais namorada.

Mil novecentos e trinta,
Gonzaga sem avisar,
Deixa a casa dos seus pais
E a pé põe-se a viajar,
Vende o fole, com tristeza,
E se alista em Fortaleza
Pra o serviço militar.

Foi soldado por dez anos
Do Exército Brasileiro,
Chamado “Bico de Aço”
Por ser um bom corneteiro.
Serviu do Sul ao Pará,
Passou pelo Ceará,
Minas, Rio de Janeiro.

O soldado Nascimento
A liberdade proclama!
Planeja voltar pra casa,
Mas a vocação o chama
Pra da arte fazer parte,
E ganha através da arte
Prestígio, dinheiro e fama.

De volta à vida paisana
Decide então ser artista,
Toca em cabarés e bares,
Nesse tempo, instrumentista.
Quando resolve cantar
Aí começa a brilhar,
Logo sucesso conquista.

Entra no Rio tocando
Música internacional,
Usando terno e gravata,
Porém, com artesanal
Indumentária de couro,
Sanfona e gogó de ouro
Constroi fama nacional.

Pedro Raimundo lhe dera
Excelente sugestão:
Para usar seus paramentos
Simbolizando o sertão.
E o brilhante sanfoneiro,
Traja-se de cangaceiro,
Inspirado em Lampião.

Sofre muito antes da fama
Mas não desiste da luta,
Toca na Lapa e no Mangue
Pra boêmio e prostituta.
Só veio fama alcançar
Quando decidiu cantar
Autêntica canção matuta.

Após solar Vira e mexe,
Obra de sua autoria,
No programa Ary Barroso,
Com carisma e simpatia
Exibe talento inato,
Para gravar faz contrato
E o povo o reverencia.

E foi a RCA,
Gravadora conhecida,
Que ao nosso Luiz Gonzaga
Distinguiu e deu guarida.
E em retribuição,
Nela o Rei do Baião
Gravou quase toda a vida.

Apesar dos empecilhos
Gonzaga não desanima
E vai construindo o nome
Quando dele se aproxima
Um cidadão otimista,
O seu primeiro letrista,
Chamado de Miguel Lima.

No ano quarenta e cinco,
Dia onze de abril,
Gonzaga como cantor
Mostra voz forte e viril,
E foi Dança, Mariquinha!
Sua primeira modinha
Lançada para o Brasil.

Mulherengo incorrigível,
Luiz Lua não detinha
A libido, e vivia
Andando fora da linha.
Ao conhecer Odaleia,
Brotara-lhe a ideia
De ser pai do Gonzaguinha.

Pra bailarina Odaleia
Desenhara lindos planos,
Mas percebendo existir
Entre os dois muitos enganos
Entre atrito e dissabor,
Rompem o laço do amor
Ao completar cinco anos.

No ano quarenta e oito
Luiz um astro brilhante,
Com seus trinta e cinco anos,
Mais prudente e triunfante,
Já com fama nacional
Faz enlace conjugal
Com Helena Cavalcanti.

O sanfoneiro fiota
Gostava de fazer fita,
De despejar galanteios
Pra toda moça bonita.
Não resistindo o apelo,
Edelzuita Rabelo
Virou a sua “Zuíta”.

Com Odaleia viveu
Loucuras e fantasias,
Helena, porto seguro,
Deu-lhe algumas alegrias,
Com a doce Edelzuita,
Bem mais nova e mais bonita,
Viveu os seus últimos dias.

No ano quarenta e seis
A estrela se descerra,
Humberto e Luiz compõem
Xote No meu pé de serra,
Uma romântica mensagem
Rendendo bela homenagem
À sua querida terra.

A sorte se descortina,
Luiz desfralda a bandeira
Do baião, com um poeta
Chamado Humberto Teixeira,
Em ascensão muito franca,
Compuseram Asa branca,
Sucesso da vida inteira.

E Luiz não para mais
De cantar nosso sertão:
Hora do adeus, Maribondo,
Aí tem, Pássaro carão,
Xote ecológico, Pão duro,
Piriri, Forró no escuro,
Só xote e Faça isso não.

Apologia ao jumento
Do nosso Zé Clementino,
Fazenda Cacimba Nova,
Assum preto, Cantarino,
Sanfoneiro Zé Tatu,
Feira de Caruaru,
E Sangue de Nordestino.

Dezessete légua e meia,
Pau de arara, Sabiá,
Dezessete e setecentos,
Imbalança, Quero chá,
A letra I, Xanduzinha,
Juca, Beata Mocinha
Ovo azul e Boi bumbá.

Cantou Acácia amarela,
Adeus Rio de Janeiro,
Morena cor de canela,
A mulher do sanfoneiro,
Tropeiros da Borburema,
Mazurca, Adeus Iracema
E Vou te matar de cheiro.

Quer ir mais eu, Sou do banco,
O cheiro da Carolina,
Vem morena,Vira e mexe,
Lá vai pitomba, Juvina,
A Dança do Capilé,
Estrada de Canindé,
Xaxado e Cintura fina.

A Moda da mula preta,
Festa, Fole gemedor,
Baião Treze de dezembro
Compôs com muito fervor.
Forró no escuro solado,
Piauí, Feira de gado
E Xote machucador.

Cantou Xote das meninas,
Vaca estrela e boi fubá,
O Xote dos cabeludos,
Mamulengo, Macapá,
Minha fulô, Paraíba
Orélia, Mangaratiba
Cirandeiro e Mangangá.

Cantou Jesus sertanejo
De Janduhy Finizola,
Viu num campo imaginário
Dois Siri jogando bola,
E o baião foi criação
Inspirada no baião
Do cantador de viola.

As mazelas e encantos
Do Nordeste brasileiro
Luiz Gonzaga cantou
Em: A morte do vaqueiro,
Olha pro céu, Pé de serra,
Retratos de sua terra,
Paulo Afonso e Boiadeiro.

O seu repertório tem
Dos fãs, verdadeiro aprovo:
A vida do viajante,
Óia eu aqui de novo,
A noite é de São João,
A mulher do meu patrão,
Cantei e Canto do povo.

Manoelito cidadão,
Cabeça inchada, Café,
Aquarela nordestina,
Ai amor, Meu Chevrolet,
Conversa de boiadeiro,
De olho no candeeiro,
Xengo e Galo garnizé.

Não vendo nem troco, Nos
Cafundó de Bodocó,
Cortando pano, Juazeiro,
Caxangá, Qui nem jiló,
O Forró de cabo a rabo
Lá na casa do Zé Nabo,
Algodão e Siridó.

Légua tirana, Sangrando,
Fogueira de São João,
Sertão de aço, Vassouras
Erva rasteira, Erosão,
A Samarica parteira,
Sanfoninha choradeira
Pau de arara e Procissão.

Pra onde tu vai, baião?
Casamento improvisado,
Pra não morrer de tristeza,
Tambaú, Fole danado,
Flor do lírio, Acauã,
Menino de Braçanã,
Rosinha e Feira de gado.

Gravou xote Só se rindo
De Alvarenga e Ranchinho;
Clássico, Súplica cearense
De Gordurinha e Nelinho;
Do folclore, Boi bumbá,
E ainda Mané Gambá
Do grande Jorge de Altinho.

Seiscentas e vinte e cinco
Canções estão registradas,
Em compactos, LPs
E CDs todas gravadas
Com requintada harmonia,
Recheadas de poesia,
E muitas, bem divulgadas.

Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira fizeram escola.
Do baião, xote e xaxado
Foram propulsora mola.
Luiz em suas conquistas,
Deu vez a muitos artistas
Da sanfona e da viola.

Gonzaga ficou na história
Como o maior cantador,
Inigualável intérprete,
Excelente tocador,
Grande contador de histórias,
Músico que acumulou glórias,
Cantor e compositor.

Aos amigos, à família
E às origens foi fiel,
Gravou nossos cantadores
E poetas do cordel.
Por tudo mereceu louro,
Conquistou discos de ouro,
De platina e o prêmio Shell.

Da substantiva obra
Composta ao longo da vida,
Asa branca se tornara
Sua canção preferida,
E Respeita Januário
É do mesmo relicário
Junto d’ A triste partida.

Gonzaga foi um artista
Que sofreu, mas foi feliz,
Cantou no Brasil inteiro,
Fez shows também em Paris.
Com talento e competência,
Tornou-se uma referência
Musical deste país.

Um evento fulgurante
Desse artista tão fecundo,
E talvez, o que lhe tenha
Dado o prazer mais profundo,
Foi em oitenta, cantar,
Saudar e homenagear
O Papa João Paulo II.

Apesar da enorme fama,
Gonzaga guardou recato:
Zelava os colegas simples,
Não gostava de aparato.
Do Padre Cícero romeiro,
Ia sempre ao Juazeiro,
Mas gostava mais do Crato.

Luiz é um grande exemplo
De quem vai à luta e vence,
Tinha tática no percalço,
Sabia fazer suspense
E arquitetar todo plano.
Artista pernambucano
Do coração cearense.

Com sua sanfona branca
E a voz de espantar tristeza
Cantou da seca as agruras,
Do inverno a boniteza,
Cantou a fauna e a flora,
Por isso a menção aflora:
Cantador da natureza.

Na trajetória profícua
Desse artista nordestino,
Humberto Teixeira foi
Verdadeiro paladino;
Zé Dantas, de alto nível,
João Silva, imprescindível,
Fulgente, Zé Marcolino.

Zé Clementino sabia
Da poesia o segredo,
Muitos sucessos brotaram
Da inspiração desse aedo,
Patativa foi brilhante,
Onildo Almeida, importante,
Notável, Téo Azevedo.

Gravou Venâncio, Cecéu,
Julinho, Orlando Silveira,
Caymmi, Vandré, Caetano,
Luiz e Pedro Bandeira.
Luiz Ramalho, obra imensa...
Capiba, Nelson Valença,
Gil e Jurandir da Feira.

Grandes cantores famosos
Que fizeram gravação
Nos anos oitenta têm
Do Rei participação,
Fagner, um dos mais ariscos,
Único a gravar dois discos
Com nosso rei Gonzagão.

Em seu trajeto pisou
Muitas flores e espinhos,
Vários e grandes colegas
Adornaram seus caminhos
De emoções e alegrias,
Como Osvaldinho, Abdias
Marinez e Dominguinhos.

O grande Pedro Raimundo,
Zé Calixto, uma bandeira!
Dois ícones incontestáveis
Da sanfona brasileira.
Sivuca, Hermeto Paschoal,
Waldonys que é magistral,
Borghetti e Luiz Vieira.

Noca, Pedro Sertanejo,
Zé Ramalho, Gonzaguinha,
Anastácia, Alceu Valença,
Ary Lobo, Gordurinha,
Benito, Nelson Gonçalves,
Zé do X, Carmélia Alves,
Do baião nossa raínha.

Desde menino Luiz
Não foi covarde ou servil,
Com habilidade e arte
Conquistou todo o Brasil,
Dentre seus fãs de talento,
Elba, Milton Nascimento,
João Cláudio, Caetano e Gil.

Fora ídolo dos ídolos
Por sua grande expressão,
Semeador de concórdia,
Embaixador do sertão,
Músico de estro fecundo
Que deu mais beleza ao mundo
Com as cores do baião.

Em meio século de arte,
Só tendo sido prodígio,
Luiz fez algumas pausas
Mas nunca perdeu prestígio.
Em tantas léguas de glória,
Não se acha em sua história,
De mácula, menor vestígio.

Em Recife, dois de agosto
De oitenta e nove, o ano,
O nosso Luiz Gonzaga
Despediu-se deste plano,
E sem gibão nem chapéu
Foi cantar baião no céu
Na mansão do Soberano.

Soube ornamentar de glória
Sua vida e seu roteiro,
Com virtude e maestria,
Do baião foi pioneiro.
Pelo que deu ao País
Posso afirmar que Luiz
Foi além de um sanfoneiro.

(Dideus Sales)

domingo, 6 de janeiro de 2013

ORAÇÃO DE MAHATMA GANDHI


"Senhor,

Ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos.

Se me dás fortuna, não me tires a razão.

Se me dás o sucesso, não me tires a humildade.

Se me dás humildade, não me tires a dignidade.

Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda, não me deixes acusar o outro por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim.

Ensina-me a amar aos outros como a mim mesmo.

Não deixes que me torne orgulhoso se triunfo, nem cair em desespero se fracasso.

Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede ao triunfo.

Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança é um sinal de baixeza.

Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso.

Se eu ofender às pessoas, dá-me coragem para desculpar-me e se as pessoas me ofenderem, dá- me grandeza para perdoá-las.

Senhor, se eu me esquecer de ti, nunca te esqueças de mim!"

A FESTA DO SANTO REIS -TIM MAIA