sábado, 13 de outubro de 2012

MAL DE ALZHEIMER

Diante de tantos contatos com pessoas portadoras do Mal de Alzheimer, resolvi escrever este cordel tentando colaborar com quem de uma forma ou de outra está envolvido em algum caso semelhante.

Tenho intenção de posteriormente editar num livro este cordel incluindo os comentários.

Se desejar, ao ler este cordel, deixe seu comentário, seu depoimento, o que tem feito para lidar com a situação e seu comentário sairá no livro e depois receberá um exemplar

Um abraço,

Levi Madeira
Médico e Cordelista


É sobre o tal Mal de ALZHEIMER
Que aqui vou tentar narrar
Todo mundo já conhece
Ou já dele ouviu falar
Alois Alzheimer, pois não
Psiquiatra alemão
Veio a isto desvendar

De mansinho vai chegando
Sem pedir nem permissão
Falhas leves na memória
Chamadas de distração
Passando despercebido
Até um fato ocorrido
Que vai chamar atenção

É bem mais raro no jovem
Sendo frequente no idoso
Chamam até de caduquice
Um eufemismo amistoso
Mas é degeneração
Cérebro com retração
Encarar é doloroso

É um mal bem traiçoeiro
Desconhece o portador
Esquecendo o que já fez
Vai desligando um sensor
Falha a memória recente
E a antiga lá na frente
Como um véu apagador

Uma doença incurável
Pois é degenerativa
E tem no seu tratamento
Medida paliativa
Dar suporte e condição
Cuidar da alimentação
Ativação cognitiva

Já existem no planeta
Cem milhões de portadores
No Brasil sendo um milhão
Ou bem mais nos bastidores
Será uma epidemia
Que ao mundo alastraria
O que são os causadores

Dia Mundial do Alzheimer
É vinte e um de setembro
Conscientizar o povo
Cuidador e cada membro
No seu mundo mergulhar
Pra melhor dele cuidar
De janeiro até dezembro

Para o cuidador do Alzheimer
Que missão bem delicada
Tem que agir com sutileza
É terra muito minada
Perguntar e repetir
Se zangar e discutir
Paciência redobrada

Portador vai se tornando
Repetitivo e estressado
Não raro até fica mesmo
Completamente zangado
É dele sempre a razão
Pra evitar mais discussão
É cuidador humorado

Na fase mais pro final
Paciente dependente
A linguagem é reduzida
Desconhece até parente
Mostra cansaço e apatia
E também anorexia
Alma ali parece ausente

Já nos primeiros sinais
Tratamento e prevenção
Procurar um geriatra
Seguir a medicação
Família se preparar
Cuidador se redobrar
Planejamento e atenção

Pra fortalecer o cérebro
O negócio é exercitar
E trabalhar conexões
Pra mais ágil ele ficar
Ginástica cerebral
Mais ativação neural
O SUPERA isto lhe dá

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O DIA DAS CRIANÇAS - UM BOM MOMENTO PARA PENSAR NO FUTURO DELAS


Como já referi nesta coluna, se o consumidor adulto é, como de fato é, vulnerável e hipossuficiente no mercado de consumo (como diz o Código de Defesa do Consumidor), a criança-consumidora é especialmente vulnerável. E, se o consumidor adulto é, geralmente, vítima do fornecedor, a criança-consumidora é não só vítima do fornecedor como também muitas vezes dos pais e demais pessoas próximas.

Os pais (e também os avós e demais parentes) poderiam – ou, melhor, deveriam – aproveitar essas ocasiões artificiais – como a do Dia das Crianças – em que o elemento externo (isto é, o mercado) impõe que eles façam compras e deem presentes aos filhos e netos para refletirem sobre como querem que essas crianças não só recebam esses presentes como que valor devam dar a eles.

Naturalmente que, uma vez que se está decidido a dar o presente, o primeiro caminho é descobrir o que dar. Tem-se, portanto, que refletir sobre a qualidade do presente. Haverá coisas úteis e porcarias. Coisas indispensáveis e outras desnecessárias. O mercado, como sempre digo, saberá oferecer de tudo. O marketing sedutor e enganador, aliado ao sistema de crédito e parcelamento consegue convencer até quem não pode comprar e adquirir produtos e se endividar (ou aumentar ainda mais seu endividamento).

E, nessa questão dos presentes, há muito mais do que simplesmente essa ocasião do dia das crianças: os produtos – e também serviços – de consumo de há muito têm intervindo nas relações de pais e filhos de modo que a reflexão impõe que pensemos num horizonte mais amplo do que apenas essa fictícia data comemorativa.

Muito se tem falado, nessa nossa sociedade que se diz civilizada, da dificuldade que os pais têm, atualmente, para educar seus filhos na imposição de limites claros. É um tema batido, mas repito o que se tem assistido: muitos pais acabam oferecendo para seus filhos produtos e serviços em excesso porque eles não tiveram essa oportunidade na própria infância. Isso por, pelo menos, dois motivos: primeiro porque os pais desses pais não tinham condições financeiras para adquirir os produtos e serviços que eram oferecidos; segundo, porque, de fato, naquela época, havia menos oferta e o preço era muito mais elevado. Agora, esses pais, que melhoraram seu padrão aquisitivo, têm à sua disposição muito mais produtos e serviços a menores preços, o que acaba sendo uma tentação irresistível.

Ademais, como aqui tenho sempre lembrado, o marketing agressivo de vendas de produtos e serviços para crianças, muitas vezes, cria de propósito um liame entre pais e filhos de modo a possibilitar que esses últimos pressionem os primeiros em busca das compras. Aliás, por causa disso, não é incomum que pais se endividem apenas e tão somente para comprar bugigangas e produtos desnecessários para seus filhos.

Não quer dizer que os filhos não possam fazer por merecer, nem que não devam, em algum momento, receber certos produtos e serviços. A questão é outra. É preciso que as crianças e adolescentes deem valor a tais oferendas; é necessário que eles saibam o real preço das coisas; que consigam, de fato, perceber que aquilo é uma conquista e não algo que facilmente caiu do céu. Lembro o que disse meu amigo Outrem Ego a respeito desse assunto. Ele me contou que, quando era criança, de infância pobre e recursos limitados, como qualquer garoto da idade dele, gostava de colecionar figurinhas. Mas, como seu pai, operário, não tinha recursos para adquiri-las a toda hora, ele ficava aguardando dias a fio numa alta expectativa.

Ele me contou que, até hoje, ainda lembra da torcida que fazia para que a chegada do seu pai em casa às sextas-feiras fosse acompanhada dos desejados pacotinhos de figurinhas. E me falou da enorme alegria que sentia quando ganhava cinco pacotinhos. Cinco. Apenas cinco e gerava um incrível sentimento de felicidade. Uma vez, seu pai trouxe-lhe dez e ele quase não dormiu de tão contente e eufórico que ficou. Ele dava muito valor não só às figurinhas como ao esforço do pai para adquiri-las.

Sei, como você, meu caro leitor, que os tempos são outros, mas o modo de aquisição de produtos e serviços e a importância que as crianças devem dar a esse ato continuam os mesmos. É preciso que elas consigam dar valor aos presentes; que descubram que eles exigem um esforço para sua compra e seu recebimento. E, como há muitos pais que, como os de meu amigo, não têm condições financeiras para a aquisição mesmo de alguns produtos simples e baratos, é também importante que elas saibam que nem sempre poderão possuir certos produtos e serviços sem que isso signifique alguma derrota ou tragédia.

Para terminar essa proposta de reflexão, já que estou falando de crianças e referi que vivemos numa sociedade civilizada, faço questão de apresentar uma história narrada pelo filósofo Mario Sérgio Cortella no seu livro "Qual é a tua obra?"1. Ele conta uma história da visita de dois caciques da nação Xavante em 1974 à cidade de São Paulo. Naquela época, diz Cortella, "os xavantes não usavam o dinheiro como meio de qualidade de vida. Para eles, qualidade de vida era alimento, porque era o jeito de garantir sobrevivência”2.

Dentre os vários lugares que os xavantes foram levados para conhecer, um deles foi o Mercado Municipal de São Paulo, no centro da cidade. O filósofo da PUC/SP conta que os xavantes ficaram pasmos e maravilhados com tanta comida sendo oferecida. Eram – e são – pilhas de alfaces, tomates, cenouras, laranjas etc. De repente, diante de uma banca repleta de legumes, um dos xavantes apontou para um menino e perguntou: "O que ele está fazendo?".

Tratava-se de um menino pobre, que estava "pegando alface pisada, tomate estragado e batata já moída"3. Ele recolhia do chão e colocava tudo num saquinho.

Cortella disse que responderam: "Ué, ele está pegando comida". O cacique, então, não disse mais nada e continuou andando e observando as coisas ao seu redor. Depois de um tempo, perguntou: "Eu não entendi. Por que ele está pegando essa comida estragada aqui no chão se tem essa pilha de comida boa?". Ao que responderam: "É que para pegar comida dessa pilha aqui, precisa-se de dinheiro". O cacique continuou: "E ele não tem dinheiro?". "Não tem", disseram. "Por que não tem dinheiro?", indagou o cacique.

Mario Sérgio Cortella afirma que, depois disso, os caciques disseram algo que ele nunca se esqueceu: "Vamos embora". E explicou que eles queriam dizer: "Vamos embora da cidade de São Paulo". "Veja como eles são 'selvagens'"4.

Cortella concluiu: "Eles não conseguiram compreender essa coisa tão óbvia: que uma criança faminta, diante de uma pilha de comida boa, pega comida podre. Eles não são civilizados".

Penso que a culpa por esse estado de coisas não é só do sistema, mas que o modelo de capitalismo selvagem em que vivemos contribui e muito para tanto não resta dúvidas. Quem sabe um dia possamos afirmar com o peito repleto de alegria que realmente atingimos um elevado estágio de civilização, no qual as crianças não precisam passar e morrer de fome – e que ninguém precise.

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* Rizzatto Nunes, Desembargador do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor.

A VIDA É O SOPRO DO CRIADOR NUMA ATITUDE REPLETA DE AMOR!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Falem com o Cráudio

Ex-governador de Minas e ex-vice-presidente da República no período do general João Baptista de Figueiredo, último do regime militar, o mineiro Aureliano Chaves lançou sua candidatura à presidência da República na primeira eleição direta depois da ditadura, em 1989, pelo PFL. Em suas andanças por SP, visitou a sede de um grande jornal acompanhado do presidente do partido em São Paulo, Cláudio Lembo, que era seu candidato a vice-presidente. Mas a hora passou depressa, o motorista veio buscá-lo para levar ao aeroporto e, na despedida aos editores, falou alto e bom som no seu mineirês arrastado:

- Bom, gente, eu to indo. Qualquer coisa, falem aí com o Cráudio...

Lembo percebeu a estupefação dos editores e emendou:

- Sabem como é, doutor Aureliano é um homem muito simples...

Aureliano ficou em nono lugar naquele pleito que elegeu Collor de Mello. (Quem conta a historinha é Luciano Ornelas)

A campanha mais racional

Há muito a comemorar na esfera político-eleitoral-cívica. A campanha eleitoral foi a mais racional da contemporaneidade. Vimos um eleitor atento, acompanhando a cena, ouvindo os candidatos, fazendo comparações entre perfis e até mudando de posições. O voto, como sempre tenho lembrado, cada vez mais sai do coração para se fixar na cabeça. O eleitor emotivo dá vez ao eleitor racional. Qual o pano de fundo que acolhe tal racionalidade? Saturação das velhas querelas, esgotamento da polarização entre partidos, desgaste de velhos perfis, desejo de abrir novas janelas no edifício político.

A descida do Russomano

Esta coluna sempre indagou: Russomano consegue segurar o alto índice? A pergunta embutia uma grande dúvida: como pode um candidato sem máquina partidária, sem bom tempo de mídia eleitoral, sem estrutura forte de campanha, sem programa substantivo de governo resistir ao rolo compressor dos candidatos poderosos? Russomano pode se considerar vitorioso. Resistiu muito mais tempo que o limite da previsibilidade. Sua queda se deve a um conjunto de fatores: desconstrução do perfil por opositores, a ideia do bilhete mais caro para percursos mais longos, o estreito tempo midiático e a falta de um programa de governo. Tornou-se alvo de um tiroteio geral. Entrou, então, no que se chama de voo da galinha. Subiu e, mais adiante, caiu. Uma galinha mais forte, que conseguiu o feito de subir mais que outras, consideradas as condições do candidato.

Polarização?

Pois é, PT e PSDB resgataram seus espaços históricos de votos em SP? Em termos. Na verdade, os votos petistas e tucanos na capital situam-se entre 30% a 35%. Nesse primeiro turno, Serra e Haddad obtiveram um pouco menos. Apesar da chegada de ambos ao segundo turno sinalizar a clássica polarização entre as duas alas, é possível inferir que o eleitorado paulistano está saturado desse fenômeno. Quer decidir olhando para as propostas, examinando os programas dos candidatos, decidindo, portanto, de acordo com a micropolítica, a política das zonas, regiões, bairros e distritos. E por que Serra e Haddad vão para o segundo turno? Razões: 1. máquinas partidárias (Serra-estadual, municipal; e Haddad, Federal); grande visibilidade; cabos eleitorais de peso; fortes programas eleitorais com ideias fortes.

Mensalão influirá?

Menos do que os candidatos imaginam. O julgamento do mensalão pelo STF dissemina ares de moralidade e ética. O país resgata sua crença na Justiça para todos. Mas não se pense que o eleitor votará em candidatos que se abrigarem no escudo do mensalão. O eleitor tende a distribuir o ônus da política - roubalheira e escândalos - por todos os atores e partidos, não distinguindo uns de outros. Portanto, muito cuidado.

Chalita em ascensão

Interessante observar a escala ascendente de Gabriel Chalita, que obteve mais de 13% de votos válidos. Teve boa performance. Foi o candidato que sempre cresceu, não descendo na escala de intenção de voto. Não conseguiu quebrar a polarização entre Serra e Haddad, mas fixou estacas na seara político-eleitoral.

PMDB com Haddad

O vice-presidente da República, Michel Temer, comandante maior do PMDB paulista conversou, segunda-feira pela manhã, com a presidente Dilma. E ontem, com Lula, acertando o ingresso do partido na campanha do petista. Presentes à reunião Haddad e Chalita. O candidato petista assumiu o compromisso de incorporar a seu programa importantes bandeiras e projetos de Chalita. A composição contribui para reforçar a parceria entre os dois partidos na esfera Federal.

Skaf a todo vapor

Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, viaja hoje ao exterior, mas deixa uma mensagem ao vice-presidente Michel Temer manifestando o seu apoio e entusiasmo à decisão do PMDB, ao qual está filiado, de se integrar à campanha do candidato petista Fernando Haddad à prefeitura de SP. Skaf está na linha de frente do partido, visitando municípios, ajudando candidatos do PMDB, seguindo as diretrizes do comandante maior, Temer, e do presidente da legenda no Estado, deputado Baleia Rossi.

Campanha cara

O custo das eleições para prefeito e vereador nos 5.568 municípios brasileiros será o mais alto da história do país. O TSE conta com a dotação orçamentária de R$ 597 milhões para custear todo o processo, incluindo primeiro e segundo turno, contra os R$ 480 milhões que foram consumidos nas eleições de 2010, para presidente, governador, senador e deputado Federal e estadual. Essa é a grana pública. Não estamos falando do PIB informal, o caixa 2.

Ganhadores

O PSB foi o partido que mais cresceu. A sigla do governador Eduardo Campos elegeu mais de 120 prefeitos além do que havia eleito em 2008. Chegou a 420. É o maior crescimento absoluto e proporcional entre todos os partidos. O PSB ganhou mais no Nordeste e em MG. Além do PSB, só um grande partido elevou seu número de prefeitos eleitos em relação ao que conquistou em 2008: o PT elegeu 67 a mais. Suas novas prefeituras foram conquistadas, principalmente, no RS, no PR, em SC, no CE e na BA. Em SP, os petistas ficaram na mesma: tinham 60, e agora têm 63 prefeitos, mas podem ganhar a capital.

PSD

O PSD também sai maior da eleição: o partido foi criado no ano passado e, portanto, não disputou a eleição de 2008, mas levantamento da Confederação Nacional dos Municípios mostra que o PSD havia cooptado 272 prefeitos neste ano.

Saldo geral

Vejam os números: PSB cresceu 39,68%; PT, 12,82%; PDT perdeu 11,93%; PSDB, 12,17%; PMDB, 15,03%; PP, 15,61%: PTB, 28,05%; PR, 30,43% e DEM, 43,90%.

Planilha de vereadores

Eis a planilha de vereadores dos 10 partidos mais votados: PMDB, 7.951(13,9%); PSDB, 5.253(9,2%); PT, 5.169(9,0%); PP, 4.924(8,6%); PSD, 4.655(8,1%); PDT, 3.656(6,4%); PSB, 3.556(6,2%); PTB, 3.566(6,2%); DEM, 3,278(5,7%); PR, 3.187(5,6%).

Erro de pesquisas I

Nove de 11 pesquisas de boca de urna realizadas pelo Ibope nas principais capitais brasileiras não foram capazes de projetar dentro da margem de erro os resultados de votação das eleições municipais de 2012. A margem de erro das pesquisas é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Em Curitiba, a pesquisa estimava segundo turno entre Ratinho Jr. (PSC), com 34% dos votos válidos, e Luciano Ducci, do PSB, com 29%. Gustavo Fruet (PDT) aparecia em terceiro lugar, com 24%. Deu 27,09% para Fruet, que passou Ducci e concorrerá com Ratinho Jr no segundo turno.

Erro de pesquisas II

No Rio, segundo o Ibope, Eduardo Paes teria ampla vantagem em relação a Marcelo Freixo, com 69% do peemedebista frente a 26% do candidato do PSOL. Paes reelegeu-se no primeiro turno, mas com 64,60%, enquanto Freixo ficou com 28,15%. Em Porto Alegre, apontava José Fortunati, do PDT, com 62% dos votos válidos e sua adversária, Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 23%. Fortunati acabou superando a estimativa: marcou 65,22 %, enquanto Manuela atingiu 17,76%. Em Belém, projetava-se empate de Edmilson Rodrigues, do PSOL, e Zenaldo Coutinho, do PSDB, os dois com 33%. As urnas apontaram que nenhum dos dois atingiu a marca, com Rodrigues ficando com 32,58% e Coutinho com 30,67%.

Erro III

Surpresa em Salvador. ACM Neto (DEM), com 40,17%, passou Nelson Pelegrino (PT), 39,73%, contrariando a pesquisa Ibope, que cravava Pelegrino na ponta, com 43% e ACM atrás, com 36%. Em Natal, Carlos Eduardo (PDT) tinha, segundo a pesquisa, 36% da preferência nos votos válidos, enquanto Hermano Morais (PMDB) sustentava 25%. Carlos Eduardo está na frente com 40,42% e Hermano com 23,01%. Em Goiânia e Fortaleza, também mostrou erros. Paulo Garcia, candidato do PT, venceria a disputa pela prefeitura de Goiânia no 1º turno, com 56% dos votos válidos, deixando, Jovair Arantes, do PTB, com 18% para trás. Pois bem, Garcia marcou 57,68%, mas Jovair teve apenas 14,25%. Na segunda, Elmano, do PT, teria 28% dos votos válidos e Roberto Cláudio, 24%. As urnas apontaram diferença menor: Elmano ficou à frente com 25,44% ante 23,32% de Roberto Claudio. E em SP, José Serra chegou em primeiro lugar, com 30,75% dos votos válidos. Em segundo lugar, ficou Haddad com 28,99%. Ora, o Ibope viu Russomano, Serra e Haddad em empate. Todos estariam com 22%, ou 26% dos votos validos.

As maiores cidades

PT e PSDB estão no comando das 83 maiores cidades do país, aquelas com mais de 200 mil eleitores, que representam 1,5% das prefeituras e 36,5% do eleitorado. O PT venceu 8 prefeituras no primeiro turno e disputará segundo turno em 22. Quer chegar ao comando de 30, contra 21 que administra hoje. Além de SP, onde Fernando Haddad disputa segundo turno com José Serra, petistas estão na briga em outras cinco capitais, como Salvador e Fortaleza, e várias cidades de regiões metropolitanas, como Santo André/SP e Contagem/MG. O PSDB elegeu seis prefeitos nas 83 maiores cidades e tem amplo potencial de crescimento, com boas chances em 17 localidades no segundo turno.

Compra de votos

A coluna recebe denúncia de suposta cooptação de votos em cidade paraibana. Um radialista respeitado recebeu transcrição de uma gravação em áudio de uma suposta tentativa de cooptação de votos na cidade de São Domingos do Cariri. A gravação mostra o candidato a prefeito José Ferreira da Silva, "Zé Ferreira" (PSDB), participando de um evento na casa de um eleitor. Tenta cooptá-lo e aos demais presentes, conforme transcrição do vídeo. Que as autoridades ouçam a gravação e tomem as devidas providências.

Empate em Bananal

A eleição no município de Bananal, no interior de SP, terminou empatada. Com 100% das seções apuradas, os candidatos Peleco (PSDB) e Mirian Bruno (PV) somaram o mesmo número de votos: 1.849 cada. Segundo a legislação eleitoral, quando dois candidatos terminam empatados na primeira colocação, o eleito é o candidato mais velho. No caso da cidade do Vale do Paraíba, o desempate acabou favorecendo Mirian Bruno (PV).

Dirceu condenado

José Dirceu foi condenado pela maioria dos membros do STF por corrupção ativa. Era previsível. Vai virar uma página do livro de sua história. Consolidará sua consultoria. Continuará a ter voz ativa no PT. Terá tempo mais livre para fazer política de bastidor. Sem versões que falam de uma temporada fora do Brasil, etc.

Juscelino

Quem conta é Alex Salomon, grande pensador, escritor e eventual colaborador da coluna.

"Em 1975 estava eu trabalhando na Embratel indo e vindo no eixo Rio-SP. Numa das viagens sentei ao lado de JK. (de início nem o reconheci- as autoridades parecem encolher quando ao natural). Tímido e algo desinteressado, não tentei puxar conversa. Eis que de um banco de trás (ou teria sido da frente) aparece um sujeito que o cumprimenta efusivamente. Presidente....e presidente pra cá, presidente pra lá e JK gentil e sorridente, e trocaram banalidades. Não podia evitar de ouvir a conversa, o sujeito estava debruçado em cima de mim, e JK na janela. Lá pelas tantas, o indivíduo se sai com a pergunta. E o Benedito Valadares (falecido havia mais de ano) como está ele? Sem perder o sorriso, JK retruca: Não o tenho visto ultimamente! A conversa cessou, JK continuou lendo seu jornal".

Senhores candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao eleitor. Hoje, sua atenção se volta novamente aos candidatos que disputam o segundo turno:

1. Tenham muita cautela na campanha do segundo turno. Há uma tendência, acentuada pelos assessores de marketing, para intensificar a estratégia de desconstrução do perfil de adversários. Campanha negativa gera mais prejuízos que vantagens.

2. O segundo turno propicia comparação mais objetiva entre perfis e propostas. Qual é o fator de eficácia? Um bom programa de governo, ideias claras, comunicação adequada e objetiva. Foco na PROXIMIDADE. Ou seja, foco no atendimento às demandas mais prioritárias da comunidade.

3. Organizem uma agenda que possa atender a todos os compromissos de articulação e mobilização. Entendam que precisam multiplicar sua presença nas regiões, bairros, distritos. Onipresença.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

A eleição da desconfiança e da insatisfação

A pulverização de votos entre diferentes partidos nas disputas nas capitais e nas grandes cidades, a enorme quantidade de segundos turnos nas capitais, as renovações elevadas nas Câmaras de vereadores em diversas cidades, são indicações reais de que o eleitor brasileiro cantou nas urnas de domingo toda sua desconfiança e insatisfação com o quadro atual da política brasileira. Sobrou um pouquinho para todo mundo - governistas e oposicionistas, à esquerda, à direita, ao centro e os "nem tanto". Em SP capital, especificamente, ainda houve um crescimento dos votos nulos e brancos, a maior percentagem desde 2000 na cidade. Entre mortos e feridos e alguns sucessos individuais, perderam todos. Parte do insucesso generalizado pode ser atribuído ao mensalão. Todavia, todos perderam um pouco com a exibição ao vivo e em cores de uma das maiores "ervas daninhas" da cultura política nacional, a corrupção. O eleitor está em busca não apenas do novo, do diferente, mas do confiável. Vai parar neste recado ou em 2014 tem mais?

Renovação

A Câmara municipal de SP terá renovação de 40% no próximo ano - em 2008, a dança de cadeiras foi de apenas 29%. Em BH, o índice de novatos chegou a 59% contra 39% da eleição anterior. No mundo dos vereadores foi normal o rolar de cabeças, nos grandes, médios e pequenos municípios.

Pulverização

No primeiro turno sete partidos elegeram prefeitos nas capitais. Mais oito diferentes desses têm chances de emplacar candidatos no segundo turno. Se tal se verificar, 15 legendas poderão ter prefeitos de capitais, contra 10 em 2008. A mesma tendência está se observando nas cidades com mais de 200 mil eleitores. Há mais gente dividindo o bolo eleitoral no país.

Divórcio à vista?

Os caminhos de Eduardo Campos e do PSB com os do PT (e naturalmente de Lula e Dilma) não vão continuar correndo no mesmo sentido por muito tempo. Os projetos políticos são distintos no longo prazo. O PT, a não ser no desespero, nunca abrirá mão de seu projeto de poder hegemônico, nem em 2014 e 2018, nem nunca. Campos tem seus próprios planos. As desavenças em BH, Recife e em alguns outros lugares, por ora, serão atenuadas. Num dado momento, o divórcio será inevitável. Provavelmente, antes de 2014.

Caciques em baixa

A família Sarney, aliada ao PT foi alijada do segundo turno em São Luís. Jader Barbalho viu seu sobrinho amargar um terceiro lugar em Belém. Renan Calheiros (como Fernando Collor) nem candidato teve em Maceió. Mesmo que Ronaldo Lessa não tivesse a candidatura cassada, não iria para o segundo turno. Bons sinais para o país, maus sinais para as oligarquias.

Réquiem para o DEM

A chamada "direita" no Brasil sempre teve marcas bastante negativas ao processo democrático. Em grande parte do século XX foi golpista e associada às oligarquias mais atrasadas do país. Ao final daquele século tentou se modernizar, mas foi engolida pelo discurso social democrata que, como no mundo afora, adernou o discurso na direção do centro. No caso brasileiro, o PSDB ficou mais à direita e o PT mais social democrata. Ambos com traços de modernidade e muitos de atraso. O Democratas não conseguiu progredir em nenhuma direção de forma consistente e vê o seu transcurso eleitoral mostrar que a hora é de formalizar o funeral ou seguir outro rumo. Apenas o oligárquico ACM Neto faz às vezes junto ao distinto eleitorado nas capitais. João Alves em Aracaju é nanico. Pois bem: a probabilidade maior é que o velho partido herdeiro da ditadura militar busque uma solução junto a outro partido, via fusão. O problema será o de sempre: como acomodar os caciques em prol de projetos. Sabe-se que os primeiros têm prevalecido. Mesmo que não seja nas urnas.

Reaproximação

Para seus planos futuros, a presidente Dilma terá de fazer movimentos de maior aproximação (ou reaproximação) com o PMDB e outros aliados eventuais como o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Afinal, sua principal aposta nesta eleição era impor uma derrota conjunta em Aécio Neves e Eduardo Campos em BH. De fato, viu Campos, uma incógnita para 2014, sair fortalecido com a vitória no primeiro turno em Recife e um crescimento expressivo de sua base de prefeitos no país. Para o PMDB este retorno é bem vindo, pois o fantasma do PSB e do neto de Arrais há muito assombra o partido do vice-presidente Michel Temer. Como é bom de contas - e saiu das urnas ainda como o partido com maior número de prefeitos - o PMDB saberá cobrar sua parte nesse latifúndio governista Federal.

Efeito Lula e mensalão

Inegavelmente a ida de Fernando Haddad para a disputa do segundo turno da eleição paulistana foi uma vitória do ex-presidente Lula. Tirado do "bolso do colete" do líder petista, o ex-ministro conseguiu dois efeitos há muito desejados por Lula: (i) tornar a eleição paulistana um "divisor de águas" do predomínio tucano no maior estado da federação com o uso de um "novo nome" e (ii) "proteger" a presidente Dilma no futuro embate presidencial de 2014 da influência tucana paulista. Bem, ambos os objetivos não foram alcançados totalmente, pois, por óbvio que seja, necessitam da vitória final de Haddad. Sem ela, tudo permanecerá à espera de 2014. Todavia, uma coisa se tornou muito certa: o mensalão adquirirá um protagonismo que não teve totalmente no primeiro turno. O jogo será pesado e no exato momento em que José Genoíno e José Dirceu sobem no cadafalso e verão se o dedo do STF vira para cima ou para baixo. Em alto som o tucanato sairá do ninho e cantará: "dai a Lula o que é de Lula e a Haddad o que também é de Lula".

O teste de Serra

Serra deverá se preocupar menos com suas profundas olheiras e mensagens de 140 caracteres nas madrugadas daqui para frente. A questão segundo um tucano de alto coturno é outra: ele tem de ser capaz de ser um líder partidário e erguer o dedo na direção de Lula. Se ficar com um discurso meramente tecnocrático, vai perder. A questão, segundo este líder, é simples: Serra desuniu muito o tucanato e o elo de união é derrotar o "sapo barbudo", resgatando o passado anterior dos feitos do PSDB. Coisa que Serra sempre se recusou a fazer com todas as letras. Não à toa, o octogenário FHC em suas entrevistas só falou de "mensalão" e nada sobre calçadas ou transportes. Quis pautar Serra e o partido.

Voltas às aulas

Mesmo com todas as juras de todos os aliados de que os embates eleitorais entre eles não deixaram sequelas, a presidente Dilma terá de fazer um carinho geral para amaciar sua base aliada na volta aos trabalhos do Congresso, prometida para esta terça-feira. A agenda da Câmara e do Senado é ampla e com algumas bombas - mais ou menos inadiáveis e a ser consumida em pouco mais de 20 dias úteis (no apertado calendário legislativo nacional). Sem contar o Orçamento, que tem sido votado cada vez com mais descaso, mas que tem de ser acompanhado com lupa para que os deputados e senadores não extrapolem demais na conta da receita. Há pelo menos dois projetos com hora marcada para sair do forno: a MP do setor elétrico e as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, essencial para que o governo possa formatar os novos leilões de áreas de exploração, marcadas para maio e novembro. E ainda a regulamentação do direito de greve do funcionalismo público.

Bomba elétrica I

Em meio à repercussão negativa de dois "apaguinhos" de boas proporções na semana passada, um para uso exclusivo de Brasília, a capital que costuma ser imune a intempéries nacionais, entra o governo num sério embate legislativo para aprovar a MP 579 do setor elétrico. Haverá "queda de braço" com o setor privado para que as novas regras nelas impostas sejam aceitas pelas empresas atingidas inicialmente, pelo mercado de capitais e pelos investidores, principalmente o precioso dinheiro externo. No Congresso a liderança do governo terá de tourear mais de 400 emendas de parlamentares, em todas as direções e defendendo todo tipo de interesse. É o tipo do assunto que perpassa as forças partidárias, envolve aspirações regionais e, portanto, não poderá ser resolvido no Congresso simplesmente com uma ordem unida para a base aliada.

Bomba elétrica II

No mundo empresarial, embora no curto prazo o mercado tenha se acalmado, há inquietações na área de eletricidade, mas também fora dela. Há certo temor com o que está sendo chamado de "excesso de ativismo governamental". Para completar a confusão, as empresas atingidas diretamente não se manifestaram, porém estavam agindo a todo vapor nos bastidores. E o prazo para que elas digam se aceitam ou não termina dia 15, p.f.. Até o governo parece "piscar" no caso: não pode ter outro sentido a ameaça, nada velada, que o presidente da Aneel fez às empresas recalcitrantes em entrevista ao "Valor Econômico". Nelson Hubner avisou que quem não quiser o jogo agora, pode ficar fora do leilão de concessões se isto vier a ocorrer. Esta confusão toda, se não for bem gerida, pode prejudicar a mais que bem intencionada - necessária e urgente mesmo - redução das tarifas de energia elétrica que está embutida na MP 579.

Mensalão em doses

O empenho do STF no julgamento da AP 470 já fez despertar o temor de que a roda toda da Justiça vai girar na direção apontada pelos ministros do STF, em casos que envolvam também o setor público e o setor político. Nem tanto pelas sentenças que estão sendo distribuídas, mas pela simples disposição de julgar com mais celeridade tais processos. Entram nessa roda não só outros casos do "mundo político" como o chamado mensalão mineiro (ou do PSDB) e mensalão candango (ou do DEM), como também em histórias nas quais o público e o privado se encontram, como foi o caso da "Operação Castelo de Areia". Haja trabalho para a Justiça e, como disse a respeito do atual mensalão o ministro Marco Aurélio Mello, "haja coração".

Melancólica CPI

Passadas as eleições, haverá reunião da CPI do Cachoeira. Sabe o que deve ocorrer ? Provavelmente, nadinha. Não porque não existam fatos a serem investigados, mas exatamente o contrário. Estes são fartos e fariam os mais ingênuos ficarem muito mais ruborizados que no caso do mensalão. Com o agravante de que a coisa toda do Cachoeira é "multipartidária", para dizer uma palavra suave. O único movimento que pode alterar a melancolia desta CPI pode vir do réu. Como se sabe, ele está estressado da vida atrás das grades, vê seus recursos negados em função de certo "clamor popular" e, assim, pode buscar alternativas na sua videoteca, desconhecida do grande público. Note-se, adicionalmente, que a situação financeira de Cachoeira vem se deteriorando em função de sua ausência frente aos negócios.

Um COPOM para se ver

Nosso BC gosta de se autodenominar "operacionalmente independente". Ou seja, na ausência de amarras institucionais que o libertem do jugo da influência direta do Executivo e do Legislativo, diz-se que ele "opera" livremente. Tudo um jogo de palavras. Porém, não é um jogo inútil e sem efeitos. O BC vem agindo coordenadamente na direção de fazer um correto e histórico ajuste do juro básico nativo, bem como relaxou a política monetária em prol da fraqueza da demanda e na ausência de políticas vindas da Esplanada dos Ministérios e do Planalto que jogassem a taxa de investimento para cima. Tombini e seus companheiros de COPOM, nesta quarta-feira, mostrarão se o jogo deles em relação ao juro básico terá uma parada ou se prosseguirá na direção da baixa. O fato é que a demanda permanece ainda "insustentavelmente leve", apesar de melhora que houve, e a inflação não está no figurino que o próprio governo a ela atribui, ou seja, está fora da meta. Na próxima reunião do COPOM, o BC falará sobre tudo isso. É capaz de surpreender e jogar o juros mais para baixo.

Câmbio, ainda um problema

Mexer com câmbio é infernal. Pode explodir ou murchar. Pode-se agir num sentido e acabar indo em outro. O governo, como se sabe, pode controlar apenas a taxa nominal. A taxa real, por sua vez, depende da inflação do país e do exterior. Os fluxos cambiais, além de imprevisíveis, costumam ser voláteis. Se não existe modelo para prever o câmbio ou fazê-lo ser uma certa taxa, uma coisa é certa : sabe-se quando ele está errado. Basta ver se há debilidade nas contas de comércio, especialmente dos produtos industriais e medir os custos dos produtos non-tradeables, aqueles que não são passíveis de substituição por outros de fora. Numa nota, como esta, não nos cabe fazer enormes digressões acadêmicas sobre o tema, mas deixamos duas mensagens claras: (i) a indústria brasileira persiste sem competitividade internacional, o que aumenta o percentual das vendas externas sobre o PIB de forma consistente e (ii) os custos dos serviços no Brasil têm deixado os "gringos" de boca aberta. Acham caro. O câmbio persiste defasado para as ambições de o país ser de fato "emergente".

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ELEIÇÕES E ECONOMIA

As eleições realizadas ontem, em primeiro turno, e as últimas notícias sobre o desempenho da economia dominam, neste momento, o interesse dos brasileiros em razão das repercussões que têm sobre a vida nacional.

Pelo voto livre e soberano, o pleito reafirma a força da nossa democracia, expressa no encontro de milhares de candidatos e de milhões de eleitores nas urnas dos mais de 5.000 municípios brasileiros e no amplo debate sobre os problemas nacionais que incidem de forma aguda na realidade das nossas cidades: corrupção, gestão precária, saúde ruim, educação sem qualidade, o avanço da violência e os crescentes desafios na área da mobilidade urbana.

Na economia, relatório divulgado pela Cepal aponta que o Brasil crescerá apenas 1,6% neste ano. É o segundo pior resultado entre os 20 países analisados da América Latina e do Caribe, superior apenas ao do Paraguai e atrás de Panamá, Haiti, Peru, México, Costa Rica e Bolívia.

Referendado também por órgãos do próprio governo, como o Banco Central, o resultado desmente as previsões fantasiosas com as quais o governo tentou falsear a realidade.

O número da Cepal já havia sido antecipado por instituições financeiras internacionais e, à época, foi classificado como "piada" por nossas autoridades econômicas, que passaram o ano anunciando crescimento em patamar muito superior. Vê-se agora, de fato, com quem estava a realidade, neste lamentável espetáculo do PIB em queda livre.

Mesmo com tantas evidências, o governo insiste em debitar na conta de outros países a responsabilidade exclusiva sobre o problema, em vez de fazer o seu próprio dever de casa. Ao agir assim, cumpre agenda que atende outros interesses, sem se preocupar com os efeitos deletérios dessa estratégia, que condena o país a um crescimento medíocre, como nos dois últimos anos, e põe em risco a perspectiva brasileira como nação emergente.

Com o esgotamento das medidas emergenciais para tentar salvar o ano eleitoral --e a constatação de que não funcionou, como antes, o tripé oferta de crédito, queda das taxas de juros e benemerências fiscais a setores produtivos--, resta-nos voltar à cobrança das reformas ainda por fazer, único caminho para assegurar competitividade à economia e recolocar o país no rumo de um crescimento sustentado e duradouro.

Ao fim do ano eleitoral, o governo terá de se haver com os antigos desafios que se agravaram sem resposta: o peso dos impostos, o excesso de burocracia, juros ainda nas alturas, legislação trabalhista do século passado, inércia e incompetência para desatar o nó da infraestrutura, entre tantos outros que entravam o desenvolvimento nacional.

AÉCIO NEVES

domingo, 7 de outubro de 2012

A HORA DO VOTO!

O genial Filgueiras Lima - cuja biografia foi recentemente lançada pelo mais fino e lúdico Leitão que a nossa região já criou, o poeta Juarez – laborou uma frase memorável: “Ensino como quem reza”.

Por dentro dessas sílabas passeia um rio de ensinamentos, um córrego de sabedoria, uma fonte de vida! Reza, aqui, imagino eu em meu modesto arrazoado, significa ter uma deliberada atitude íntima de busca de profundidade.

Se em todos os atos significativos da nossa existência recorrêssemos a essa postura litúrgica, talvez muitos equívocos fossem evitados. Temos uma indisfarçável inclinação para tomarmos decisões sem antes meditar. Imaginemos quantos enlaces matrimoniais não se desfazem por ausência de uma reflexão anterior ao ato de firmar o compromisso legal...

Algo similar ocorre com o voto. Na maioria dos casos, votamos ao sabor do vento, sem qualquer fundamentação motivacional. Depois pagamos um enorme preço, pois “somos livres para escolher, mas escravos das conseqüências”.

Não raro vemos as pessoas esbravejando contra os que escolheram como representantes. Em regra, costumamos transferir para os outros o quinhão de culpa que é nosso. No entanto, quem de nós já parou, sincera e demoradamente, para refletir desapaixonadamente em quem vai votar? E, sobremaneira, as razões desse voto?

Pouco tempo nos separa do momento cerimonial do voto. Adentremos à urna conscientes de que estamos realizando uma tarefa cívica de grande envergadura.

No dia da eleição, lembremo-nos de um conselho antigo, mas muito atual, lançado por Rui Barbosa:

"Destranquemos as portas. Escancaremos as janelas. Vasculhemos os tetos, os vãos, as frinchas, as luras. Não poupemos o ácido fênico, a creolina, o formol. Renovemos o ar. Enxotemos os bichos. Sacudamos o mofo. Acabemos com o bafio. Introduzamos a luz. Chamemos a higiene".

Ou, para quem gosta de algo mais recente, da lição de Walter Franco, na música Serra do Luar:

“Viver é afinar o instrumento/ de dentro pra fora/ de fora pra dentro/ a toda hora, a todo momento/ de dentro pra fora/ de fora pra dentro./ Tudo é uma questão de manter/ a mente quieta/ a espinha ereta/ e o coração tranqüilo”.

Tenhamos com o voto o mesmo respeito e carinho que temos – ou deveríamos ter – com a vida! Ele é essencial à nossa existência!

(Júnior Bonfim, em Amores e Clamores da Cidade)