sábado, 4 de maio de 2013

CONFLITO ENTRE A PERSONALIDADE E A ALMA (Mensagem encontrada na porta de um Consultório)


A enfermidade é um conflito entre a personalidade e a alma.

O resfriado escorre quando o corpo não chora.

A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.

O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.

O diabetes invade quando a solidão dói.

O corpo engorda quando a insatisfação aperta.

A dor de cabeça deprime quando... as duvidas aumentam.

O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.

A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.

As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.

O peito aperta quando o orgulho escraviza.

A pressão sobe quando o medo aprisiona.

As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.

A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.

Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra.

O câncer mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver.

E as dores caladas? Como falam em nosso corpo? A enfermidade não é má, ela avisa quando erramos a direção.

O caminho para a felicidade não é reto, existem curvas chamadas Equívocos, existem semáforos chamados Amigos, luzes de precaução chamadas Família, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada Decisão, um potente motor chamado Amor, um bom seguro chamado Determinação, abundante combustível chamado Paciência. Mas principalmente um maravilhoso Condutor chamado Inteligência.

(Enviada por Wellington Gandhi)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Infame, mas engraçada.......!

Abro a coluna com a historinha de um jogador de nome não tão afrancesado como se pode concluir pela fonética.

Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no RN. Um dia, disputava no Machadão, em Natal, uma partida contra o Potiguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da Rádio Poti gritava: "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". O jovem repórter estava enfeitiçado com as diabruras daquele que, em sua imaginação, acabava de chegar da França. Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, o jornalista jejuno da Rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas: "Você tem parentes na França? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur? Como veio parar no Brasil? Pode comparar o futebol europeu com o futebol brasileiro? Qual a origem de seu nome? Como veio parar logo aqui no RN? Como foi sua contratação? Perplexo, espantado, sem saber como responder, o jogador tascou a resposta ao incrédulo repórter: "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso; o sinhô se inganou; meu apelido é Cu de Rã, mas como num pode falar na rádio, então, eles abreveia".

(Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes)

Ecos de Comandatuba

O mais abrangente Fórum de Empresários e políticos é seguramente o de Comandatuba, que o vibrante e incansável João Dória comanda há mais de uma década. Ali, empresários de grande e médio porte se reúnem com políticos de todos os calibres para debaterem aspectos da vida brasileira. São temas do mais alto interesse, como o deste último Fórum, que propiciou análise exaustiva dos eventos esportivos que vitaminarão a economia brasileira nos próximos anos: Copa do Mundo e Olimpíadas. Ministros, governadores, senadores, deputados e prefeitos de capitais acorrem ao convite de João. Empresários saem satisfeitos com o nível dos debates. E com a presença do vice-presidente da Republica, Michel Temer, que prestigiou a entrega das homenagens aos 10 empresários escolhidos pelo Lide. Temer chegou na hora do jantar e voltou à Brasília na mesma noite. Com a agenda voltada para a distensão entre o Congresso e o STF.

Crença e otimismo

O Fórum mostrou a confiança dos empresários no futuro do país. Quem resumiu este posicionamento de esperança e fé foi o empreendedor André Esteves, do BTG, que falou em nome dos agraciados do Lide. Mas as conversas interpessoais - pelo menos é o que este consultor pinçou - exibiram o otimismo. Ficou clara a necessidade de aperfeiçoamento das instituições. Críticas não faltam. O presidente do Congresso, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, falaram de seus programas e ações, sem deixar de reconhecer as dificuldades de avançar sob o escudo do consenso. Fizeram ambos uma boa peroração.

Vamos à política

Havia grande curiosidade em descobrir o que se passa na cabeça do governador Eduardo Campos. Este consultor, sentado na mesa em que ele se encontrava, domingo à noite, não encontrou espaço para fazer uma investida. Ficou nas conversas laterais com o prefeito Márcio Lacerda, de BH, e ACM Neto, de Salvador. Ambos estão fazendo avançar a administração. Neto importou de SP o duro e intransigente secretário das Finanças, Mauro Ricardo, que está botando ordem na casa. Lacerda, um empresário, governa com os olhos no conceito de racionalidade e eficiência.

"Minha régua não está funcionando"

Na segunda, após o Seminário, peguei Eduardo Campos pelo braço e joguei a pergunta que não queria calar: "governador, numa escala de 0 a 100, qual é possibilidade de sua candidatura à presidente em 2014?" Olhou-me com cara de surpresa, riu sem graça, e tascou a resposta: "minha régua de avaliação não está funcionando". Dudu escapou como enguia ensaboada. Não desisti. Dei uma cordinha: "governador, você só tem a ganhar. Mesmo se perder, ganha. Perdendo, você coloca seu carro no caminho de 2018". Voltou a arregalar os olhos azuis, riu mais uma vez sem graça e fechou o bico. Não disse Sim nem Não. Insisti: "você está ocupando o lugar que era de Aécio. Não percebeu? É a bola da vez". E ouvi um balbuciar de quem queria correr dali: "é muito cedo, é muito cedo para tomar qualquer decisão". Voltou para seu Pernambuco cheio de incógnitas. E mais calado ainda.

Será, sim

Este consultor encaixou as respostas e não respostas no seu sistema cognitivo, sacudiu a cabeça para um lado e outro, e concluiu: "Eduardo Campos não tem mais como recuar. Já andou um bom bocado. Será candidato".

Serra não sai?

Ouve-se na floresta tucana: "Serra não sai do PSDB. Apenas faz jogo de cena". Sei não. Serra não quer enfrentar novos desafios?

Rebelo, sereno e harmônico

O ministro Aldo Rebelo, do Esporte, mostrou-se uma pessoa preparada e com respostas objetivas e assertivas. Tem dados, corre o país, sabe o estágio das obras, mostra as dificuldades e aponta caminhos. Não perde a serenidade e a harmonia. Foi o interlocutor mais denso do Fórum. Um bom ministro. Conhece como ninguém a realidade brasileira. Está entre os melhores do governo Dilma.

Gil, 46 anos depois

Gilberto Gil é como vinho envelhecido: quanto mais anos no barril, melhor. O show que deu em Comandatuba sacudiu a moleza deste consultor. Uma hora de belos e grandes clássicos musicais, acompanhado de uma grande orquestra. Pequena, mas vibrante. Depois do show, no relax do bar, quando conversava com seu amigo Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, sempre uma ótima companhia, este consultor se aproximou para descrever uma imagem que conserva há 46 anos na cuca: "editor dos Suplementos Especiais da Folha, um dia, na Alameda Barão de Limeira, 620, peguei o elevador no 6º andar e no 4º, entrou você, Gil, com um violão nas costas. Tinha uma barba espessa, muito bem aparada. Trocam as rápidas palavras. Você dizia que acabara de dar uma entrevista para o jornal Última Hora (ainda do Samuel Wainer), naquela época, arrendado pela Folha". Imagem que guardo do Gil.

Que saudades!

Época dos Festivais da Record. Época da trajetória inicial de Gil, Caetano e Chico. Da Galeria Metrópoles. Do Bar sem Nome (onde Chico tomava seus birinaites...), ali na dr. Vilanova, onde eu morava num pequeno apartamento, exatamente na esquina da major Sertório com dr. Vilanova. Gil ouviu o relato. Última Hora, Folha, Barão de Limeira pareciam ainda frequentar sua cabeça. O episódio, claro, desmanchou-se no vácuo da Memória. Que tempos. Que saudades. De Domingo no Parque, de Gil. E Alegria, Alegria, de Caetano, que ouvi, pela primeira vez, ali perto, na rua Duque de Caxias, do som de um radinho de pilha. Na manhã esplendorosa de um domingo. Naqueles tempos, inaugurávamos os Suplementos Especiais da Folha com a coleção "Grande São Paulo: O Desafio do Ano 2.000". Época do jornalismo interpretativo. Revista Realidade e Veja. Época do Jornal da Tarde. Mino Carta e equipe.

Um papo inteligente

Luiz Fernando Furlan, um papo agradável e inteligente. Um empresário que mistura sapiência, experiência e simplicidade. Ex-ministro do Desenvolvimento, presta um grande serviço à causa do empreendedorismo.

Anos boêmios

Vivíamos anos de chumbo. O medo rondava nossos dias e noite. Nas aulas que dava na ECA/USP e na Cásper Libero, eu vigiava as palavras. Havia censores por todos os lados. Mas a boemia nos levava para cantinhos inesquecíveis: os bares charmosos da Galeria Metrópole, onde, vez outra, Chico Buarque dava suas "canjas"; O Jogral, na Avanhandava, onde, depois de uma noitada regada a uísque, cigarro e amendoim, ouvindo Clementina de Jesus, tive a maior ressaca de minha vida. Ótimo: criei abuso ao cigarro. Deixei de fumar. Quem, naquela época, não gostava de ouvir Geraldo Cunha, com seu violão, no III Whisky, na rua Santo Antônio, lá pelas 10 da noite? Ah, quantos bares cheios de charme: Baiuca, Oasis (do hotel Cambridge, o Captain's do hotel Comodoro, o Stardust, Cave, Juão Sebastião Bar. E aquele barzinho de um nordestino gorducho (esqueci o nome), na Praça da República, onde a cerveja ganhava a companhia de codornas importadas do Ceará? Lembra-se, Audálio Dantas? Onde anda José Carlos Marão, que teve uma passagem cheia de brilho na Veja e na revista Quatro Rodas? Garibaldi Otávio, Gari, esse eu sei que voltou para a terrinha, Recife. Paro por aqui. Quanta gente boa...!

PEC 37 sob custódia

Mais uma vez, o bom senso aterrissou na Câmara dos Deputados. Henrique Alves, presidente da Casa, mandou sustar a PEC 37, aquela que retira o poder do Ministério Público de executar diligências e investigações, podendo apenas solicitar ações no inquérito e supervisionar a atuação da Polícia. Henrique criou um grupo para analisar detidamente a PEC, composto por deputados, senadores, representantes do governo e das Policias e do MP. Dentro de 30 dias, será apresentada proposta alternativa. A questão é polêmica. O MP não teria imparcialidade para investigar, eis que é o responsável pela acusação nos processos criminais. Ademais, também é criticado por espetacularizar as ações. Abusos têm sido cometidos. Procuradores e promotores temem expansão da impunidade, já que o cidadão não tem a quem recorrer em casos de omissão da polícia. Vai ser difícil chegar ao consenso. Mas o esforço se faz necessário.

CLT, 70 anos

A Consolidação das Leis do Trabalho chega aos 70 anos caducando. E exibindo moldura disforme : 20% de toda a mão de obra do país não dispõe de carteira assinada, representando 18,6 milhões de admitidos ilegalmente, não sendo atingidos, assim, pela lei. Há, ainda, 15,2 milhões de trabalhadores por conta própria sem qualquer proteção, por não contribuírem para a Previdência Social. O país patina nessa via porque o espaço das relações do trabalho é ocupado por uma visão retrógrada de algumas Centrais Sindicais. Que defendem inchamento do Estado; que não aceitam a regulação da Terceirização, medida que poderia ampliar o universo legal de trabalhadores; que sonham com a volta aos tempos da Revolução Industrial. As Centrais disputam entre si para ganharem mais trabalhadores e locupletarem seus cofres. É o peleguismo agindo em pleno início da segunda década do século XXI.

Qualidade das empresas contábeis

Hoje à noite, será realizada em SP a 8ª edição do Programa de Qualidade de Empresas Contábeis, promovido pelo Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP). Cerca de 4 mil pessoas devem participar do evento. Este ano 432 empresas serão certificadas, sendo que 379 receberão a certificação PQEC e 53 a certificação PQEC+ISO, reconhecida em âmbito internacional, numa parceria entre o Sescon/SP e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O evento será no Credicard Hall, em São Paulo, a partir das 19h. Após a cerimônia, haverá o show especial da cantora baiana Daniela Mercury.

Conselho aos Poderes Judiciário e Legislativo

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos tucanos. Hoje, volta sua atenção aos Poderes Legislativo e Judiciário:

1. O momento exige cautela. O que mais o país precisa evitar, nesse momento, é um conflito inconsequente entre os Poderes Legislativo e Executivo. Procurem, senhores presidentes das Casas Congressuais e do STF, um ponto de convergência. Nem a PEC 33 nem a proibição para que Congresso deixe de votar matérias pautadas.

2. É evidente que as tensões entre os Poderes da República fazem parte de nosso processo democrático, ainda em consolidação. Os discursos radicais devem ser isolados.

3. O Brasil espera que cada um dos Poderes cumpra o seu dever. Sem exageros, sem espetacularização, sem acirramento, sem retaliações.

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(Gaudêncio Torquato)

CURIOSIDADE É UMA COCEIRA NAS IDÉIAS

Eu estava com a cabeça quente. Queria descansar, parar de pensar. Para parar de pensar nada melhor que trabalhar com as mãos. Peguei minha caixa de ferramentas, a serra circular e a furadeira e fui para o terceiro andar, onde guardo os meus livros.

Iria fazer umas estantes. As tábuas já estavam lá. Nem bem comecei a trabalhar de carpinteiro e fui interrompido com a chegada da faxineira. Com ela, sua filhinha de 7 anos, Dionéia. Carinha redonda, sorriso mostrando os dentes brancos, trancinhas estilo afro.

O que se era de esperar numa menina da idade dela era que ela ficasse com a mãe. Não ficou. Preferiu ficar comigo, vendo o que eu fazia. Por que ela fez isso? Curiosidade. Curiosidade é uma coceira que dá nas idéias… Aquelas ferramentas e o que eu estava fazendo a fascinavam. Ela queria aprender.

‘O que é isso que você tem na mão?‘, ela perguntou. ‘É uma trena‘, respondi. ‘Para que serve a trena?, ela continuou. ‘A trena serve para medir. Preciso de uma tábua de um metro e vinte. Assim, vou medir um metro e vinte. Veja!‘

Puxei a lâmina da trena e lhe mostrei os números. Ela olhou atentamente. ‘Você já sabe os números?‘, perguntei. ‘Sei‘, ela respondeu. Continuei: ‘Veja esses números sobre os risquinhos. O espaço entre esses risquinhos mais compridos é um centímetro. Um metro tem cem centímetros, cem desses pedacinhos. Veja que de dez em dez centímetros o número aparece escrito em vermelho. É que, para facilitar, os centímetros são amarrados em pacotinhos de dez. Um metro é feito com dez pacotinhos de dez centímetros.. Um metro e vinte são dez desses pacotinhos, para fazer um metro, mais dois, para completar os vinte centímetros que faltam‘. Marquei um metro e vinte na tábua com um lapis me preparei para riscar a tábua.

Assim se iniciou uma das mais alegres experiências de ensino e aprendizagem que tive na minha vida. A Dionéia queria saber de tudo. Não precisei fazer uso de nenhum artifício de “motivação” para que ela estivesse motivada. O que a motivava era o fascínio daquilo que eu estava fazendo e das ferramentas que eu estava usando. Seus olhos e pensamentos estavam coçando de curiosidade. Ela queria aprender para se curar da coceira… Os Gregos diziam que a cabeça começa a pensar quando os olhos ficam estupidificados diante de um objeto. Pensamos para decifrar o enigma da visão. Pensamos para compreender o que vemos. E as perguntas se sucediam. Para que serve o esquadro? Como é que as serras serram? Porque é que a serra gira quando se aperta o botão? O que é a eletricidade?

Lembrei-me de Joseph Knecht, o mestre supremo da ordem monástica ‘Castália‘, do livro de Hermann Hesse ‘O jogo das contas de vidro‘. Velho, ao final de sua carreira, no topo da hieraquia dos saberes, ele se viu acometido por um enfado sem remédio com tudo aquilo e passou a sentir uma grande nostalgia: queria descer da sua posição para fazer uma coisa muito simples: educar uma criança, uma única criança, que ainda não tivesse sido deformada pela escola. Pois ali estava eu, vivendo o sonho de Joseph Knecht: a Dionéia, que ainda não fora deformada pela escola. Seu rosto estava iluminado pela curiosidade e pelo prazer de entrar num mundo que não conhecia.

Lembrei-me da afirmação com que Aristóteles inicia a sua Metafísica: ‘Todos os homens tem, por natureza, um desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até de sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais…‘

Acho que Aristóteles errou. Isso não é verdade dos adultos. Os adultos já foram deformados. Acho que ele estaria mais próximo da verdade se tivesse dito: ‘Todos os homens, enquanto crianças, têm, por natureza, desejo de conhecer…‘

Para as crianças o mundo é um vasto parque de diversões. As coisas são fascinantes, provocações ao olhar. Cada coisa é um convite.

Aí a Dioneia sumiu. Pensei que ela tivesse voltado para a mãe. Engano. Alguns minutos depois ela voltou. Estivera examinando uma coleção de livros. ‘Sabe aqueles livros, todos de capa parecida? Os três primeiros livros estão de cabeça para baixo.‘ Retruquei: ‘Pois ponha os livros de cabeça para cima!‘

Ela saiu e logo depois voltou. ‘Já pus os livros de cabeça para cima.‘ E acrescentou: ‘Sabe de uma coisa? O livro com o número 38 está fora do lugar.‘ Aí aconteceu comigo: fui eu quem ficou estupidificado…Ela, que não sabia escrever, já sabia os números. E sabia mais, que os números indicam uma ordem.

Fiquei a imaginar o que vai acontecer com a Dionéia quando, na escola, os seus olhinhos curiosos vão ser subtraídos do fascinio das coisas do mundo que a cerca, e vão ser obrigados a seguir aquilo a que os programas obrigam. Será possível aprender sem que os olhos estejam fascinados pelo objeto misterioso que os desafia?

Pois sabe de uma coisa? Acho que vou fazer com a Dionéia aquilo que Joseph Knecht tinha vontade de fazer…

(Rubem Alves)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

MAIO, O MÊS MAIS BELO, COMEÇA COM VIVAS AO TRABALHADOR!



O dia primeiro de maio, data em que se celebra a luta dos trabalhadores em prol do direito a uma vida mais saudavel e prazerosa, é um dia de todo o povo. Por isso posto este


SONETO AO POVO

Quem do milho a cada manhã nos dá o pão desejado;
Faz as praças, os mercados florescerem de verdura;
Doma as árvores, e do barro nos oferece o telhado;
Encontra o ouro, modela o ferro, traz a fartura?!!!

Quem é esse que golpeia as trevas, constrói a beleza,
Sabe as vontades dos seres, os segredos de viver,
Conhece as aspirações da terra, as notas da pureza,
Os mistérios da noite, os hinos do amanhecer?!!!

Tu és, oh obscuro ser, o mais luminoso companheiro,
Tens o fogo da vida, o amplo sonho, o amor verdadeiro,
De tuas mãos mágicas e poderosas nasce o Novo.

Ó combativo operário, valente camponês, pai guerreiro,
Com as veias da aurora honradamente te louvo,
E no peito azul da vida escrevo teu nome: POVO!


(Júnior Bonfim – assim escrito no primeiro de maio de 1983)


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Olá Júnior,

Bela homenagem ao povo trabalhador, tão bem colocada neste seu soneto de homem/poeta que tem intimidade com a terra.

Parabéns!!!

Meu abraço,

Dalinha

terça-feira, 30 de abril de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Crise institucional? - I

A construção do Estado Brasileiro do qual a Constituição é uma corolário, bem como a legalidade (ou seu "espírito") historicamente são usados no proselitismo político como os meios racionais para atingir o chamado bem comum. Convenhamos, o que se fez de melhor na história brasileira foi a completa confusão entre a ideia de república e os interesses privados. Aí, temos fronteiras bem flexíveis. A classe política tem sido a exata representação desta "cordialidade" brasileira. A recente crise entre os poderes deve ser vista neste contexto. O que se vê não é uma cizânia política com raízes sociais. O Brasil parece, de fato, deitado em seu já famoso berço esplêndido à espera, quem sabe, do futuro. Nossa maior fonte de pacificação social não advém da ordem jurídica ou da excelência do funcionamento dos Poderes Estatais. Vejamos.

Crise institucional? - II

A sociedade brasileira está pacificada por uma mistura de Estado-provedor (mas, não desenvolvedor) com o Estado-burocrático, este último aparelhado pelas estruturas de poder que tomaram de assalto (sem trocadilhos) a chamada res publica. Isso não vem de agora, mas agora mostra seus dentes sem a vergonha dantes. Judiciário, Legislativo e Executivo são parte do mesmo jogo. Cada um com seu quinhão cumpre seu papel de descaso com a sociedade. Neste contexto, e apenas a partir dele, é que se pode entender o que está em jogo entre o Congresso e o Judiciário.

Crise institucional? - III

O PT (e seus aliados) acha que o Judiciário avançou muito em sua seara. Estamos falando de interesse público? Não. Estamos falando do jogo eleitoral e policial (mensalão) que ronda o Poder nos últimos meses. A intervenção do Judiciário limitou os espaços de acordos com vistas a 2014, além de certa dose de vingança que o petismo quer impor pela condenação de José Dirceu e sua tropa. De outro lado, depois das revelações recentes sobre "como se faz um juiz do STF" alguém pode achar que o Judiciário vai esticar demasiadamente a corda do Legislativo ? Ora, se há uma coisa certa no noticiário é que não há crise institucional nenhuma. O que há é que os quinhões do Poder Estatal se realinham para atender a seus interesses imediatos. Pode sair alguma fumaça, mas não há fogo. Afinal, não há nada de interesse público no front.

Dilma, Lula e a arte de desistir

Sinais de fumaça nos céus brasilienses dão indicações de que a presidente Dilma e, por extensão, o ex-presidente Lula teriam desistido de trazer de volta ao redil presidencial o rebelde governador de PE, Eduardo Campos. O neto de Arraes tornou-se um caso perdido, irrecuperável para as boas práticas petistas depois do programa eleitoral do PSB no rádio e na televisão quinta-feira passada. O presidente nacional dos socialistas teria se excedido nas críticas ao governo e suas políticas. Foram decibéis acima do aceitável para um aliado - ainda mais um aliado com cargos no governo - e que sempre teve grande apoio de Brasília para governar seu Estado.

Dilma, Lula e a arte de desistir - 2

O tiroteio foi mais pesado que o desferido pelo tucano oposicionista Aécio Neves. Assim, Dilma e Lula (ou seria o contrário) preparam-se para desidratar a presença de Campos na burocracia Federal. E, de quebra, desidratar sua força no PSB. Até o fatídico programa de quinta-feira, a ideia era não "punir" o governador pernambucano para não transformá-lo em vítima e também porque ainda havia esperanças de seu retorno aos braços aliados. Agora, aguarda-se apenas a oportunidade política para o tiro de misericórdia.

Dilma, Lula e a arte de desistir - 3

Esta semana, com o feriado de amanhã que esvazia a capital da República e desarma os espíritos políticos, parecia o ideal para o acerto com o governador pernambucano. Porém, as escaramuças entre Legislativo e Judiciário aconselham certa prudência em lances político-eleitorais que podem acirrar os ânimos oposicionistas e gerar mais solidariedade entre os candidatos a adversários de Dilma. Um dos motivos do estranhamento entre o Congresso e o STF foi exatamente a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes suspendendo a tramitação de uma proposta pensada para dificultar o nascimento de novos partidos. De interesse do governo, a medida prejudicaria especialmente a ex-ministra Marina Silva e o neto de Arraes e, por tabela, também o senador Aécio Neves.

Dilma, Lula e a arte de desistir - 4

De todo modo, passada a tormenta, um pouco talvez à sorrelfa, Campos - e o PSB que segue sua orientação - serão apeados de postos que ocupam na Chesf, na Sudeco e na Sudene. Ao mesmo tempo, o ministro Fernando Bezerra, indicação dele para o ministério da Integração Nacional assinaria a ficha do PT, partido pelo qual se tornaria o candidato petista à sucessão do próprio Campos. Já os dissidentes, dentro do PSB, irmãos Cid e Ciro Gomes, manteriam com Leônidas Cristino, a Secretaria (com status de ministério) dos Portos, sem dar bola para Campos. E se o governador de PE resolver complicar a vida dos dissidentes do PSB, o PSD de Gilberto Kassab já foi posto de sobreaviso para abrigá-los. Semana passada Kassab esteve em Fortaleza oferecendo sua legenda a Cid e Ciro. O governo quer fazer as manobras com alguma cautela e sutileza para mostrar que não é Eduardo Campos que está saindo do governo, mas o governo que está desistindo dele.

Desistiram o Mercadante

Com um ar que não escondia um misto de conformismo com constrangimento, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou ter desistido de disputar o governo de SP nas eleições de 2014. Alegou o ministro que faz essa renúncia para ficar na pasta porque a educação é "a grande prioridade estrutural do país e seu maior desafio". O desafio da educação é fato, porém o motivo alegado por Mercadante para não trocar o ministério pela disputa pelo lugar de Geraldo Alckmin se choca com os fatos reais. Não foi Mercadante que desistiu, foram Lula e Dilma que desistiram dele. Assim como Marta Suplicy, outra que já "foi desistida" pela dupla de suas pretensões paulistanas e paulistas, o ministro da Educação não preenche o requisito do "novo na política" que desde o sucesso das candidaturas da própria Dilma e de Fernando Haddad, Lula adotou para escolher os candidatos do PT aos governos municipais e estaduais que mais interessam ao partido.

Interesses superiores

É óbvio que haverá exceções, porém a regra geral será esta. A outra é a ordem unida que estabelece que o partido deve ceder aos aliados nos Estados sempre que eles exigirem para garantir o apoio ao interesse maior - a reeleição de Dilma. Veja-se o caso do senador Lindbergh Farias no RJ: o "novo" terá de ceder ao meio esclerosado PMDB. Pode até, com rebeldia, firmar sua candidatura. Contudo, não terá as bênçãos oficiais. Como ele e Mercadante, tem muita gente ainda para "ser desistida" até 2014 na seara petista.

Oposição sem voz

Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos andam ativos, "discurseiros" num tom bem crítico ao governo Dilma e às estripulias institucionais do PT. Porém, observam alguns analistas, as críticas se concentram no óbvio e não apontam caminhos. Não apontam alternativas ao que criticam. Diz um desses observadores, com malícia: "Parecem o PT dos tempos de oposição. Só criticava..

Os cinco anos de Aécio

Não há segredos nas intenções reais da defesa que o senador mineiro passou a fazer do fim da reeleição para a presidente com um mandato de cinco anos para valer já a eleição de 2014. É abrir mais uma porta para um entendimento com Eduardo Campos, num possível segundo turno contra Dilma ou, em caso de emergência, caso as pressões do governo para barrar concorrentes da presidente, leve os adversários a um acordo já no primeiro turno. O modelo é simples: o mais cotado vai disputar a presidência em 2014 e o outro disputa em 2019. Como o governo, o PMDB e o PT estão fazendo tudo para aproximar Campos, Aécio e Marina, o que parece impossível uma hora pode se tornar viável. Em tempo: (i) Em outros tempos, antes de aportar no Palácio do Planalto, o PT era contra a reeleição; (ii) A reeleição presidencial no Brasil é cria do tucano FHC.

Desafios para a liderança de Temer

Em vozes amigas, o vice-presidente Michel Temer tem sido apontado como o grande - e discreto - articulador político da presidente Dilma. Por conta desses informantes, alguma dificuldade que aparece para o governo no Congresso e/ou na base aliada e lá está Temer cumprindo uma missão de paz. E sempre, segundo ainda essas informações, com extraordinário sucesso. Nos próximos dias ele terá novas oportunidades de exercitar-se nessas missões quase impossíveis e três ameaças no Congresso aos interesses oficiais, todas, por curiosidade, com o dedo do PMDB, partido do qual o vice-presidente é presidente licenciado e inconteste líder:

1. A MP dos portos, aprovada em Comissão do Senado com emendas que contrariam o que o governo quer. O relator foi o peemedebista Eduardo Braga, líder do governo no Senado, e um dos maiores "agitadores" pelas mudanças de desagrado do Planalto é o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha.

2. Animada por alguns peemedebistas, segue a colheita de assinaturas para a instalação de uma CPI para investigar a situação da Petrobras. A ordem oficial é barrar a iniciativa, mas seus patrocinadores até agora não ouviram os recados.

3. Há também as digitais peemedebistas, a começar pela disposição do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, de colocar a proposta em votação, o projeto que obrigará o governo a liberar automaticamente todas as emendas dos parlamentares. Elas não poderão mais ser suspensas ou anuladas pelo chamado "contingenciamento orçamentário". O ministério da Fazenda não dorme só de pensar nessa possibilidade. Na linha de frente aqui também o sempre onipresente Eduardo Cunha. Excelentes ocasiões para o vice Temer mostrar seu controle sobre o partido que preside e para o PMDB demonstrar sua tão decantada fidelidade à presidente Dilma.

Superávit! Que superávit? Preços! Que preços?

A entrevista do secretário do Tesouro Nacional, Arno Agustin, um dos principais interlocutores econômicos de Dilma no governo, ao jornal "Valor Econômico" de segunda-feira, e o resultado tido como fraco das contas federais em março e no trimestr, acabaram com qualquer dúvida. Aliás, Agustin deixa isto bem claro: o governo abandonou de vez seus compromissos em manter um superávit primário robusto, com base em uma certa austeridade fiscal, e condiciona isto ao movimento do PIB. Se o PIB fraquejar, vai gastar mais. Para Agustin, será assim em 2103 e 2014. E, se Dilma for reeleita, nada improvável, em 2015 e 2016 também. A meta não é a inflação, que, segundo o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já subiu para o nível de 5% a 5,5% por longo tempo. A questão é saber como se sentirá o BC, que de uns tempos para cá começou a dar cada vez maiores sinais de "desconforto" com a inflação. E como se sentirão os próprios preços. Curioso é que hoje, também no "Valor", outro consultor econômico de Dilma, este externo, o ex-ministro Delfim Neto, diz que a "situação fiscal e o equilíbrio externo apresentam alguns sinais nebulosos cuja evolução exige cuidado".

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

MORREU SAULO RAMOS - JURISTA, ADVOGADO, ESCRITOR E POETA



"Minha alma ficou presa eternamente / aos trilhos enluarados do pomar, / ficou presa nos ganchos de uma rede / que deixei esticada na fazenda, / ficou enroladinha, bruscamente, / na linha de uma vara de pescar / madrugada azuis da terra verde / com fogueiras de estrelas e de lenda."

Saulo Ramos


Faleceu ontem, 28/4, aos 83 anos, em Ribeirão Preto/SP, o ex-ministro da Justiça Saulo Ramos. O jurista, advogado, escritor e poeta nasceu em Brodowski, interior de SP, no dia 8 de junho de 1929.

José Saulo Pereira Ramos foi consultor-Geral da República e ministro da Justiça durante o Governo Sarney. Anteriormente, ocupou a equipe do presidente Jânio Quadros. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras, Saulo Ramos lançou em 2007 o livro de memórias "O Código da Vida", no qual a partir de um polêmico caso judicial, conta sua trajetória de vida e fatos que marcaram a história do país. Saulo foi fundador da Academia Santista de Letras.

Em 2010, foi homenageado com o título de Doutor honoris causa pela FMU - Faculdades Metropolitanas Unidas. Na ocasião, Márcio Thomaz Bastos discorreu sobre sua amizade, respeito e admiração ao jurista que, em sua opinião, fez "da advocacia uma arte e não uma ciência". Também presente na homenagem, o ministro Marco Aurélio falou sobre a extraordinária capacidade intelectual de Saulo Ramos, que "não se limitou a testemunhar a história, mas ajudou a escrevê-la, participando ativamente da vida política da nação, em prol de resultados que assegurassem o desenvolvimento social". Durante a solenidade, Ramos leu o texto "Meu Credo", redigido especialmente para a data:

Meu Credo

Para Edevaldo Alves da Silva e, portanto, para o Complexo Educacional FMU

Creio no ensino todo poderoso, criador de um céu na terra; e num ideal de educação, um só glorioso, nosso senhor na paz que nos livra da guerra, o qual foi concebido pelo amor dos professores nas escolas e universidades, nasceu da virgem alma dos estudantes sedentos de saber e liberdades, padeceu no desprezo de poderosos Pilatos sob o jugo das sombras; crucificado, morto e sepultados pelos que desdenham diplomas; desceu ao vil inferno dos analfabetos, mas, para um dia, ressurgir dos mortos, subir aos céus dos cursos completos e estar sentado ao lado da sabedoria universal, iluminando a todos nós, mortos ou vivos. Creio no saber e na instrução, na prevalência do bem sobre o mal, na libertação dos escravos e dos cativos pela santa madre cultura, na comunhão da humanidade e em sua remissão pelos estudos e pelos livros. Eis tudo o que creio. E creio também na vida eterna da ciência e do direito. Amém.

Em 17 de maio de 2010

Saulo Ramos”

Em 2011, Saulo Ramos também foi homenageado por sua dedicação à advocacia pública. Ele é considerado o grande idealizador da advocacia pública no Brasil.

(Fonte: Migalhas)

domingo, 28 de abril de 2013

VOTE LIMPO

É muita cara de pau exigir do eleitor brasileiro que “vote limpo”. Como se a lisura de nossa democracia dependesse de mim e de você. Durante dois meses, a televisão transmitiu 20 vídeos por dia para convencer o cidadão “infrator”, que não votou nas três últimas eleições, a pagar multa e regularizar sua situação. A campanha custou R$ 184 mil – de verba pública. E ameaçava punir pesado. O prazo terminou na última quinta-feira, 25 de abril.

Havia mais de 1,5 milhão de eleitores em falta com a Justiça Eleitoral. Desses, 129 mil ficaram “quites” nos últimos dias. O resto, pau neles. São maus cidadãos. O título de eleitor será cancelado, serão impedidos de tirar documento de identidade e passaporte, não poderão obter alguns empréstimos nem se matricular em qualquer escola ou universidade pública.

Não está certo. Um país que se gaba de ser uma democracia consolidada não pode transformar um exercício de cidadania num dever draconiano. Se não votarmos por impedimento geográfico ou inapetência pelo jogo sujo dos políticos, somos obrigados a nos justificar? Entre as dez primeiras economias do mundo, o Brasil, em sétimo lugar, é o único país a manter o voto obrigatório. Quem defende essa excrescência fala “em nome da representatividade”, mesmo forçada.

Os intelectuais adeptos do voto compulsório dizem que, se o voto for facultativo, menos pobres e mais ricos votarão – e o resultado da eleição será distorcido em favor da elite. É uma bobagem. Reforça a tese discriminatória de que “pobre não sabe votar”. Tantos países ricos têm lamentado a alta abstenção nas eleições. É cansativa, preconceituosa e ilusória essa tentativa de dividir as opiniões, as ideologias e a consciência da sociedade entre ricos e pobres. Como se a vontade de votar dependesse do contracheque. E como se os ricos tivessem mais motivo para votar.

O voto obrigatório mascara o real interesse da população na eleição. Faz muita gente (de todas as classes sociais) eleger “rostos conhecidos” ou “amigos de amigos”. Falta maior consciência do eleitor, falta educação política? Falta. O voto facultativo levaria às urnas quem acha que sua escolha pode mudar o atual estado de coisas. Falta vergonha na cara dos políticos, falta transparência nos gastos públicos? Falta. O voto facultativo obrigaria o Estado a fazer campanhas sobre a importância de participar do processo democrático. Obrigaria os políticos a se preocupar mais com sua ficha corrida e a prestar contas de seus atos. O voto seria dado com consciência e por convicção, não por medo de pagar multa. Hoje, no Brasil, o cidadão que não está em dia com a Justiça Eleitoral “não está em pleno gozo de seus direitos civis”.

Ora, diante de um Renan Calheiros presidindo o Senado... Diante do pastor Feliciano cuidando dos Direitos Humanos... Diante da presença dos mensaleiros José Genoino e João Paulo Cunha e do deputado Paulo Maluf na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara... Diante do senador cassado Demóstenes Torres como promotor vitalício no Ministério Público em Goiás... Diante da manobra casuísta do governo Dilma para boicotar futuros potenciais adversários em 2014, como a ex-senadora Marina da Silva... Diante da lentidão da Justiça, que pode devolver à vida pública o ex-governador condenado do Distrito Federal José Roberto Arruda... Diante da censura do PT nacional a qualquer crítica aos Sarneys na TV do Maranhão, por pedido de Roseana a José Dirceu... Diante do salário de R$ 15 mil para garçom que serve cafezinho no Senado, nomeado por ato secreto... Bem, diante de tudo isso, qual eleitor e cidadão está “em pleno gozo” de alguma coisa? Eles é que estão gozando com a gente. E ainda exigem que eu vote limpo.

Na briga entre Congresso e Supremo, com quem fica a palavra final? É uma briga chata de doer. Não há santos nem no Judiciário nem no Legislativo. Mas o momento favorece o Supremo. É no Congresso que condenados e cassados se locupletam. O deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), autor da emenda contra o STF, se queixa de que “o Judiciário vem interferindo em decisões do Legislativo; há uma invasão de competência”. Ou seria “de incompetência”?

Ao ver na semana passada as imensas filas diante de cartórios para justificar a “infração eleitoral”, fiquei constrangida. O voto obrigatório ofende a democracia, desonra a expressão “direito de voto”. Se posso anular meu voto ou votar em branco, por que sou obrigada a comparecer às urnas? Voto porque quero, mas respeito quem não quer. O Brasil se livrou da ditadura. Numa democracia formal, o eleitor vota se quiser, se algum candidato o representar e se achar que sua opinião conta. Um dia essa obrigação cairá, por bom-senso. Por enquanto, se os políticos querem um voto limpo, façam sua parte. Comportem-se.

(Ruth Aquino, Revista Época)