quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Zeca de Campina Grande

Abro a coluna com Zeca Boca de Bacia, personagem folclórico de Campina Grande/PB. Amigo de políticos, prestava assessoria informal a Ronaldo Cunha Lima (falecido, ex-governador) e a seu filho Cássio, senador. Zeca abria as risadas. Em uma de suas internações na clínica Santa Clara, em Campina Grande, a enfermeira foi logo perguntando:

- Zeca, qual o seu plano (de saúde)?

E ele:

- Ficar bom!

Outra vez, Zeca pegou um táxi em Brasília para ir à casa de Ronaldo Cunha Lima. Em frente à casa do poeta, o taxista cobrou R$ 15. Zeca só tinha R$ 10. Sem acordo, disparou:

- Então, amigo, dê cinco reais de ré!

Em João Pessoa, num restaurante chique, Zeca pediu um bode assado. O garçom retrucou:

- Desculpe-me, senhor, aqui só servimos frutos do mar.

Zeca emendou sem dar tempo:

- Então me traz uma água de coco.

Outro dia, um taxista cobrou R$ 20 pela corrida. Zeca, liso, só tinha R$ 10. E pagou.

- Cadê o resto? - pergunta o taxista.

Zeca não hesita:

- E eu vim sozinho? Vamos rachar!

A onça quer beber água

A hora chegou e a onça está com muita sede. Início de fevereiro, início do ano Judiciário e Legislativo. As coisas começam a funcionar em Brasília. Mas e a água da onça ? Onde estão as fontes, é o que indagam os partidos. Claro, as águas estão nos Ministérios. A presidente Dilma, após as nomeações iniciais - Mercadante, Paim, Chioro e Traumann - concluirá nas próximas horas as consultas e deverá anunciar os nomes. Espera-se que, nas próximas semanas, tudo esteja concluído. Vamos, agora, às fontes.

Pistas para as fontes

Benito Gama, o atual presidente do PTB, poderá beber na fonte do Turismo, se o PMDB aceitar a troca dessa Pasta pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Benito tem larga experiência parlamentar, um perfil de renome no compartimento da economia, um baiano que conhece bem a realidade brasileira - e a do turismo, especialmente - sendo, assim, um perfil adequado ao setor. O PMDB pode, em troca, ficar com Ciência e Tecnologia, ministério bastante prestigiado. E também ficaria com a Secretaria dos Portos, para a qual é consensual no partido o nome do eficiente e preparado senador Vital do Rego Filho, paraibano filho do grande parlamentar e tribuno, Vital do Rego, de quem herdou o nome e a identidade política. Além disso, a pasta da Agricultura permaneceria com o PMDB. O atual titular, Antônio Andrade (MG), deve sair para se recandidatar à Câmara Federal. Deverão sair, ainda, Gastão Vieira (Turismo), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Aguinaldo Ribeiro (Cidades).

Inserção na estrutura

Há cargos importantes na estrutura governamental, nas agências e espaços regionais dos Ministérios. A presidente tentará administrar as demandas partidárias com outros partidos da base, tendo como ideia central o equilíbrio de poder entre os grandes partidos, apesar de saber que a fatia gigantesca do bolo continuará sendo a do PT, que disporá de 25 ministérios dos 39. Afinal, o projeto de vida longa do PT no poder está no centro das atenções do petismo sob a batuta de Lula.

Eixo político

As indicações iniciais, Saúde e Educação, principalmente, atestam que o projeto político do PT se firma com a indicação de quadros de confiança do partido, os ministros Arthur Chioro e Henrique Paim, que tem a confiança absoluta da presidente. Aloizio Mercadante na Casa Civil significa adensamento do eixo político do governo, eis que se trata de um parlamentar com larga experiência nas duas casas congressuais. Não é um perfil do qual se possa pinçar uma adjetivação com carimbo nas áreas de empatia e simpatia. Mas conhece bem as entranhas partidárias e as regras do jogo político. Tende a aproximar o Planalto do Congresso. Fazendo sombra a Ideli Salvatti. Mas essa ministra da articulação institucional tem vida curta. Ou não será candidata ao senado em SC ?

Vida longa ao PT

O fortalecimento do eixo político do Governo implica blindagem ao projeto de vida longa do PT no Poder. Projeto com a seguinte dimensão : Lula voltaria em 2018 para ficar até 2026, com o olho em mais um mandato petista, se for bem sucedido, que puxaria o partido até 2030. Base do sonho : eleição da Dilma, eleição de maior bancada de deputados Federais; gigantesca bancada de deputados estaduais e eleição de 20 senadores neste ano; eleição do maior número de prefeitos em 2016 e consequente inchaço da bancada de vereadores, etc. E bala existe para essa batalha ? Bala é, claro, grana, muita grana. O PT é um partido vertical, uma igreja. Onde se paga dízimo. A par dos seus fiéis, o PT conta com doadores aqui e alhures. Tio Patinhas não passaria, no PT, de um modesto zelador do cofre.

Traumann, um jornalista

Thomas Traumann, ao que se sabe, dará um tom mais jornalístico à Pasta que dirige, a Secretaria de Comunicação. Dizem que o PT ambiciona abocanhar fatias publicitárias em apoio ao projeto político do partido, a partir de uma cobertura mais densa e intensa nas redes sociais, incluindo financiamento de "blocos sujos". E que faria um esforço extraordinário para implantar o cantado e decantado projeto de controle da mídia. Como jornalista, Traumann não tem perfil para ser instrumentalizado pelo partido.

Franklin, a volta

Franklin Martins volta à esfera da campanha eleitoral. Não assumiu cargo formal na estrutura do governo, mas, pelo se lê, é um consultor especial da presidente. Franklin também conhece, e muito, os jogos de poder. A ele atribui-se o projeto de controle da mídia, entregue ao governo Dilma, logo após a posse. Foi alvo de tiroteio. Saiu do governo. Retorna com força. Vai colaborar com João Santana (?). Diz-se que coordenará o projeto de comunicação da candidata Dilma nas redes sociais. Por seu perfil, fará mais que isso, atuando como orientador geral de atitudes, gestos e ações da presidente ao correr da campanha.

Mantega, fim de jornada?

O ministro Guido Mantega tem sobrevivido a chuvas e trovoadas. Um baluarte. Mas, comenta-se à boca pequena, a fortaleza onde se abriga o ministro começa a mostrar rachaduras. O tempo desgastou as paredes. O reboco começa a cair. Fala-se de mudança radical na área econômica como medida de choque para enfrentar a tempestade eleitoral. Será ? Há muitas dúvidas. Mas muitos olhos começam a enxergar Alexandre Tombini, o presidente do BC, na cadeira potente do Ministério da Fazenda. A conferir.

Skaf, alvo dos tucanos?

A história dos tucanos em SP exibe uma arena de lutas travadas contra seu tradicional adversário: o PT. Em todas as eleições das últimas duas décadas, a polarização entre petistas e tucanos foi acirrada. Pois bem, nas últimas semanas, da floresta tucana saem flechadas não contra o candidato do PT ao governo de SP, o ex-ministro Alexandre Padilha, mas contra Paulo Skaf, eventual candidato do PMDB. Qual a razão ? Por que o PT desvia seus tiros ? A resposta : Paulo Skaf, segundo pesquisas (Datafolha e outros) tem, hoje, 19% das intenções de voto. Com essa margem, bem antes da campanha eleitoral, é uma ameaça ao projeto tucano de reeleição de Geraldo Alckmin. Portanto, deve ser abatido.

Propaganda?

O PSDB entrou com recurso contra Paulo Skaf alegando que este usa as inserções publicitárias do SESI e do SENAI para aparecer. Este consultor, curioso, viu as inserções. E anotou : o discurso nada mais nada menos expressa o trabalho daquelas duas entidades do sistema FIESP/CIESP. Mostra exemplos de vida a serem imitados. Não há menção à eleição e nem, de maneira indireta, referências à política. O Ministério Público Eleitoral também entrou com recurso sob o mesmo argumento. Ora, o que é legal, ilegal, ético e aético ? E a propaganda governamental, principalmente quando candidatos (ao governo de um Estado) ou candidata (à presidência da República) usam campanhas publicitárias ou redes abertas de TV para mostrar feitos ? É legal, ilegal, ético e aético ? Se querem apurar a presença de atores eleitorais nos meios de comunicação, o fato é : pré - candidatos ou candidatos engajados na máquina pública tendem a ganhar maior visibilidade midiática. Isso é inegável.

Verbas gordas

Os jornais anunciam : o governo de SP deverá investir, no primeiro semestre deste ano, quantia semelhante ao gasto de todo o ano passado : cerca de R$ 190 milhões. Alegação do governo : 2014 é um ano atípico, por conta das restrições no período em que a publicidade pode ser veiculada. O Estadão, em matéria de Fernando Gallo, ao final do ano passado, mostrou que as empresas públicas de SP (Dersa, Metrô, Sabesp e outras) despenderam, de 10 anos para cá, nas gestões de Geraldo Alckmin e José Serra, a soma de R$ 1,24 bilhão em campanhas promocionais. No mesmo período, outro R$ 1,2 bilhão foi consumido em divulgação da administração direta. A soma total (R$ 2,44 bilhões) seria suficiente, diz a matéria, para "construir, por exemplo, mais de metade da segunda fase da linha cinco do metrô, que vai ligar o Largo Treze à Chácara Klabin, ou custear o Instituto do Câncer por sete anos".

Vacinação em março

Há poucos dias, o ex-ministro Alexandre Padilha usou a cadeia de comunicação massiva - TVs e emissoras de rádio - para falar da campanha de vacinação. Claro, tem de dar orientação, conclamar as famílias a levarem seus filhos aos postos de vacinação. A publicidade se justifica. Ocorre que a campanha será apenas em março. Não seria mais viável que o novo ministro da Saúde fosse o porta-voz desse evento ? Será que o anúncio não se perderá no tempo?

Ano curto

O ano será bem curto. Teremos um carnaval daqui a pouco, depois entraremos na Copa do Mundo, sairemos para as férias de julho e, logo a seguir, adentramos na atmosfera eleitoral. Setembro todo será muito quente. E em outubro, alegria para uns, tristeza para outros e muita expectativa sobre um segundo turno.

Segundo turno

O cobertor já foi mais confortável para a presidente Dilma. Mesmo assim, a régua aponta para um segundo turno. Muito difícil uma vitória da presidente na primeira rodada. Projeção de segundo turno hoje : 70. Outra leitura que se faz nas conversas : Eduardo Campos seria obstáculo maior que Aécio para uma vitória governista no segundo turno. Se o governador entrar nesse páreo, a projeção é da vitória dele ou da presidente no olho mecânico. Já com Aécio, a conta favorece a presidente Rousseff.

Déficit de energia?

O risco de déficit de energia já chega a 20% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Cálculos do próprio governo. A propósito, uma falha no sistema elétrico interrompeu parte da transmissão de energia entre o Norte e o Sudeste do país na tarde de ontem, causando falhas no abastecimento de diversas cidades. Mais de um milhão de consumidores ficaram sem energia. O Ministério de Minas e Energia, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tentam dimensionar o impacto.

Crise passageira

Uma nota alvissareira: a crise dos países emergentes será passageira. É o que calcula o Instituto Internacional de Finanças, que reúne os grandes bancos. A onda de instabilidade, logo, logo, arrefecerá. Os fluxos de capitais para os emergentes se recuperarão em dois anos.

O nome do PSB em PE

Quem Eduardo Campos escolherá como candidato do PSB ao governo de PE? São favoritos: o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho, secretários estaduais Danilo Cabral (Cidades), Paulo Câmara (Fazenda) e Tadeu Alencar (Casa Civil), vice-governador João Lyra Neto, que se filiou ao PSB no ano passado e até o prefeito de Recife, Geraldo Julio. Que prefere ficar na prefeitura até o fim do mandato. Campanha vital para Campos. Terá de dar um banho na oposição.

Conselho aos investidores

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, dirige-se aos investidores.

1. O momento é de grandes interrogações. As Bolsas despencam, as economias entram em compasso de espera. Hora de direcionar recursos para ativos de baixo risco, sugerem analistas financeiros.

2. No caso do Brasil, a piora do resultado fiscal expande o pessimismo. O conselho é aguardar a divulgação da nova meta de superávit fiscal a sair no fim do mês.

3. As riquezas e potenciais do Brasil, porém, abrem perspectivas promissoras. Se o ano eleitoral sugere cautela, em função de medidas popularescas, nem tudo está perdido. Urge esperar que o clima fique mais ameno, pelo menos em 2016. Vamos ter paciência.

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(Gaudêncio Torquato)