sábado, 24 de dezembro de 2011

PAZ PELA PAZ - NANDO CORDEL

NATAL TODO DIA

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ESTA É A HISTÓRIA DO MEU MENINO JESUS

Num meio-dia de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espirito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E porque toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando agente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espirito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."

E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É a minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?


Alberto Caeiro

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

E assim nasceu o Peru

Na última coluna do ano, brindo os leitores com a historinha do Peru (que será servido neste Natal), enviada pelo amigo Eduardo Nascimento, que não perde a oportunidade para exercitar sua verve:

Há um conto japonês milenar que é mais ou menos assim:

"Em uma planície, viviam um urubu e um pavão. Um dia, o pavão começou expressar certa angústia:

- Sou a ave mais bonita do mundo animal, tenho uma plumagem colorida e exuberante, porém nem voar eu posso, de modo a mostrar a minha incomparável beleza. Feliz é o urubu que é livre para voar para onde o vento o levar.

O urubu, por sua vez, também refletia no alto de uma árvore:

- Que infeliz ave sou eu, a mais feia de todo o reino animal; e ainda tenho que voar e ser visto por todos. Quem me dera ser belo e vistoso tal qual aquele pavão.

E aí as duas aves, pensando sobre suas conveniências e inconveniências, tiveram uma brilhante ideia: deveriam se juntar para realizar um cruzamento. O fruto que desse cruzamento surgiria seria uma ave esplendorosa, magnífica, um descendente que iria combinar o voo tão aerodinâmico do urubu com a graciosidade e elegância do pavão.

Cruzaram-se. E daí .....nasceu o peru! Que é feio prá cacete e... não voa!

Moral da história, senhoras e senhores: se a coisa tá ruim, não invente!!! Gambiarra só dá merda!!!

CNJ sob restrição

O Conselho Nacional de Justiça só poderá fazer investigação de juízes depois que as denúncias sejam analisadas pela corregedoria do Tribunal onde atua o acusado. Esse entendimento que tolhe a ação do CNJ é do ministro Marco Aurélio Mello, que, em liminar, acolheu posição defendida pela entidade dos magistrados. Ou seja, o órgão de controle do Judiciário perde poder e funções. O caso será analisado pelo Plenário do Supremo após o recesso da Corte, em fevereiro.

Dilma pisa no freio

A presidente Dilma, com seu olhar de economista, pisa forte no freio. Manda cortar recursos aqui e ali, no intuito de enxugar o Orçamento e deixá-lo menos pesado para subir a ladeira da crise. O Brasil, como se sabe, passou ao largo da crise de 2008 navegando nas águas do acesso ao crédito abundante. O consumo foi impulsionado e a economia ganhou fôlego. Agora, porém, a receita tem outros condimentos. A presidente teme que o país não possa bancar mais a fartura do crédito fácil. Ordena cortes. O Programa de Aceleração do Crescimento, símbolo da era Lula, está devagar quase parando.

Mensalão vai ou não?

Cezar Peluso, presidente do STF, quer acelerar andamento do mensalão. Pretende que o caso entre na pauta da Corte logo no primeiro semestre de 2012. De certo modo, é uma resposta ao ministro Ricardo Lewandowski, que alertou : alguns crimes previstos no pacote do mensalão poderiam prescrever caso não sejam julgados em 2012. Mas o relator Joaquim Barbosa responde de maneira contundente: os autos estão digitalizados desde 2006. Portanto, estão disponíveis eletronicamente na base de dados do STF. Barbosa terminou de examinar o caso. E está ultimando seu voto. Que será dividido em capítulos, de acordo com os núcleos que atuavam na quadrilha. Quem vai fazer a revisão de tudo é o ministro Lewandowski.

Falcão do PT

O jornalista e deputado estadual Rui Falcão (SP) consolida, a cada dia, sua força no comando do PT. Guindado à presidência com o afastamento de Zé Eduardo Dutra, Falcão, hábil articulador, viaja pelos Estados para contato com as bases. Prepara o partido para a maior batalha já enfrentada na frente municipal. O PT quer eleger mais de mil prefeitos.

O PMDB, 1300

Já o PMDB coloca como meta a eleição de 1.300 prefeitos.

MP sob rédeas

A CCJ da Câmara Federal aprovou projeto que impede o Ministério Público de fazer investigação criminal. Em 2009, o STF reconhecera que o MP tem poder investigatório. O setor político quer restringir a esfera de ação dos promotores.

D'Urso animado

Luiz Flávio Borges DUrso (PTB) motiva-se, a cada dia, com a campanha municipal de 2012. Candidato a prefeito de São Paulo pelo PTB, divisa grandes debates com os eventuais contendores Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB), Celso Russomanno (PRB), Soninha Francine (PPS), Netinho de Paula (PC do B). A campanha terá, ainda, o candidato tucano (quem?), podendo ainda abrigar mais um, o candidato do PSD de Kassab. D''Urso domina bem a técnica de expressão em rádio e TV. É um bom orador. E a campanha municipal será, sobretudo, um espetáculo midiático. As melhores performances liderarão a disputa.

20 mil quartos de hotéis até 2015

O Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) prevê a inauguração de 20.063 quartos de hotéis até 2015. A 3ª edição do Placar da Hotelaria projeta um crescimento de 59% em relação à oferta prevista no estudo anterior, publicado em fevereiro de 2011. As capitais com maior número de novas habitações até 2015 serão Belo Horizonte (2.974), Brasília (2.268), Recife (384), Rio de Janeiro (399), e São Paulo (876). Segundo Julio Serson, vice-presidente de Relações Institucionais do FOHB, o segmento hoteleiro já está qualificando mão de obra, de gestores a profissionais, para atender a demanda ocasionada pela Copa do Mundo de 2014. Ele apregoa a padronização do atendimento para receber bem e fidelizar o turista brasileiro e estrangeiro. Desde 2010, cerca de 2.500 profissionais das redes associadas ao FOHB já participaram de cursos de qualificação.

Inflação e deflação

O setor de serviços é, sem dúvida, um dos que mais gera empregos no Brasil, bem mais do que a indústria automobilística, que é protegida pelo governo, ora com redução de impostos, ora com aumento (para os importados). Mas este setor, ao prestar serviços para o Governo do Estado de São Paulo, sofre as consequências do decreto nº 48.326/03, onde se instalou um deflator que, a cada ano de contrato, faz o empresariado perder parte da remuneração que lhe é devida.

Ganho real

Os trabalhadores do setor de serviços, graças à ação legítima de seus sindicatos, vêm obtendo ganhos reais ano a ano, enquanto o empresariado perde. O lucro está sendo corroído a ponto de tornar inviável qualquer contrato com mais de um ano de duração. O reequilíbrio econômico está ameaçado. Do "couro sai a correia", diz o ditado. Quebrando a espinha dorsal do empresário, quebra-se a matriz do emprego.

Remédio judicial

Os empresários se organizam e pretendem recorrer à Justiça para equacionar este problema. Antes, aguardarão uma posição definitiva do Executivo. Na ausência de resposta, caberá ao Judiciário apreciar o caso. E, como se sabe, a Justiça acaba determinando fórmulas não convencionais para reajuste de contratos, propostas que podem desagradar às partes interessadas. Mais uma vez o ditado lembra : "mais vale um mau acordo do que uma boa demanda".

"Quando o Capital se acovarda, o Trabalho morre." (Olavo Bilac)

FMI: 150 bilhões de euros

Os empréstimos bilaterais ao FMI chegarão a? 150 bilhões, sem contar com a participação do Reino Unido. Os ministros de Finanças europeus, em teleconferência realizada ontem, divulgaram comunicado sobre os empréstimos bilaterais dos países da Zona do Euro ao FMI, que totalizaram? 150 bilhões e que visam aumentar os recursos voltados à ajuda financeira aos países em crise. Dentre os países da região, Portugal, Irlanda e Grécia não deverão contribuir, já que atualmente já passam por programas de ajuda financeira. A Itália, por sua vez, contribuirá com 23,5 bilhões, Espanha com 14,9 bilhões e a Alemanha com 41,5 bilhões. Vale lembrar que, em alguns países, o empréstimo terá de ser primeiramente aprovado pelo Parlamento. Além disso, República Tcheca, Dinamarca, Polônia e Suécia manifestaram interesse em contribuir. (Col. Dep. Pesquisa Bradesco)

O todo poderoso

Ainda há gente tentando entender quem é Adair Meira. Adair é dono (ou dirigente, como ele gosta de afirmar) da ONG Fundação Pró-Cerrado, sob investigação por negócios irregulares com o Fundo de Amparo ao Trabalhador, do qual recebeu milhões de reais para capacitar jovens aprendizes (o que, supostamente, não fez) para o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego, antecessor do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem). Mais conhecido por ter alugado um avião para que o ex-ministro Carlos Lupi pudesse passear no Maranhão, Adair já encontrou uma saída para não perder a fonte de renda : agora também é dirigente da Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (RENAPSI), selecionada pela Caixa Econômica Federal, por meio de chamada pública, para responder pela contratação e capacitação de jovens para o seu Programa Adolescente Aprendiz. Pois bem. O mistério continua sem solução : quem é a figura que teria embolsado milhões, não entregado o objeto do contrato, e conseguido, mesmo sob investigação, vencer uma licitação na CEF e ainda derrubar um ministro?

"Seu Lunga"

Esta Coluna aposentou seu Lunga há bom tempo. Mas alguns colaboradores insistem em querer ressuscitá-lo. Depois de muita insistência de leitores, abrirei uma exceção na última do ano.

Vai para a praia?

Seu Lunga, quando era motorista de ônibus urbano, um passageiro pergunta:

- Esse ônibus vai para a praia?

- Pode até ir, se você arranjar um biquíni que dê nele!

Isso não é sabonete

O cliente chega pra comprar um relógio na loja de seu Lunga.

- Pode tomar banho com esse relógio, seu Lunga?

- Ô corno! Isso é um relógio, não é um sabonete...

Conselho à comunidade nacional

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos deputados. Hoje, sua atenção se volta à comunidade nacional:

1. 2102 será um ano voltado para a política. O discurso político impregnará o nosso espírito. Portanto, toda a cautela se fará necessária para evitarmos comprar gato por lebre. Desde já, será interessante acompanhar a trajetória de pré-candidatos, suas primeiras ideias, as propostas iniciais. A mudança política requer intensa participação da comunidade nacional.

2. Aparecerão candidatos de todos os naipes, formatos e com promessas as mais variadas. Temos de depurar o joio do trigo, a falsa versão da verdade.

3. Urge avaliar os candidatos, suas propostas, atitudes, ações. Vale a pena conferir seu passado e sua visão de política. Suas ideias serão viáveis? As propostas são convincentes? Têm eles adequada visão das necessidades das comunidades?
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(Gaudêncio Torquato)

SOBRE D. MARISTER

Caro Junior,

através do seu apreciado blog, externo os meus sinceros pêsames ao Paulo Nazareno, a Eliane e a toda família Soares Rosa pelo passamento de D. Marister.

Que Deus a receba com a alegria que ela sempre transmitia e conforte à familia e aos amigos.

A família perde a sua inesquecível matriarca e Crateús uma de suas melhores filhas.

Abraços,

Sergio Moraes

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NOTA DE PESAR DIVULGADA ONTEM



O Prefeito de Crateús, Dr.Carlos Felipe Saraiva Beserra, vem a público externar votos de pesar e solidariedade a família da Ilustre Crateuense, Maria Ester Soares Rosa, que faleceu hoje.

Como matriarca de umas das mais ilustre famílias de Crateús, Marister Rosa era exemplo de retidão, grandeza e solidariedade cristã exercitada em toda a sua vida terrena. Defensora inquebrantável de sua prole, Dona Marister participou ativamente de inúmeros acontecimentos históricos de nossa Centenária Cidade.

O Prefeito Carlos Felipe Saraiva Beserra e o vice Prefeito Antonio Mauro Rodrigues Soares, se irmanam nessa hora de tristeza a todos os familiares de Dona Marister Rosa, expressando fraterna solidariedade e pesar, a todos os seus filhos, amigos e admiradores.

Nessa hora de saudade, fazemos deferência especial ao Médico e ex Prefeito de Crateús Paulo Nazareno Soares Rosa, que sempre contou com o apoio de sua querida Mãe em sua trajetória de homem público.

Que Dona Marister Rosa seja acolhida na casa do Senhor e que Deus conforte nossa dor e saudade.

Carlos Felipe Saraiva Beserra
Prefeito de Crateús

Antonio Mauro Rodrigues Soares
Vice Prefeito de Crateús.

FRANCISCO DE MATOS E MELO



O humano ser, quando ultrapassa as nuvens embaçadas da trivialidade e pisa no platô da profundidade, descobre o verdadeiro sabor daquele pedaço de pão espiritual feito Boa Nova: “De graça recebeste; de graça dai!”.

A gratuidade, dom superior, força que impulsiona as pessoas à entrega e ao serviço do outro sem busca de recompensa, quando inocula alguém, torna-o irremediavelmente benfazejo ao ambiente que habita.

O “Matos”, nascido Francisco de Matos e Melo no distrito de Ibiapaba, em Crateús, é um homem que carrega desde a quinta-feira em que nasceu, aos 29 de março de 1939, esse princípio vital. Seu coração é uma antena invariavelmente sintonizada com as ondas da generosidade.

Por isso a vida sempre lhe abriu o largo sorriso. Nasceu bem-aventurado. Único varão da prole de Gilberto de Paiva Melo e Filomena da Silva Matos. Bendito entre mulheres de nomes aureolados: Terezinha, Neide, Maria do Carmo, Conceição, Maria das Graças e Socorro – suas irmãs, com as quais nutriu uma relação de ternura, ganhando o primeiro apelido: Teté. O segundo foi Pantico.

Quando ainda vestia o gibão da infância, mudou-se para a fazenda do seu avô, José de Sousa Melo, o popular Zé Melo das Catingueiras. De lá, sob os auspícios dos avós e das tias Adalgisa, Terezinha e Maristela, foi para a cidade ser iniciado nos escaninhos escolares e nos balcões da atividade laboral. Naqueles, deslumbrou-se com o mundo dos fonemas através das professoras Iolanda Lima, Maria Águeda e Lúcia Frota, sequenciando na Escola Técnica de Comércio Padre Juvêncio; nestes, realizou um longo e profícuo percurso. Começou como vendedor do Armazém Ceará, depois trabalhou como civil no Batalhão e, posteriormente, serviu ao Exército Brasileiro como Cabo. No meio militar, por conta de sua postura agregadora, do seu jeitão pacífico, da sua sacerdotal cordialidade, surgiu o terceiro e mais popular apelido: Capelão. Em 1962, mediante concurso público, ingressa nos quadros do Banco do Brasil, instituição em que despendeu sua força de trabalho até 1994, ano de sua aposentadoria. No exercício do cargo de gerente, instalou as agências de Iracema e Nova Russas. Trabalhou, também, nas cidades de Ipu (onde tem raízes familiares), Tauá e Paracuru.

Até nos galanteios o jovem Matos exalava o perfume do espírito servidor. Na década de 1960, costumava exercitar seus préstimos levando as donzelas amigas para as tertúlias. Uma delas, a professora Anália Maria Alves de Melo, descobriu o seu poço jorrante de romantismo. Iniciaram um idílio que os levou ao altar da Igreja de Santo Anastácio, na cidade de Tamboril, no ano de 1973, e os fez colocar no mundo três filhos: Éthel Alves Matos, cirurgiã-dentista, Érica Alves Melo, arquiteta, e Luiz Gilberto Alves Melo, bancário e universitário.

No seu álbum de registros da dedicação ao próximo, consta sua passagem pela diretoria de várias casas associativas como Crateús Clube, Sargento Hermínio e Lions Clube, além das presidências da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e da Sociedade Crateuense de Tiro, Caça e Pesca (Clube Caça e Pesca).

Por reconhecimento popular, é detentor de título de cidadania nos municípios de Iracema, Ipu e Paracuru.

Nos dias atuais, Matos se divide entre a brisa marítima da Capital e as noites enluaradas da fazenda Várzea Grande, em Crateús. Adora prestigiar eventos literários. Encontrei-o no lançamento do livro “Crateús: 100 Anos!”, da Academia de Letras de Crateús. Estava acompanhado de sua inseparável esposa, Anália, e amigas. Uma delas me confidenciou: - Estou preocupada com o Matos. Acho que ele está meio calado e pensativo.

Quiçá a resposta esteja na avaliação de outro amigo seu, aqui em Fortaleza: - Solícito e educado. Assim defino o Matos. É uma pessoa de tamanha sensibilidade que talvez o impeça de ser completamente feliz, como afirmou Jean de La Bruyére: “Os grandes corações nunca estão totalmente felizes; falta-lhes a felicidade dos outros”.


(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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Caro Junior,

com as palavras saídas do coração você descreveu sabiamente a figura do querido amigo "Matos".

Abraços,

Sergio Moraes


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Caro,

Foi com grande alegria que li sobre este grande sujeito, com que tive o prazer de começar a trabalhar em minha cidade Iracema-Ce, onde tomei posse no Banco do Brasil, fiquei muito feliz em revê-lo.

Um abraço,

João Batista Almeida Neto

OBSERVATÓRIO

Principio a derradeira coluna de 2011 com um texto de Malba Tahan. “Sincera é uma palavra doce e confiável. Sincera é uma palavra que acolhe. E essa é uma palavra que deveria estar no vocabulário de toda alma. Sincera foi uma palavra inventada pelos romanos. Sincero vem do velho, do velhíssimo latim... Eis a poética viagem que fez sincero de Roma até aqui: Os romanos fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos, chegava-se a se distinguir um objeto - um colar, uma pulseira ou um dado - que estivesse colocado no interior do vaso. Para o vaso, assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso: - Como é lindo... parece até que não tem cera! -"Sine-cera" queria dizer: -"sem cera", uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes. Da antiga cerâmica romana, o vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado. Sincero é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações. O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver, através de suas palavras, os nobres sentimentos de seu coração”.

O ANO TERMINA

É praxe encerrarmos o intervalo de tempo no qual a Terra demora a dar uma volta completa em torno do Sol – que batizamos “ano” - com um movimento de introspecção, de mergulho nas águas íntimas de nós mesmos, em um processo de auto-avaliação. E isso é bom. Vital, essencial, imprescindível. Porém, para que essa inflexão seja bem sucedida, urge que sejamos como os vasos romanos: transparentes, sinceros, verdadeiros. E essa postura deve irromper da gleba individual para o território coletivo. Que observação fazer, então, de uma urbe que encerra o calendário anual após celebrar um centenário?

O REGISTRO

Embora na cidade três Revistas tenham circulado (uma organizada pela Prefeitura; outra por João Aguiar e a “Gente de Ação”, de Dideus Sales) com excelentes apontamentos sobre o centenário, indubitavelmente o livro CRATEÚS: 100 ANOS! é o mais expressivo registro sobre o assunto. Os membros da Academia de Letras de Crateús se esmeraram para compilar uma obra de fôlego, digna de ser lida pelas atuais e futuras gerações. Que os espaços de difusão do saber e as fornalhas que aquecem as brasas da inteligência na cidade socializem esse álbum histórico de grande valia.

MARCO

Como um mourão que delimita espaços, esse livro definiu a geografia da nossa alma, lapidou a esmeralda da memória, sacudiu os fantasmas e crismou nossa vocação. É um barco que nos transporta às fontes primárias, às raízes originais. Faz-nos deslizar pelo leitoso rio dos nossos sonhos. Convida-nos ao êxtase ante aquilo que o Padre Geraldinho pontuou como “os amplos e vastos sertões de Crateús, no formato de um grande e imenso anfiteatro florístico e numa abrangência física e majestática que lhes imprime beleza e peculiaridade próprias”. É, pois, um marco.

QUEBRA DE PARADIGMAS

Esse livro, sobretudo, quebra paradigmas. Por exemplo: sempre alimentamos a idéia de que nossa cidade nunca teve grandes escritores. Isso é um estereótipo que vimos cair por terra. Escritores, de pena luminosa e asas de condor, sempre tivemos. Aliás, o fundador da literatura piauiense, o Príncipe dos Poetas, o nobre das letras, o Camões do século XIX nasceu nesta Vila de Príncipe Imperial: José Coriolano de Sousa Lima. Se, no campo das letras, descobrimos isso, em outras áreas também fomos surpreendidos com os componentes de garra e guerra, a posição de guarda e a postura de vanguarda sempre recorrentes na nossa história. Um particular jeito de buscar respeito.

QUEBRA DE PARADIGMAS II

Está provado que tudo nasce da nossa mente. Buda nos ensinou: “Nós somos o que pensamos. Tudo o que somos surge de nossos pensamentos. Com o pensamento, construímos e destruímos o mundo. O pensamento nos segue como uma carroça segue a parelha de bois”. Chegou a hora de fazermos uma inflexão no nosso pensamento coletivo. Vamos nos quedar eternamente aos complexos de inferioridade, reproduzindo a cantilena de que não nos destacamos porque nossa cidade é ‘fim de linha’? Ora, no mundo de hoje não existem mais fronteiras. A China vende seus produtos aqui por um preço inferior aos produtores locais. Isso é um fenômeno da globalização. Somos uma aldeia global.

QUEBRA DE PARADIGMAS III

Nossa prática política também precisa ser repensada. Mesmo nas disputas mais renhidas, como sói ocorrer nas pugnas eleitorais sucessórias locais, é possível inaugurarmos um modelo comportamental diferenciado. Por que não optarmos pelo bom combate, sob as regras da decência? Por que cedermos às tentações do jogo rasteiro, das encrespações grosseiras? É chegado o momento histórico de levarmos à arena dos embates a essência da fidalguia, o bálsamo das boas maneiras, o perfume da elegância. Obviamente, para chegarmos a esse patamar, urge que usemos a vestimenta branca da sinceridade. Não só os políticos, nossos representantes, mas todos os cidadãos, os representados. Sem cera, desprovidos de malícias e do apoio das milícias, será possível edificarmos uma cidade melhor. Sinceridade! Conheçamo-la. Ela nos libertará.

PARA REFLETIR

"Fale a verdade, seja ela qual for, clara e objetivamente, usando um toque de voz tranqüilo e agradável, liberto de qualquer preconceito ou hostilidade." (Dalai-Lama)

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(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A LIBERTAÇÃO DOS CAMPONESES FOI CONQUISTADA COM SANGUE, SUOR E MORTES

Francisco Julião e Agassiz Almeida recebem o reconhecimento histórico de Câmaras de Vereadores. “A libertação dos camponeses foi conquistada com sangue, suor e mortes” De acordo com o projeto de nível nacional de Resgate e Memória para a História do país de personalidades que resistiram à Ditadura Militar de 64, cujas vidas se incorporaram aos movimentos políticos sociais,como Carlos Marighella, Djalma Maranhão, Seixas Dória , Gregório Bezerra, Clodomir Morais, João Pedro Teixeira, Pedro Fazendeiro, Carlos Lamarca, a Câmara de Vereadores de Guarabira, PB, reunida em caráter especial e atendendo à propositura do vereador Beto Meireles, concedeu aos ex-deputados federais e escritores Agassiz Almeida e Francisco Julião, este “in memoriam,” a medalha Dom Marcelo Carvalheira. Com o auditório da Câmara de Vereadores completamente lotado e a participação de representativos nomes da sociedade paraibana, que integraram a Mesa da sessão, entre os quais Alexandre Eduardo, secretario adjunto da Secretária de Agricultura, representando o Governador Ricardo Coutinho, o juiz de direito Antônio Amaral, Laura Aquino, em nome da família de Osmar de Aquino, e Agassiz Almeida Filho , representando a UEPB, além do sociólogo Anacleto Julião, filho do homenageado Francisco Julião, Guarabira viveu movimentada solenidade. Antes, em dias anteriores, as Câmaras de Vereadores de Sapé e Mari, PB, realizaram sessões homenageando estas lideranças históricas. Discurso aguardado com interesse por sua vinculação às lutas políticas de Guarabira, Agassiz Almeida recordou os seus laços políticos e de amizade com Osmar de Aquino, deputado constituinte de 1947, como Agassiz o fora em 1988. Prosseguindo, acentuou o orador: “A abolição dos escravos, em 13 de maio de 1888, veio da pena de uma princesa; a libertação dos camponeses, 70 anos depois, foi conquistada com sangue, suor e mortes, após a criação das Ligas Camponesas de 1954 e 1958, na Galiléia, PE, e em Sapé, PB. “Foi em Sapé e na Galiléia, em Vitória de Santo Antão que, há mais de meio século, as Ligas Camponesas nasceram, cresceram e estenderam este grito de libertação para o Brasil: O camponês não será mais escravo de ninguém. “Aqui, nesta região, mobilizou-se na segunda metade do século XX o mais vigoroso movimento de massa camponesa da América Latina. O que nos falam aqueles 50 anos passados? Homens rudes e simples, às centenas, carregados de sofrimentos, marchavam para se libertar de quatro séculos de latifúndio. - Para onde ides camponeses?- Gritou um sacerdote. - Vamos lutar pela liberdade e por terras para trabalhar. Há na vida dos povos, como na dos homens, momentos de inspiração soberana. Vi, nesta região, multidões de camponeses carregarem o vigor das grandes indignações. Imaginai as ruas e campos destas regiões cinqüenta anos atrás. Camponeses, às centenas, condenados a uma forma de vida pior do que a escravidão . Faces descarnadas e pálidas. Olhares temerosos. Passos trôpegos. Semblantes a estamparem velhice precoce, em corpos esquálidos e famélicos. Como encontramos o camponês nas várzeas férteis do Nordeste? Num cenário desolador. Crianças em torno de 8 a 10 anos arrastadas ao eito da cana-de-açúcar , jovens envelhecidos aos 20 anos. Aos 30, abatidos pela morte. Que tarefa nos impusemos! Primeiro, derrotamos esta cultura da passividade cruel: “Deus quis assim.” Depois, vencemos o medo do latifúndio. Por fim, apontamos aos camponeses que eles precisavam lutar pelos seus direitos e por terra para trabalhar. Esta foi, decerto, a revolução camponesa que desencandeamos. Que drama de profunda dimensão! Legiões de campesinos egressos de pesadas iniqüidades que séculos de opressão lhes lançaram, gritavam por liberdade .” Com a palavra, o sociólogo Anacleto Julião destacou: “Francisco Julião e Agassiz Almeida, ao lado de outras lideranças, fizeram a revolução camponesa no Brasil, cujo grande objetivo foi, sem dúvida, romper quatro séculos de opressão latifundiária. Depois deste movimento revolucionário, o camponês se investiu na condição de cidadão, com direitos e deveres”. Em Sapé, durante a sessão da Câmara de Vereadores reunida com o mesmo propósito de homenagear aqueles vultos históricos, Anatólio Julião, representando seu pai, em brilhante discurso exaltou o relevante papel que desempenharam Francisco Julião e Agassiz Almeida ao desafiar as forças latifundiárias no Nordeste, e apontar aos milhares de camponeses os caminhos da liberdade. Encerrando a sessão, o vereador Beto Meireles, liderança vigorosa e renovadora de Guarabira, relembrou a importância para a história das lutas camponesas no Brasil de personalidades como as de Francisco Julião, Agassiz Almeida, João Pedro Teixeira, Gregório Bezerra, Pedro Fazendeiro e Clodomir Moraes . Centro de Referência dos Direitos Humanos

domingo, 18 de dezembro de 2011

A SABEDORIA DO MENDIGO

Serapião era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da cidade. Ao seu lado, o fiel escudeiro, um vira-lata que atendia pelo nome de Malhado.

Serapião não pedia dinheiro.
Aceitava sempre um pão, uma banana, um pedaço de bolo ou um almoço feito com sobras de comida dos mais abastados.

Quando as suas roupas estavam imprestáveis, logo era socorrido por alguma alma caridosa. Mudava a apresentação e era alvo de brincadeiras. Serapião era conhecido como um homem bom, que perdera a razão, a família, os amigos e até a identidade.

Não bebia bebida alcoólica, estava sempre tranquilo, mesmo quando não havia recebido nem um pouco de comida. Dizia sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa e, sempre na hora que Deus determinava, alguém lhe estendia uma porção de alimentos.
Serapião agradecia com reverência e rogava a Deus pela pessoa que o ajudava.

Tudo que ganhava, dava primeiro para o malhado, que, paciente, comia e ficava a esperar por mais um pouco.
Não tinham onde dormir; onde anoiteciam, lá dormiam. Quando chovia, procuravam abrigo em baixo da ponte e, ali o mendigo ficava a meditar, com um olhar perdido no horizonte.

Aquela figura deixava-me sempre pensativo, pois eu não entendia aquela vida vegetativa, sem progresso, sem esperança e sem um futuro promissor.

Certo dia, com a desculpa de lhe oferecer umas bananas fui bater um papo com o velho Serapião. Iniciei a conversa falando do Malhado, perguntei pela idade dele, o que Serapião, não sabia. Dizia não ter ideia, pois se encontraram um certo dia quando ambos andavam pelas ruas e falou:

Nossa amizade começou com um pedaço de pão. Ele parecia estar faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço; e ele agradeceu, abanando o rabo. Daí, não me largou mais.
Ele me ajuda muito e eu retribuo essa ajuda sempre que posso.

Curioso, perguntei:

- Como vocês se ajudam?

Ele me vigia quando estou dormindo; ninguém pode chegar perto que ele late e ataca. Também quando ele dorme, eu fico vigiando para que outro cachorro não o incomode.

Continuando a conversa, perguntei:

Serapião, você tem algum desejo na vida?

Sim, respondeu ele - tenho vontade de comer um cachorro quente, daqueles que a Zezé vende ali na esquina.

- Só isso? Indaguei.

- É, no momento é só isso que eu desejo.

- Pois bem, vou satisfazer agora esse grande desejo.

Saí e comprei um cachorro quente para o mendigo. Voltei e lhe entreguei. Ele arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a dádiva e em seguida tirou a salsicha, deu para o Malhado, e comeu o pão com os temperos.

Não entendi aquele gesto do mendigo, pois imaginava ser a salsicha o melhor pedaço.
Não me contive e perguntei, intrigado:

Por que você deu para ao Malhado, logo a salsicha?

Ele com a boca cheia respondeu:

Para o melhor amigo, o melhor pedaço!

E continuou comendo, alegre e satisfeito.

Despedi-me do Serapião, passei a mão na cabeça do Malhado e sai pensando.
Aprendi como é bom ter amigos. Pessoas em que possamos confiar.
Por outro lado, é bom ser amigo de alguém e ter a satisfação de ser reconhecido como tal.

Jamais esquecerei a sabedoria daquele eremita:

"PARA O MELHOR AMIGO O MELHOR PEDAÇO!"

(Inocêncio de Jesus Viegas)