sábado, 25 de junho de 2011

SAMPA - CAETANO VELOSO




Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende de pressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo Quilombo de Zumbi
E os novos baianos te podem curtir numa boa
E novos baianos passeiam na tua garoa.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

É GRAMA NOVA!


Você viu? Eu ví e acreditei, que só vendo mesmo. E até tinha dito que não dava mais nem um “pio”. Oh, vai um “silvo”, então!


Os canteiros de nossas avenidas (sorria e disfarce) estão sendo adornados por novíssima modalidade paisagística – a grama de concreto!


Ao invés de jardins , alamedas, passarinhos - concreto pintado de verde! Grama? Corta essa, brita não precisa aguar!


A inteligência e sensibilidade de nossos governantes (não deveria) ainda me surpreende... e me apalerma. (Tem gente que só envelhece, nunca aprende).


A lógica é: Gramas e Plantas de verdade exigem labor. Precisam de cuidados, carinho, água, e até de olhos que as enxerguem. (Somos cento e sessenta mil olhos, viu?!) Ademais produzem flores, sombra, abrigo e alimentos para pássaros, borboletinhas e outras tantas criaturinhas perigosíssimas à saúde e bem-estar dos humanos e do planeta.


Quanto ao calor, poeira, aquecimento global, estética, ética, etc., etc., ... meras bobagens de quem apenas quer atravancar nossa trajetória rumo ao futuro. Nossa civilização é outra, estamos para muito além do bem e do mal!


Não me surpreenderei, nem se surpreendam amigos e amigas (seres humanos e ceras humanas), quando começarem, em nossa cidade, o que não deve demorar, o plantio de uma novíssima e exótica espécie de árvore – a árvore de concreto. Igualmente pintadinha de verde, claro, para enganar até o mais sabido e ardiloso dos passarinhos. Nossa sabedoria e astúcia não têm limites nem comparação! Eita!


Jardins, alamedas e grama de concreto no coração do sertão nordestino! Imagino até que subjaz, por trás desta engenhosa e iluminada sacada, uma estratégia que só cérebros privilegiados podem engendrar – nos preparar, lenta e caridosamente, para o fogo eterno!


É VIDA NOVA... MELHOR DIZENDO, É GRAMA NOVA PARA CRATEÚS!


Edilson Macedo
Gestor cultural

quinta-feira, 23 de junho de 2011

MEMÓRIA BRASILEIRA: SIGILO OU VERGONHA?

Há 141 anos terminou a Guerra do Paraguai. Durou de 1864 a 1870. Ao longo de seis anos, Brasil, Argentina e Uruguai, instigados pela Inglaterra, combateram os paraguaios. O pretexto era derrubar o ditador Solano López e impedir que o Paraguai, país independente e sem miséria, abrisse uma saída para o mar.

O Brasil enviou 150 mil homens para o campo de batalha. Desses, tombaram 50 mil. Do lado paraguaio foram mortos 300 mil, 20% da população do país. E o Brasil abocanhou 40% do território da nação vizinha.

Até hoje o acesso aos documentos do conflito estão proibidos a quem pretende investigá-los. Por quê? Talvez o sigilo imposto sirva para cobrir a vergonhosa atuação de Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro, que comandou nossas tropas na guerra. E do Conde D’Eu, genro de Dom Pedro II, que sucedeu o duque no massacre aos paraguaios.

Os arquivos ultrassecretos do Brasil podem permanecer sigilosos por 30 anos. O presidente da República pode prorrogar o prazo por mais 30, indefinidamente. Eternamente.

Em 2009, Lula enviou à Câmara dos Deputados projeto propondo o sigilo eterno periodicamente renovado. Cedeu a pressões dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Os deputados federais o aprovaram com esta emenda: o presidente da República poderia renovar, por uma única vez, o prazo do sigilo, e os documentos considerados ultrassecretos seriam divulgados em, no máximo, 50 anos.

O projeto passou ao Senado. Caiu em mãos da Comissão de Relações Exteriores, cujo presidente é o senador Fernando Collor. E, para azar de quem torce por transparência na República, ele próprio assumiu a relatoria. E tratou de engavetá-lo. Não deu andamento ao debate nem colocou o projeto em votação.

A presidente Dilma decidira sancionar a lei do fim do sigilo eterno a 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Naquela data, o relator Collor foi a plenário e declarou ser "temerário” aprovar o texto encaminhado pela Câmara dos Deputados.

Na véspera de ser empossada ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti declarou que Dilma estaria disposta a atender pedidos dos senadores José Sarney e Fernando Collor, e patrocinar no Senado mudança no decreto para assegurar sigilo eterno a documentos oficiais. A única diferença é que, agora, o sigilo seria renovado a cada 25 anos.

O Congresso está prestes a aprovar a Comissão da Verdade, que irá apurar os crimes da ditadura militar. Como aprovar esta comissão e vetar para sempre o acesso a documentos oficiais? Isso significa impedir que a nação brasileira tome conhecimento de fatos importantes de sua história.

Collor e Sarney não gostam de transparência por razões óbvias. Seus governos foram desastrosos e vergonhosos. Já o Ministério das Relações Exteriores alega que trazer à tona documentos, como os da Guerra do Paraguai, pode criar constrangimentos com países vizinhos. Com países vizinhos ou com nossas Forças Armadas e personagens que figuram como heróis em nossos livros didáticos?

O sigilo brasileiro a documentos oficiais não tem similar no mundo. Se não for quebrado, a presidente Dilma ficará refém da chamada base aliada. Ontem foi o "diamante de 20 milhões de reais”, hoje o sigilo eterno, amanhã…

Na terça, dia 14 de junho, retornaram ao Brasil os arquivos do livro "Brasil Nunca Mais” (Vozes), que relata os crimes da ditadura militar brasileira. A publicação, patrocinada pelo Conselho Mundial de Igrejas, foi monitorada pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright.

O mérito do "Brasil Nunca Mais” é que não há ali nenhuma notícia de jornal ou depoimento de vítima da ditadura. Toda a documentação se obteve em fontes oficiais, retirada, por advogados, de auditorias militares e do Superior Tribunal Militar. Microfilmada, foi remetida ao exterior, por razões de segurança. Agora retorna ao Brasil para ficar disponível aos interessados. Muitas informações ali contidas não constam da redação final do livro, da qual participei em parceria com Ricardo Kotscho.

Os arquivos da Polícia Civil (DOPS) sobre a ditadura militar já foram abertos e se encontram à disposição no Arquivo Nacional. Falta abrir o arquivo das Forças Armadas, o que depende da vontade política da presidente Dilma, ela também vítima da ditadura. As famílias dos mortos e desaparecidos têm o direito de saber o que ocorreu a seus entes queridos. E o Brasil, de conhecer melhor a sua história recente.

Um país sem memória corre sempre o risco de repetir, no futuro, o que houve de pior em sua história.



Frei Betto

CORPUS CHRISTI


A celebração teve origem em 1243, em Liège, na Bélgica, no século XIII, quando a freira Juliana de Cornion teria tido visões de Cristo demonstrando-lhe desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.

Em 1264, o Papa Urbano IV através da Bula Papal “Trasnsiturus de hoc mundo”, estendeu a festa para toda a Igreja, pedindo a São Tomás de Aquino que preparasse as leituras e textos litúrgicos que, até hoje, são usados durante a celebração. Compôs o hino “Lauda Sion Salvatorem” (Louva, ó Sião, o Salvador), ainda hoje usado e cantado nas liturgias do dia pelos mais de 400 mil sacerdotes nos cinco continentes.

A procissão com a Hóstia consagrada conduzida em um ostensório é datada de 1274. Foi na época barroca, contudo, que ela se tornou um grande cortejo de ação de graças.

No Brasil

No Brasil, a festa passou a integrar o calendário religioso de Brasília, em 1961, quando uma pequena procissão saiu da Igreja de madeira de Santo Antônio e seguiu até a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais.

A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo.

Durante a Missa o celebrante consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra, apresentada aos fiéis para adoração. Essa hóstia permanece no meio da comunidade, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.

Texto: Canção Nova

quarta-feira, 22 de junho de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Humildade argentina


A Argentina declara guerra à China! Comoção geral. Após consulta popular feita na "Plaza de Mayo", a Argentina enviou uma mensagem à República Popular da China:

- Chinos de mierda, maricones : les declaramos "guierra": - tenemos 105 tanques, 47 aviones sanos, 4 barcos que navegan y 5.221 soldados.

O governo chinês deu a resposta:

- Aceitamos a declaração. Informamos que temos 100.000 tanques, 50.000 aviões, 1.500 navios e 400 milhões de soldados.

Orgulhosos, os argentinos retrucam:

- Retiramos la declaración de guierra... No tenemos como alojar tantos prisioneros.


Cenários pós-juninos


Vésperas de São João. O Congresso em letargia. Meio corpo viajando pelas plagas nordestinas, meio corpo se dividindo entre outras regiões e o Exterior. E projetos de impacto na mira: PEC dos Policiais, que institui piso salarial para policiais civis e militares e de bombeiros militares. Projeto já foi votado em um turno na Câmara e está pronta para ser apreciada em uma segunda etapa, antes de seguir para o Senado Federal. O governo é contra a matéria, mas há integrantes da base favoráveis ao tema, o que pode forçar para que o texto volte a ser apreciado em breve. E a emenda 29, que institui investimentos mínimos em saúde pela União, Estados e municípios. Temas quentes.


Panorama paulista


São Paulo é o centro de ressonância do país. Tudo que ocorre na praça paulista tem repercussão nacional. Maior população, maior colégio eleitoral, maior concentração de mídias, maiores classes médias, maiores entidades da sociedade civil organizada. Vamos lá. Geraldo Alckmin começou bem, mas já enfrenta barreiras. Em seis meses, já mudou 4 secretários. O caso mais recente foi a troca do secretário de Esportes. Pego com um pé na lama. Médico de renome: Jorge Pagura. Gravações o incriminam. Expedientes não dados em hospitais. Geraldo enfrentará dilema: o candidato a prefeito da capital? Quem será? In pectore, seria Bruno Covas. Pesa sobre ele a juventude e ainda certa inexperiência. Se Serra decidisse ser o candidato, a coisa estaria resolvida. Serra diz que não quer.


Eu te amo


Um homem sentado na varanda de sua casa com a esposa, diz: "Eu te amo". Ela pergunta: "Este é você ou a cerveja falando?" Ele responde: "Sou eu... falando com a cerveja".


A razão de Serra


Serra teme ser confrontado com velhos documentos e antigas histórias. Jamais sairia da prefeitura para se candidatar ao governo do Estado. Mandou os papéis e as promessas para o espaço. Ademais, não gostaria de voltar ao passado. Sonha com a ideia de ser o candidato tucano em 2014. Única meta que o atrai. Dizem que, no frigir dos ovos, o ex-governador acabará aceitando. Mas, se não aceitar, o mistério continuará: quem será o candidato? Andrea Matarazzo? Perfil muito elitista. Boa pessoa, bom trato, conhece bem os problemas da cidade, mas ainda longe das urnas. José Aníbal? Por acaso, alguém sabe onde este circula? O que faz? Sumiu. O senador Aloysio Nunes Ferreira? Bem que poderia ser o candidato tucano para a prefeitura. Mas não quer deixar o céu que é o Senado.


Não mudou nada


Miguel Rodrigues foi visitar uma escola primária, a professora ensinava os primeiros dias de Brasil:

- No começo do Brasil Colônia, como a América e o Brasil ficavam muito longe, para cá vieram, primeiro, muitos ladrões, degredados, condenados.

Coronel Miguel suspirou:

- Então não mudou nada.


Mercadante, Marta e Haddad


Aloizio Mercadante gostaria de ser prefeito. Foi atingido em cheio por matéria da Revista Veja, onde aparece, junto com Quércia, como "patrocinadores" do dossiê dos aloprados. Se for candidato, será confrontado com esse petardo. A mancha suja a imagem. Difícil de limpá-la. Pois será lembrada. Resta apostar na curta memória nacional. Aparece, então, Marta Suplicy. Que dá mostras de querer ir à luta. Fala todo tempo sobre seu regresso à prefeitura. Marta acaba de espicaçar Kassab. Diz que ele não cumpriu os compromissos. O prefeito retruca: foi você que não cumpriu. Marta vai tentar ser a candidata. Tem parte do PT nas mãos. Mas há Lula e Dilma que patrocinariam uma "cara nova". Quem? Fernando Haddad, o atual ministro da Educação.


PC do B


Netinho de Paula vai consolidando seu nome como candidato do PC do B. Artista, conhecido, ex-candidato ao governo, Netinho carrega um bom recall. Pesquisa recente feita pelo IPESPE lhe dá 17%. Mercadante aparece, nessa pesquisa, como 26% e Serra, com 22%. Paulo Skaf, com 10% e Gabriel Chalita, com 2%. Haddad, com 1%.


PMDB


O PMDB aposta em Gabriel Chalita. Que tem uma base forte, que agrega contingentes da Igreja Católica, mais especificamente o grupamento da Canção Nova, e, como feição, pode surpreender. Ocorre que o PMDB também tem Paulo Skaf, que aparece bem na fita das pesquisas e demonstra muita determinação de entrar na política pela porta da frente.


PTB


O deputado Campos Machado, que dirige o PTB paulista, gostaria de ter como candidato Luiz Flávio Borges D'Urso, atual presidente da OAB/SP. D'Urso é muito articulado, é bom de debate e, com tempo de mídia eleitoral, poderá ter performance de expressão e qualidade.

Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado. O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato. Os juros são o perfume do capital. (Barão de Itararé)


DEM


E o DEM, que candidato apoiará? Pois é, Roberto Justus. Isso mesmo, o cara publicitário-televisivo que os Democratas querem lançar. Incrível, porém verdadeiro. Deixará de ganhar uma fábula para meter a mão no bolso?


PDT


Paulinho da Força será o candidato, se quiser. Poderá, porém, fazer aliança. Paulinho tem sua base: a Central Sindical. E uma campanha majoritária no meio do mandato proporcional é uma boa jogada. Ganha visibilidade. Marca posição para a próxima partida.

PSD de Kassab


O PSD deverá se juntar a uma base de 40 a 45 deputados. Poderá ser a quarta bancada na Câmara. Não terá tempo de mídia para as campanhas proporcionais em 2012. Mas, dependendo de parcerias e alianças, poderá ganhar bons minutos e usá-los nas campanhas majoritárias (para as prefeituras). Como o TSE abriu a janela da migração partidária durante 30 dias, o partido do prefeito de São Paulo se transforma em ponto de encontro de insatisfeitos, perfis encostados ou marginalizados nos partidos e outros que acreditam nos potenciais da nova sigla.


Itamar


Torço pelo restabelecimento do senador Itamar. Está internado. Sob rigoroso tratamento médico em São Paulo. Sem papas na língua. Grande perfil de civismo.


Arquivo vivo?


Um cara que se diz arquivo vivo pode estar chamando perigo. Lembram-se do George Sanguinetti, o perito que defendeu o argumento de que a morte de PC Farias foi queima de arquivo? Pois bem, Sanguinetti quer voltar ao batente. Para insistir na ideia de que a morte do alagoano, tesoureiro da campanha Collor, não foi crime passional. Lembra que PC "quatro dias após a morte, iria depor na CPI das Empreiteiras, e estaria falando demais". O julgamento do caso deve ocorrer até setembro. Sanguinetti não esconde que teme algum ato de violência. "Hoje, eu que sou o arquivo vivo. Eu sei o caminho percorrido para que PC fosse silenciado. Tudo que eu tenho transferi para três autoridades de alta confiança, que são de fora do Estado. Se fiquei vivo, devo à imprensa, que nunca aceitou a farsa do crime passional".


Bolsa de talentos


O Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP) criou o programa Bolsa de Talentos, iniciativa que visa incentivar a empregabilidade no Estado de São Paulo. Trata-se de um site exclusivo para o cadastramento de currículos e oportunidades de emprego. Trabalhadores de diversas áreas e empresas associadas à entidade podem acessar as informações contidas no banco de dados, liberadas a partir de uma senha. Os resultados das buscas são fornecidos por meio do cruzamento de dados como perfil da vaga e experiência do candidato. Para conhecer o site, clique aqui.


Lula palestrando


Luiz Inácio está adorando a experiência. Dá palestras pelo mundo afora. Palestras, sobretudo, para executivos do mercado financeiro. Os grupos se divertem com as tiradas do ex-presidente. Dependendo do lugar e do patrocinador, as palestras podem chegar até R$ 500 mil. A cobrança média é de R$ 250 mil.


Cidades ameaçadas


Manaus, Cuiabá, Natal e São Paulo estão com sinal vermelho. Há dúvidas se terão efetivas condições de abrigar jogos da Copa. O ministro Orlando Silva é otimista. Ricardo Teixeira diz que está tudo sob controle. Na verdade, as obras em algumas cidades estão na estaca zero. Literalmente.


Escombros


O contínuo do doutor Ernane Galvêas, quando presidente do Banco Central, entrou correndo no gabinete:

- Doutor, chegue na janela que estão passando lá embaixo os escombros de Dom Pedro.

Eram os despojos de Dom Pedro I desfilando na avenida Presidente Vargas.


Conselho aos congressistas


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à ministra Ideli Salvatti. Hoje, sua atenção se volta aos congressistas:

1. É hora de retomar o fôlego no Congresso. As pautas congressuais precisam ganhar ritmo e passar ao crivo dos plenários. Aproveitem os festejos juninos para tomar o pulso das massas. E voltem dispostos à ação legislativa.

2. Há temas polêmicos, como a PEC 300 e a Emenda 29. Usem o bom senso na análise e decisão sobre tais matérias.

3. E não esqueçam de inserir as velhas demandas na pauta do próximo semestre: aspectos tributários e fiscais; aspectos da reforma eleitoral, partidária e política.



(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 21 de junho de 2011

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Condições externas e o Brasil


As razoáveis condições econômicas da economia brasileira escondem da opinião pública a percepção sobre o quanto os riscos externos podem afetar o desempenho doméstico. Na semana passada, esta coluna esteve reunida com economistas e analistas de dois bancos internacionais que recentemente realizaram apresentações para investidores no exterior. Resumidamente eis o conteúdo destas conversas nas notas abaixo.


Riscos de crédito


Os problemas de crédito da Grécia podem ter um efeito dramático sobre toda a Europa. As condições da Espanha são tão deterioradas quanto da Grécia, mas o seu endividamento afeta muito mais os bancos europeus, em especial os alemães, que necessitariam de novas capitalizações para bancar os ativos de seus balanços. O default grego trará consequências, além de suas fronteiras, muito mais sérias que se imaginava há meses.


Riscos de investimento


De forma geral, os gestores de recursos estão muito mais restritivos à exposição de riscos. Com isso, estão reduzindo posições em ações e títulos de renda fixa de países emergentes, incluindo o Brasil, a África do Sul e a Rússia.


Câmbio


Os temores de desvalorizações "competitivas" entre os países voltaram com força. A ausência de competitividade de importantes setores econômicos dos EUA e da Europa não tem condições de competir com a China e a Índia e outros países do sudoeste asiático. Com isso, apenas a desvalorização da moeda pode conter este processo no curto prazo. Resultado : as pressões políticas envolvendo a taxa cambial destes países competitivos vão aumentar e as suas consequências são sempre perigosas, sobretudo no que tange à inflação e ao volume do comércio internacional.


Brasil


O país deixou de ser o "queridinho" dos investidores. A percepção que está prevalecendo atualmente é que o "Brasil está melhor que o resto". Desta forma, os indicadores de riscos brasileiros, expressos nas cotações de títulos de renda fixa privados e soberanos, sinalizam uma "preferência" e não confiança absoluta no desempenho do país. O baixo crescimento endógeno do país comparativamente à Índia e à China, os riscos políticos e a ausência de reformas não favorecem o momentum dentre os emergentes. Pesa como fator essencialmente positivo a confiança na solvência externa, o que não é pouco.


Coalizão, colisão e chanchada


Nem boi solitário anda dormindo mais com uma simples conversa, precisa de um calmante. O que quer dizer que uma boiada inteira (no sentido figurado, com todo o respeito), como a bancada governista no Congresso, sempre está pronta para um estouro se o ambiente não agrada. E este é exatamente o pé em que estão os governistas da Câmara e do Senado, mais os primeiros, um pouco mais de uma semana depois da presidente Dilma ter começado a rearranjar seu esquema político. Por razões diferentes, ninguém está feliz.


Prazo fatal e curto


Dilma ganhou esta semana de graça, em virtude do feriado de Corpus Christi de quinta-feira e do São João de sexta-feira, que deixaram Brasília ao sabor dos ventos. É o prazo para dizer como, na prática, vai atender os desejos de seus aliados, nos pantanosos terrenos das verbas e dos empregos. Prazo curto : até o dia 15 de julho para o dinheiro das emendas e diariamente no "Diário Oficial" com uma velocidade de atendimento digna de um Ayrton Senna.


Prazo de aliado


Para o bem e para o mal, o PMDB faz absoluta questão de lembrar do "prazo fatal" todos os dias, o governo tem aliados que querem partilhar o poder. E suas benesses e, quem sabe até, algumas agruras. É este o desafio da presidente: conciliar parceiros inconciliáveis e famélicos sem passar a imagem de que se rendeu ao fisiologismo e que não tem como impor seus princípios e normas. O dito "presidencialismo de coalizão" no Brasil pode descambar celeremente para um "presidencialismo de colisão" com grandes pitadas de chanchada.


Em loja de louças


Depoimento de parlamentares de diferentes partidos: a presidente Dilma precisa urgentemente dar um treinamento para a ministra Ideli Salvatti e colocar nas mãos dela algum poder de decisão antes que ela comece a quebrar todo o estabelecimento político. A impressão das raposas é de que Ideli precisa com rapidez de um bambolê igual aquele com o qual o PMDB presenteou Dilma durante a campanha do ano passado. E que a presidente ainda não aprendeu a usar totalmente.


A voz dos oráculos


Por contas das arestas que ainda ficaram da crise exposta pela revelação das super consultorias de Palocci, a presidente Dilma pediu uma mão aos chefões oficiosos do PT e do PMDB. Lula, em seu estilo mais teatral, já tratou de dar um puxão de orelhas público nos petistas de São Paulo. Meio esfinge, Temer resvala nos bastidores. A expectativa é que falarão esta semana o "oráculo de São Bernardo" e o "oráculo do Jaburu". Quando voltarem de suas festas juninas, os parlamentares chegarão um pouco mais esquentados pelas queixas dos prefeitos.


Incúria oficial


O Brasil já sabia desde 2007 que seria sede da Copa do Mundo de 2014. Aliás, as autoridades esportivas e os governos - Federal, estadual e municipal - esforçaram-se como poucas vezes fazem para que o evento da FIFA viesse para o país. Não tem desculpa de falta de tempo para preparar as estruturas necessárias. A correria agora, com liberação de licitações e outras escandalosas liberações, é apenas mais um retrato em todas as dimensões de nossa incúria gerencial pública e da tendência tupiniquim de se comprazer a criar facilidades para quem quer ganhar um dinheirinho fácil. E que dinheirinho!


Sob intervenção?


Alguma coisa muito estranha está acontecendo com a Petrobras. Em um mês ela teve seu plano estratégico de investimentos 2011/2015 recusado pelo governo, com voto do ministro da Fazendo, Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração da empresa. Ao mesmo tempo, não teve autorizado o aumento pretendido de 10% no preço da gasolina na refinaria, pois implicaria em reajuste também na bomba para o consumidor final ou então redução da CIDE, e o Tesouro Nacional não pode perder arrecadação. Parece evidente que a Petrobras - assim como outras estatais (Eletrobras, os bancos oficiais, a rediviva Telebrás) - deve sujeitar-se à política econômica de Brasília. Assim sendo, não tem autonomia gerencial.


Visão externa da Petrobras


De um experiente analista de investimento de um banco inglês sobre a Petrobras: "não há mais nenhuma razão para recomendar as ações da Petrobras como opção de compra. Antes, os riscos eram enormes, mas previsíveis. Agora os riscos são imprevisíveis e gigantescos."


Deixe-se de sonhar


O ministro Guido Mantega pode enfiar no saco a viola da reforma tributária, mesmo fatiada, no curto prazo. Ela já joga os governadores do Norte e do Nordeste contra os do Sul e do Sudeste, oposição que só será vencida se o Tesouro Nacional tiver um baú muito recheado de recursos que todos pedirão para "compensar as perdas" com as mudanças no ICMS. O que, apesar dos acenos fazendários de que é possível, sabem todos que não é. Na Carta de Brasília lançada na semana passada, os governadores nortistas e nordestinos deixaram claro o preço da adesão deles ao imaginado pelo Ministério da Fazenda.


Só uma coisa une


Além dos discursos da simplificação tributária e do fim da guerra fiscal, está mais para estrangeiro ver, um único ponto une as partes estaduais em oposição : a mudança no índice de correção das dívidas estaduais para reduzir a contas deles de juros. O governo Federal está dizendo que topa, para ganhar em outros pontos. É operação complicada : como compensar o Tesouro com a perda do dinheiro desses pagamentos do serviço da dívida. A própria desoneração da contribuição das empresas para a previdência social, anunciada várias vezes pelo ministro Mantega para "os próximos dias" subiu na cobertura pela mesma razão. O cobertor da arrecadação é grande e bem pesado e, mesmo assim, é curto e não aquece todos os beneficiários dos impostos.


Para complicar - I


Voltou a guerra pela distribuição dos royalties do petróleo, pondo todos os Estados contra o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, mais de 5 mil prefeitos no Brasil todo contra pouco mais de 100 prefeitos fluminenses e capixabas.


Para complicar - II


Ainda há o caso isolado do Amazonas e da Zona Franca, já pintados também para um embate com todos. Dizem os manauaras que a mudança no ICMS, como foi proposta pelo Ministério da Fazenda, mata a economia industrial da região. Além disso, já estão em pânico com os incentivos fiscais concedidos à produção dos tablets. Caso não consigam barrar a MP, vão exigir que a lei defina o tamanho das telas de tablets, para evitar que as indústrias do sul possam usar a brecha da lei para produzir aparelhos de TV de 30 polegadas ou mais como se fossem esses novos "brinquedinhos" digitais. Se continuar nessa batida, o governo Dilma vai conseguir tirar de José Serra o "troféu de político brasileiro mais odiado em Manaus e adjacências", posto que o tucano conquistou quando foi ministro do Planejamento e teve a Zona Franca sob suas asas.


Apagão digital

Anatel, Congresso e o Ministério das Comunicações não se entendem sobre as novas regras para o setor de telecomunicações e informática no Brasil. A nova lei do cabo está parada no Senado. O novo Plano Geral de Metas e Universalização é objeto de disputa entre o setor público e o setor privado. E nada avança na lei geral de telecomunicações. A Telebrás foi ressuscitada para tocar o Plano Nacional de Banda Larga, mas até agora não explicou porque voltou a existir e o projeto, menina dos olhos eleitoral de Lula e Dilma, já sofreu vários adiamentos e redução de metas. Mais da R$ 10 bi do Fust, criado para financiar a universalização dos serviços de telecomunicações, está parado nos cofres do Tesouro Nacional para engordar o superávit primário enquanto o governo gasta em outras coisas muito menos importantes, especialmente com aumentos de salários e despesas de custeio. É o Brasil do século 21 em marcha acelerada para ficar parado no século. Num "apagão tecnológico" que pode retardar em algumas décadas a nossa tão sonhada (e não a atualmente apenas sonhada) entrada no universos das nações verdadeiramente desenvolvidas e com qualidade de vida para seus cidadãos. Como advertiu recentemente o presidente da União Internacional de Telecomunicações, Hamadoun Touré, que estará no Brasil participando da Futurecom, de 12 a 15 de setembro, "se não forem feitas profundas modificações no sistema regulatório do setor de telecomunicações, em cinco anos poderemos ter uma crise pior do que a financeira". Para Touré, as normas existentes estão ultrapassadas, não acompanharam a evolução da tecnologia de telecomunicações e de informática. A do Brasil ainda nem descobriu a convergência digital.


(José Marcio Mendonça e Francisco Petros)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

FHC, 80 ANOS

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez 80 anos no sábado. Digam o que disserem, e há muito a ser dito contra ele, FHC tem razões para comemorar. Não só porque presidiu o país por duas vezes, mas porque, ao fazê-lo, deixou sua marca na história.

Sob seu comando, o Brasil eliminou a inflação, uma amarra que impedia a maioria de viver a vida sem o sobressalto de imaginar se chegaria ao fim do mês. Após o plano Real, o país adquiriu condições de ocupar lugar de destaque entre as economias emergentes. E tudo foi feito em meio à ampliação do regime democrático.

Sua importância é tamanha que seus sucessores, Lula e Dilma, apesar de se oporem a ele, deram seguimento ao fundamental de sua obra: a estabilidade econômica. Lula só conseguiu ser eleito e reeleito porque se comprometeu a seguir as políticas que FHC criou. Antes da Carta ao Povo Brasileiro, na qual assumiu tal compromisso, o petista era visto com desconfiança e medo.

No poder, Lula e seu partido se esforçaram para diminuir a importância daquele que sucederam. Mas ambos sabem da importância de FHC, o que foi recentemente reconhecido por Dilma em carta ao ex-presidente tucano.

Impossível negar que Lula fez o país avançar ainda mais: a expansão dos programas de distribuição de renda, a política de aumento real do salário mínimo e a ampliação do crédito permitiram àquela parcela da população que mais sofria com a inflação tornar-se o motor da expansão do consumo e, por consequência, do crescimento do país.

É lamentável, porém, que tanto esforço seja despendido para fazer parecer que os dois mandatos do tucano foram tão distintos dos dois que se seguiram. No fim das contas, até mesmo em seus erros e deficiências, FHC e Lula são mais parecidos que diferentes. A disputa sobre quem foi melhor do que o outro só serve para alimentar campanhas eleitorais, mas, lamentavelmente, atrapalha o país, pois as razões do sucesso de ambos - a estabilidade econômica - acabam virando um detalhe.

De resto, FHC merece ser comemorado, no mínimo, por ter chegado aos 80 anos sem ser um velhote esclerosado. Com essa idade, ainda tem vigor intelectual e disposição para assumir uma causa controversa, como a da descriminalização da maconha.



(Fábio Santos, no Jornal Destak São Paulo)