sábado, 1 de outubro de 2011

SEREIA DE OURO





Ontem à noite, atendendo convite do Ministro Valmir Campelo, estivemos na solenidade de outorga da Sereia de Ouro 2011. A comenda é o mais cobiçado laurel cearense, o Prêmio Nobel das terras Alencarinas.

Vários crateuenses prestigiaram a festa, que contou com a presença de expressivos nomes do mundo das artes, das lides jurídicas, do universo da mídia, da seara política e da messe empresarial.

O ministro Valmir Campelo sensibilizou a todos ao proferir um discurso emocionado e emocionante, em que lembrou suas raízes e os valores recebidos da instituição familiar, que foram essenciais à sua exitosa trajetória pública.

Veja a matéria de hoje do Jornal Diário do Nordeste:


Personalidades que se destacam pela ética, exemplo de cidadania e trabalho social foram laureadas, ontem, pelo Troféu Sereia de Ouro que está em sua quadragésima primeira edição. A Comenda, instituída pelo Sistema Verdes Mares, reconhece, a cada ano, a trajetória de quatro personalidades cearenses que contribuíram para o desenvolvimento do Estado, demonstrando talento e operosidade.

Em 2011, foram condecorados o ministro do Tribunal de Contas da União, Valmir Campelo Bezerra, o empresário Everardo Ferreira Telles, o jornalista Fernando César de Moreira Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano Façanha Farias. Pela terceira vez realizada no Theatro José de Alencar, a solenidade teve a participação do senador Fernando Collor de Mello que fez a entrega do primeiro Troféu da noite ao membro do TCU, Valmir Campelo. Em seguida, o governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes, repassou a Comenda às mãos do empresário Everardo Telles.

Já o jornalista Fernando César Mesquita foi laureado pelo presidente do Senado, José Sarney. Por último, o destaque no mundo das artes, Luiz Hermano Façanha, acolheu a honraria entregue pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cesar Asfor Rocha. Muito emocionado, o ministro Valmir Campelo enunciou, em nome de todos os homenageados, que "a celebração se destaca no rol das ocasiões especiais".

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OS DISCURSOS

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HONRARIA E RESPONSABILIDADE

Minhas senhoras,
Meus senhores

É com muita alegria que o Sistema Verdes Mares reúne hoje a sociedade cearense para celebrar a quadragésima primeira edição da solenidade de entrega do Troféu Sereia de Ouro. Instituído pelo chanceler Edson Queiroz, o Troféu homenageia quatro personalidades que se destacam pelo trabalho produtivo, pelo êxito profissional, pela ética e pelo exemplo de cidadania. Neste ano, foram distinguidos com a comenda o ministro Valmir Campelo, o empresário Everardo Telles, o jornalista Fernando César Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano. A Sereia de Ouro é um Troféu respeitado e ambicionado. A relação dos sereiados sugere um caleidoscópio da história do Ceará, revelando imagens de homens e mulheres que se distinguiram em variadas atividades, demonstrando talento, operosidade, amor pela causa pública, responsabilidade social e sensibilidade artística. Pela qualidade de seus respectivos trabalhos, os sereiados merecem permanecer na memória da sociedade cearense como seus heróis e beneméritos.

Valmir Campelo Bezerra é ministro do Tribunal de Contas da União, tendo sido o primeiro cearense a exercer a Presidência dessa Corte Superior. Como magistrado, destaca-se pela serenidade nos julgamentos e pela defesa intransigente dos bens e recursos do patrimônio da União Federal. Participou, como deputado, da Assembleia Nacional Constituinte e também cumpriu o mandato de senador representando Brasília. Antes, exerceu vários cargos nos quais o brilho do desempenho o credenciou para funções mais elevadas na administração pública, tendo sido merecedor de condecorações e honrarias.

Everardo Ferreira Telles comanda o Grupo Ypióca há três décadas e meia tendo multiplicado os negócios da família, da qual ele representa a quarta geração empresarial. Enquanto são poucas as empresas nacionais centenárias, o Grupo Ypióca pode ter o orgulho de relatar para o Brasil uma trajetória ininterrupta de 165 anos. Tal feito só foi possível pela dedicação de Everardo, que modernizou a empresa, preparando-a para a competição de mercado, de modo que exporta seus produtos para mais de 40 países nos cinco continentes.

Fernando César de Moreira Mesquita é um jornalista vocacionado, que deixou Fortaleza em busca de horizontes profissionais que se abriram em Brasília. Foi e venceu. Além de trabalhar em veículos de imprensa de expressão nacional, ocupou relevantes cargos públicos, como governador do Território Federal de Fernando de Noronha, secretário do Meio Ambiente e Turismo do Estado do Maranhão, secretário executivo do Conselho das Zonas de Processamento de Exportação. É responsável pela comunicação social do Senado e presidente da Casa do Ceará em Brasília.

Luiz Hermano Façanha é um filho de Cascavel que adora viajar em busca de elementos para compor e desenvolver suas criações como artista plástico. Participou de duas Bienais Internacionais de São Paulo e expôs no Museu de Arte de São Paulo - Masp, tendo realizado inúmeras exposições individuais e coletivas. Suas obras, divididas entre esculturas, gravuras e relevos, podem ser apreciadas em museus e coleções particulares de prestígio. Em 2008, foi lançado um livro sobre sua obra, o que consagra seu nome com a desejada projeção nacional do fechado circuito da arte contemporânea.

Parabéns Sereiados.

Agradecemos a presença das autoridades e dos amigos que participam desta solenidade.

Obrigada.

Dona Yolanda Queiroz
Presidente do Grupo Edson Queiroz


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TRIBUTO À COMPETÊNCIA



A outorga do prestigioso "Troféu Sereia de Ouro" e a designação para agradecer a expressiva homenagem, em meu nome e em nome do grupo de agraciados, representam dupla honraria.

Sejam, portanto, as minhas palavras iniciais de sincero agradecimento ao Sistema Verdes Mares, nas pessoas de dona Yolanda Queiroz e o chanceler Airton Queiroz, bem assim à comissão julgadora incumbida da dignificante escolha, nesta quadragésima primeira edição do valioso prêmio.

Agradecimento que, naturalmente, é extensivo a todos os servidores desse exitoso Sistema, nas figuras dos renomados jornalistas Edilmar Norões, Pádua Lopes e Wilson Ibiapina.

Não poderia faltar aqui também um gesto de reconhecimento e gratidão a todas as personalidades que anteriormente tiveram o privilégio de receber idêntica homenagem.

Certamente, os agraciados de outrora viveram momentos festivos e felizes como os que estamos vivendo nesta noite, de doce encanto e de júbilo incontido, quando os corações se adornam de contagiante euforia, a transmitir para as palavras indisfarçável emoção.

Na vida, algumas ocasiões há que jamais perdem a singularidade. A celebração de hoje se destaca nesse rol de situações especiais.

Presentes neste ato solene, e detentores do mesmo significativo preito, o empresário Everardo Telles, o jornalista Fernando César Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano.

A companhia de figuras tão eminentes e respeitadas nesta elevada comemoração demonstra o alto significado da comenda, instituída em 1971 por Edson Queiroz, com o objetivo de homenagear personalidades cearenses que se destacaram nos respectivos setores de atuação e deram sua contribuição ao desenvolvimento do Estado do Ceará.

Ser contemplado com o "Troféu Sereia de Ouro" suscita em mim, e evidentemente nos demais condecorados, sentimentos sinceros e profundos. Primeiramente, de gratidão pela significativa homenagem. Depois, de orgulho e honra, por recebermos condecoração criada pelo empresário Edson Queiroz, cuja obra grandiosa vem tendo continuidade graças à destacada liderança e competência de dona Yolanda Queiroz, atributos esses colocados diariamente a serviço de um conglomerado empresarial que se tornou orgulho para o Estado do Ceará e para o Brasil.

Aliás, não foi sem razão que, em 2008, tivemos um acontecimento marcante para o País e, em particular, para a mulher brasileira, quando a dona Yolanda, na qualidade de presidente do Grupo Edson Queiroz, recebeu da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos o prêmio personalidade do ano.

Foi a primeira mulher brasileira a merecer a elevada honraria, desde a instituição do preito 39 anos antes, enquanto o Grupo Edson Queiroz passou a ser o primeiro da Região Nordeste do Brasil reconhecido por aquela organização binacional como instrumento para o desenvolvimento dos negócios entre os dois países.

Trata-se, sem dúvida, de justa distinção para a mulher e empresária de inegável destaque como executiva à frente de um respeitável e bem-sucedido grupo de negócios, privilégio que naturalmente se estendeu à memória do seu saudoso esposo Edson Queiroz.

Cada um de nós, os agraciados, nos sentimos altamente distinguidos, e este momento ficará na nossa memória como um dos maiores acontecimentos de nossas vidas.

É que o "Troféu Sereia de Ouro", pleno de significado, nos é conferido por organização empresarial das mais respeitáveis e respeitadas do País, responsável em grande parte pelo progresso do Ceará e do Brasil, gerando significativas riquezas e expressivo número de empregos, sob o comando seguro e competente de dona Yolanda, com a administração capaz e cuidadosa de seu filho, o chanceler Airton Queiroz, e ainda com o valioso apoio de suas filhas Renata, Lenise e Paula.

Graciliano Ramos ensinou que a palavra não foi feita para brilhar, como ouro falso, mas para dizer. Então, aqui estou para dizer. Dizer pouco, mas dizer o que acho deva ser dito, numa ocasião tão especial como esta.

Em 2011, estão sendo laureados com o "Troféu Sereia de Ouro" um empresário, Everardo Telles, um jornalista, Fernando César Mesquita, um artista plástico, Luiz Hermano, e um magistrado, Valmir Campelo. E dado o caráter solene deste evento, eu não poderia deixar de tecer algumas considerações a respeito dos homenageados.

Sobre Everardo Telles, não é difícil falar. Afinal, trata-se de executivo dos mais conceituados do País, estando há quase 40 anos à frente do Grupo Ypióca, a mais antiga empresa familiar brasileira, fundada em 1846, com a vinda de Dario Telles de Menezes para o Brasil, há pouco menos de 170 anos.

A Ypióca, que é pioneira na produção industrial de aguardente de cana - a nossa consagrada cachaça -, é líder na produção da bebida no território nacional, com cerca de 30 produtos em linha, conseguindo ainda exportar para mais de 40 países, com um sucesso absoluto de venda.

Portanto, a premiação de Everardo é o merecido reconhecimento por todo esse bom êxito como administrador e empreendedor, o que se deu à custa de muita disciplina, paixão e respeito pela consagrada empresa, como ele mesmo costuma contar, com indisfarçável sentimento de dignidade pessoal.

E o que dizer de Fernando César Mesquita? Renomado jornalista, conseguiu com inteira justiça o respeito e a admiração de todos que conhecem a sua magnifica trajetória, culminando agora por ser galardoado com o "Troféu Sereia de Ouro", com todo merecimento.

Ao longo de sua extraordinária carreira, plantou um consistente alicerce de realizações que avultam o invejável currículo de homem público, honrado, competente e dedicado, que todos aprenderam a reverenciar, atuando sempre com inestimável esmero e correção nos diversos e importantes cargos e funções que exerceu.

Foi assim, entre outros, como porta-voz do governo do presidente José Sarney, como primeiro governador civil do extinto Território de Fernando de Noronha, primeiro presidente do Ibama, de cujo projeto de criação foi autor, secretário de Meio Ambiente e Turismo do Estado do Maranhão, secretário de Comunicação Social do Senado Federal, onde implantou a TV Senado, e, por último, como presidente da Casa do Ceará.

Sem dúvida, trata-se de excepcional figura, que soube construir uma sólida e frutífera estrada, com singular talento e admirável sensibilidade.

É um homem cujo trabalho tem como resultado uma reconhecida folha de relevantes serviços prestados ao País, repleta de virtudes e de força moral, moldada com a sensatez e a sabedoria de quem conseguiu como ninguém construir vínculos firmes e perenes, próprios da alma nordestina.

E quanto a Luiz Hermano, é muito fácil justificar a sua escolha como sereiado, visto que o nome fala por si mesmo, reconhecido por todos como um dos mais importantes artistas brasileiros da atualidade, consagrado pela crítica por sua dedicação às fascinações da arte, como escultor, gravador, desenhista e pintor.

Tal qual um missionário, está voltado integralmente ao sacerdócio da criação, credenciado por uma história de valor e louvado pelo fulgor da criatividade.

Suas obras de arte são mistérios de imagens e formas que nos propiciam a descoberta de uma linguagem livre e dinâmica.

Obras de arte que testemunham as emoções, as razões, as crises e as construções, que marcaram épocas pelas quais passou a humanidade.

Trazem formas repletas de personagens, de cenários, de vivências, para dizerem o que vai no coração e na mente do artista.

Repercutem uma das funções básicas da arte, que é nos fazer discernir pensamentos e percepções que por outros meios não seria possível, nos levando a praticar o saudável e edificante exercício do olhar, de forma que, depois disso, jamais voltemos a ver o mundo como antes.

Quanto a mim, tenho dificuldade em comentar sobre as razões que me proporcionaram tamanha honraria. Mas imagino que o objetivo da escolha seja, na verdade, exaltar a atuação de tantos cearenses que, ao longo da vida, quer no exercício de mandatos eletivos, quer no desempenho da magistratura, se dedicaram a defender o interesse público, adotando em suas práticas cotidianas o conceito de bem comum e do benefício geral, que é imprescindível existir em qualquer sociedade.

Desse modo, divido com todos eles este relevante Troféu, mas sem disfarçar o meu contentamento em figurar como o segundo ministro do TCU a integrar tão prestigiosa galeria, ao lado de tantos expoentes da nossa sociedade, como o também ministro da Corte de Contas, Ubiratan Aguiar, que, no ano de 2008, experimentou a mesma emoção que ora me domina.

Reparto ainda a imponente láurea com minha esposa Marizalva, que por 43 anos vem sendo o esteio e a viga-mestra de minha trajetória, mostrando força em meus tropeços e se orgulhando por meus triunfos, como o que hoje está sendo celebrado.

Quero também que tomem parte na extraordinária insígnia com que fui distinguido os meus filhos Carlos Frederico, Ricardo Sérgio e Luiz Henrique, ao lado das respectivas esposas, minhas queridas noras Roberta, Renata e Fernanda, que nos permitiram, com a graça de Deus, poder desfrutar a alegria contagiante e a beleza ímpar das netas Bruna e Isabela, e dos netos Tiago e Lucas.

Partilho igualmente esta magnifica conquista com meus pais, cuja memória ora reverencio, lembrando das lições e dos exemplos que nos transmitiram.

Seus ensinamentos são notados facilmente na modelar formação dos 11 filhos, 38 netos, 35 bisnetos e seis tataranetos. Em ambos buscamos sempre nossas referências, nossas raízes, enfim, a direção para nossa jornada.

Seus justos conselhos e suas fundadas advertências constituíram o pilar do meu proceder ao longo da vida, não só na condição de cidadão comum, como também na qualidade de homem público, permitindo-me levar a bom termo os mandatos de deputado federal constituinte e senador da República, depois de administrar três cidades satélites do Distrito Federal.

E foi também seguindo os seus inabaláveis princípios éticos e morais e os seus firmes postulados de probidade e retidão que pude merecer o reconhecimento e a confiança do Congresso Nacional para exercer o honroso cargo de ministro do Tribunal de Contas da União, para orgulho de toda minha família.

Orgulho que se acentuou ao me tornar, em 2003, o primeiro cearense a galgar a dignificante posição de presidente daquela Casa, após assumir o cargo de ministro em 1997, quando já fazia 103 anos que ninguém natural deste Estado havia tomado assento entre os membros da Corte de Contas Federal.

Redobrada é a alegria de estar em solo de minha terra natal, sob o mesmo céu que contemplou a trajetória de tantos homens ilustres.

Faço questão de dizer que tenho apreço à semente nordestina germinada na terra fértil de Crateús.

Mantenho fidelidade intransigente à terra onde nasci, sempre trazendo em gestos e símbolos sua lembrança e evocativos do rincão que me é por demais caro.

Aqui e agora, nesta solenidade, assaltam-me sentimentos de pura alegria e indissimulável satisfação. Penso não ser possível tentar descrever a emoção que me domina.

Para um cearense de sangue e alma, como eu, nascido em Crateús, o evento tem um sentido indescritível. Recrudesce, ainda mais, o doce sentimento de orgulho pela terra de origem.

Voltar aqui constitui sempre um verdadeiro bálsamo a suavizar a imensa saudade das nossas belezas naturais e de tudo que caracteriza este Estado. Refiro-me sobretudo às particularidades marcantes dos cearenses, como o seu singular modo de pensar e agir em todos os tempos.

Posso afirmar que a gente do Ceará só tem proporcionado ao Brasil lances históricos que nos fazem orgulhosos do lugar.

Grandes nomes nos têm honrado nos cenários nacional e internacional. Na literatura, na administração, na política, na medicina, na cultura, na arte, no mundo jurídico, no jornalismo e em todos os outros setores da sociedade brasileira, a imagem do Ceará sempre desponta como o primórdio de tantos nomes ilustres.

Antes de encerrar, permitam-me falar ligeiramente sobre um tema que incomoda tanto esta região - a desigualdade -, porquanto é matéria que tem muito a ver com a defesa do interesse coletivo, virtude que hoje está sendo homenageada com o "Troféu Sereia de Ouro".

Creio ser impossível desvincular tal problema da crise de valores sem precedentes que vivemos no País, marcada pelo abuso de funções públicas para fins particulares, com as exceções de praxe, configurando uma das mais graves e urgentes questões que a sociedade brasileira deverá enfrentar.

Como disse o professor José Pastore, "os corsários da atualidade, como os piratas da antiguidade, seguem a ´ética da aventura´. Usam a audácia para assaltar o povo, jogando os custos nas costas dos trabalhadores [e dos empresários sérios e honrados]. Haja impostos para sustentar suas aventuras!"

De fato, os aventureiros de hoje passam por cima do espírito de patriotismo da esmagadora maioria da população, tudo em nome da devastadora ideia de que os fins justificam os meios.

Com seu condenável modo de proceder, pisoteiam sem nenhum escrúpulo, não só as organizações que produzem honestamente, gerando empregos na economia, a exemplo do Grupo Edson Queiroz, como também os que lutam para sobreviver com decência e dignidade, os verdadeiros humilhados e ofendidos nessa história sórdida, a gente humilde da canção de Vinícius de Moraes e Chico Buarque, que faz com que o peito se aperte, dando inveja "feito um despeito de não ter como lutar". Essa gente "que vai em frente sem nem ter com quem contar". "É gente humilde que vontade de chorar".

A reflexão em torno do tema nos conduz à impressão de que o crime disseminado perde a importância e não estigmatiza os que o praticam, tornando sem referência a simbologia que coloca o estado de direito como condição da vida civilizada. A crença na impunidade fermenta o ímpeto transgressor.

A morosidade processual acentua a ganância daqueles que se consideram fora do alcance da lei, optando pela devassidão do vale tudo que corrói a esperança de um futuro baseado em valores positivos, como a dignidade, a grandeza de caráter, o amor à causa pública e o empenho em favor do progresso da Nação, sobre os quais se deve soerguer a organização social e humana dos povos que se desejam prósperos.

Alguém já disse que o homem, como todas as espécies, é um empilhamento de instintos. E se hoje aflora no Brasil a corrupção, e enfim a opinião pública e a imprensa a identificam e a combatem, talvez seja porque está começando a emergir o mais primitivo dos nossos instintos: o de sobrevivência.

Para o bem situar essa preocupação que deve ser de todos, relembro os dizeres de quase 100 anos atrás, da filósofa russo-americana Ayn Rand, judia fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 20, mostrando visão e conhecimento de causa. Disse ela:

"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada;

Quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores;

Quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você;

Quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício;

Então poderá afirmar, sem temor de errar, que a sua sociedade está condenada".

Depois desse instigante alerta de quase um século, resta acreditar que sejamos capazes de evitar o pior, com a mesma esperança demonstrada por Gabriel García Márquez, célebre autor do incomparável "Cem Anos de Solidão", ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, quando disse:

"A violência e a dor desmesurada de nossa história são o resultado de injustiças seculares e amarguras sem conta. Ambicionamos criar uma sociedade em que finalmente seja certo o amor e seja possível a felicidade, onde as estirpes condenadas a 100 anos de solidão tenham por fim e para sempre uma segunda oportunidade sobre a terra".

Parafraseando Robert

Permita-me dona Yolanda oferecer à minha mulher, Marizalva, este Troféu. Zalva, de mãos dadas por muitos anos caminhamos em florestas verdes e praias de areia branca e densas. E fluindo o nosso tempo aqui na terra se for, no Céu continuaremos o nosso amor.

Finalizando, eu e os demais homenageados agradecemos sensibilizados a todos pela presença, reiterando expressões de efusivo contentamento e gratidão pela honrosa comenda que o Sistema Verdes Mares nos concede.

Muito obrigado a todos.

Valmir Campelo
Ministro do TCU


(Fonte: Diário do Nordeste)

AMLEF EMPOSSA NOVA DIRETORIA



No início da noite de ontem, no Palácio da Luz, foi empossada a nova diretoria da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza. Seridião Correia Montenegro é o novo Presidente, tendo este escriba como Vice-Presidente. Flávio Leitão fez a saudação aos empossados.

O Deputado Federal Mauro Benevides também tomou posse como Acadêmico Honorário e foi homenageado por Osmar Maia Diógenes.

O evento foi extremamente prestigiado.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

CONVITE ACADEMIA METROPOLITANA DE LETRAS DE FORTALEZA




O Presidente da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, José Anízio de Araújo, tem a subida honra de convidar V. Sa. para a solenidade de posse do novo presidente, escritor Seridião Correia Montenegro e de lançamento da Segunda Antologia da AMLEF.

Na ocasião receberá o título de Acadêmico Honorário o Exmo. Sr. Carlos Mauro Cabral Benevides, da Academia Cearense de Letras.

Dia: 30 de setembro de 2011.

Hora: 19:00 min.

Local: Academia Cearense de Letras, Rua do Rosário nº 1, Fortaleza, Ce.

Traje: Passeio Completo

HOMENAGEM AO TALENTO



A entrega do Troféu Sereia de Ouro 2011 será realizada pelo Sistema Verdes Mares, hoje à noite, no palco do Theatro José de Alencar. Neste ano, os escolhidos para receber a comenda foram o ministro Valmir Campelo, o empresário Everardo Telles, o jornalista Fernando César Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano. Criado em 1971, pelo industrial Edson Queiroz, o Troféu Sereia de Ouro é outorgado a personalidades cearenses, como forma de reconhecimento por suas trajetórias de sucesso, em diversas áreas de atuação. Os agraciados são homens e mulheres que trabalharam para o engrandecimento e desenvolvimento do Ceará. Durante a semana, o Caderno 3 apresentou cada um dos agraciados. Hoje, leia o resumo da biografia de todos eles

OS AGRACIADOS

Valmir Campelo, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), nasceu em Crateús, numa família de 11 filhos. Ainda menino, ele acompanhou de perto o drama dos sertanejos que sofriam com a fome e a seca. A preocupação com o próximo despertou nele a vocação pela causa pública. As oportunidades o aguardavam em Brasília, e o caminho encontrado foi o serviço público, no qual ingressou em 1963 e galgou as mais importantes posições, degrau a degrau - de escriturário a senador da República. Em 1962, sua irmã Maria Valdira foi aprovada em um concurso na Câmara dos Deputados, e o pai condicionou a mudança da filha para a recém-criada Capital Federal à companhia de um de seus irmãos. Valmir foi o escolhido. Terminou os estudos em escola pública, foi aprovado no vestibular para o curso de Comunicação Social, na Universidade de Brasília (UnB). Foi prefeito de Braslândia, Gama e Taguatinga; deputado federal e senador. Atualmente, trabalha em um livro de memórias recente do País. Fotos: A. Capibaribe Neto

Fernando César Mesquita, jornalista, encantou-se pela profissão ainda pequeno, ao observar o tio Perboyre e Silva, um dos fundadores da Associação Cearense de Imprensa (ACI). Começou a carreira aos 15 anos, na antiga Rádio Iracema. Algumas coberturas depois, devido à qualidade de seu trabalho, passou por jornais como O Estado e Tribuna do Ceará. Logo, o jornalista quis alçar voos mais altos e estar perto de onde nasciam as principais notícias políticas do País: Brasília. Num intervalo de menos de 30 anos, tornou-se correspondente de diversas empresas de comunicação e exerceu cargos como o de chefe de Redação no jornal O Estado de S. Paulo (SP) e editor de Política no Jornal do Brasil (RJ); na Capital Federal, também se iniciou na vida pública, ocupando importantes cargos - dentre eles, o de governador do Território Federal de Fernando de Noronha. Apaixonado por seu estado natal, Mesquita auxiliou muitos jornalistas que chegaram à cidade. O jornalista preside, atualmente, a Casa do Ceará em Brasília.

Everardo Telles, empresário, começou a tomar gosto pelos negócios ainda criança. Aos cinco anos, ele acompanhava o pai pelos canaviais da família, no lombo de um cavalo. Na época, aprendeu as primeiras lições de ética e entendeu que sem ousadia e determinação nenhuma empresa pode prosperar. O Grupo Ypióca, iniciado pelo bisavô português e, desde então, administrado pela família, está na quarta geração. Everardo Telles foi o primeiro a concluir o ensino superior, formando-se em Agronomia, pela Universidade Federal do Ceará. O empresário já prepara a quinta geração da família para os negócios: dos sete filhos, seis já foram iniciados - a exceção é o mais novo, de apenas quatro anos. Hoje, além da produção de cachaça, exportada para 40 países, o Grupo Ypióca inclui distribuidoras, fábricas de etanol, embalagens plásticas e de papelão e fazendas com gado de corte e leiteiro. Com crescimento médio anual em torno dos 10%, o faturamento do grupo, em 2010, foi de R$ 300 milhões. Foto: Marília CAmelo

Luiz Hermano, artista plástico, nasceu no distrito de Preaoca, em Cascavel. Mas o lugar era pequeno demais para o filho de agricultores que cedo descobriu as artes. À sombra de mangueiras e cajueiros, o menino construía brinquedos e mergulhava nas imagens e na fantasia das histórias em quadrinhos e enciclopédias. Aos 13, deixou Preaoca rumo à sede de Cascavel para estudar. Depois, veio para Fortaleza, onde cursou Edificações, na então Escola Técnica Federal do Ceará, e Filosofia, na Universidade Estadual do Ceará. Na ausência de uma escola de artes, resolveu estudar os pensadores para "abrir a cabeça". Não demorou e Luiz partiu para cursos livres e saiu pelo mundo colecionando experiências. Há mais de 30 anos vive em São Paulo, cidade que abrigou o talentoso artista, dando-lhe oportunidade de mostrar sua criatividade inquieta.

Homenageados Anteriores

2010- Bibliófilo José Augusto Bezerra, Coreógrafa Regina Passos, Médico Gilmário Mourão Teixeira, Artista Plástico Nilo de Brito Firmeza (Estrigas)

2009 - Desembargador Fernando Ximenes, Padre Fred Solon, Empresário Honório Pinheiro, Escritora Isabel Lustosa

2008 - Escritora Ana Miranda, Político José Barroso Pimentel, Professor José Osvaldo Beserra Carioca, Ministro Ubiratan Diniz de Aguiar

2007 - Empresário Deusmar de Queirós, Engenheiro Expedito Parente, Ministro Napoleão Maia, Esportista Shelda Bedê

2006 - Jornalista José de Arimatéia Gomes Cunha, Médico Pedro Henrique Saraiva Leão, Coreógrafo Hugo Bianchi, Professor Ronaldo Couto Parente

2005 - Bispo Adélio Tomasin, Cantor e Compositor Antônio Carlos Belchior, Advogado Álvaro Ribeiro Costa, Embaixadora Stela Pompeu Frota

2004 - Professor Melquíades Pinto Paiva, Compositor Fausto Nilo, Empresário Jorge Parente Frota, Ministro Eunício Oliveira

2003 - Teatrólogo Aderbal FreireFilho, Professor José de Abreu Matos, Embaixador Helder Martins de Moraes, Empresário Humberto Bezerra

2002 - Irmã Elisabeth Silveira, Teatrólogo Haroldo Serra, Jornalista Luís Edgar de Andrade, Professor Roberto Cláudio Frota Bezerra

2001 - Ministro Vicente Leal, Jornalista Cid Carvalho, Poeta Patativa do Assaré, Professor Plácido Cidade Nuvens

2000 - Coreógrafa Dora Andrade, Empresário José Abraão Otoch, Padre Luigi Rebuffini, Estilista Lino Villaventura

1999 - Teatrólogo B. de Paiva, Médico Glauco Lobo, Almirante-de-esquadra Valdir Bastos Ponte, Empresário Raimundo Viana

1998 - Psicóloga Maria Violeta Arraes de Alencar Gervasieau, Jornalista Maria Adísia Barros de Sá, Humorista Antônio José Rodrigues Cavalcante, Médico José Murilo de Carvalho Martins

1997 - Monsenhor André Viana Camurça, Ministro Francisco Cesar Asfor Rocha, Maestro José Maria Florêncio Júnior, Senador Lúcio Gonçalo de Alcântara

1996 - Artista Plástica Sinhá D´Amora, Escritor Gerardo Mello Mourão, Bibliógrafo José Bonifácio da Silva Câmara, Industrial Luiz Esteves Neto

1995 - Professora Maria Calmon Porto, Educador Odilon Gonzaga Braveza, Advogado Francisco Ernando Uchôa Lima, Embaixador José Jerônimo Moscardo de Souza

1994 - Médico José Oswaldo Soares, Jornalista Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Cineasta Luiz Carlos Barreto,
Escritor e Jornalista Mozart Soriano Aderaldo

1993 - Médico José Anastácio Magalhães, Empresário Fernando Nogueira Gurgel, Sacerdote José Linhares Ponte, Almirante Henrique Sabóia

1992 - Médico Fernando Pompeu, Político Juraci Vieira de Magalhães, Banqueiro José Afonso Sancho, Professor Paulo Bonavides

1991 - Banqueiro Jaime Pinheiro, Empresário Plínio de Pompeu Saboya Magalhães, Professor Roberto de Carvalho Rocha, Artista Plástico Sérvulo Esmeraldo

1990 - Médico Aluysio Soriano Aderaldo, Médico Francisco Waldo Pessoa de Almeida, Escritor Manoel Eduardo Pinheiro Campos, Industrial Walder Ary

1989 - Deputado Antônio Paes de Andrade, Professor Cláudio Martins, Artista Plástica Heloísa Ferreira Juaçaba, Médico José Edson Pontes

1988 - Industrial Carlos Pereira de Souza, Cardeal José Freire Falcão, Poetisa e Teatróloga Nadir Papi de Saboya, Cantor e Compositor Raimundo Fagner Cândido Lopes

1987 - Poeta Artur Eduardo Benevides, Industrial João Clemente Fernandes, Ministro José Reinaldo Tavares, Ministro Inácio Moacir Catunda Martins

1986 - Artista Florinda Soares Bulcão, Jornalista Paulo Cabral de Araújo, Político Vicente Cavalcante Fialho, Professor Djacir Lima Menezes

1985 - Senhor Carlos Mauro Cabral Benevides, Artista Plástico Clidenor Capibaribe, Diplomata Dário Moreira de Castro Alves, Dom Raimundo de Castro e Silva

1984 - Médico Antônio Vandick de Andrade Ponte, Marechal-do-ar Casemiro Montenegro Filho, Industrial Ivens Dias Branco, Cantor e Compositor Luiz Gonzaga do Nascimento

1983 - Senhor Audísio Mosca de Carvalho, Senhor Camilo Calazans de Magalhães, Humorista Francisco Anísio de Oliveira Paula Filho, Médico Haroldo Juaçaba

1982 - Empresário Clóvis Rolim, Compositor Evaldo Gouveia, Ministro Mário David Andreazza, Médico Silas Munguba

1981 - Empresário Antônio Romcy, General Francisco de Assis Bezerra, Pianista Jacques Klein, Bacharel Valfrido Salmito

1980 - Industrial Jaime Tomaz de Aquino, Deputado Adauto Bezerra, Médico José Pontes Neto, Ator Renato Aragão

1979 - Professora Eunice Barroso, Damasceno, Maestro Eleazar de Carvalho, Deputado Flávio Portela Marcílio, Industrial Ivan de Castro Alves

1978 - Artista Plástico Aldemir Martins, Empresário Casimiro José de Lima Filho, Médico Fernando de Campelo Gentil, Desembargador Virgílio de Brito Firmeza

1977 - Jornalista Luís Cavalcante Sucupira, Escritora Rachel de Queiroz, Industrial Pedro Philomeno Gomes, Economista Antônio Nilson Craveiro Holanda

1976 - Ministro Armando Ribeiro Falcão, Cardeal Aloísio Lorscheider, Professor Raimundo Girão, Industrial José Dias de Macêdo

1975 - Desembargadora Auri Moura Costa, Professor Waldemar Alcântara e Silva, Industrial Thomás Pompeu de
Souza B. Netto, Médico Eduardo Régis Jucá

1974 - Governador César Cals de Oliveira Filho, Professor Antônio Martins Filho, Engenheiro José Lins de Albuquerque, Professor José de Guimarães Duque

1973 - General Tácito Theophilo G. de Oliveira, Professor João Ramos Pereira da Costa, Professor Evandro Ayres de Moura, Senhora Dagmar de Albuquerque Gentil

1972 - Engenheiro Geraldo Cabral Rôla, Engenheiro Luís de Campelo Gentil, Economista Rubens Vaz Costa, Senador Virgílio Fernandes Távora

1971 - Engenheiro José Walter B. Cavalcante, Brigadeiro Jaime Peixoto da Silveira, General Jaime Portela de Melo, Governador Plácido Aderaldo Castelo



(Fonte: Diário do Nordeste)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

"Me ajude, governador, me ajude"

Geraldo Alckmin é um colecionador de "causos". O governador de São Paulo não é apenas um leitor assíduo desta coluna como um de seus colaboradores. Muitos "causos" engraçados saíram da verve de Alckmin. Leiam mais este, relatado logo ao chegar para a posse de Paulo Skaf no Teatro Municipal.

Um prefeito de São Paulo (omite-se o nome para evitar constrangimento) chega ao governador, e, sem mais delongas, expressa a sua angústia, a sua desolação:

- Governador, pelo amor de Deus, me ajude, me ajude, me socorra! Estou perdido!

- Por que tanta aflição, prefeito, afinal você está apenas no meio do mandato. Há dois anos, ainda, pela frente.

O prefeito, cochichando no ouvido do governador, em tom de confessionário, conta o motivo do desespero:

- Governador, eu exagerei. Prometi demais, governador. Muito mais do que podia cumprir. E hoje, estou apertado por todos os lados. Não tenho condição de pleitear um novo mandato. Me ajude, governador, me socorra!

Alckmin abriu os braços, balançou a cabeça em sinal de dúvida, mas não teve coragem para dizer: "quem pariu Mateus que o embale". Preferiu abrir uma ruidosa gargalhada!

(Prefeitos, as cobranças pelos exageros vão continuar)

PSD nasceu: ator importante

O PSD nasceu. Será um ator importante na cena nacional. Marcelo Ribeiro, que havia pedido vistas, deu um parecer consolidando o relatório da ministra Nancy Andrighi. O prefeito Gilberto Kassab é um craque. O PSD nasceu. Não foi por unanimidade. Mas o fato é que o PSD forma uma nova camada na estrutura partidária. Peso na balança do poder governamental.

Posse prestigiada

A posse de Paulo Skaf para o terceiro mandato no comando do sistema FIESP/CIESP foi muito prestigiada. Fazia tempo que este consultor não via tantas autoridades reunidas num mesmo evento. O Teatro Municipal de São Paulo ficou lotado. Skaf fez uma peroração em leque. Não leu documento. Fez um passeio panorâmico pelas realizações do mandato, de maneira solta, dando ênfases, fazendo pontuações, intercalando com agradecimentos a governadores, ministros, magistrados, representantes das Forças Armadas, senadores, deputados, prefeitos, etc. Skaf mostrou completo domínio do seu espaço e da conjuntura nacional.

Competitividade

Paulo Skaf, de maneira elegante e equilibrada, deu um recado ao governo. Não há condição de se aprovar nenhum imposto a mais para financiar a saúde. Reconhece que a saúde precisa de mais recursos. Que se arrumem outros mecanismos. A palavra-chave da peroração foi competitividade. Um ponto de convergência a ser atingido com a eficácia da gestão, passando pelos corredores da melhoria da educação, da diminuição do alto custo da energia, dos juros baixos, da ampliação da logística, do aperfeiçoamento da infraestrutura, do preparo da mão de obra especializada, da simplificação da burocracia, enfim, dos arranjos e ajustes nos gargalos que contribuem para maximizar o Custo Brasil.

Vírus e epidemia

O presidente da FIESP fez um alerta : o novo vírus que ameaça contaminar a economia mundial precisa ser muito bem controlado e monitorado por estes nossos trópicos. Sob pena de provocar uma epidemia. É melhor prevenir que remediar.

Pimentel, jogo de cintura

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, um dos mais próximos da presidente Dilma, mostrou ter jogo de cintura. Aplaudiu vivamente quando Skaf detonou a possibilidade do Congresso aprovar mais impostos para a Saúde. Endossou as reivindicações e ponderações do presidente da FIESP e, na leitura do estágio por que passa o país, deu o devido crédito ao governo FHC. Comentei com o amigo Paulo Delgado, ao meu lado: "Será que ele vai se referir a Fernando Henrique?". O ex-presidente chegou ao evento por volta de 21h30, quando Pimentel discursava. Paulo alertou: "Ele poderá dizer que não viu Fernando Henrique chegar". Claro, seria desculpa esfarrapada. Não teve jeito. Ao mencionar FHC, as palmas se multiplicaram. O tucano levantou-se, comovido, para agradecer. Gesto que repetiu três vezes no evento.

Quatro mães

"Quatro mães muito formosas parem quatro filhos muito feios. A verdade pare ódio, a prosperidade, orgulho, a familiaridade, desprezo e a segurança, perigo". (Padre Manuel Bernardes)

Maia, o mesmo tom

Marco Maia, o presidente da Câmara, ganhou muitos aplausos, ao prometer que não será aprovado novo imposto. Nem nesse ou no próximo ano. O que deixou a ministra Ideli Salvatti carregando a cruz. Como se sabe, Ideli acaba de defender a aprovação de um novo imposto para a Saúde. Maia, no mesmo tom de Pimentel, também reconheceu os méritos do governo FHC. Mais palmas. O ex-presidente parecia emocionado. Ao final de cada elogio petista, sobrava a impressão: Lula se isola cada vez mais ao fustigar FHC e tentar apagar os vestígios do passado.

Alckmin, feliz da vida

Geraldo Alckmin, sorriso estampado todo tempo, parecia feliz com a parceria que o governo de São Paulo estabelece com o governo da presidente Dilma. Sua fala foi curta e formal. Ganhou muitos aplausos.

Aloysio: "Nem pense nisso"

O senador mais votado no Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, exibia um ar de felicidade ao argumentar que se sentia muito bem no acolhedor espaço do Senado. Este consultor faz a provocação: "Você seria o melhor candidato tucano à prefeitura. Teve mais de 10 milhões de votos. Conta com um recall extraordinário". E ele: "Nem pense nisso. Estou muito bem onde estou. E não trocarei por nada".

Serra, fechado

Já José Serra pareceu fechado. Em uma rodinha, cheguei a provocar, após intervenção do ministro Garibaldi Alves e do senador Valdir Raupp, de que haviam se encontrado, recentemente, na Paraíba: "Serra, você está viajando bastante". Ele: "Não, não estou viajando tanto". Repliquei: "Serra, estou dando parabéns. Viaje muito. É hora de conversar". Ele entendeu. Afinal, precisa correr mundo para evitar que Aécio Neves lhe feche as portas de 2014.

E esse Jeová, hein?

"Gostaria de saber o que esse Jeová fez de errado para ter tantas testemunhas assim."
(Colaboração de Álvaro Lopes)

Garibaldi, sorriso pelo abacaxi

Pois é, o ministro Garibaldi cercou-se de técnicos e descasca com eficiência o abacaxi da Previdência. Muito elogiado nas rodinhas que falavam sobre o desempenho da equipe ministerial. O conterrâneo fruía os elogios exibindo os dentes com um imenso sorriso.

Horário político na rede

O horário político eleitoral está chegando ao Twitter. A empresa anunciou que aceitará veicular tweets pagos de candidatos políticos para as eleições presidenciais norte-americanas de 2012. O Twitter afirma que fará pequenas modificações no design dos pedidos por votos, para que eles não sejam confundidos com tweets comuns e nem sejam iguais aos Promoted Tweets, mensagens publicitárias de empresas inseridas obrigatoriamente na linha de atualizações. Quando o usuário passar o cursor por cima da mensagem política será aberta uma janela pop-up dizendo quem pagou pelo anúncio. Outra diferença : eles não aparecerão nas buscas (ao contrário dos tweets de empresas). Políticos também poderão entrar nos programas 'Promoted Account' (conta promovida), ganhando preferência no sistema de indicação de perfis, e em 'Promoted Trends' (Tendência promovida), aparecendo no topo da lista de tendências.

Orlando, confiante

Orlando Silva é um poço de confiança. Discurso pronto e fluido. Os cronogramas da Copa serão cumpridos. Não haverá bumerangue. Crê nos parceiros e na boa-fé dos empreendedores. Vê chances do Brasil se sair melhor que outras sedes de Copas. O ministro Orlando exala otimismo. É uma ponta de lança nas frentes de simpatia do governo. Ocorre que o Ministério do Esporte, por assumir um escopo estratégico na preparação da Copa, passou a ser muito cobiçado. Partidos querem abocanhar aquele espaço.

Copa 2014?

"Faltam 3 anos, 12 estádios e uma seleção". (Anônimo)

Moreira, indignado

Moreira Franco, nosso ministro de Assuntos Estratégicos, acaba de chegar de Ecaterimburgo, na Rússia, onde participou da Conferência de Altos Representantes nas Questões de Segurança, reunindo 59 países. Indignou-se por não poder se expressar em português. Era proibido. Foi escolhido para fazer o brinde de abertura. Confusão. Foi defendido pelo anfitrião russo. Que sabia espanhol. Moreira teve de brindar em espanhol. Para o russo fazer a tradução. Para a palestra técnica, mesma coisa : português era proibido. Moreira teve de se escudar no francês, que domina bem. Mas o piauiense-carioca não deixou por menos : botou a indignação no ar. Fez um protesto oficial. Sob o argumento de que o português é uma das línguas mais faladas do mundo.

Lewandowski, elogiado

O presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, recebia muitos cumprimentos por sua posição no comando da Corte. Trata-se de um magistrado atento ao espírito das normas.

De onde virão os 10%

O Senado poderá aprovar o texto original da regulamentação da Emenda 29, que estabelece o gasto mínimo de 10% das receitas da União com a Saúde. A questão é: de onde virão esses recursos? De onde tirar mais R$ 30 bilhões? Um dado de fundo: o setor privado gasta 2,5 vezes mais com Saúde do que o setor público.

"Bandidos de toga"

A corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, foi dura: "magistratura está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos escondidos atrás da toga". E arremata: "Sabe que dia vou inspecionar o Tribunal de Justiça de São Paulo? No dia em que o sargento Garcia prender o Zorro". Será que ela quis dizer: no dia de São Nunca?

Aparências

"Se nós pudéssemos nos ver como os outros nos veem, aprenderíamos até que ponto as aparências são enganosas". (Franklin Jones)

Prévias em São Paulo

Com a oficialização de sua pré-candidatura à prefeitura de São Paulo, o secretário estadual do Meio Ambiente, Bruno Covas, praticamente reforça a tese das prévias. Entra para valer. Teria a simpatia do governador Alckmin. O PSDB inaugurará o sistema, pelo visto. O PT diz defender as prévias, mas nesse partido, as coisas parecem combinadas.

Paes é favorito

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) é franco favorito na disputa de 2012. Faz boa dobradinha com o governador Sérgio Cabral. O deputado Otávio Leite se esforça para ser o candidato tucano. E os Maia? Rodrigo Maia, o filho de César, deverá se candidatar à prefeitura. E o pai quer começar tudo novamente, pela casa dos vereadores. Já Fernando Gabeira poderá ser o candidato do PV.

Apelação em Natal?

Ouvi de alto político potiguar perplexa declaração : "A prefeita de Natal, Micarla de Sousa, decidiu apelar para Jesus". Como ? Decidiu abandonar o catolicismo e entrar no evangelismo. Como evangélica, espera que uma corrente religiosa a conduza aos céus da reeleição. Apelação ? Desespero ? Há quem garanta : é mais fácil o sol de amanhã não aparecer no nascente do que Micarla ganhar um novo mandato de prefeita.

Honesto ganho

Leonardo Mota, o nosso estudioso de ritos, gestos e práticas do Brasil profundo, é quem conta : estava em Campo Maior, no Piauí. Acabava de fazer uma conferência em torno do tema "Ao Pé da Viola", no salão da Câmara Municipal. O calor fizera-me suar em bicas, e eu ensopara quatro ou cinco lenços. Quando, ainda suarento, recebia os cumprimentos do auditório, um dos meus ouvintes comentou:

- Mas, home, seu doutô, grande dinheiro bem ganho só é esse de Vossa Senhoria!

- Por quê?

- Por que vamincé sua que só tampa de chaleira...

Conselho aos senadores

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do STJ. Hoje, sua atenção se volta aos senadores :

1. Vale a pena um esforço extraordinário para se verificar onde e como abrir novas frentes de recursos para a Saúde. Contanto que estes novos espaços não impliquem criação de um novo imposto.

2. O Senado poderá fazer encaminhamentos e proposta ao Executivo no sentido de realocação de recursos, novas destinações, etc.

3. A definição de 10% de recursos do Orçamento aponta para a indicação de fontes dos novos recursos. Será que as planilhas das estruturas governativas não merecem um reestudo com vistas à redefinição de verbas?

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma I

Em doses homeopáticas, sem muito destaque, o governo da presidente Dilma tem dado clara indicação das diretrizes de sua política econômica, do cavalo de pau que está dando na política herdada de Lula. Esta, por sua vez, herdada por Lula de FHC. Da própria Dilma, no discurso na ONU: "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se recolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia". Para quem lê, está enunciado o princípio de que o Estado vai intervir sempre que julgar necessário, cada vez mais. O tripé de política econômica composto pelo câmbio flutuante, política fiscal disciplinada e meta de inflação hoje tem valor relativo.

A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma II

O boletim bimestral "Economia Brasileira em Perspectiva", do ministério da Fazenda, distribuído também na semana passada, informa que "uma política monetária expansionista seria uma resposta à desaceleração da economia". Na mesma linha de outro dito da presidente em NY: que não dá para sair da crise "produzindo recessão". Em Brasília, vozes mais entusiasmadas, já chamam esse arranjo de "o Plano Real" de Dilma. Dando certo, seria o passaporte para ela se livrar da sombra de Lula e projetar uma espécie de "dilmismo", para além de 2014.

A economia na real

Se, de um lado, é certo que Dilma começa a formular uma política econômica fora dos padrões dos governos anteriores, de outro os problemas econômicos atuais são efetivos. A crise externa começa a interferir diretamente sobre a economia brasileira. A face mais visível são os recentes movimentos altistas do câmbio e sua correspondente influência sobre a inflação. Todavia, não é o único efeito. Linhas de crédito em reais e moeda estrangeira estão substancialmente mais caras e escassas, os investimentos diretos estão sendo paulatinamente revistos, o consumo de bens duráveis mostra sinais de enfraquecimento e, com efeito, a atividade econômica está bem mais frágil, algo além do que podia se esperar. O Brasil vai crescer menos que a média da América Latina e cerca de 1/3 do que Índia e China vão crescer este ano. Tudo isso é muito significativo.

Inflação: o problema mais urgente

O futuro é, por definição, incerto, muito embora os economistas de plantão estejam sempre prontos a prevê-lo. Ora, quem poderia esperar que inflação superasse tão rapidamente a meta estabelecida pelo BC, a qual baliza a política monetária? Basta verificarmos o que diziam as fontes no final do ano passado sobre o assunto. Pois bem: alguém pode duvidar que a inflação possa atingir um patamar (anual) acima dos dois dígitos? A resposta honesta hoje é que a probabilidade de que isto aconteça é significativa e, ao mesmo tempo, crescente. As variações da taxa de câmbio pesarão sobre a inflação e é bom não esquecermos de que há mecanismos de indexação suficientes na economia brasileira (aluguéis, crédito imobiliário, salários, preços públicos, etc.) que tragam de volta o "velho" fator inercial. Não apenas o governo subestima este cenário. O próprio "mercado" também o faz.

E a política?

Em nome da "política dos políticos" é que está havendo uma certa condescendência com a inflação. Acredita-se que mais PIB signifique mais votos no baú. Esquece-se de que não há maior buraco negro de votos do que preços altos e renda em queda. Principalmente para uma classe "C "emergente, a dita classe média do Lula.

BC: credibilidade em baixa

A taxa de juros básica no Brasil já poderia estar mais baixa há algum tempo, coisa de anos. Há uma gama de economistas que dirão o contrário, mas o certo é que não há "provas científicas" que sustentem que temos de ter uma taxa de juros real tão alta assim. Esta premissa, contudo, não afasta a constatação de que o BC escolheu a pior forma e momento para iniciar a queda dos juros. Com a inflação em alta e a taxa de câmbio supervalorizada, o BC tomou para si e, por decorrência, para o país, todos os riscos econômicos. Provavelmente, não faltou "sensibilidade" à autoridade monetária em relação ao tema, tanto é que a última decisão do COPOM foi construída com os votantes do BC divididos. Agora, a coisa ficou mais complicada, pois o esforço do BC para retomar as rédeas da inflação terá de ser muito maior. Neste caso, Tombini e sua turma poderão descobrir que estarão sozinhos nesta tarefa.

A questão dos derivativos

É direito de qualquer governo cuidar para a higidez de um segmento de mercado. Ainda mais quando se trata de câmbio. Os ingressos de recursos externos já são enormes desde a década de 90. Coisa de longo prazo e cujo destino sempre foi o lucrativo mercado de juros brasileiro. Em julho o governo, leia-se Fazenda, resolveu adotar uma medida de restrição cambial, escolheu o mercado de derivativos com o fito de evitar a tal da "arbitragem" entre juros locais e externos. Está claro que a medida adotada não foi concebida com a devida análise de suas consequências. Por duas razões: (i) os "hedgers" (aqueles que querem proteção cambial) tiveram que comprar posições no mercado à vista, pois não há mais vendedores de câmbio no mercado de derivativos. De outro lado, (ii) os detentores de dólares não vão liberá-los, pois poderão não ter liquidez no futuro. Resultado: apenas o governo pode fornecer dólares com suficiência para o mercado. É o que está a ocorrer. A Fazenda fez algo inesperado: deu um nó no BC. Que, obediente, calou-se.

A crise europeia

Não dá para ficar pessimista com o anúncio e as notícias que vieram da reunião do FMI neste último fim de semana. Isso não significa que devemos ficar eufóricos. De fato, a leitura do que saiu da autoridade multilateral mostra que, finalmente, os europeus parecem dispostos a agir, criando formas e fontes que aumentem a liquidez do sistema financeiro, bem como limitem os riscos do crédito soberano. Não será somente a pequena Grécia a ser analisada na reunião da UE na primeira semana de outubro. De fato, parece que teremos novidades e estas serão positivas. Isso não quer dizer que os mercados reverterão as expectativas. Quer dizer que talvez poderemos rever as nossas piores expectativas. Não dá para se antecipar às medidas e operar no mercado, mesmo porque caso a "nova estratégia europeia" seja um desastre, os efeitos serão terríveis. Por isto não mudamos o nosso "Radar NA REAL".

A pergunta de Canotilho

A edição, na última quinta-feira, do "Prêmio Mendes Junior" da GVLaw reuniu Delfim Netto, Ives Grandra e J.J. Canotilho para discutir os efeitos da segurança jurídica sobre o desenvolvimento econômico. Um debate recheado de erudição e vívida reflexão prática. A certa altura do debate, o português J.J. Canotilho, um dos maiores constitucionalistas vivos do mundo, acusou: "as parcerias público-privadas eram vistas até pouco tempo atrás como a 'salvação' da economia portuguesa na sua tarefa de se desenvolver. Hoje, depois da deflagração da crise europeia, estas PPPs são vistas como 'as maiores produtoras de déficit público' de Portugal pela União Europeia. Como isto é possível?". Segundo o jurista, "a questão fundamental hoje não é como o Estado cumpre a sua função fiscalizadora, mas se o faz de maneira inteligente". Eis uma excelente reflexão nestes tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas neste nosso país...

Queridinho do mercado

Roger Agnelli, ex-Vale, acaba de ganhar o prêmio da prestigiada "Revista RI" como "Melhor Desempenho em RI (Relações com Investidores) por um CEO". Das sete edições deste prêmio, Agnelli foi indicado todas as vezes e ganhou quatro prêmios. Um desempenho e tanto. Resta saber se alguma autoridade da Fazenda prestigiará a entrega do prêmio, depois de tirar a coroa de Agnelli na Vale.

Reforma política de fachada

Até os mais ingênuos parceiros já notaram: as mudanças eleitorais que Lula abraçou são principalmente muito boas para o PT. E para ele, Lula. O voto em lista é uma aberração. Mais dinheiro público em campanha, sem democracia partidária e sem controle rígido e punição rigorosa para "caixa dois", outra. Dinheiro de estatais na campanha, crime. O PMDB não fica atrás, distritão é regressão. Não há reforma para valer. Não interessa a ninguém, nem situacionistas nem oposicionistas. Nada de mudar de fato o que está aí, correr o risco de pôr novos atores na cena política e dar mais voz e poder de escolha ao eleitor. Daí opção por novos velhos com Fernando Haddad, Gabriel Chalita, Bruno Covas, etc. O lema é mudar para permanecer como está.

Constrangimentos no judiciário

O silêncio da maioria dos membros da Justiça a respeito das resistências do Executivo e do Legislativo em aprovarem o pedido de reajuste salarial para eles não é de ouro. Pode, quase discretamente, fazer muito barulho.

É apenas tática

Nem o governo nem o Congresso desistiram de ter uma nova fonte para "financiar a saúde", ou seja, ter um novo velho imposto como a CPMF, uma outra jabuticaba tributária ou um ajuste num dos velhos tributos. Eles estão esperando apenas uma ocasião mais propícia para passar o arranjo goela abaixo da sociedade. Veja-se que nunca se fez questão, na área pública, de mostrar tanto as mazelas do setor quanto agora.

O que está errado?

Da ministra Eliana Calmon, do STJ, a respeito da anulação das provas contra negócios da família Sarney: "Ou a Polícia Federal está inteiramente errada, jogando fora o dinheiro da Nação, fazendo investigações temerárias, ou a Justiça está errada". O que o ministro da Justiça vai fazer?

A China real e a China imaginária

Em fulgorosa viagem à China, em abril, a presidente Dilma teve a oportunidade de, segundo informações brasileiras, patrocinar o acerto de dois grandes negócios de interesse do Brasil;

- a reativação da fábrica da Embraer no país, com venda de produtos brasileiros para os chineses.

- um investimento de US$ 12 bilhões da chinesa Foxconn no Brasil para fabricação dos tablets da Apple aqui.

Cinco meses depois: a Embraer ainda está a "ver aviões" e os US$ 12 bi ainda não voaram, à espera do generoso BNDES. Negociar com os chineses é ciência que exige mais do gogó e deslumbramento.




(Por José Marcio Mendonça e Francisco Petros)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

VALMIR CAMPELO É O SEGUNDO CRATEUENSE A RECEBER O TROFÉU "SEREIA DE OURO"


Com uma rica trajetória no serviço público, o cearense Valmir Campelo, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), será agraciado na próxima sexta-feira com o Troféu Sereia de Ouro. Na ocasião, também serão homenageados o artista plástico Luiz Hermano, o empresário Everardo Telles e o jornalista Fernando César Mesquita

A realidade do sertão conspirava contra o menino Antônio Valmir Campelo Bezerra. Ele nasceu em 1944, em Crateús, em uma família de 11 filhos. Os pais, o comerciante João Amaro Bezerra e a professora Raimunda Campelo Bezerra, criaram os filhos com amor, dedicação e muito esforço. Ainda assim, Valmir foi marcado pelo que presenciava em sua cidade. "Acompanhávamos o sofrimento dos mais pobres no período de seca. Eu via aquelas pessoas sobrevivendo à falta de água e de comida. Isso sempre mexeu comigo", relembra.

A preocupação com o próximo despertou em Valmir Campelo a vocação pelo trabalho social. A vida difícil de seu povo, abatido pelas severas estiagens, ele viu estampada em outros lugares, por causas diversas. Estava escrito: o menino de Crateús dedicar-se-ia, por toda a vida, ao serviço público, sempre disposto a assumir novas funções e encarar desafios necessários. Subiria degrau por degrau no poder público e, mais tarde, seu esforço seria recompensado com o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União.

As oportunidades para desenvolver o talento de homem público lhe aguardavam em Brasília. Em 1962, suas irmã Maria Valdira foi aprovada em um concurso na Câmara dos Deputados. O pai condicionou a mudança da filha para a recém-criada capital federal à companhia de um de seus irmãos. Valmir a acompanhou e logo descobriu que, na cidade, abundavam as dificuldades e as oportunidades. Terminou os estudos em escola pública, prestou vestibular e foi aprovado, para o curso de Comunicação Social, na conceituada Universidade de Brasília (UnB).

"Sou jornalista por formação, mas, como já estava adiantado no serviço público, e precisava trabalhar, optei por não seguir a profissão", explica o ministro. Ele e a irmã acalentavam o sonho de levar para a capital federal os pais e os irmãos. "Trouxemos todos, um a um. E por fim, meus pais, em 1968", relembra Valmir Campelo.

Tão logo chegou na cidade, o jovem de Crateús ingressou no governo. "Entrei no serviço público em 1963. Exerci todas as funções que se possa imaginar dentro do governo. Trilhei cada degrau. Fui escriturário, encarregado de seção, chefe de seção, chefe de divisão, diretor administrativo, subsecretário e secretário do Distrito Federal, fui prefeito de três cidades próximas de Brasília, Braslândia, Gama e Taguatinga", enumera o ministro Valmir Campelo.

O cearense ocupou os cargos de administrador municipal, nessas três cidades, entre 1971 e 1985. O sucesso como gestor público foi reconhecido nas urnas: foi o deputado federal mais votado na história de Brasília, exercendo o cargo entre 1987 e 1991; na sequência, foi eleito senador, venceu outros seis candidatos na disputa por uma única vaga. "Quando estava no Senado Federal, fui indicado para o Tribunal de Contas da União, uma instituição respeitada, com mais de 120 anos de história".

A dedicação foi total. No TCU, foi ministro-corregedor, vice-presidente e presidente. "É uma vida muito agitada e muito intensa. A minha preocupação maior é com o julgamento. Antes de decidir, penso muito. Não se pode julgar só pelo que está na Lei, é preciso entender os contextos. Você tem que educar, fazer um trabalho pedagógico. O juiz faz o papel muito parecido com o dos pais. O bom pai não precisa bater para educar seu filho. A punição só pode ser dada na última instância", ensina o ministro.

O esporte e os livros

Para um ministro do TCU, encontrar tempo livre não é tarefa fácil. "Com estes sistemas da internet, posso acessar os processos de qualquer lugar. Então, estou sempre trabalhando. Sempre fui assim. Quando era deputado, atendia até 100 pessoas por dia. Tinha fila na porta do gabinete. E, no fim do dia, eu saía de lá inteiro, porque amo o que faço", conta Valmir Campelo.

Campelo, ainda assim, faz mágica com seu tempo. Afinal, apaixonado pela família como é, não a deixa de lado. "Sou casado, desde 1968, com Marizalva Ximenes Maia Bezerra, também nascida em Crateús. Temos três filhos excelentes, todos independentes e concursados, casados com três mulheres maravilhosas. Eles me deram quatro netos que amo muito", conta o pai e avô dedicado.

O ministro é também um apaixonado pelo futebol. É um torcedor alvinegro - acompanha os lances do Ceará, do Vasco da Gama e do Santos. "Gosto muito do preto e branco. O único time que difere é o Gama, um alviverde, que ajudei a criar. Tanto que, na cidade, me homenagearam, dando o meu nome ao seu estádio de futebol. Em Braslândia, quando estava à frente da prefeitura, eu jogava no time da cidade. Sempre fui um apaixonado pelo esporte", revela, recordando seus feitos de atleta e administrador.

De sua formação em Comunicação Social, o ministro Valmir Campelo manteve intacto o gosto por manter-se bem informado. Ele é um leitor voraz das notícias. Lê, diariamente, jornais, revistas, sites e blogs. Lamenta que o trabalho não lhe deixe tempo para conviver mais com os livros, uma de suas paixões desde a juventude. Tanto que, apesar dos muitos afazeres, ele nunca deixou a escrita de lado. É autor das obras "Deputado Valmir Campelo na Constituinte", "Opinião - Política, Governo e Desenvolvimento Econômico", "Plebiscito: Considerações de um Democrata", "Homens, Feras e Prisões", "Atividades Parlamentares - 1º Semestre de 1995", "As Safenas da Economia" e "O Novo Tribunal de Contas - Órgão Protetor dos Direitos Fundamentais".

Atualmente, ele trabalha em um novo projeto. É um livro em que suas memórias servem de fio condutor para retratar diferentes realidades sociais, econômicas e políticas que testemunhou. A obra ainda não tem data de lançamento.

Homenagem

Valmir Campelo ficou entusiasmado quando recebeu a notícia de que seria um dos agraciados com o Troféu Sereia de Ouro deste ano. "Receber a Sereia de Ouro é um marco na minha vida. Trata-se de uma das maiores homenagens do Ceará. Graças a Deus, recebi comendas nos postos mais altos do País, mas faltava esta. O troféu vem coroar minha carreira, o esforço da minha trajetória política, administrativa e pessoal. Sou muito grato à lembrança do Grupo Edson Queiroz e me sinto ainda mais feliz porque serei o orador dos homenageados deste ano".



"O Troféu Sereia de Ouro vem coroar minha carreira, o esforço da minha trajetória"
Valmir Campelo
Ministro do Tribunal de Contas das União

(Jornal Diário do Nordeste)

domingo, 25 de setembro de 2011

REGINA VIARUM (RAINHA DAS VIAS)


As ruas de minha cidade são artérias carregadas de indispensáveis ânimos ou de um pesado desalento que escorem pelos granizos disformes de um roto calçamento. Às vezes escoa uma rara coragem que escapole de alguma porta aberta e se arrua, esvaindo-se, a dizer que na minha cidade ainda há esperança e fé.

Alegro-me ao pronunciar tantos nomes insignes estampados pelas placas das duras esquinas, a indicar que aquela via tem um Senhor, tem um dono e não é só um número seco e uma letra morta que nos serve de orientação. Um distanciado cidadão emprestou-lhe o digníssimo nome para continuar a nos orientar rumo ao destino final, nesta nossa longa e tediosa caminhada.

Nasci e finquei minhas profundas raízes como aquelas velhas Algarobas e aqueles frondosos Benjamins, na Rua Frei Vidal da Penha numa infância solta, numa rua de terra batida, onde jogávamos pião, bolinha de gude, quando vinha uma amenizante chuva, construímos ilusórias barragens, no meio da rua, represando suas coxias para criar imensos açudes. Lá, me fiz em longitude e equilíbrio.


Medrei na Frei Vidal, minha eterna Regina Viarum, e só há pouco despertei para a importância de seu nome, como muitos desatentos citadinos que não sabem o porque do título da rua onde moram.

Frei Vidal da Penha, um Frade Menor da Ordem Dos Capuchinhos, passou por minha rua, nos instantes finais do século XVIII, com seu hábito pobre e descalço, com seu o capuz pontiagudo, com uma longa barba branca a indicar uma idade avançada, uma vida sofrida de um pregador itinerante. Era grande a multidão que vinha de toda parte e se aglomeravam em sua volta, para ouvi-lo. Ele sempre pedia àqueles de abastadas posses que construíssem uma capela ou erguessem uma grande cruz por onde passava. O cruzeiro da Rua Frei Vidal era o confim, era o extremado limite para as aventuras daqueles meninos que brincavam comigo, livres como os pássaros da minha rua. O missionário eremita seguia peregrinando pelas trilhas da Vila Príncipe imperial e se embrenhava pelo Ceará deserto e sedento de esperança e vida.

As ruas que existem no mapa de Crateús homenageiam nossos personagens ilustres, filhos ou não desta nossa urbe, com o pai da aviação ou o magnânimo D. Pedro II, o imperador do Brasil, que nos deixou à posteridade 5.500 páginas de seu diário, registradas a lápis em 43 cadernos, que nos possibilitam conhecer um pouco mais do seu perfil e pensamento. Foi por determinação de D. Pedro, após a guerra do Paraguai, que se passou a homenagear as pessoas ilustres. Padres, chefes políticos, intendentes, juristas, desembargadores, magistrados, professores, coronéis, todos ganharam uma extensa rua para perpetuar seus dignos nomes.

Hoje não mais resido na saudosa Frei Vidal, a via arterial da minha infância, habito a Rua José Coriolano, uma homenagem ao nosso grande poeta, político e jurista. José Coriolano de Sousa Lima que ainda é muito pouco reverenciado, escassamente lembrado pelo real valor literário de seus versos, contidos no livro “Impressões e Gemidos”. O príncipe dos poetas piauiense, como era reconhecido, nasceu na realidade em Crateús, quando fazíamos parte do vasto mundo do Piauí. O nobre poeta cantava sua terra, assim: “Lindo Sertão, meus amores / Crateús, onde nasci / Que saudade, que rigores, / Sofre meu peito por ti!/ São amargos dissabores / Que em funda taça bebi! / Que saudade, oh meus amores, / Crateús, onde nasci!”.

A Princesa do Oeste é uma centenária cidade de um agreste que continuamente cresce, e vai florescendo com novas ruas, que precisam de uma boa denominação, coisa bem fácil de achar no rol de nossos cidadãos ilustres que já nos deixaram. Foi uma agradável surpresa, ao perambular pelos bairros de nossa cidade, ver estampado numa placa azulada de uma esquina no novíssimo bairro dos Patriarcas o nome: Raimundo Cândido, um ser humano dotado de uma profunda fé e uma dignidade impar. Comerciante dos velhos tempos, das antigas e saudosas bodegas de um rústico balcão enegrecido onde o tempo parava... Um irmão mariano de imenso sentimento cristão, de principio moral, apaixonado pelo servir, pela vida e por duas digníssimas Marias. Uma lhe auxiliando no Céu e a outra na Terra, como o nosso poeta José Coriolano em quem o amor era tão intenso, tão abrangente, como declara, em um de seus versos: “Sim, Maria, meu anjo, terno encanto! / Quanto te amo, dizer não sei, não posso. / É amor que não pode ser descrito / Porém nele o rigor d’ausência adoço!”“.

Deixo, ainda, a canção do Príncipe Coriolano encerrar essa narração como uma saudosa conclusão carregada de melancolia: “Crateús, que dor tão viva! / Ai tempos que já se vão! / Ao teu nome a dor me aviva / que sente meu coração / Assim sofre a sensitiva / ao toque da incauta mão! / Crateús, que dor tão viva / Ai eras que já lá se vão!


(Por Raimundo Cândido)

TUCUNS - PÉROLAS AOS PORCOS


Quem caminha pelas ruas do pequeno Distrito de Tucuns cruza a todo instante com indesejáveis transeuntes - porcos. Grandes ou pequenos, a maioria doentes, se fartam nos lixões que a cada dia crescem em número e dimensões que assustam. Estima-se que meia tonelada de lixo é despejada diariamente nos arredores da pacata Comunidade. Grande parte do indesejado material desliza mata adentro, arrastado pelas águas das chuvas, poluindo, destruindo uma das maiores riquezas legada à pobreza e aridez de nossos espíritos...

Queira Deus que um dia, talvez daqui a duzentos, trezentos anos, alguém se assuste ao encontrar no meio de nossa mata reconstituída, uma garrafa pet, símbolo de uma geração que viveu em contradição com a natureza e consigo própria...

TUCUNS é um simpático vilarejo no cocuruto da serra de Ibiapaba. A exuberância de suas belezas naturais o credenciam a um potencial turístico de valor inestimável. Lá os ventos dos Sertões de Crateús se misturam à brisa que sopra dos mares do Piauí. Serras revestidas com as cores da caatinga, lajedos de onde brotam jardins paradisíacos ornamentados pelas cores vibrantes de cactos e macambiras, céu de azul ímpar, pedras pigmentadas que atestam a pureza do ar, mágicos mirantes, águas que brotam do chão... tudo isso faz, como atesta o poeta Raimundo Cândido, lugar digno da morada de deuses. Habita o lugarejo, entretanto, um povo pacífico e esquecido das benesses públicas...

Em Tucuns a maioria das casas não possuem banheiros, não existe saneamento e os bichos têm licença da saúde pública para transitarem livremente entre os humanos...



DEUS NOS PRESENTEOU COM PÉROLAS, NÓS AS JOGAMOS AOS PORCOS...


(Por Edilson Macedo)