sábado, 27 de julho de 2013

UMA CHARGE PARA SE CHORAR

Charge para se chorar desenhada pelo grande chargista Boaventura!

Abraço!!

Valber Benevides

Clique na imagem para ampliá-la:


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Olá Júnior,

Bem expressiva a charge de Boaventura. Amei!! E me inspirou estes versos.

Meu abraço,

Dalinha


O GEMIDO DA SANFONA
*
Partiu deixando saudade
Deixou de luto o forró
Ficar sem ele dar dó
Digo com sinceridade
Foi tocador de verdade
Puxando o fole de jeito
Dominguinhos bom Sujeito
Fez a sanfona tremer
A gora nos faz gemer
Unidos no mesmo preito.
*
Dalinha Catunda

Luiz Gonzaga e Dominguinhos - Vídeo raro e Emocionante - LuizLuaGonzaga....

sexta-feira, 26 de julho de 2013

DOMINGUINHOS, ACORDES NO CÉU!














Voou nosso uirapuru
Para o azul da distância...
Aspirar nova fragrância
Entre anjos e arcanjos;
Harmonizar seus acordes
Imprimindo novas claves,
Extraindo sons suaves
Para divinais arranjos.

Nas asas dum querubim
Para o céu pegou carona,
Com sua doce sanfona
Pra Deus, emitir solfejo.
Saudar os Santos e os Anjos
Com acordes magistrais,
“Isso aqui tá bom demais”
E “Lamento sertanejo”.

Garanhuns não lhe cabia
Seu tamanho é o do Brasil,
Matuto astuto e gentil
Do nosso Rei, sucessor.
Sua vida é um exemplo,
Cada melodia, um hino,
Cantor que ao chão nordestino
Lançou sementes de amor.

Concedeu grande legado
De reluzente obra estética,
A melodia e a poética
Moldaram sua trajetória.
Sorverei sua saudade
Na solidão dos caminhos,
Descansa em paz Dominguinhos,
É bonita a tua história!...

(Dideus Sales)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

DIDEUS SALES E A POESIA POPULAR

Existe uma tradição (e uma tendência) na poesia de todos os tempos que resiste à tentação das vanguardas e da modernidade: a poesia de inspiração e ritmo popular. Não se enquadra nos rótulos de nenhuma gramática, não cabe em manuais acadêmicos e não se mede pelos parâmetros do mercado onde se vendem mercadorias e serviços.

É espontânea como as energias do amor, a plenitude e o brilho das estrelas ou como as águas que descem fagueiras das escarpas em busca dos regaços que as levam de volta para Deus.

Trata-se de uma poesia heroica e multifacetada, que paga tributo unicamente à vida e às grandes esperanças do homem. É revisada e atualizada sempre que entra em contato com o leitor, pois é para ele e não para as ilusões do mundo que ela se refaz e sempre se renova.

Foi assim com a poesia épica de Homero, com os jogos florais do medievo, com os movimentos trovadorescos de todas as idades e com a poesia popular ibérica que nos deu as linhas de pesquisa e os formatos de bolso e de linguagem da literatura de cordel.

Está mais próxima do romance e do enredo de gosto popular do que qualquer outra forma de representação veiculada pela palavra ritmada. Está mais próxima do leitor e das suas aventuras do que as projeções ou a dança das imagens que remarcam a existência da sociedade moderna.

O sertão é o seu locus privilegiado, pois é aí que ela se elabora e se reproduz pela voz dos aedos populares. Leandro Gomes de Barros, no campo do folheto de cordel; Aderaldo Ferreira de Araújo, no setor dos cantadores de viola; Lobo Manso, na seara das profecias e da poesia de combate; e Patativa do Assaré, na linha de todos os ritos polifônicos que unificaram a voz dos deserdados e despossuídos em busca de igualdade e de justiça – são exemplos de poetas do Nordeste que mudaram o curso da literatura popular no Brasil.

A afirmação do extrato máximo da cultura, para a minha visão, não está nas Universidades, tampouco nas Academias, esses nichos de petulância e de quase nenhuma produção, mas naqueles que fazem a cultura prosperar, em todos os quadrantes do mundo e, especialmente, no sertão.

Os grandes produtores de cultura do Ceará não estão somente em Fortaleza, como pensavam, até bem pouco tempo, os pesquisadores eruditos, mas em toda a extensão da terra de Alencar. Juvenal Galeno, Patativa do Assaré, Oswald Barroso e Gilmar de Carvalho conheceram ou conhecem o Ceará e as suas tradições muito mais do que os poetas que mourejam no Ideal; ou muito mais do que os eruditos que estudam a extensão da sua ignorância nos corredores do Benfica.

Dideus Sales, andarilho e pastor de sonhos, que costura a ligação vilas e cidades, no interior do Ceará, é um legitimo representante da cultura cearense e da poesia popular do Nordeste. E mais do que representante, Dideus é o maior e o mais vivo dos poetas cearenses a fazer, no Ceará, a ponte da cultura entre o sertão e o litoral.

Jornalista, poeta e guardador de tradições sem conta da alma sertaneja, Dideus não para de crescer e produzir. Editor da revista Gente de Ação, sediada em Aracati e que se espraia por todo o Ceará, Dideus atravessa o sertão da sua terra sempre a carregar nos bolsos (e na alma) a verve do povo cearense e as suas mais belas tradições.

Na condição de poeta, já nos deu meia dúzia de livros e opúsculos que o colocam em posição de relevo. Mas Dideus não para de escrever e publicar. Prova dessa sua paixão de ordem cultural, é o seu livro: Veredas do Sol (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2006), que dispensa prefácios ou apresentações. É sóbrio, sereno, espontâneo, equilibrado e arrojado como todos os grandes e pequenos projetos literários do autor.

Ter sido o autor do prefácio desse livro constitui um privilégio para mim, porque nesse texto me vejo retratado também. E para além da minha condição de poeta, orgulho-me de ser amigo de Dideus, de ser hóspede do seu coração e do seu afeto e de ser leitor de suas intenções e dos seus grandes achados no plano da cultura.

Não vou entrar no conteúdo do livro. Deixo para o leitor o prazer de desfrutar, de primeiro, as imagens e os ritos do sertão que esse volume documenta: lições de vida e de beleza, lições de vida e esperança, lições de vida e de amor desse trovador e poeta do sertão, que o Ceará e o seu povo legaram à poesia telúrica do Brasil.

Dimas Macedo

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A PARTIDA DE DOMINGUINHOS


Uma sanfona emudece
Um sanfoneiro partiu.
Quem Dominguinhos ouviu
A sua voz não esquece.
O seu canto além de prece,
Foi encanto e louvação,
Encantou serra e sertão
Quem de Lua foi herdeiro,
Partiu nosso sanfoneiro
Partindo meu coração.

Dalinha Catunda

terça-feira, 23 de julho de 2013

APRENDER COM OS INIMIGOS


Narra a história que, em uma das guerras civis romanas, César derrotou Pompeu. Por nutrir grande admiração pelo contendor, uma das primeiras ordens de César foi para que fossem reerguidas as estátuas derrubadas do grande general abatido e morto. O gesto germinou em Cícero, memorável orador, a seguinte frase: “Ao reerguer as estatuas de Pompeu, César consolidou as suas”.

A rotatória mundana nos impede de tratar, com o signo do respeito, os que miram o mundo com lentes diferenciadas das nossas. No espaço conturbado da política, especialmente, somos tentados a rechaçar toda e qualquer análise oriunda dos círculos adversários. Os governos, de uma maneira geral, têm enormes dificuldades de aceitar a palavra contrária; com isso, abdicam de respirar o ar livre da renovação e da superação. Não devia ser assim. Ao repelirmos as observações divergentes, sem deixar que elas passem pela peneira da nossa consciência, perdemos uma grande oportunidade evolutiva.

O filho do carpinteiro José, dito Nazareno, argumentou certa feita: se fizerem o bem apenas aqueles que são bons com vocês, que méritos tereis? Até os publicanos agem assim...

Aprender com os inimigos... Eis um grande desafio, sobretudo para aqueles que ocupam cargos de mando, de comando, de direção. O poder temporal, quanto mais forte e ostensivo, mais impulsiona os que o exercem à busca da facilidade, geralmente traduzida no apego à pseudo unanimidade, no culto ao absolutismo, na prática da intolerância com a divergência.

Quão bom seria se os que ocupam os tronos soubessem recolher as lições que emergem dos que os denunciam!

O pensador grego Plutarco escreveu um tratado ensinando ‘Como Tirar Proveito dos Seus Inimigos’. Vejamos uma das suas observações:

"A água do mar é pouco potável e tem um gosto ruim; mas sustenta os peixes, favorece os trajetos em todos os sentidos, é uma via de acesso e um veículo para aqueles que a utilizam. O fogo queima quem o toca; mas fornece luz e calor, serve a uma infinidade de usos para aqueles que sabem utilizá-lo. Examina igualmente teu inimigo: esta criatura, de um outro lado, nociva e intratável, não dá, de alguma maneira, ensejo de ser útil? Não pode prestar-se a algum uso particular?"

No magistério de Plutarco, “as partes de nossa vida que são doentias, fracas, afetadas atraem nosso inimigo (...) Isso nos obriga a viver com cautela, a prestar atenção em si, a nada fazer nem nada dizer estouvada e irrefletidamente”.

Em uma peroração atualíssima sobre o risco do raciocínio totalitário, conta que, "quando pensavam e diziam que o poderio romano estava fora de perigo (após a destruição de Cartago e a sujeição da Grécia)", Nasica, político de então, advertiu: "Pois bem, é agora que estamos em perigo! Porque não sobraram rivais... que possam nos inspirar vergonha ou medo".

Noutro giro, advertindo para a necessidade de distinguir amigos de bajuladores, o livro sustenta que devemos ficar atentos a quem só nos cobre de elogios e sempre concorda com nossas opiniões: "O bajulador é inteiramente semelhante ao camaleão, que pode assumir todas as cores exceto a branca."

Segundo Plutarco, a semelhança dos gostos está na origem da amizade, enquanto o bajulador a dissimula: "O que fundamenta antes de tudo a amizade é a identidade dos regimes de vida e a semelhança dos costumes; e, geralmente, a similitude dos gestos e das aversões é a primeira coisa que nos liga e nos prende, através das sensações. O bajulador percebe-o perfeitamente; e, como um objeto que se talha, ele se transforma e se modela, adaptando-se e conformando-se, por imitação, àqueles de quem procura ganhar o coração."

"Visto que hoje a amizade só eleva fracamente voz, quando se trata de falar com franqueza, e que, verbosa na lisonja, é silenciosa nos conselhos, é da boca de nossos inimigos que, às vezes, é preciso ouvir a verdade".

Plutarco recorre a outro filósofo grego, Xenofonte, para resumir o pensamento exposto em seu pequeno ensaio: “É próprio de um homem ponderado tirar proveito de seus inimigos”.

Os inimigos, reflete Plutarco, como que nos obrigam a andar pela linha reta, uma vez que seus olhos estão continuamente sobre nós, ávidos por captar nossas faltas e propagandeá-las. Eles exercem uma espécie de censura benigna sobre nós. Impedem-nos de sermos moralmente frouxos.

Em Diógenes, outro cultuado produto do pensamento grego, Plutarco busca a citação para mostrar o ponto central de sua tese: “Como me defenderei contra meu inimigo? Tornando-me, eu próprio, virtuoso”.

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

OBSERVATÓRIO

O ano era 1990 e o calendário político assinalava eleições estaduais. Rodrigo Coelho Sampaio, o Rodrigão, era Prefeito de Novo Oriente e sonhava com a candidatura a Deputado Estadual de um seu amigo do peito: o empresário Clarindo Gomes do Nascimento. Clarindo não saiu candidato e, em seu lugar, surgiram os nomes do ex-prefeito de Crateús Sérgio Moraes e do professor Manoel Bezerra Veras. Por intermediação de amigos comuns, Rodrigão fecha com Manoel Veras. No dia da formalização, Veras fez um emocionado discurso agradecendo o apoio. Disse que ia retribuir ao povo de Novo Oriente com muito trabalho e dedicação. Ao final, voltou-se para Rodrigão e enfatizou: - Prefeito Rodrigo, pode contar comigo. Em havendo necessidade pode me procurar a qualquer hora do dia ou da noite. Rodrigão ouviu aquelas palavras com a sobrancelha levantada, como quem faz um registro importante. Após o período de apuração (a votação, naquela época, era manual e a contagem dos votos demorava dias), saiu o resultado da eleição: Manoel Veras estava eleito. Os amigos, em Fortaleza, organizaram uma festa. Manoel chegou muito tarde em casa. Pouco mais de três horas de manhã, o telefone toca. Tânia, a esposa, atende. Era Rodrigão querendo falar com o recém eleito. Manoel Veras, com enorme ressaca e dor de cabeça, imagina ter acontecido algum problema sério e interroga: - ‘O que houve, Prefeito?’ Rodrigão, com voz pausada, responde: - “Nada não, queria só confirmar se você cumpria a palavra e me atendia a qualquer hora. Muito obrigado!” E desligou o telefone...

COMPROMISSOS

O maior desafio que quem se submete ao crivo popular para o exercício de um mandato é precisamente este: cumprir as promessas de campanha. Somos livres para firmarmos os compromissos que quisermos, mas escravos das conseqüências. Esta é uma lei universal: a lei do retorno, da causa e efeito, da ação e reação. A maioria das pessoas se deixa envolver pela corrente de esperança que determinadas candidaturas constroem. Isso é natural e saudável. O problema surge quando os eleitos se distanciam da viga mestra que sustentava suas postulações. A corrente passa a ser transmissora de tensão. É o que se verifica agora em Crateús.

CRATEÚS

É de ciência pública que este periódico, por sua editoria oficial, sempre manteve uma postura de simpatia pela atual gestão municipal de Crateús. Sucede que, ultimamente, de posse de informações que indicam aplicação equivocada de verbas públicas, o Jornal Gazeta do Centro Oeste tem estampado matérias que despertam inquietação. É que a Imprensa, como bem ensinava o mestre Rui Barbosa, tem o dever da verdade. César Vale, editor deste Jornal, ao publicar matérias amparadas em dados oficiais, atraiu para si os petardos do poder. Antes era elogiado; agora, fulminado. Se antes era recebido com flores, agora vê cápsulas de fogo.

CRATEÚS II

Lamentável nesses episódios é que ninguém se debruça, com serenidade, sobre os fundamentos das observações feitas. Ao invés de analisar a crítica, se desqualifica o crítico. No lugar de ponderar e responder com dados convincentes às denúncias, se investe contra o denunciador. Rui Barbosa também lecionou que o “o poder não é um antro, é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro... Para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país”. Que os atuais gestores crateuenses reflitam sobre a profundidade das palavras acima. A respeito da relação com os que nos fazem contraponto, vide crônica acima.

PAPA FRANCISCO

Quem já teve a graça de um contato com o Papa Francisco testemunha a rajada de energia espiritual que emerge do Sumo Pontífice. A primeira visita de Francisco ao Brasil é uma oportunidade ímpar para os brasileiros se deliciarem com a cristalina fonte de sabedoria desse homem de fé. A Revista Época desta semana destacou dez lições de vida do atual Bispo de Roma: 1. Viaje leve pela vida – liberte-se do capital material. 2. Dê importância aos valores – um punhado de convicções, gostos e atitudes simples vale mais que bens materiais. 3. Cultive as relações pessoais – ‘mantenha relação intensa e generosa com todos ao seu redor’. 4. Freqüente a Rua – ‘andar pela rua e misturar-se ao povo esclarece e humaniza’. 5. Seja comum e extraordinário – ‘através da liderança discreta, nunca fazer questão de parecer extraordinário ou incomum’. 6. Cultive a diferença – ‘abra-se a valores diversos dos seus’. 7. Valorize a família – ‘local da descoberta vocacional e construção da personalidade’. 8. Não tenha vergonha de ser humilde – ‘não deixe que posições importantes mexam com seus hábitos e com sua cabeça’. 9. Reconheça seus defeitos – ‘sejamos mais honestos e compreensivos, com nós mesmos e com os outros’. 10. Cuide de seus amigos – ‘a amizade é uma relação transformadora. De profundo engajamento, que requer atenção e doação’.

PARA REFLETIR

“Não nos conformemos em ler notícias de jornal ou ver televisão. Aproxime seu coração. ‘Estou de férias, não posso...’ Um coração cristão nunca está de férias. Sempre está aberto ao serviço onde há necessidade, porque sabe que onde há uma necessidade, há um direito. Este povo, por ser nosso irmão, tem o direito a nossa atenção.” (Papa Francisco).

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

TSE - CARMEN LÚCIA GRAVA AUDIÊNCIA SOBRE PRORROGAÇÃO DE CONTRATO

A ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, gravou formalmente audiência sobre prorrogação de contrato de consórcio de empresas que cuida das urnas eletrônicas do país. Quem narra é o jornalista Elio Gaspari.

Segundo a narração, o advogado das empresas fez uma exposição demonstrando que, "pela lei, um contrato que pode ser prorrogado, prorrogado deve ser." Já a ministra Cármen Lúcia disse que "a Constituição manda licitar. Quando tem um prazo determinado, assim que acabar o contrato, tenho que fazer licitação."

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Cármen Lúcia e o ‘clamor das ruas’

Na noite de quarta-feira, o consórcio de empresas que cuida da manutenção e do funcionamento das 500 mil urnas eletrônicas do país entrou com um pedido de prorrogação do seu contrato, vencido na véspera. Entre os muitos argumentos apresentados, mencionou “a voz do povo que clama por mudanças”.

Coisa interessante, o povo “clama por mudanças”, e os empresários do consórcio querem prorrogação por cinco anos, de um contrato de um ano que caducou. Coisa de R$ 120 milhões, o maior na área do Tribunal Superior Eleitoral.

Um dia antes do vencimento do contrato, a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, recebeu o grupo de empresários e seu advogado. Mostrou-lhes um gravador e informou que a audiência seria formalmente gravada.

O consórcio, liderado pela empresa Engetec, sucedeu a outra, que faliu. Ele prestou à Justiça Eleitoral dois serviços. Um, regular, de manutenção das urnas, pelo qual seus técnicos verificavam as baterias e o funcionamento elementar dos equipamentos. Essa parte valia R$ 5 milhões. Na outra, de R$ 115 milhões — às vésperas das eleições — suas equipes conectavam as urnas, testavam o sistema e suas transmissões.

O advogado das empresas, Toshio Mukay, fez uma exposição demonstrando que, pela lei, um contrato que pode ser prorrogado, prorrogado deve ser. Valeu-se de 22 citações de 16 autores, inclusive ele próprio.

O consórcio não quer que o Tribunal abra uma nova concorrência. Ia muito bem a conversa, sobretudo porque pretendia-se prorrogar um serviço de manutenção das urnas que parecia contínuo. Cármen Lúcia ouviu a exposição, elogiou os autores citados e bateu de frente: “A Constituição manda licitar. (...) O próprio consórcio pode ganhar outra licitação. (...) A administração não quer e nem deixa de querer. (...) “[Ela] tem dever jurídico. Neste caso um dever constitucional de licitar. (...) Quando tem um contrato por prazo determinado, assim que acabar o contrato, tenho que fazer licitação.”

Mais: o contrato está sob investigação do Ministério Público.

O empresário Helon Machado, da Engetec, informou: “Renovar o contrato para nós hoje, pensando pelo lado do consórcio, não é... para nós o contrato é o de 2014, que nós vamos brigar, que é mais uma eleição.”

No decorrer da conversa ficou demonstrado pela ministra que havia dois serviços e que, a prevalecer o argumento (com o qual ela não concorda) segundo o qual deveria ser prorrogado o mais barato, o outro, com o filé, era episódico. Lá pelo terço final da audiência, veio a surpresa, trazida pelo advogado Mukay: “O outro não é contínuo? Então, não prorrogaríamos o não contínuo e prorrogaríamos o contínuo. Porque, se é contínuo, está dentro do que eu falei aqui; agora, se uma parte não é contínuo, e isso foi contestado pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União, então não pode conter no aditivo, retira essa parte, essa parte não prorroga, prorroga a outra parte. (...) Na verdade, estou voltando atrás no meu pensamento.”

Largar o filé e ficar com o osso? Passaram mais uns minutos e Machado disse ao advogado: “Eu posso até te explicar isso depois.”

E assim terminou a audiência. Se Cármen Lúcia não tivesse gravado o encontro ele poderia ter perdido sua natureza coloquial, e o povo que clama nas ruas por mudanças, talvez tivesse dificuldade para entender o “juridiquês” de uma versão formal. Com a gravação, só não entende quem não quer.