sábado, 8 de março de 2014

SONETO À MULHER AMADA


Vejo brotar de tua alma a fonte da harmonia;
De teus olhos, uma torrente de firmeza cristalina;
Do teu corpo formoso, uma insondável mina;
De tuas veias azuis, o rio caudaloso da poesia.


Contigo apreendi os valores essenciais:
A bondade saindo pela janela da retidão,
O esforço precedendo à delícia do pão
E o sonho fecundando a cultura de paz.


Contigo confirmei que vale a pena ser decente,
Primor de mulher, discreta luz, rosa coerente.
De ti recebi o alimento perene à lúcida alegria.

Ah! Hoje eu posso afirmar solenemente:
Melhor do que cantar uma mulher a cada dia
É conquistar a mesma mulher diariamente!


(Júnior Bonfim - no Dia Internacional da Mulher)

quinta-feira, 6 de março de 2014

UMA FOTO E VÁRIOS SENTIMENTOS

O público leigo não sabe que a Marinha promoveu, em 2013, o primeiro concurso público para ingresso de mulheres na Escola Naval.

A relevância deste ato, após 33 anos do efetivo ingresso da mulher, como militar na Força, já representa, por si só, um fato histórico, digno de registro.

As circustâncias que o antecederam, foram objeto do livro Mulheres a Bordo, recentemente lançado (www.mulheresabrodo.com.br).

Fora isso, para as 12 vagas abertas inscreveram-se cerca de 3000 candidatas ressaltando mais ainda a dificuldade do processo e a dimensão do êxito das aprovadas.

O texto que se segue, pertinente e atual, foi escrito por Carla Andrade, tia de uma das Aspirantes selecionadas, e não se restringe ao assunto, fazendo uma abordagem magistral e uma crítica ao nosso cotidiano.

Recomendo sua leitura!!! (Capitão-de-Fragata Helena Peres)


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¨De todas as transformações que o nosso país enfrenta, não tenho dúvida que a pior delas é inversão de valores.

Não estou falando dos atores, mas da plateia.

Quem determina o sucesso de um espetáculo é o público. Por melhor que sejam os atores e o enredo, se o público não aplaudir, a turnê acaba.

Nós somos a sociedade, nós somos a plateia, nós dizemos qual o espetáculo deve acabar e qual precisa continuar.

Se nós estamos aplaudindo coisas erradas, se damos ibope a pessoas erradas, de que estamos reclamando afinal?

Somos nós que continuamos consumindo notícias de bandidos presos e condenados.

Somos nós que consumimos notícias de arruaceiros que ganham mesada para depredar o nosso patrimônio.

Somos nós que damos trela para beijaços, toplessaços, marcha de vadiaças, dos maconheiraços, dos super-heróis que batem ponto em “manifestações” (e que gostam de cozinhar-se dentro de uma fantasia num sol de 45 graus), e todos os tipos de histéricos performáticos que querem seus 15 minutos de fama.

Quando fazemos isso, estamos dando-lhes valores que não têm. Estamos dando-lhes atenção. Estamos dedicando-lhes o nosso precioso tempo.

Passou da hora de dar um basta nisso!

Por que os nossos jornais estão recheados de funkeiros ao invés de medalhistas olímpicos do conhecimento?

Por que vende-se mais jornal com notícia de um funkeiro que largou a escola por já estar milionário, do que de um aluno brilhante que supera até seus professores?

Por que sabemos os nomes dos BBBs e não sabemos os nomes dos nossos cientistas que palestraram no TED?

Por que muitos não sabem nem o que é o TED? Ou Campus Party?

Por que um evento histórico para o Brasil como o ingresso da primeira turma feminina da Escola Naval não é noticiado?

Por que um monte de alienadas com peitos de fora, merecem mais as manchetes do que as brilhantes alunas, que conquistaram as primeiras 12 vagas, da mais antiga instituição de ensino superior do Brasil?

Por que nós continuamos aplaudindo a barbárie, se ainda temos valores?

O país não mudará se nós não mudarmos o foco!

Os políticos não mudarão se nós não refletirmos a sociedade que queremos!

Já passou da hora de nos posicionarmos!

Ostracismo a quem não merece a nossa atenção e aplausos para quem faz por merecer.

Merecer! Precisamos devolver essa palavra para o nosso dicionário cotidiano.

Meu coração ao olhar essa foto hoje, se divide em vários sentimentos distintos.

Muito orgulho de ser mulher e me ver representada por essas guerreiras.

Elas não estão fazendo arruaça pleiteando igualdade. Elas conquistaram a igualdade estudando e ralando muito.

Elas tiveram que carregar na mão as suas malas pesadas no dia que entraram na Escola Naval. Não puderam puxar na rodinha não! Tiveram que carregar na mão igual aos aspirantes masculinos.

Elas foram e fizeram.

Mas ao contrário das feministas de toddynho, não estarão nas manchetes dos jornais de hoje. E isso me evoca outros sentimentos.

Sentimentos de revolta, de vergonha, e de constrangimento frente a essas mulheres, que não serão chamadas de heroínas por apresentadores de televisão. Mas estão dispostas morrer como heroínas por nosso país.

Parabéns Primeira Turma Feminina da Escola Naval de 2014. Vocês são a dúzia que vale muito mais que milhares!¨


(Carla Andrade)

terça-feira, 4 de março de 2014

CHÃO DE ESTRELAS - MAYSA NO CANECÃO

HISTORINHA DE CARNAVAL


Se tem uma coisa de que tenho medo é de cobra. Me pelo!...

Pois bem. Numa manhã de domingo de mil novecentos e lá se foi, eu ainda um menino, meu irmão me botou na garupa de sua vespa e desabamos para o interior. Manhãzinha fresca, rodagem boa, minha cabeça chega fervilhava com as possibilidades de aventura à minha frente. Era invê o mundo se abrindo em outros, sabe?

Eu muito pequeno, agarrado à cintura de meu irmão, via as coisas apenas assim meio de lado, passando em disparada - árvores, bichos, algumas gentes. Distante, por entre matos e morros, definitivamente se escondendo do povo, uma casinha quase de brinquedo, cor de barro e cinza. Certo momento, dois olhos amarelos me espreitaram de uma capoeira rala - pensei em dragões. Seria?... Pior: e se fosse a terrível sussuarana? Valei-me!... Pelo sim, pelo não, me cheguei mais ao meu irmão.

Quando chegamos, vixe!, foi uma festa. O povo todo me pegando, dizendo "valha como tá grande"; as mulheres me oferecendo bolo, mãos alisando meus cabelos. E dos cantos, por detrás das pernas dos adultos, pares e pares de olhos esbugalhados me observando. Não demorou nada eu já era amigo de tudo quanto era menino que existia ali.

Ave! Pense como eu pabulei!... Aquele tico de gente contando vantagem, hum. Na verdade, eu estava era maravilhado com absolutamente tudo que me caia nas vistas. Menino da cidade, sem qualquer contato com as coisas do campo (no campo), tudo para mim era novidade.

Tenha ideia: me carregaram até um quarto grande e alto onde eu senti todos os cheiros do mundo de uma lapada só. Me embriaguei. Ali tinha frutas, tinha carne, tinha queijo, caixões que iam até o teto lotados de farinha, feijão... Um desses caixões, veja só, estava pela boca de rapadura, batida, alfinim. Fiquei besta.

Mais para o finalzinho da tarde, o sol esfriando, foi hora de pegar o gado na solta e trazer para o curral. Fui junto, é claro.

Nem meia hora e lá vem a gente de volta pela estrada, tangendo os bichos. Eu, com certeza, era o que mais gritava. "Eeeeeeeê, gado!" E batia forte com um cipó na cerca do caminho. E a cada batida, e a cada grito, mais e mais eu me empolgava. E a empolgação foi tanta que quebrei o cipó.

Ora, cipó quebrado, só fiz atirar fora o pedaço que ficou na minha mão e, ato contínuo, me virei para a cerca e agarrei o primeiro que vi. Aí aconteceram duas coisas muito estranhas. A primeira: os dois meninos que andavam comigo (todos os dois mais ou menos do meu tope) simplesmente pularam a cerca do outro lado da estrada e meteram o pé na carreira. A segunda: o cipó claramente se mexeu na minha mão. Vivo. E eu lembro de ter pensado assim: "Aivai!"

Depois eu só lembro de estar correndo desembestado no rumo de casa, o coração no ponto de sair pela boca, absolutamente certo de que a danada da cobra vinha pega não pega, nos meus calcanhares. Pensei em tudo que diziam da cobra-cipó, de como ela corria atrás da gente e, se pegasse, dava umas lapadas com seu rabo fino e a sina do sujeito era ficar tão magro quanto ela. Juro que já me via só o palito. E morto.

Esbarrei de correr apenas quando estava dentro de casa, quase desmaiado de cansaço e medo, amarelo, amarelo. Não chorei porque não tinha forças, mas deus sabe o quanto eu queria.

Mais tarde, quando de novo montei na vespa de meu irmão, atracado às suas costas, meu único desejo era chegar logo de volta em minha casa, à segurança de meu velho e conhecido território. O interior me pareceu um lugar muito perigoso. Certamente as pessoas que ali habitam são de outra estirpe, uma gente deveras destemida. Alguma dúvida?...

Okay. Certo. Beleza. Muito bonito. Mas você deve estar aí se perguntando: afinal, cadê o carnaval nesta história?... Seguinte: e o risco que eu corri de nunca mais ver um não conta não, oxente?!

(Lourival Veras)

domingo, 2 de março de 2014

O CARNAVAL ELEITOREIRO

As cenas são lúgubres e estampam o drama cotidiano de milhões de brasileiros. O cidadão, lutando contra um câncer, toma injeção na veia para aliviar as dores em um estabelecimento hospitalar de Osasco, sob a luz do celular de um parente. Ao lado do Pronto Socorro de urgência, luminosa placa exibia a propaganda do Governo e as lâmpadas acesas sobre o campo, com destaque para a pomposa propaganda: “Futebol Iluminado”.

No mesmo dia, em Guarulhos, outro cidadão, com o fêmur quebrado, esperava há 15 dias para ser operado, com a desculpa do secretário municipal de Saúde: “lamento muito não poder oferecer melhores condições no nosso hospital”.

Terceira cena: na cidade de Codó, no Maranhão, uma mulher, acusada de tráfico de drogas, está há 9 dias algemada numa cadeira à espera de vaga no famoso Presídio Feminino de Pedrinhas, em São Luís.

O que se pode dizer desses atos ocorridos na última semana? Que o descalabro dos serviços públicos continua aprofundando o fosso das mazelas nacionais.

Chama a atenção nos flagrantes a absurda falta de sensibilidade dos gestores públicos no trato das tarefas sob sua responsabilidade.

Não seria mais adequado instalar um gerador nos Prontos Socorros do que deixar iluminado por toda a noite e madrugada um campo de futebol?

Será que em tempos de eleição, placas luminosas não precisam enfrentar a ameaça de apagões?

Não seria mais prudente que o Hospital Municipal de Guarulhos desse prioridade ao atendimento de casos graves, que exigem ações cirúrgicas imediatas?

O lamento da autoridade da saúde é um deboche, algo do tipo “se não gostou do nosso estabelecimento, chispe daqui”. Deixar alguém amarrado numa cadeira dias seguidos é uma cena que nos leva de volta ao faroeste americano.

Como se vê, situações como essas acontecem não apenas nos fundões do país, mas nas proximidades da maior metrópole brasileira. Calvários cortam o chão do território. Mas o clima constante de festa é um anestésico para as massas.

Entramos no carnaval e, logo mais, teremos a Copa do Mundo; em sequencia, as férias de julho, culminando o 2º semestre com a demagogia eleitoral. O ano será catártico. A essa altura, os malabaristas da política começam a vestir as fantasias com que desfilarão no palco. A alegoria de Narciso é a mais cobiçada.

Conta a lenda que ele se tomou de amores pela imagem quando se contemplava nas águas transparentes de uma fonte. Obcecado pelo reflexo, Narciso, olhando para a água, definhou até a morte.

O Brasil está cheio de narcisos. E também de alunos do cardeal Mazzarino, aquele que sucedeu Richelieu como primeiro-ministro da França e escreveu o famoso Breviário dos Políticos, onde ensina a arte de simular e dissimular.

Nos próximos tempos, a turma do lero-lero encherá os nossos ouvidos com uma peroração cheia de refrãos. Juntar-se-ão a ela os gabolas e salvadores da pátria, palanqueiros, bonachões e misericordiosos, no encontro do ruim com o pior, de Narciso com Justo Veríssimo, personagem do saudoso Chico Anísio.

Teremos de assistir, durante 45 dias seguidos, a uma lengalenga na TV, espetáculo de auto-glorificação, a denotar que em matéria de campanha política o Brasil pouco avançou. Nesse ciclo, a política se transformará naquilo que Paul Valéry temia: “a arte de impedir que as pessoas cuidem do que lhes dizem respeito”.

O artificialismo acabará sugando aquilo que poderia ser essencial. As propostas serão amontoados de matéria plástica. Os atores se esforçarão para espetacularizar performances. Governistas tocarão a trombeta de feitos extraordinários; oposicionistas solfejarão as notas baixas do país que ficou no buraco, cada qual puxando altas doses de distorção.

Comum a todos será a perda do sentido de realidade. No espetáculo de mistificação das massas, prestigitadores se desdobrarão para fazer crer que o discurso é ação, que o verbo é a obra, que sua palavra é a encarnação da verdade.

A retórica palanqueira atingirá os píncaros, a lembrar a historinha baiana. Embevecido com a fala complicada de seu candidato, cheia de palavras difíceis, o eleitor não cansa de bater palmas para concluir categórico: “não entendi nada do que o ele falou, mas falou bonito; vai levar meu voto”.

Ou lembra o caso do passarinho sufocado. Arrebatado, espumando energia cívica, o candidato a deputado discorre sobre a liberdade. Para induzir a multidão à catarse, levou um passarinho numa gaiola, que tencionava soltar no clímax do discurso.

No momento apropriado, tirou o passarinho da gaiola, pegou-o e lascou o verbo: “a liberdade é o sonho do homem, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência, sem opressão; Deus (citar Deus é sempre recurso dos demagogos) nos deu liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade; todos vocês, aqui e agora, devem se comprometer com o ideal do homem livre.

Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir a soltura desse passarinho, que ganhará os céus da liberdade”. Ao abrir a mão, esmagara o passarinho. Frustração geral. Vaias substituíram a euforia. Um desastre. No palanque político deste ano, muitos tentarão sufocar a razão com o espasmo da emoção.

Como os milhares de candidatos no pleito de outubro poderiam melhorar seu discurso? Tomando um banho de realidade. Seria mais útil se fizessem um estágio em estabelecimentos hospitalares para ver o exercício de dar injeção no escuro em pacientes com graves problemas de saúde; usarem ônibus e metrôs na hora do pico; tomarem banho em banheiros das comunidades miseráveis; e passearem à noite em ruas de bairros centrais ou periféricos das grandes cidades.

O papel de herói está aberto. Aceitam-se inscrições. Quem há de acreditar, porém, em político vestido de São Jorge com a espada na mão para matar o dragão da maldade? O tufão social que percorre o país desde os idos de junho do ano passado ameaça engolir “guerreiros” treinados na arena da velha política ou santos de ocasião.



Gaudêncio Torquato

POEMA ERGA OMNES


A Lei erga a norma,

a norma erga o direito,

o direito erga a necessidade

e a necessidade erga omnes...

Ou melhor dizer:

a necessidade erga homens...



Aquilo que atinge a todos depende

do alcance da decisão vigente

nas questões de caráter abrangente.

Tudo aquilo que não fica entre a gente

se espalha, se multiplica, se estende...

tem efeito vinculante que nos prende.



Eu nunca fui contra todos,

mas contra mim sei que existem bastantes.

Eu procuro ser o melhor com todos,

mas muitos preferem ser apenas litigantes.



A intenção é sempre ir além.

Além da falácia

dos homens.

Além da audácia

dos montes.

Além da eficácia

erga omnes.



Além disso...



Nada é maior do que os nossos ideais.

O mundo não precisa de erga omnes,

o mundo precisa de erguer os homens

para deixarem de serem tão desiguais. (raFAEL clodoMIRO)


(enviado por J. Freire de Sena - Sócio & Diretor - Membro do Grupo Prosperity, MINORDES Mineradora Nordestina Ltda.)