sexta-feira, 28 de setembro de 2012

COMENTÁRIOS

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "NÃO HÁ DEUSES NA POLÍTICA":

É muito sugestivo esta frase: NÂO HA deus NA POLITICA.

Na verdade nós não esperamos Deus na politica, queremos que Deus ilumine aos nossos mandatários e dê aos própros luz para administrar sem o verbo roubar ou deixar roubar.

É visto sem luneta, as falcatruas feitas por quem sempre disse defender o nosso pais, queremos em Crateús um mandatario que tenha o compromisso de não roubar e não deixar roubar.

Conhecemos todos que passaram pela a prefeitura e nos prometeram tudo,infelizmente quase nada fizeram. Precisamos de sangue novo de pessoas que tenha compromisso com Crateús e saiba conjugar o verbo AMAR. Amar nosso povo,amar esta juventude que devido tanta corrupção, ainda não teve o incentivo para levantar a voz e dizer, vamos agir.

Crateús precisa de um governante que tenha coragem de afastar todos que decepcionaram nso seus mandatos, que governe nossa cidade, com os professores, com os funcionarios da saúde, enfim com a comunidade, deixando bam claro o quanto vai aplicar e de que maneira faremos.

Precisamos de licitaçoes com transparencias, com legitimidade deixando todo comunidade sem dúvida do que é transparência, ai eu acredito.

A juventude precisa de luz,coragem, só assim teremos um Crateús novo,forte e acreditado. Fora os falsos lideres.


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Caro Junior,

você,como sempre, escreve com as tintas do coração as palavras certas para pessoas da estirpe do querido amigo Moacir Soares.

Sem dúvidas um dos melhores quadros da administração de Fortaleza, merece o sucesso que faz, pois é competente e dedicado à causa pública.

Abraços.

Sergio Moraes

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

POPULAÇÃO IMPEDE DEMOLIÇÃO DE PRÉDIO




Crateús. Representantes de instituições culturais, movimentos sociais e populares impediram a demolição de um dos prédios mais antigos e pomposos da cidade, na noite da última segunda-feira. Os manifestantes chegaram ao local poucos minutos antes da demolição do prédio. Parte do muro do quintal já havia sido destruída.

O restante da ação, conduzida por máquinas contratadas pelo grupo Ramlive - atual proprietário da antiga residência - foi impedida devido à ação dos manifestantes, que se ficaram dentro e ao lado do prédio, contendo a atividade. Conhecido pelos crateuenses como "Casarão" ou "Castelo", o prédio do Centro foi construído em 1932 pelo médico Benjamin Hortêncio.

O grupo Ramlive, nascido em Crateús, atua nos ramos de calçados e confecções. Atualmente, tem lojas espalhadas em vários Municípios do Estado. Adquiriu o prédio há pouco mais de um mês, e se utilizava da destruição da construção para erguer um novo empreendimento, com futuras lojas e apartamentos.

"Adquirimos para realizar investimentos na cidade e não havia nenhum registro que impedisse a ação. O prédio não é tombado e então compramos e estamos com tudo legalizado e autorizado. Estamos de acordo com as leis", afirmou um dos sócios do Grupo, Adail Rodrigues.

A polêmica tomou conta dos presentes ao local. Uns concordavam com a ação, outros eram contra. Os manifestantes efetuaram discursos, justificando o impedimento com base na necessidade de preservação do patrimônio histórico e cultural do Município. Um grupo se revezou em vigília, ocupando o local durante a noite de segunda e continuaram por todo o dia de ontem.

Falta de preservação

Para o presidente da Academia de Letras de Crateús (ALC), Elias de França, o episódio mostra a falta de preservação com o patrimônio histórico da cidade. "Não é possível que Crateús permita que sua história e memória sejam destruídas. Já perdemos muitos prédios antigos. O Mercado Velho, por exemplo, só tem o portão. Muitos outros já foram derrubados. Faremos tudo para preservar esse patrimônio. É um prédio bonito, imponente e localizado em um alto. Não há quem não se encante com ele", disse.

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, não há nenhum prédio tombado na cidade. Há a Lei n° 186/2011, de 26 de outubro de 2011, que dispõe sobre a preservação do patrimônio histórico do Município e cria o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico.

"A Lei Municipal não impede a demolição do prédio, porque não é tombado", cita Aldo Costa, titular da pasta da Cultura.

Mediação

Pela manhã a polêmica continuou. Quem não tinha tomado conhecimento do fato, soube cedo. As emissoras de rádio locais abriram os microfones à população, que manifestava a sua opinião sobre o acontecimento. Os envolvidos procuraram o Ministério Público, que os convocou para uma reunião. No encontro, o promotor José Arteiro Soares Goiano, citando a Constituição Federal como protetora de valores materiais e imateriais, propôs que o Grupo sustasse a ação até que a Justiça defina o conflito de interesses, que tem de um lado o grupo empresarial e de outro a resistência da sociedade.

O empresário Adail Rodrigues acatou e se comprometeu a aguardar a decisão judicial. Goiano ventilou também a possibilidade de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Silvania Claudino
Repórter

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Double Fantasy - Le Tableau Magique - LE PLUS GRAND CABARET DU MONDE

MOACIR SOARES


Moacir Soares é o aniversariante de hoje.

Um homem é o seu itinerário. Por isso, ouso lançar, aqui, alguns passos da trajetória profissional de Moacir:

No final de 2002, o sistema de saúde de Tauá estava um caos. Ou melhor, praticamente não existia. Era a primeira gestão de Patrícia Aguiar. Angustiada, a Prefeita compartilhou a inquietação com o esposo e líder, Deputado Domingos Filho. Sem espaço no governo do estado, comandado por Lúcio Alcântara, e ainda sofrendo as estocadas de virulência verbal do então desafeto e também Deputado Estadual Idemar Cito, Domingos laborou uma jogada de mestre. Procurou um amigo pessoal, o então Secretário de Estado da Saúde, Jurandir Frutuoso. Em audiência, narrou-lhe as dificuldades e jogou uma cartada decisiva: entregou a Jurandir a prerrogativa de indicar um nome competente e “in pectore” (do peito) para comandar a saúde da capital dos Inhamuns. Foi assim que, em 05 de fevereiro de 2003, o crateuense Moacir Soares virou Secretário de Saúde de Tauá. E, em pouco tempo, fez um trabalho revolucionário. A transformação foi tão marcante que, de vilão, o setor de saúde passou a ser o grande filão eleitoral garantidor da reeleição de Patrícia.

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Técnico de escol, boa índole, profissional dedicado, Moacir é um dos melhores quadros gerados no seio da Administração Pública de Crateús na década de 1990. Integrante, por Concurso Público, do quadro permanente da municipalidade, abriu veredas inéditas e construiu trilha própria até tornar-se o primeiro Secretário de Saúde oriundo de área estranha às ciências da saúde. Foi uma espécie de precursor de um modelo que teve como ápice e ícone José Serra quando assumiu o Ministério da Saúde. Inovou, mobilizou e se destacou. Ganhou notoriedade estadual: foi escolhido Presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde (COSEMS), ocasião em que a entidade obteve sua maior visibilidade. Rapidamente, Moacir teve o nome cotado para pleitear a Chefia do Executivo Municipal da sua terra natal. Porém, incompreendido pela intolerância política local, cumpriu aquela antiga assertiva bíblica: foi ser profeta fora de sua terra. Em Tauá, onde assumiu a pasta da Saúde, animou um processo revolucionário de elevação da qualidade dos serviços na área. Hoje, é o Secretário de Turismo de Fortaleza. Certa vez, indaguei-lhe como estava e como está sendo tocado o setor de turismo na Capital. Ele respondeu:

“Fortaleza é uma cidade bela. Tem 25 km de agradáveis praias, agenda cultural diversificada, noite agitada, culinária saborosa e um rico artesanato. Oferece tudo isso em meio a uma arquitetura que mescla história, modernidade e natureza. Por ter tudo isso, merece e vai ser a capital turística do nordeste brasileiro. Esse é o nosso sonho e também nosso desafio. Quando a Dra. Patrícia Aguiar assumiu a pasta, formou uma equipe de alto nível, com os mais qualificados profissionais nos respectivos setores para associar a equipe já existente. Visando fomentar no grupo o espírito de coesão, alentar sonhos e fortalecer compromissos. Passamos 18 dias fazendo aquilo que na Psicologia denominamos “escuta profunda”. Fiquei esses dias ouvindo interativamente todos os servidores da SETFOR, identificando focos de problemas, expectativas, descrenças e coletando sugestões de trabalho. Ao final, estávamos com o Plano de Trabalho elaborado que serviu para subsidiar o nosso Plano Municipal de Turismo, gestado a partir desse documento. Outra medida foi o mapeamento dos corredores turísticos da cidade, com delineamento de intervenções a serem realizadas a curto, médio e longo prazo. Só para que você tenha uma idéia, viabilizamos um projeto de vários milhões de dólares junto ao BID e o Ministério do Turismo para investimento em uma completa e eficiente infra-estrutura turística da Beira Mar, Praia de Iracema, Praia do Futuro, recuperação do patrimônio histórico, tratamento paisagístico, fortalecimento institucional dentre outros investimentos. Esse Projeto de Desenvolvimento Turístico vai promover, de forma planejada, a qualidade dos destinos e serviços turísticos da Capital. Alem disso, lançamos o projeto de Qualificação Profissional e Empresarial na área do turismo. Vamos qualificar 1.200 profissionais que compõem a cadeia produtiva do turismo para prestação de serviços turísticos no município de Fortaleza. São 18 cursos em diversas áreas, a maioria com carga horária de mais de 210 horas aulas que serão executados pelo SENAC orçados em mais de R$ 900.000,00. Vamos transformar nossa Fortaleza em um grande Pólo Turístico atendendo a proposição de Fortaleza Bela. Por fim, outro desafio assumido por essa gestão é o de ampliar a oferta turística da cidade. Para isso consta em nosso plano de trabalho fortalecer o turismo: Cultural, Gastronômico e de Base Comunitária. Caro Júnior, temos muito trabalho pela frente. Mas costumo dizer, que a cada vez que afirmamos ter uma dificuldade no fazer, existe de fato uma dificuldade no querer, que fica oculta na argumentação sobre o fazer. Se depender de vontade, iremos dar o melhor de nossos conhecimentos e de nossos tempos para respondermos ao novo desafio”.

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O técnico de sucesso é, sobretudo, um sujeito sedutor e surpreendente. Jardineiro das tulipas que encantam a existência, Moacir está sempre nos convidando para caminhar pelas alamedas da superação. A despeito das cinzas, conserva na retina o brilho da curiosidade que aprende, apreende e acrescenta.

É difícil distinguir onde esse cidadão brilha com mais glamour: na excelência profissional, na dedicação paternal ou na generosidade da camaradagem.

Após esses setembros todos que te conheço, amigo, aflorou uma certeza: em todos as passarelas da interação humana em que tens a oportunidade de pisar, baila a nobreza de tua alma!

Parabéns!

(Júnior Bonfim)


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Um semeador de benquerença. Homem de lhano trato.
Congratulações aos que privam de sua amizade.

Alexandre Rosa Fernandes.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

HÁ 40 ANOS, ZÉ DIRCEU E CELSO DE MELLO MORAVAM JUNTOS


1968, o que fizemos de nós é o nome de um belo livro, do jornalista Zuenir Ventura, lançado em 2008, como sequência de um outro livro ainda mais lindo, 1968, o ano que não terminou, de 1989. Os dois livros falam de um personagem incomum, o ano de 1968: “É possível que no século XX, tenha havido ano igual ou mais importante do que 1968, mas nenhum tão lembrado, discutido e com tanta disposição para permanecer como referência, por afinidade ou por contraste”, explica o autor na contracapa do último volume. E diz mais: “A geração de 68, que dizia não confiar em ninguém com mais de 30 anos, está completando 40. Ainda dá para confiar nela? Que balanço se pode fazer hoje de um ano tão carregado de ambições e de sonhos? O que foi feito dessa herança?”

As questões que o livro de Zuenir procura responder podem ser encontradas também, em larga escala, no plenário do Supremo Tribunal Federal, todas as segundas, quartas e quintas-feiras, enquanto se julga a Ação Penal 470, o processo do mensalão. O livro de Zuenir Ventura pode até não explicar porque o partido que era apontado como mais ético e mais autêntico da história da República se tornou patrono do maior escândalo de corrupção do país. Mas ele mostra que boa parte dos principais personagens desse drama político estavam todos lá em 1968, caminhando e cantando, e seguindo a canção.

Quem abrir o livro à página 48, vai encontrar o capítulo Há um meia-oito em cada canto. Vai saber que, nos idos de meia-oito, José Dirceu, acusado de ser o “chefe da quadrilha” do mensalão, era um dos mais influentes líderes do movimento estudantil. E que o ministro Celso de Mello, o decano do tribunal que está julgando Dirceu juntamente com toda a “quadrilha”, era praticamente colega do político. “Em 1968, José Dirceu e Celso de Mello moravam numa república de estudantes em São Paulo, visitada frequentemente por agentes do Dops”, conta o livro.

Os dois trilharam caminhos diferentes. “Dirceu foi para a militância e Mello para os estudos”. Mas, em suas respectivas trincheiras, defenderam os mesmos ideais de liberdade. Celso de Mello relembra o momento difícil que enfrentou como orador da turma de promotores aprovados no concurso do Ministério Público. “Eu precisava protestar contra o regime ditatorial, e fiz um discurso que não agradou muito ao chamado establishment; não fui aplaudido.”

Outros meia-oito ilustres que passaram pelo Supremo Tribunal Federal já estão aposentados. Sepúlveda Pertence, que deixou o Supremo em 2007, foi vice-presidente da UNE (1959-1960) e professor da UnB (1962-1965), cargos dos quais se viu afastado à força pelo regime dos generais. Hoje é integrante da Comissão de Ética Pública, ligado à presidência, criada justamente para evitar que novos mensalões aconteçam.

O outro é Eros Grau, que se aposentou em 2010. Em uma de suas últimas intervenções no Supremo, foi o relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade que julgou constitucional a Lei de Anistia. Adepto do Partido Comunista (“nunca tive carteira, porque o partido não dava carteira, mas eu tinha um comprometimento com as teses do partido, digamos assim”), foi preso e torturado por sua atuação na resistência à ditadura.

“A geração de 68 não chegou a eleger nenhum presidente, ainda que os dois últimos — Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva — considerem ter levado para o poder idéias e representates das turmas com a qual reivindicam ter afinidades eletivas”, diz Zuenir, na abertura do capítulo dos meia-oito. Claro, o livro foi lançado em 2008, época em que Dilma Rousseff, ex-militante da VAR-Palmares, ainda não havia sido eleita presidente da República. “Em face de sua resistência à tortura na prisão, o promotor que a denunciou chamou-a de Joana D’Arc da subversão”, rememora Zuenir.

Além de Dilma e Zé Dirceu, são citados, ainda, como representantes da geração meia-oito que chegaram ao poder na era Lula, o governador da Bahia, Jaques Wagner (então presidente do diretório acadêmico da PUC-Rio e militante do PCdoB), o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (militante do movimento estudantil e da VAR-Palmares), o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antônio Palocci (militante da organização trotskista Libelu, juntamente com o ex-secretário da presidência Luiz Dulci e o ex-secretário de Comunicação, Luiz Gushiken). Franklin Martins, que sucedeu Gushiken na Secretária de Comunicação foi do MR-8 e seu secretário executivo Ottoni Fernandes Junior, da ALN. O ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil não era filiado a nenhum grupo militante, mas só de cantar, foi preso e proibido de se apresentar, optando por se exilar na Inglaterra.

Tarso Genro, ministro da Educação e da Justiça no governo Lula, foi ativista da UNE e do PCdoB e da dissidência desta, a Ala Vermelha, que pregava a luta armada. Foram seus companheiros na militância esquerdista, Milton Seligman, hoje diretor de Relações Corporativas da Ambev, e Paulo Buss, presidente da Fundação Osvaldo Cruz. Os três compartilharam também as salas de aula da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “Era uma cidade pequena, e todo mundo se conhecia. Diante da convocação de uma manifestação, o Dops prendia os de sempre”. Que eram os três, relembra Seligman em entrevista para o livro de Zuenir.

Também são meia-oito os verdes Fernando Gabeira, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, e Carlos Minc, outro ministro do governo Lula. Mas não só no PT e no PV que se firmou o destino de quem viveu as convulsões de 1968. Antes, muito pelo contrário, como sustenta Zuenir Ventura ao resgatar o nome de dois ilustres meia-oito que tomaram outra direção. Um é o ex-senador tucano pelo Amazonas e atual líder na corrida para a prefeitura de Manaus, Arthur Virgílio Neto. Naqueles tempos, Arthur Virgilio era militante do clandestino PCB e diretor do Centro Acadêmico da Faculdade Nacional de Direito (atual UFRJ). Outro é o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, que pertenceu à Corrente, uma dissidência do PCB que pregava a luta armada. Foi preso no Congresso da UNE, em 68 e foi para o exílio na Argentina e no Chile, onde ficou amigo de outro militante de esquerda no exílio, José Serra.

Como diz Zuenir Ventura, “eles estão no poder, na oposição, à esquerda, à direita, e até prestando contas à Justiça. Há um meia-oito em cada esquina".

Maurício Cardoso é diretor de redação da revista Consultor Jurídico

domingo, 23 de setembro de 2012

NÃO HÁ DEUSES NA POLÍTICA

A onda vermelha começa a amarelar. O sentido do verbo é menos o de mudança cromática e mais o de perder o viço, o frescor, empalidecer por causa da idade, conforme ensina Houaiss em seu dicionário. A perda da vitalidade pode ser observada tanto na estética da paisagem quanto na semântica do discurso. Até mesmo a governante-mor mostra recato na liturgia do poder, ao usar com parcimônia seu tailleur vermelho.

A referência, logo decifrada pelo leitor, é sobre o Partido dos Trabalhadores. Todos recordam a miríade de estrelas e bandeiras vermelhas espraiando-se por todos os cantos – das praças centrais das metrópoles, passando pelos jardins do Palácio do Alvorada e enfeitando as poeirentas ruas de distritos dos fundões do país.

Nesta campanha, já é possível prever que a maré vermelha não chegará à praia com o volume de água e a força de arrebentação que destroçavam territórios povoados por outras cores partidárias.

A se confirmarem projeções que sinalizam um refluxo eleitoral do PT em tradicionais domínios, pode-se aduzir sem risco de errar, que, ao chegar aos 32 anos de vida, o tecido petista mostra-se roto.

Antes que o tucanato se anime com a hipótese de que resgatou a antiga força perdida para o petismo, é oportuno examinar sua saúde. Para começar, seu radiador furado ameaça superaquecer o corpo de suas aves.

Cientistas descobriram, recentemente, que o imenso bico dos tucanos funciona como um radiador que dissipa o calor do corpo da ave, permitindo que ela permaneça com temperatura amena. Pois bem, o radiador tucano, há tempos, deixa vazar água. Porque o bico está esburacado.

Quem observou o estrago foi um tucano de alta plumagem, o arguto ex-presidente Fernando Henrique. Ele foi ao ponto: o PSDB enfrenta intenso desgaste de material. Em 24 anos, os tucanos não souberam oxigenar seu corpo, renovar seu bico, reciclar suas asas. Imaginaram que, deitados no leito da classe média alta, podiam estender seu império a partir do comando da Nação durante 8 anos.

Fincaram profundas estacas em Estados poderosos como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Um feito. Mas é inegável que os parafusos da engrenagem tucana estão espanados por falta de lubrificação das roscas.

Portanto, nesse ciclo eleitoral, as bandeiras rotas do PT desfilam ao lado de figuras carimbadas do PSDB. O tecido petista começou a escarpar em 2005, na malha dos Correios, quando um vídeo mostrou um chefete recebendo dinheiro para intermediar negócios. O episódio abriu o escândalo do mensalão.

O então presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, contrariado com denúncias envolvendo seu nome, batizou a compra de votos de deputados com o neologismo. O caso começou a ser julgado em 2007. O governo Lula chegou ao seu final imerso na poeira levantada pelo tufão.

O ex-presidente tentou tergiversar, negando a existência do mensalão, após se considerar traído e pedir perdão aos brasileiros por “práticas inaceitáveis”. Usou o carisma, o programa de distribuição de renda (Bolsa Família), o incentivo ao consumo e o controle dos eixos macroeconômicos para glorificar o petismo-lulismo. A estética vermelha dominava os ambientes. Os milhões de brasileiros ingressos no novo patamar da pirâmide social engrossaram o refrão do Lula-lá.

A dinâmica social, porém, acabou plasmando um antivírus. A organicidade social se intensifica na esteira da multiplicação de bolsões de defesa de contribuintes e da mobilização de categorias que acorrem aos corredores institucionais. Independência e autonomia passam a iluminar as consciências.

A presidente Dilma, com sua identidade técnica, edifica um escudo que a protege contra a chuva ácida que fura o telhado petista. A crítica à representação política, na esteira de denuncias sobre malversação do dinheiro público, nivela entes partidários e forma ondas de contrariedade.

O PT e seus ícones entram no primeiro plano da cena. E agora, constata-se que Lula não é Deus, como proclamou a hoje ministra Marta Suplicy. Não há deuses na política. E nem ela dobra a vontade do eleitor, como sugeriu.

O julgamento do mensalão vira o hit do momento. Marolas saem do meio do oceano social e chegam às margens, carregando indignação. Matérias bombásticas e recados de réus pairam como ameaça ao projeto petista. Figuras de proa temem ser jogadas no meio do fogaréu.

Ao entrar na guerra eleitoral disposto a costurar as bandeiras vermelhas país afora, Luiz Inácio assume o risco de sair da batalha como o grande perdedor. Vende continuidade com a lábia carismática. Mas o discurso está embalado em celofane velho: palanques, colchões assistencialistas, economia controlada.

Será isso o novo? A invencionice de programas marquetados deu o que tinha de dar.

Já na floresta tucana, as copas das árvores também amarelam. As folhas no chão formam um tapete apodrecido. E mais: o próximo capítulo do espetáculo midiático será o mensalão mineiro. Que jogará o PSDB no banco dos réus.

Em suma, os tucanos não têm sido capazes de substituir seus grandes perfis por ideias luminosas. O partido gira em torno de quatro a cinco caciques. São inegáveis suas qualidades pessoais, a experiência acumulada, os programas implantados nos territórios que governam. Jamais se poderá apagar a contribuição dada pelo ciclo FHC ao Brasil moderno. Foi ele, sim, que abriu as portas da estabilidade econômica.

Mas essa é uma página virada. Qual é o projeto de futuro? Não é de admirar, portanto, que PT e PSDB estejam na maior encruzilhada de suas vidas. Décadas de arengas e querelas corroeram seus estoques de credibilidade.

Veja-se a campanha paulistana. O eleitorado mostra-se cansado e resiste a entrar no jogo da polarização.

Demonstração da saturação é a tendência para escolher um perfil distante dos figurinos petista e tucano. Sinais dos tempos: as duas grandes estruturas partidárias que mais pregavam a ética na política estão vivendo horas de pesadelo.


Gaudêncio Torquato

DESPEDIDA DO TREMA

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.

Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...

O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O dois pontos disse que sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.

Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá.

Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...

Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.

Adeus,

Trema.

SOBRE DR. SALIM E NONATO BONFIM

Velho amigo Ticuá (Dr. Sales Sabóia, nome de desembargador),

Apraz-me enviar-lhe, apensa, gravação de minha fala, (de improviso, gravada em meu celular), por ocasião da Missa de 7º dia do nosso amigo e seu primo Dr. Salim.

Lembro-lhe que a transcrição do discurso foi publicada no Jornal Gazeta do Centro-Oeste, de Crateús.

Poucos meses depois da missa, deparei com um conterrâneo que começou elogiando meu discurso feito ao Dr. Salim, para depois externar um pouco de ironia, perguntando-me por que não falei do tempo da Ditadura Militar, quando, segundo esse conterrâneo, Dr. Salim teria ficado do lado dos militares.

Fiz ver ao amigo conterrâneo que minhas palavras foram dirigidas a um ser humano que foi nosso vizinho, no Barrocão, e que toda a minha fala era a mais pura expressão do sentimento de uma criança que cresceu observando a lhana postura de um vizinho que se destacava pela inteligência e pela refinada educação, e nada mais.

Dr. Salim e eu sempre estivemos em lados opostos, politicamente falando (ele e meu tio Nonato Bonfim), mas nunca perdemos a admiração e o respeito um pelo outro.
Nossas posições políticas eram antagônicas, mas o respeito e a admiração sempre foram mútuos.

Para ilustrar, conto-lhe um engraçado episódio ocorrido entre mim e o tio Nonato.

Na década de 1970, num final de semana, alguns políticos fortalezenses e nacionais do velho Modebra (MDB) foram visitar Crateús. Eu, já funcionário do Banco do Brasil, me encontrava na casa do nosso amigo Gonçalinho, também do Banco do Brasil, quando adentrou naquela residência a comitiva modebrista: Mauro Benevides, o grande e saudoso Ulisses Guimarães, Paes de Andrade, Chagas Vasconcelos, Iranildo Pereira, Fausto Arruda e outros, cujos nomes não consigo lembrar.

O tio Nonato, apesar de facção antagonista, sempre transitou bem entre os políticos do MDB e, portanto, também andava na comitiva. Ao apresentar-me ao Fausto Arruda, tio Nonato ressaltou: - este é meu sobrinho, ele é um rapaz muito inteligente, muito bom, só é mal inclinado (referindo-se à minha amizade com nosso saudoso e querido Dom Fragoso). Ao que o Fausto Arruda retrucou, com bom humor: - mal inclinado é você, Nonato. E deram uma boa gargalhada.

Saúde e Paz,

Boaventura.