quinta-feira, 12 de setembro de 2013

CORAÇÃO CIVIL - MILTON NASCIMENTO

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

"Seu filho não passa"

Abro a coluna com a cultura mineira.

Em 1922, Noraldino Lima era diretor da Imprensa Oficial de MG. Jornalista e professor. Personalidade marcante na política mineira. Com audiência marcada, Noraldino recebe em seu gabinete um coronel, chefe político no interior de Minas, acompanhado de um rapazinho, e um pedido de emprego irrecusável: o aval do governador. Noraldino conversa com o filho do coronel, com o objetivo de verificar a capacidade intelectual do jovem. Terminado o vestibular, diz Noraldino:

- Coronel, seu filho está colocado. Vai ser assistente no meu gabinete. Amanhã sai a nomeação no Minas Gerais.

- Mái doto Norardino, tenta argumentar o coronel, o minino num tem preparo, só dá pra contíno...

- Vai ser assistente de gabinete, coronel, insiste Noraldino.

E antes que o coronel surgisse com outro argumento, Noraldino encerra a audiência:

- Para contínuo, caro coronel, existe concurso... e no concurso, seu filho não passa.

(Historinha contada por José Flávio Abelha em A Mineirice)

Pessimistas x otimistas

A cada dia, fica mais patente a querela entre pessimistas e otimistas. Os primeiros são adeptos da deterioração da economia brasileira e os segundos apostam no cavalo econômico sob cabresto, mesmo que este se esforce para se livrar da pressão. Os pessimistas crêem que a economia, às margens eleitorais de 2014, darão às oposições condições reais de entrar no segundo turno eleitoral e, naquele momento, se unirão para derrotar a candidata Dilma Rousseff. Os otimistas vêem o cenário menos perturbador, mesmo com inflação entre 6% e 7%. Se o bolso das margens sociais continuar garantindo a geladeira abastecida, a barriga cheia empurrará a satisfação para o coração. Que, agradecido, mandará a cabeça votar na presidente Dilma.

2º turno

Analisemos os eventuais quatro candidatos, a partir da premissa de que Marina Silva conseguirá formar a sua Rede Sustentabilidade até 5/10. Teremos: Dilma, Marina, Aécio e Eduardo Campos. Sob esses quatro nomes, a possibilidade de a campanha entrar no segundo turno é bem viável, algo entre 50% a 60% numa medida de 100%. No segundo turno, o governismo conta com a vantagem de uso das estruturas : governos de situação, candidatos da base, espaços governativos que funcionam como feudos, cabos eleitorais. É o que se chama de máquina. As oposições terão também as suas estruturas, a partir de governos importantes, como os de SP e PR. Mas o situacionismo no Brasil é um rolo compressor maior.

Chances

Dilma continua sendo a favorita. Hoje, conta com 35% dos votos. Mas poderá subir nos próximos meses, na esteira de uma economia sob controle e continuidade da operação bolsa família. Marina é a grande incógnita. Hoje, com 25% dos votos, tenderia a crescer? Vai depender do clima ambiental, a situação da economia, a indignação social, a maré dos movimentos. Ela é a que mais ganha com a perda de governantes inseridos no baú da velha política. Mas terá pequena visibilidade na campanha. E seus recursos financeiros, escassos, poderão afogá-la antes mesmo de chegar à praia. A depender dos ventos (suaves, fortes?) da primavera de setembro de 2014. Já Aécio Neves tem dificuldade de encarnar o manto da novidade. A jovialidade do perfil não encobre a camada da matreira mineirice, extensão do conservadorismo. Eduardo Campos, mais que Aécio, tem potencial de crescimento. É possível, porém, que lhe falte apoio dos próprios correligionários do PSB, a partir dos irmãos Gomes, do CE.

Por pouco

Estas primeiras projeções, sujeitas a chuvas e trovoadas, jogariam o candidato no segundo turno a poucos metros da vitória. Ou seja, o quadro indica hoje uma disputa ferrenha. Uma eventual vitória da candidata à reeleição se daria por margem bem menor que a da primeira eleição.

Uma união

"Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais que uma união. Uma união de pedras é edifício: uma união de tábuas é navio: uma união de homens é exército. E sem essa união, tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é ruína: o navio sem união é naufrágio: o exército sem união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) com união é homem, sem união é cadáver". Padre Antônio Vieira (1608-1697)

E Serra, hein?

José Serra, é o que comenta nos últimos dias, teria decidido permanecer na floresta tucana. Tanto que se recusou a participar de eventos importantes do PPS, comandado pelo deputado Roberto Freire. José Serra é um perfil experiente. O mais experiente tucano, com exceção de Fernando Henrique. Saindo do PSDB, teria a imagem fragmentada. Seria uma saída sem brilho. Candidato à presidência, contaria com estruturas parcas e frágeis conjuntos eleitorais. Campanha é guerra. Sem arsenal, qualquer candidato morre logo no início da primeira batalha. José Serra deve levar em consideração seus potenciais, pontos fortes e pontos fracos.

São Paulo, interior

A esperança do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, é o interior de SP. O governador padece de um conjunto de problemas: 1. Não formou uma forte identidade, ao longo de seu tempo na política; 2. Não há um eixo forte na administração capaz de imprimir uma marca, um símbolo, uma ideia-força ao governo tucano; 3. O PSDB paulista sofre com o fenômeno desgaste de material. 20 anos de administração corroem a imagem. É inegável que o governador é um gentleman, educado, atencioso, bem-humorado, respeitador. Valores que o engrandecem como pessoa. Mas e as qualidades da gestão? Quem consegue distinguir o eixo da administração geraldina?

Mais médicos

É evidente que a administração Dilma, ao levar adiante o programa Mais Médicos, teve como inspiração as pesquisas. Nada se faz no governo sem a lupa sobre as ruas. O povão vai aprovar a estratégia de botar médicos nos fundões do país. E mais: esse poderá ser o algo mais que Dilma carecerá, no segundo semestre de 2014, para ganhar mais um diferencial sobre os outros candidatos.

Eixo das oposições

Qual será o eixo dos candidatos oposicionistas? Uma visão nova na economia? Um choque na infraestrutura? Que estratégias para crescimento auto-sustentado defenderão? Eis o dilema oposicionista. O país quer ver um projeto para a Nação. Um plano estratégico de desenvolvimento de longo prazo. Algo mais que fazer oposição por oposição, criticar por criticar. Campanhas precisam de discursos substantivos, não de paixões adjetivas.

Faxineira é metalúrgica?

O projeto 4330 sobre terceirização é um avanço para o país. Que abriga cerca de 15 milhões de trabalhadores terceirizados e temporários na esteira das tendências internacionais. Esse contingente tem os mesmos direitos dos trabalhadores normais. E as empresas prestadoras de serviços, os mesmos deveres nas frentes de impostos, tributos e benefícios aos trabalhadores. O que empaca é a questão dos recursos. A CUT quer multiplicar seu cofre de Tio Patinhas. Como ? Fazendo com que uma copeira, um limpador, uma faxineira, uma cozinheira que trabalhem numa metalúrgica sejam considerados metalúrgicos. Representados pelo sindicato dos metalúrgicos.

O cabo de aço do atraso

Ou seja, a CUT quer que a representação sindical seja feita por um de seus sindicatos. Ora, o maior sindicato dos terceirizados é o Sindeepres, que reúne 280 mil filiados. Ligado à UGT. A CUT, com seus sindicalistas, e apoio de alguns (poucos) deputados petistas, também sindicalistas, ao lado de conhecidos assessores que trabalham na Secretaria do ministro Gilberto Carvalho, agem como cabos de aço para amarrar o Brasil à árvore do passado. Manjaram a questão ? Grana, pecúnia. Pior: há um grupo que ameaça deputados que não votarem conforme sua orientação. Esse é o pano de fundo da República sindicalista, que aufere milhões do Estado para fazer vingar um pérfido neo-peleguismo, ainda vivo e agindo nos bastidores.

Renovação congressual

É arriscado dizer, hoje, que a renovação do Congresso Nacional será muito elevada, ou seja, algo como 2/3. Pergunta básica: quantos parlamentares, entre os atuais 513 deputados, partirão para a reeleição? Quantos candidatos a senadores sairão do atual conjunto de 81? Se não houver um número suficiente de perfis jovens e identificados com o eco das ruas, a composição congressual não passará por grandes renovações. O eleitorado terá de votar nas listas de que dispõem. E acabará votando em parcelas dos tradicionais perfis. A conferir.

Bancadas corporativas

Já a tendência de fortalecimento das bancadas corporativas é mais provável. A sociedade brasileira ganha, a cada dia, mais organicidade. Que se caracteriza pelo nucleamento de setores, grupos, alas. A crise da democracia representativa - e consequentemente o distanciamento entre o eleitor e sua representação política - propicia o adensamento dos grupos sociais. Daí a miríade de sindicatos, associações, federações, clubes, movimentos. Essas frentes constituem o aríete que faz pressão sobre as Casas Congressuais. Por isso, as bancadas que as representarão sairão fortalecidas em 2014.

O novo, cadê o novo?

Haverá muita procura pelo Novo, pelo perfil que se identifique com o avanço. Os novidadeiros serão prestigiados. Vamos ver onde serão encontrados.

Pros e Solidariedade

Um tal de Partido Republicano da Ordem Social e o Partido Solidariedade, este de Paulinho da Força, deverão ser criados mesmo antes da Rede Sustentabilidade, de Marina. Significará fuga em massa de parlamentares de um partido para outro. Partidos que ameaçam ver parlamentares fugindo: PDT, PDS, PP, PTB e outros menores.

Dúvida

Gilberto Kassab será candidato a governador, a senador ou a deputado? Trata-se de um dos mais hábeis articuladores políticos do país. A conferir.

Foro São Paulo

Informação de bastidor: a movimentação que tem tomado as ruas do país começou na esfera do Foro SP, espaço onde as esquerdas se refugiam para traçar suas estratégias. Diz-se que a ideia nasceu lá, animada pela visão de que o socialismo deveria ganhar as ruas sob o eco do povo. Mas o Foro perdeu o controle da situação. Os movimentos saíram de sua égide e patrocínio. Partidos políticos passaram a ser mal vistos. O Foro deu com os burros n'água. Estão pensando como rebobinar o fio do novelo.

Embargos infringentes

Se o STF aceitar julgar os embargos infringentes, a pizza da Alta Corte será motivo para aumentar o grito das ruas. Este consultor não aposta nessa hipótese. A conferir os passos do Supremo nesta semana.

Petróleo de libra

Se os americanos fizeram a espionagem sobre a Petrobras, é evidente que sabem tudo sobre o campo de petróleo de Libra. As empresas americanas vão participar do processo? E se ganharem? Serão carimbadas com a impressão de "cartas marcadas". O governo garante que não vai adiar esse leilão. Cada qual com seus segredos. Ou arremedos.

Caças americanos

Depois da espionagem voltada para os interesses econômicos e estratégicos, este consultor fica com a impressão de que a compra dos "caças americanos" pela Força Aérea subiu ao telhado. Os caças franceses e os suecos passaram a ter chances novamente?

Classe média

Atentem para o conjunto das classes médias: 100 milhões de eleitores. Definirão o futuro do país.

Solidariedade malandra

Fecho a Coluna com mais uma historinha de Carlos Santos, em Só Rindo 2:

Candidato a vice-prefeito da também enfermeira Fafá Rosado em 2000, Galba Silveira (irmão do então deputado Francisco José) é conhecido por sua permanente verve. Caminhando num corpo a corpo em favela da cidade ao lado da candidata, ele é atalhado por uma senhora maltrapilha, olhos fundos, couro e osso, desfiando lamúrias:

- Seu Galba, aqui a gente não tem nada. (...) Hoje ninguém comeu ainda. (...) Os bichinhos estão cheios de pereba e esse lamaçal não tem quem aguente...

À espera de um alento ($) ou alguma panacéia para tantos sofrimentos, ela ganha a "solidariedade à miséria" do candidato de outra forma:

- Como é que a senhora aguenta viver aqui? Mulher, se mude.

Conselho aos parlamentares

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, dedica sua atenção aos parlamentares:

1. Nas próximas semanas, deverá ser votado o PL 4330 sobre terceirização. Trata-se de lançar as bases das relações do trabalho do amanhã. Significa modernização e empregabilidade. Mas há forças retrógradas que lutam para amarrar o Brasil à árvore do passado.

2. Senhores deputados, tomem consciência dos aspectos inovadores, avançados que embasam o projeto 4330. E não se deixem levar por ameaças que, frequentemente, a CUT e outras forças fazem sobre o conjunto parlamentar. Chegou a hora de começar a fazer a reforma trabalhista.

3. Ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, cabe não ceder às pressões de alas retrógradas que procuram semear o neo-peleguismo nas largas frentes das relações de trabalho no país.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

HERMANO FREIRE BONFIM, FELIZ ANIVERSÁRIO!


Filho - ou ser que veio ao mundo por intermédio dos pais - embora não lhes pertença:

Depois de várias sugestões rejeitadas, tua mãe concordou com o nome que sugeri.

Foste conduzido à pia batismal e registrado Hermano.

Pela significação de sua raiz teutônica, Hermano pode ser traduzido por “Homem do Exército”.

Porém, foste aspergido não com o óleo queimado da guerra, mas com as águas cristalinas da fraternidade.

Nossa intenção era te nomear - docemente, castelhanamente - como “irmão”.

Vieste ao mundo pelo influxo inspirador da música LOS HERMANOS, do compositor, cantor, violonista e escritor argentino Atahualpa Yupanqui, pseudônimo de Héctor Roberto Chavero.

Desde as calçadas tenras da infância já te revelaste uma figura proativa, que perscruta soluções rápidas para problemas demorados.

Tens a linguagem múltipla dos que se alimentam dos desejos de águia!

És um cientista estrelado, que acostumou a audição à sinfonia saudável do coração!

Aprecias os labirintos anatômicos e os virtuais escaninhos eletrônicos!

Nenhum assunto – paire acima das nuvens ou brote dos subterrâneos da vida, surja dos preconizadores do futuro ou dos mercadores de antanho – te soa estranho!

Queremos compartilhar contigo, ó irmanado ser, o pão da paz, a estrela da luta, o vinho da fraternidade, a esmeralda do sonho!

Feliz aniversário!


(Júnior Bonfim)


POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

O pior já passou? - 1

Diz em alto tom a presidente Dilma Rousseff que "falharam mais uma vez os que apostavam em aumento do desemprego, inflação alta e crescimento negativo". O governo acerta, diz a primeira mandatária do país porque "nosso (do governo) tripé de sustentação continua sendo a garantia do emprego, a inflação contida e a retomada gradual do crescimento". Trata-se evidentemente de uma perspectiva bastante eleitoral pelo qual a presidente procura distinguir "nós" (o governo) "deles" (qualquer um que discorda do governo). Como se vê, não é esta a questão de fato, especialmente quando se trata a crítica como mera aposta, quem sabe daquelas que se faz em mesas de botequins. O que fica evidente é a face autoritária do discurso e da presidente, pessoa conhecida por ser temperamental e pouca afeita ao diálogo. De nossa parte, não cremos que homens de negócio, trabalhadores, servidores públicos, estudantes, etc., não cremos que exista uma "aposta" contra o país.

O pior já passou? - 2

O que de fato se vê é um país sem reformas estruturais, baseado na improvisação nas relações (tensas) com o setor privado, marcado pela profunda incompetência na concepção e estruturação das políticas públicas e sem avanços substantivos nas relações econômicas e sociais. Neste último item é clara a cooptação de segmentos sociais desprotegidos por meio de políticas que cristalizam as condições das classes sem educação, saúde, sem acesso à tecnologia e moradoras de lugares tristemente coroados pela miséria. Os resultados são evidentes, queira a presidente desejar vê-los ou se esconder por detrás de um discurso escrito por seu "marqueteiro". O que se comemora é um PIB bem abaixo das possibilidades do país. O que se vê na política é o compasso "fisiológico" das negociações com os agentes políticos, cujos fins são unicamente as eleições. As finanças públicas são maquiadas por artimanhas que realçam a pouca transparência e aguçam o desejo da Fazenda em fingir-se de "correta" para o tal do mercado e "social-desenvolvimentista" para quem quer ver o país andar.

O pior já passou? - 3

Este é um governo sem rumo claro, sem afinação com os princípios mais consagrados da democracia, sobretudo a transparência e a disciplina em buscar o bem comum. A presidente vocifera contra os que "apostam" contra, como se o dia da Pátria fosse palanque eleitoral. É grosseira quando se pronuncia sobre as críticas que sofre. Nada tem da imagem de "gerente" que pretendeu lançar nos tempos de sua eleição. Parece ter aprendido pouco quando se vê a mediocridade de seus resultados. É certo que o governo retomou a liderança do processo político. Afinal de contas, a oposição não propicia nenhuma alternativa crível às ansiedades mais profundas das sociedades. Estas temem pregar e se aliar aos segmentos sociais, pois carecem de legitimidade política. Neste contexto, não será surpresa a reeleição da tutelada do ex-presidente Lula. No passado também se viu FHC reeleito para quatro anos em que o país pagou o preço de sua política econômica desastrada no que diz respeito ao câmbio e à taxa de crescimento.

A arrogância poderá aumentar

Provavelmente, as próximas semanas podem instigar os instintos mais otimistas dos que leem o funcionamento do poder. Muito provavelmente, a taxa de câmbio estará mais calma, a inflação ficará comportada no atual (incômodo) patamar e os juros podem parar de subir (ata do Copom foi um poço de otimismo). São aparentemente bons sinais. Mas, esta conjuntura não é sinal de alterações estruturais nas carências do país. Um país que é capaz de ganhar a autoridade de fazer uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos com um gerenciamento de tão baixa qualidade quanto o que é feito, também é capaz de ter a sua economia administrada em altas doses de improvisação e sem visão estratégica que possibilite a remoção do atraso e do subdesenvolvimento social, econômico e político. Lula trafegou nas ondas favoráveis dos países emergentes durante os seus anos de presidência. Dilma Rousseff pode ter ventos favoráveis por uns tempos. Todavia, tristemente os problemas estruturais estão sendo jogados "para debaixo do tapete", dentre os quais: (i) inflação elevada; (ii) déficit externo recorde; (iii) contas públicas deterioradas; (iv) indústria em processo de obsolescência; (v) reformas estruturais eternamente adiadas. Vamos ter uma paz conjuntural enquanto as estruturas sofrem a deterioração continuada dos últimos anos.

Há o que comemorar? - 1

Sábado havia civicamente e oficialmente o que comemorar: o 7 de Setembro, o Dia da Pátria, desde sempre a mais importante festa cívica nacional. No entanto, pelos lados oficiais ela acabou um tanto quanto esvaziada pelo temor das manifestações de rua. A segurança e as precauções foram tantas, mormente em Brasília, que a festa acabou vazia, um tanto chocha, mais parecendo a dos tempos mais duros da ditadura militar e não os melhores momentos dos tempos da democracia pós-85. Sinal de que, tanto numa ponta como na outra, o povo na rua só é mesmo bem visto quando a favor - no mais, assusta. Porém, o que assustava e se temia não ocorreu. O povo não foi para as ruas como se imaginava, ficou em casa curtindo o feriado. Aliviadas, as autoridades e os políticos até já ensaiam comemorações : o pior já passou, a agenda positiva dos executivos Federal, estaduais e municipais e do Legislativo já começou a funcionar.

Há o que comemorar? - 2

Aconselha-se que se olhe o quadro com um pouco de cautela antes que de pensar que estão todos absolvidos dos seus pecados gritados pelas ruas juninas. Devagar com o santo, ensina o popular dito, porque o andor ainda é de barro. Objetivamente, o povo não foi para as ruas por duas razões:

1. O temor da violência, que voltou a tomar conta dos movimentos.

2. Porque se estava num sábado, feriado.

A "agenda positiva" não tem nada a ver com os fatos. Até porque ela é mais - ou quase somente - marketing do que ações de verdade. O clima ainda está no ar. Basta haver uma nova conjugação de fatores para a rua voltar a urrar. Se não foi agora, certamente será nas eleições.

O triângulo das bermudas

Aparentemente revigorada pelo esvaziamento das manifestações programada para 7 de Setembro, que o Palácio do Planalto tanto temia a ponto de montar um vigoroso esquema de segurança em Brasília e esvaziar os desfiles em todo o Brasil, a presidente Dilma Rousseff vai retomar, mais aliviada seu périplo eleitoral pelo Brasil. E, mais aliviada, deve ensaiar novamente aparições "públicas" menos controladas que as suas últimas aparições fora da capital Federal, nas quais arriscou pouco em contatos diretos com os eleitores. Nesta fase da campanha, o fogo maior vai continuar concentrado em dois estados - SP e MG. Foram sete visitas às duas regiões para mostrar a importância que o governo dá a mineiros e paulistas. A razão é simples : juntamente com o RJ, SP e MG formam o que se pode chamar de "triângulo das bermudas" eleitoral do Brasil. Sozinhos, eles concentram mais de 40% do eleitorado do país e quem não tiver um desempenho pelo menos razoável nos três vai ter de suar muito nas outras regiões para compensar.

Conta eleitoral

SP foi sempre o "calcanhar de Aquiles" do petismo. Nunca venceu por aqui. Mas sempre compensou essa diferença em MG e, principalmente, no RJ. Desta vez, há um senão nesse caminho: com Aécio Neves candidato, a votação mineira certamente não será a mesma que Lula (duas vezes) e Dilma tiveram por lá. (Há até uma intriga na política nacional que diz que José Serra complica agora a vida de Aécio como uma espécie de vingança contra a falta de empenho do mineiro a favor de sua candidatura.) O RJ, por sua vez, tornou-se uma incógnita. O governador Sérgio Cabral, aliado fiel nas duas vezes, deu empenho nas alianças com os petistas. Hoje Cabral é um fantasma eleitoral e sua companhia não é aconselhável na proximidade das urnas. Tanto que o Estado tem sido evitado por Dilma. Mas ele deverá começar a merecer também mais atenção. Especialmente se Marina Silva confirmar a criação de seu partido, o Rede. O eleitor fluminense já demonstrou que tem uma quedinha por ela. Falta ainda encontrar uma fórmula de entrar mais fundo no Rio contornando a companhia de Sérgio Cabral.

O PMDB na conta eleitoral - 1

Há que não irritar o PMDB, considerado essencial na operação SP, MG e em alguns outros Estados. Em Minas, por exemplo, todo o esforço está sendo feito para que o partido, meio partido ao meio, não vá para os braços de Aécio Neves, atire-se mesmo ao regaço de Fernando Pimentel. Nesta equação um nome desponta: o senador Clésio Andrade, poderoso presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e que um dia foi aliado de Aécio. É carta para vice. Outra carga ainda são alguns cargos no governo ainda vagos, como uma diretoria da Petrobras, a Internacional, ocupada interinamente pela presidente Graça Foster. É o preço a pagar para o PMDB não ficar com o tucano. Em SP, a equação ainda não está montada. Está dependendo de um cálculo: qual o real potencial eleitoral do possível (já em franca campanha) candidato do PMDB, Paulo Skaf, e da estrutura da Fiesp. De quem Skaf tiraria mais votos: do tucano Geraldo Alckmin ou do petista Alexandre Padilha. Respondida esta questão, a montagem será feita. Skaf, em ascensão nas pesquisas, sonha naturalmente com o apoio do PT à sua pretensão de chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Quase impossível. Só terá esse apoio se a operação Alexandre Padilha, engendrada por Lula e não contestada nem em SP nem em Brasília, se revelar um fracasso. O mais provável é que o presidente da Fiesp venha a ser "convidado" a compor, como vice, a chapa encabeçada pelo petista.

O PMDB na conta eleitoral - 2

Como o PMDB será convocado a se "sacrificar" em SP e Minas, é possível que tenha a compensação no RJ. Embora o petismo local esteja entusiasmado com o desempenho pré-eleitoral do senador Lindbergh Farias, mesmo com algum risco o mais provável é que o PT fluminense seja aconselhado a ficar com o Pezão, candidato de Sérgio Cabral. Mas o PMDB poderá ser levado a fazer outros sacrifícios: ele será sempre lembrado que já tem assegurado a vice-presidência para Michel Temer e, portanto, deve colaborar mais nos Estados para o bom andamento da aliança governista.

Dois outros pepinos

Preocupam também a cúpula petista dois Estados: a BA, o quarto eleitorado brasileiro, e PE. Foram dois locais nos quais Lula e Dilma colheram algumas de suas mais avantajadas vitórias sobre os tucanos que os confrontaram. Agora, a situação, pelo menos no momento, não parece tão promissora assim. Na BA, Jaques Vagner já não está com um prestígio nas alturas, o PMDB com Geddel Vieira Lima rebelde ameaça complicar a aliança e com o governo de Salvador nas mãos do DEM, de ACM Neto, os votos da capital podem ser mais divididos. É um desafio para o poder de persuasão de Lula. Em PE, não tem mistério: com Eduardo Campos no grid de largada vai ser impossível repetir a votação de Lula e Dilma nas eleições anteriores.

Quadro formado

Não há mais dúvidas de que a corrida eleitoral de 2014 terá quatro grandes personalidades na largada; Dilma Rousseff, Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva. Não há mais volta para nenhum deles. As dúvidas sobre se Campos vai ou não vai já não existem, Aécio assegurou o seu lugar no ninho tucano, e Marina muito provavelmente nos minutos finais terá o seu Rede. A corrida agora é para fazer composições com outros partidos, em busca de mais tempo no horário eleitoral, e composições regionais para assegurar palanques fortes nos Estados. É quando partidos como PMDB, PP e outros se tornam mais exigentes.

A crise com os EUA

Tendo o governo descoberto o que até o mundo mineral sabe - que os EUA espionam por todos os lados - há dois caminhos que poderão ser seguidos. O primeiro é a presidente-candidata Dilma "capitalizar" a crise com um discurso nacionalista muito útil para o público interno, inclusos os países latino-americanos. O segundo é se aproveitar da crise e realinhar a relação com os EUA, de sorte a agenda se aprofunde a partir de uma maior percepção dos EUA de não ter mais um problema entre os aliados, muito embora o Brasil não seja um player importante para a política norte-americana. No caso da Europa, que também flagrou os EUA em plena delinquência espiã, preferiu-se fazer o jogo de cena e persistir negociando acordos econômicos. Com o Brasil, o jogo de cena precisa ser iniciado pois que não há contencioso, mas também não há grandes acordos. Deve-se seguir o patamar atual, pouco intenso e sem interesses muito elevados de ambas as partes.

Eike e a Res Publica

Além dos questionamentos sobre a rela situação econômica e financeiro das empresas "X" do empresário Eike Batista, ainda falta outro debate mais importante: quanto foi o investimento de dinheiro público nas empresas do arrojado empresário carioca? Interessante ver que nenhuma corrente política se esforça para saber a resposta desta incômoda questão.

Na cadeia

Os tais mensaleiros estão preparados para passar algum período (entre dias e apenas noites) na prisão. Especialmente José Dirceu parece certificado de que o seu destino está traçado pelo STF. Ver-se-á as consequências políticas desta inédita cena na política brasileira. A presidente Dilma já guarda providencial distância de seus parceiros de PT há bons tempos. Logo é muito improvável que o governo seja abalado pela turma que ajudou a financiar a campanha de Lula à presidência em 2003. No que diz respeito ao STF, os embargos infringentes parecem que serão engavetados. Mas com cerimônia. No caso, no salão do pleno do STF.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)