quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a Coluna com duas historinhas, uma de ontem, a doidice desse velho mundo, e outra de anteontem, o ladrão de galinhas.

Que mundo doido...!

- Esse velho mundo ta cada vez mais doido.

Era a queixa de Maneco Faustino, nas ruas de Limoeiro, no Ceará. E arrematava:

- Veja vosmicê : ta se vendo estrela de mei dia ; já hai galinha nascendo com chifre ; cangaceiro dando esmola na igreja ; já vi bode dando leite e, agora, deu pra chuver no Ceará em agosto. Querem ver mais : muié sentando em cadeira de barbeiro e home entrando em banheiro de muié.

Pedro Malagueta confirmava, balançando a cabeça:

- Tá mesmo tudo virado, cumpade. O mundo endoidou. Tenho três fias, duas casadas e uma sorteira; as duas casadas nunca tiveram menino ; mas a solteira todos os ano me dá um neto.

O ladrão de galinhas

Historinha conhecida merece um repeteco.

Certa vez, um ladrão pulou o muro da casa de Rui Barbosa para roubar uma galinha. No alvoroço, o grande tribuno acordou do profundo sono, e se dirigiu ao galinheiro. Lá chegando, viu o ladrão já com uma de suas galinhas, e passou o carão:

- Não o interpelo pelos bicos de bípedes palmípedes, nem pelo valor intrínseco dos retrocitados galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de minha residência. Se foi por mera ignorância, perdôo-te, mas se foi para abusar da minha alta prosopopéia, juro pelos tacões metabólicos dos meus calçados que dar-te-ei tamanha bordoada no alto da tua sinagoga que transformarei sua massa encefálica em cinzas cadavéricas.

O ladrão, pasmo e sem entender patavina, tascou:

-Cumé, doutor, posso levar ou não a galinha?

Lula arruma a cara

O ex-presidente Lula será mais que caixeiro viajante na empreitada eleitoral deste ano. Correrá Estados no esforço para desfraldar a bandeira petista pelos grandes e médios centros. Ele sabe que este 2014 será o teste de fogo do PT. A primeira providência foi tomada: deixar a barba crescer. Desenha a velha e conhecida estética lulista. A voz já está no prumo. Com esse aparato, não apenas pretende reeleger a pupila, a presidente Dilma, mas fazer o maior número de governadores, o maior número de deputados federais, expandir a bancada de senadores e de deputados estaduais. Alvo: vida longa ao projeto petista de poder, uma inserção até 2022. Quem sabe, até mais. Para tanto, precisa fazer o que o PMDB fez em 1986: esticou os braços por todo o país, construindo a maior máquina partidária para atravessar décadas.

Palíndromo I

Palavra ou frases que se podem ler nos dois sentidos, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. A coluna de hoje será puxada por palíndromos.

- Anotaram a data da maratona

O alvo principal

Pela primeira vez, o PT disputará, em condições competitivas, os governos dos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em São Paulo, a meta é viabilizar o nome do ministro Alexandre Padilha, a partir de seu índice histórico de 30% de eleitorado no Estado. Vai lutar com unhas e dentes para jogar Padilha no segundo turno. Contará com a máquina da prefeitura de SP, os prefeitos do PT, o poder de mando ($$$$$) do governo federal e o comando de Lula. Fernando Haddad, mal avaliado, poderá prejudicar? Em termos, mas o eleitor petista é engajado.

Palíndromo II

- Assim a aia ia a missa

Polarização?

É possível que a velha polarização entre petistas e tucanos prevaleça. Mas parcela considerável do eleitorado está saturada da querela histórica. E tende a rejeitar os nomes tradicionais. Alckmin conserva boa imagem no interior do Estado. Na capital, sua imagem não é tão forte. O PSDB sofre, ainda, do fenômeno da corrosão de material. Sob essa moldura, um perfil com traços de renovação teria condições de avançar, quebrando a polarização. Paulo Skaf, presidente da FIESP, entra no figurino. Já exibe, a essa altura, 20% das intenções de voto dos paulistas. É determinado, expressa atitudes corajosas, liderou campanhas vitoriosas - CPMF, barateamento da energia, IPTU menor e mais justo.

Palíndromo III

- A diva em Argel alegra-me a vida

MG, incógnita

Fernando Pimentel é perfil bastante conhecido em Minas. Sua imagem é de petista suave, sem os traços radicais que carimbam figuras clássicas do PT. Ex-prefeito de Belo Horizonte, fez boa administração. Dialoga com as correntes políticas do Estado. Dessa feita, sua luta é contra os tucanos mineiros, liderados por Aécio Neves, candidato à presidente da República, e pelo governador Antônio Anastasia. Derrubar a gaiola dos tucanos, depois de longo ciclo de mando, não será fácil. Minas abriga o maior número de municípios do país e o segundo maior colégio eleitoral. A candidatura de Aécio, muito simbólica aos mineiros, que se sentem relegados a segundo plano, depois de terem perdido o presidente Tancredo, poderá dar a seu neto grande votação. Maneira dos mineiros resgatarem o poder perdido. Esse é o pano de fundo sob o qual será disputado o pleito. Apagar esse cenário será um desafio ao PT. O candidato tucano terá charme para dar continuidade à era Aécio-Anastasia? Seu nome: Pimenta da Veiga. É conhecido. Não significa, porém, um voo ao passado?

Palíndromo IV

- A droga da gorda

Lacerda

E como se comportará o PSB, do prefeito de BH, Márcio Lacerda? Que terá Eduardo Campos, o comandante do partido, candidato à presidente da República? Com quem o PSB fechará posição em Minas?

Palíndromo V

- A mala nada na lama

O terceiro vulcão

O terceiro vulcão da campanha será o Rio de Janeiro. Lindbergh Farias, o senador petista, espera entrar no segundo turno. Pezão, o vice-governador, candidato do PMDB e da máquina, oscila entre 10% a 12% de intenção de voto. O deputado Garotinho, do PR, lidera o início de corrida. César Maia, do DEM, passará dos 10%. Ou apenas quer garantir visibilidade ? O senador Marcelo Crivella, do PRB, prepara-se para entrar no páreo. A incógnita toma corpo entre os cariocas. Mas a tendência é que os candidatos das máquinas cresçam. Por disporem de mais tempo de mídia eleitoral e mais recursos. É plausível prever um segundo turno entre PMDB e PT. Os candidatos evangélicos, Garotinho e Crivella, teriam condições competitivas ? Difícil. Lindbergh tem um histórico de problemas. E processos no entorno. Mas, caso entre no segundo turno, pode ganhar o apoio de outros candidatos. Será uma campanha tão árdua quanto a que se verá em SP e MG.

Palíndromo VI

- A torre da derrota

E Marina, hein?

Marina era a grande estrela a brilhar na constelação do PSB de Eduardo Campos. A estrela não brilha quanto se esperava. Parece mais uma guerreira a fustigar (e a afastar) aliados do governador pernambucano.

Palíndromo VII

- Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na moda da Romana anil e cor azul

Chances de Campos

Hoje, as chances de Eduardo Campos são pequenas. Tentar furar o bloqueio dos três maiores colégios eleitorais do país é tarefa que exige um conjunto de condições: parcerias locais, recursos, tempo de rádio e TV, ajuda de máquinas administrativas, agenda intensa nesses espaços. Por onde Eduardo Campos vai começar?

Palíndromo VIII

- O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro

O exercício da função

Os candidatos a cargos majoritários em comandos de estruturas - governadores de Estado, presidente da República, ministros - dispõem de condições mais favoráveis que candidatos sem máquinas administrativas. Ganham visibilidade na esteira de uma agenda locupletada de eventos : viagens, inspeções, inaugurações, articulação política, mobilização de massas. Estão praticamente todos os dias na mídia. Por isso, não podem se queixar de pessoas que, na esfera de suas entidades, ganham visibilidade e se habilitam a ingressar na política. No fundo, estão na mídia em razão do exercício de suas funções.

Palíndromo IX

- Saíram o tio e oito Marias

Tapetão, uma vergonha

Por essa razão, não se compreende a tentativa de tucanos e de um ou outro partido nanico de entrar com ação contra Paulo Skaf, do PMDB, pelo fato de aparecer em anúncios publicitários do Sesi e do SENAI. Ora, o presidente da FIESP usa o direito que tem, coerente com o exercício do cargo. Acaba de ganhar uma luta que beneficia milhões de paulistanos: o reajuste do IPTU paulistano à base do índice da inflação. Trata-se de uma campanha de relevo social. O sucesso de um empreendimento desse vulto carece de mobilização. E conhecimento da sociedade. Assim como foram as lutas contra a CPMF e o custo menor da energia, também lideradas por Skaf. A tentativa do tucanato de entrar com recurso para inviabilizar, mais adiante, sua candidatura significa temor de que o presidente da FIESP possa romper a polarização PT x PSDB. Hipótese a ser levada em alta conta.

Palíndromo X

- Zé de Lima rua Laura mil e dez

Discórdia ministerial

A reforma ministerial é o pomo da discórdia. Por mais que a presidente tente acolher as demandas de sua base partidária, a insatisfação se expande. Os 39 ministérios serão devidamente distribuídos, cabendo ao PT, claro, a parte do leão : 25 Pastas. O PMDB começa a enxergar que, ao invés de aumentar seu espaço na Esplanada dos Ministérios, poderá, até, ver diminuída sua fatia. Dilma e Lula teriam combinado oferecer ao PMDB, em compensação à perda de Ministérios que o partido reivindica (Integração, Cidades, por exemplo), palanque a seus candidatos em alguns Estados. Quer dizer, Dilma iria prestigiar candidatos petistas e, em outra oportunidade, poderia subir ao palanque de peemedebistas. Se for essa a proposta, a indignação subirá a montanha. Os ânimos estão acirrados. Lula, Dilma e o PT não acreditam que o PMDB parta para retaliação. Mas o partido sabe muito bem guardar a raiva no congelador. Para servi-la em futuros coquetéis.

Palíndromo XI

- O lobo ama o bolo

Tucanos e aliados de Dilma

Os tucanos tendem a fazer alianças com aliados do governo Dilma nos seguintes Estados : Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.

Palíndromo XII

- A cara rajada da jararaca

A partilha

Pelo que se observa, a partilha ministerial terá a seguinte composição : 25 ministérios para o PT ; 5 para o PMDB ; 1 para o PR ; 1 para o PP ; 1 para o PROS ; 1 para o PTB ; 2 para o PSD ; 1 para o PDT ; 1 para o PC do B e 1 para o PRB.

Palíndromo XIII

- Rir, o breve verbo rir

Conselho aos governantes

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jovens. Hoje, volta sua atenção aos governantes e representantes :

1. Urge interpretar a quadra social que o país vivencia. As movimentações sociais, a partir dos rolezinhos dos jovens, querem significar, a par do lazer e diversão, esforço para participação mais intensa e engajada no processo decisório nacional. E expressar demandas de grupos e setores.

2. Os rolezinhos não devem ser tratados como eventos de natureza policial, mas como fenômeno social/cultural.

3. O bom senso se faz necessário, antes que os movimentos assumam posicionamentos que transbordem os limites e objetivos ao que, preliminarmente, se propõem.

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(Gaudêncio Torquato)