quarta-feira, 9 de abril de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Sou solidário e não pago

Abro a coluna de hoje falando de solidariedade.

Antônio Carlos Portela era um senhor rico e bom. Dava aval a todo o mundo em Petrópolis. Gostava de política. Gostava demais. Ao se aproximar a campanha eleitoral, sua maneira de ajudar os amigos era avalizar empréstimos para as despesas de campanha. Na última eleição, avalizou um título para um candidato a deputado, que perdeu feio e ficou em dificuldades de pagar. O gerente do banco, sabendo que não receberia do devedor, foi ao avalista:

- Senhor Portela, o título está vencido. Preciso que o senhor pague. Como avalista, o senhor é solidário.

Resposta matreira:

- Sou, sim. Sou muito amigo dele e estou inteiramente solidário com ele. Se ele não pagou, é porque tem seus motivos. Porque estou solidário, não pago também.

A força do imponderável

O imponderável - eis o fator que muda os rumos da política. É o que estamos começando a distinguir nos esfumaçados horizontes da política. O bombardeio que se desenvolve nos costados da Petrobras pega alguns atores de chofre, maltratando suas imagens e, em alguns casos, inviabilizando seus sonhos. Vejam o caso do deputado André Vargas, um dos mais fortes perfis do PT, vice-presidente da Câmara dos Deputados e até então o mais gabaritado candidato à presidência da Casa na próxima legislatura. Pois bem, perdeu sua condição de candidato e vê ameaçado seu próprio mandato. A licença de 60 dias que tirou não o ajudará a fechar as cicatrizes abertas pelo tiroteio midiático que mostrou diálogos considerados aéticos e imorais com o senhor Alberto Youssef, sob suspeita de cometer crimes.

Vargas e a sangria no PT

A esta altura, não há outra alternativa para o deputado Vargas senão a de renunciar ao mandato. Ora, não será uma curta licença que apagará as manchas já deixadas nos flancos petistas. O PT quer cumprir, este ano, sua agenda: eleger um grande número de governadores e as maiores bancadas Federal e estaduais do partido. Se André Vargas continuar exercendo seu mandato, será o alvo predileto para muitos candidatos da oposição e mesmo para alguns candidatos de siglas aliadas. A partir do PR, seu Estado, onde a senadora Gleisi Hoffmann será a candidata do PT. Em SP, pelo envolvimento do deputado com o chamado doleiro Youssef - que teria ligações com a empresa de remédios Labogen - o candidato Alexandre Padilha, do PT, entrará na dança. Ou seja, nele respingará o sangue provocado pelo bombardeio midiático.

O IP, Índice Petrobras

A Petrobras continuará como alvo central dos opositores. Não adianta, a essa altura, exibir argumentos favoráveis à compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. O rombo de imagem e os estragos sobre candidatos do PT são um fato irretorquível. Lula poderá atenuar os efeitos, mas a mídia terá o condão de amplificar o caso. A queda de seis pontos na pontuação da presidente Dilma já acusa o IP - o que chamo de Índice Petrobras. Ninguém está imune ao poder de destruição da mídia. Nem Lula. Como se viu, também ele, mesmos continuando a ser o maior cabo eleitoral do país, mostra tendência de queda.

Os danos maiores

Os danos mais impactantes do IP (Índice Petrobras) e IV (Índice Vargas) serão maiores nas arenas petistas de SP, RJ, MG e PR. Ou seja, no Triângulo das Bermudas e no Estado natal do deputado e da senadora Gleisi. Em SP, a par da questão, vê-se, ainda, a má avaliação do prefeito Fernando Haddad. Será muito difícil que o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, consiga auferir os 30% históricos do PT em SP. No RJ, o senador Lindbergh também terá dificuldades de subir no ranking eleitoral. Em Minas, o ex-ministro Fernando Pimentel também será atingido. Portanto, esses Estados, com os colégios eleitorais mais densos do país, poderão determinar o sucesso ou o insucesso da ainda favorita, presidente Dilma.

E o volta Lula?

Pergunta recorrente: Lula tem condições de voltar? Respondo: só em situação de descalabro geral com efeitos drásticos sobre a imagem da presidente Dilma. E lembro. Voltando ou não, precisamos ter em mente que nem o Brasil nem Luiz Inácio são os mesmos de tempos atrás, o que nos leva a recitar a máxima de Heráclito de Éfeso: "não se pode entrar duas vezes no mesmo rio". As águas estão sempre se renovando.

O caso da Guiné

A revista Piauí de março traz reveladora reportagem sobre interesses brasileiros na Guiné Equatorial. Matéria que envolve a Vale, que teria fechado acordo com um israelense em um negócio bilionário e muito suspeito na República da Guiné.

Sinalizações de pesquisas

Urge ler outros sinais apontados pela última pesquisa Datafolha. 65% apontam desejo de mudanças e outros tantos dizem que esperavam mais da presidente Rousseff. Mais um dado curioso: somando abstenção, votos nulos e brancos e mais os nanicos, teremos 35% dos votos. Contra 38% da presidente. Ou seja, há um imenso território a se explorar. Mas e a equação BO+BA+CO+CA - Bolso, Barriga, Coração, Cabeça? Será que o bolso em outubro próximo terá o "rico dinheirinho" de hoje? E se a cesta de alimentos for uns 10% a 15% mais cara? Interrogações por todos os lados.

Duas linguagens

A campanha deste ano será também uma disputa de linguagens: a do PT e a do PSDB. Vejamos exemplos, a partir do dicionário de Lula: "Já tomei tanta chibatada nesta vida que minhas costas estão mais grossas que casco de tartaruga; não sejam apressados: uma jabuticabeira leva tempo pra dar jabuticaba; uma mulher demora nove meses para dar à luz; no Brasil, alguns comiam a massa e o chantili do bolo, mas para a grande população ficava aquele chumbinho de enfeite que colocam em cima do bolo". Na reunião do G-20: "Você não faz negociação com o pé na parede, na base do dá ou desce, existe uma negociação". Os tucanos usam termos herméticos: "Desconforto hídrico temporário" (no lugar de seca braba): "redução compulsória do consumo de energia elétrica (corte de energia); retracionismo na empregabilidade (desemprego); compensação pecuniária às distribuidoras pelo déficit que enfrentam devido ao racionamento (aumento de tarifas de energia)".

O estilo Jânio

Apesar de sofisticar no uso da linguagem, quando estava diante de audiências intelectualizadas, Jânio Quadros foi o guru da expressão popular. Na campanha de 1985, aquela em que ganhou de Fernando Henrique, depois deste ter sentado na cadeira de prefeito de SP antes da apuração final dos votos, levou Delfim Netto para um comício na Vila Maria. O ex-ministro da Fazenda assim concluiu sua peroração palanqueira: "A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário". Após a fala, Jânio puxou Delfim de lado e cochichou: "olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu de seu discurso? Ele não sabe o que é processo, não sabe o que é inflacionário, não sabe o que é déficit e não tem a menor ideia do que seja orçamentário. Da próxima vez, diga assim: a causa da carestia é a roubalheira do governo". O guru da economia, a quem todos hoje recorrem para explicar os sobressaltos que deixam interrogações no ar, passou a reservar seu economês para plateias mais acessíveis ao vocabulário de questões complexas.

A agenda econômica do PT

O economista Samuel Pessoa execra a agenda econômica do PT. Sua leitura no Estadão do último domingo: "É uma agenda para colocar o Estado - o setor público - interferindo no desenvolvimento econômico. É o Estado decidindo a alocação de capital. É o Estado fazendo microgerenciamento das políticas de impostos e das tarifas de importação para incentivar alguns setores escolhidos segundo certos critérios. É o Estado fazendo microgerenciamento da política de intermediação financeira. Além disso, tenta adotar teorias heterodoxas sobre o processo inflacionário que acabam interferindo na liberdade do Banco Central e tendo um impacto sobre a inflação. É uma agenda grande. Começou no governo Lula, antes de 2009. Mexe nos graus de independência das agências reguladoras. Coloca uma parte grande da regulação de volta para os ministérios e, além de colocar de volta para os ministérios, passa a ter muita discricionariedade na regulação de diversos setores da economia".

A agenda econômica do PT - II

"Ou seja: ao invés de usar um sistema de regras e procedimentos, pesos e contra pesos, passamos a ter a mão pesada do Estado. A gente vê isso no setor de petróleo, no setor de energia elétrica. Até na reformulação do marco ferroviário, com a ideia de separação vertical - que eu acho que não vai funcionar. Foi uma má ideia. Tem uma lista longa. Esse pacote não é da sociedade. É um pacote de um grupo de pessoas que está no centro da formulação da política econômica e que avalia que essas medidas são necessárias para acelerar o crescimento econômico. A minha avaliação é que esse ensaio nacional desenvolvimentista deu errado. Deu tudo errado. Foi uma tragédia para o País. Foi adotado por motivos ideológicos e acho que ele tem de ser revertido".

Honestidade

Fecho a coluna falando de Honestidade. Na China antiga, um príncipe estava para ser coroado e, de acordo com a lei, deveria se casar. Resolveu escolher a esposa entre todas as moças da corte. Distribuiu a cada uma das pretendentes uma semente, pedindo que dentro de seis meses elas trouxessem as flores que nasceriam. Quem trouxesse a mais bela flor seria escolhida a imperatriz da China. Depois de seis meses, todas as moças fizeram fila no palácio ostentando belíssimas flores. Apenas uma delas estava sem nada na mão. O príncipe chegou e depois de olhar para todas, dirigiu-se a uma das moças, proclamando: "Escolho esta moça como minha futura esposa. Ela foi a única que cultivou a flor que a torna digna de se tornar uma imperatriz - a flor da honestidade. Informo que todas as sementes que entreguei eram estéreis".

Conselho à presidente da Petrobras

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades que lideram as ações voltadas para a Copa do Mundo. Hoje, dirige sua atenção à presidente da Petrobras, Graça Foster:

1. Procure enfrentar o bombardeio contra a gestão antiga da Petrobras sem medo e sem tergiversação. Quem não deve não teme. A senhora deve ter informações fundamentais para dar. O país delas precisa.

2. A Petrobras é um símbolo de nossa grandeza e dos nossos potenciais. Contar o que aconteceu com a compra da refinaria de Pasadena é um dever de sua gestão e um direito da sociedade.

3. Antes tarde do que nunca. Enfrente os convites que recebe do Congresso e faça a defesa da empresa. Afinal, a senhora não deve ter sido protagonista central de atos cometidos no passado.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 8 de abril de 2014

PAULO EDUARDO MENDES


Embora fosse abrasado orador, escritor incansável, jurista consagrado, político militante, o que mais enternecia a alma e estremecia o coração do gênio multifacetário Ruy Barbosa era a sua condição de jornalista. Certa feita proclamou: “E jornalista é que nasci, jornalista é que eu sou, de jornalista não me hão de demitir enquanto houver imprensa, a imprensa for livre (...)” E foi mais além: “Cada jornalista é, para o comum do povo, ao mesmo tempo um mestre de primeiras letras e um catedrático de democracia em ação, um advogado e um censor, um familiar e um magistrado. Bebidas com o primeiro pão do dia, as suas lições penetram até ao fundo das consciências inexpertas, onde vão elaborar a moral usual, os rudimentos e os impulsos, de que depende a sorte dos governos e das nações.”

Desde algum tempo, sob o influxo da admiração curiosa, leio aos sábados, na seção “Idéias” do Jornal Diário do Nordeste, uma coluna assinada por Paulo Eduardo Mendes, que se identifica apenas como jornalista. Tempos depois, em evento na Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF), seu nome foi submetido, juntamente com o da sua consorte Gilmaíse, à nossa apreciação para integrar aquele sodalício de letras. Despiciendo enfatizar que foram aclamados com louvor.

E assim fiquei conhecendo Paulo Eduardo Mendes, de cujas crônicas já era íntimo. Embora pouco tenhamos convivido, já concluí que seu fenótipo parece transparecer sua alma: homem de olhar sereno, leve como a pluma, postura equilibrada, voz ponderada, alma superior. Porque humilde de índole e manso de coração, parece exalar o orvalho da sabedoria evangélica por todos os poros. Talvez por isso se explique o fato de omitir suas outras facetas, como a de magistrado modelar, homem devotado à família, doutor da honrosa causa do bem e da generosidade, jardineiro das flores filantrópicas e reitor da invisível universidade do espírito.

Paulo Eduardo é um condoreiro que adora voar sem ser notado, um candeeiro que brilha sem que identifiquem a origem. É um astro distraído, ou melhor, um ser discreto como a própria sombra.

A paixão pelo jornalismo nasceu no vale da infância, no Cariri cearense, quando pegava uma lata de canela e imitava um locutor de rádio. Mais do que jornalista, radialista é. Não por acaso ainda hoje participa, com o mesmo encantamento infantil, do programa dominical Antena Espírita, na rádio Cidade AM.

A intimidade com os fonemas, o fascínio pelo verbo, a afeição às letras é algo que lhe veio pelo caule da família: o avô, Alcides Mendes, que levou massa à “Padaria Espiritual”, e o pai, José Maria Mendes, foram poetas benditos.

O périplo ininterrupto de Paulo Eduardo pela linotipia começou no O Povo, seguiu pelo Diários Associados (Ceará Rádio Clube, Unitário – matutino – e Correio do Ceará - vespertino), passou pela Uirapuru, em seguida Tribuna do Ceará, depois Gazeta de Notícias, até ocupar uma das molduras de Ideias do Diário do Nordeste. No jornal fundado por Demócrito Rocha, um episódio indelével: deparou-se com o lendário José Raymundo Costa. Este o indagou: - Você escreve alguma coisa que sirva? Respondeu que sim e exibiu uma de suas crônicas. Ante a reação de desconfiança, Paulo Eduardo se prontificou a escrever sobre qualquer outro tema que lhe lançasse na hora. O entrevistador, então, pediu a carteira do jovem e descobriu algo inusitado: Paulo Eduardo Mendes nascera no mesmo dia, mês e ano em que ele, José Raymundo Costa, começou trabalhar no O Povo - 01 de junho de 1938.

Bacharel em Direito pela UFC, prestou concurso para Juiz. Lavrou éditos em sintonia com a deusa Thêmis nas comarcas de Santana do Acaraú, Pentecoste, Russas, Cascavel, Crato e Fortaleza, onde atuou, também, como desembargador substituto no TJCE.

Romântico recatado, no início da década de 1970, em uma tertúlia da Casa Universitária, começou a dançar com Maria Gilmaíse de Oliveira e não a soltou mais. No embalo desse idílio, subiram ao altar do matrimônio em 19 de fevereiro de 1971. O Coordenador da ABRAME (Associação Brasileira de Magistrados Espíritas), autor de vários livros (apesar de ter publicado apenas dois), é um pai invulgar, detentor de especial e rara sensibilidade. Quando pequenas, as filhas Luciana, Flávia e Roberta costumavam despertar pelo som das doces canções paternas. Como avô, poderia adotar a sigla CCG (Carinhoso, Cuidadoso e Gentil), pois é assim que se esmera no trato com os netos Carolina, Cecília e Gustavo, rebentos de sua filha Flávia.

Esse veterano radialista foi, sempre, um sujeito antenado com as ondas da virtude. Gostava de engraxar o sapato do pai para se considerar digno de receber algum trocado. Optava por ir caminhando para o Sete de Setembro a fim de economizar o dinheiro do transporte, a fim de poder ir ao Cinema, uma de suas predileções. Nunca buscou os lugares de honra ou os assentos mais importantes nas sinagogas da vida. Sempre evitou o fermento farisaico. Não raro passa despercebido em ribaltas onde deveria ser referenciado. Reage com bom humor quando olvidam de citá-lo, sobretudo em obras literárias. Procura a palavra “outro” e diz: - pronto, fui citado, sou o ‘outro’.
Moacir Ribeiro da Silva sintetizou seu anonimato militante em um breve poema: “Se não me falha a memória/ Eu sou aquele dos dias de chumbo nos jornais/ O outro sem nome, mas com história/ Aquele que vagou a esmo nas ondas dos rádios/ Exortando vozes que perdi pelos caminhos do tempo/ Lembrou? O dono da voz era o “outro”.../ Não o outro... no caso eu! Entendeu?/ Deleitei-me nas coxias, transfigurei-me/ Encarnei personagens como se fossem minhas próprias encarnações/ Fui eu e outros ou será que fui o “outro” e eus?/ Pouco importa!/ Quando todos disseram que eu era o “outro”/ Eu sempre fui eu!”

A existência terrena de Paulo Eduardo é uma música profunda e suave, agradável partitura de louvor ao altruísmo. Salve, cronista da bem-aventurança, profeta da paz!


(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

OBSERVATÓRIO

Há alguns dias fomos convidados pela direção estadual do PEN (Partido Ecológico Nacional) para proferirmos uma palestra sobre Eleições 2014, destinada aos pré-candidatos a deputado da legenda. Iniciamos dizendo que o objetivo de todo candidato é a vitória nas urnas, o êxito eleitoral. Só que, para ganhar, tem que considerar a teoria dos cinco “Gês”: o primeiro é a garra – ninguém vence uma batalha sem disposição. Portanto, o primeiro item a ser considerado é a disposição interior do postulante. O segundo é grana – a eleição tem custos. Para montar e manter uma estrutura mínima – comitês, militantes, transportes para deslocamentos, realização de eventos etc – o candidato tem que levantar recursos. O terceiro é gente – inimaginável uma campanha sem gente. Para trabalhar, ir à cata dos votos, multiplicar o lastro de adeptos, o candidato precisa de gente. O quarto é gogó – para seduzir o eleitorado, o candidato precisa dizer a que veio, quais são os seus planos, idéias, metas de trabalho. Expor-se. Falar. E o quinto é a grade legal. Toda a ação de campanha, obrigatoriamente, tem que se desenvolver dentro das normas legais.

RENÚNCIA

O Prefeito Carlos Felipe renunciou. Após cumprir um ano e três meses do seu segundo mandato, deixa o comando do município. A justificativa oficial é que vai pleitear uma vaga de deputado estadual. Será que, nessa decisão, ponderou sobre os cinco “Gês”? Garra é indiscutível que tem. Jovem na idade, conta com grande disposição para o trabalho. Mas... e a grana, ou seja, a estrutura de campanha? E a gente? Onde estão seus colégios eleitorais? Nos demais municípios da região, os líderes petistas estão comprometidos com outras candidaturas. Novo Oriente, por exemplo, o bloco de oposição – que estreitou laços de afinidade com Felipe na eleição passada, optou por apoiar a esposa do Deputado Federal Genecias Noronha. A eleição para a Assembleia é uma incógnita. Até porque, no PCdoB, há vários nomes que estão mais bem posicionados. A abdicação tem outros motivos.

RENÚNCIA II

A verdadeira razão da renúncia de Carlos Felipe parece ter sido outra. O médico eleito para o Executivo Municipal crateuense cansou da rotina de prefeito. Saturou-se com o dia a dia das cobranças feitas pelos correligionários e aliados. Não suportava mais a carga de pressão. Dispôs-se a sair. Independente dos desdobramentos e do resultado do próximo prélio eleitoral. Felipe não é criança. Sabe que campanha de Deputado é muito diferente de disputa para Prefeito. Esta polariza; aquela pulveriza. A própria base aliada do Executivo Municipal estará rachada. Em razão de compromissos anteriores, há vereadores do bloco de sustentação ao Prefeito que estão trabalhando para outras candidaturas.

RENÚNCIA III

Mauro Soares assumiu a Prefeitura. Seu primeiro ato administrativo foi mostrar que era leal a Carlos Felipe: manteve toda a equipe do ex-prefeito rigorosamente no mesmo lugar, inclusive a ex-primeira-dama. Foi um gesto de fidelidade. Porém, isso terá que ser alterado em algum momento. Se ele ficar o restante do mandato apenas imitando e como sombra do antecessor passará à História sem mostrar seus próprios ideais. Isso definitivamente não combina com ele. Assim, pouco a pouco, terá que enfrentar a contradição que o persegue. Aliás, já saltou à vista: no discurso de posse, convidou todos os vereadores de oposição para o diálogo, algo que o predecessor nunca cogitou.

RENÚNCIA IV

Por falar em renúncia, a mais comentada foi aquela que não se concretizou: a do governador Cid Gomes. São as chamadas ‘varáveis políticas’ que os políticos não controlam. A princípio, Cid não cogitava sair. Depois, premido pela possibilidade de tornar o irmão elegível, passou a considerar. Em seguida, o séquito que o cerca exigiu que o vice-governador também renunciasse. Domingos reagiu. Disse que acolhia qualquer sugestão política; no entanto, considerava renúncia um ato de vontade, pessoal, de caráter íntimo e, portanto, inegociável. Com esteio nisso, manteve-se firme e não abriu do seu legítimo e constitucional direito. Agiu como um estadista e saiu maior do que quando entrou. O deputado Carlomano Marques disse-lhe: “todo prejuízo financeiro, por maior que seja, é pequeno; todo prejuízo à honra, por menor que seja, é grande; mas o prejuízo à falta de coragem é irrecuperável. Você sai grande desse processo e entra para as páginas da História”.

LIONS

A XV Convenção Estadual do Distrito LA-4 do Lions Clube, no salão de eventos do Hotel Cavalcante Park, reuniu centenas de cearenses de todas as regiões do estado e foi um evento exitoso. Agradeço aos amigos e organizadores – em especial Manoel Carmo, Edmilson Providência e Raimundo Cândido – pela deferência do convite para que abordasse o tema “Cultura de Crateús e o papel da Academia nas mudanças sociais”.

PARA REFLETIR

“A razão de ser do escritor – e dos seus coletivos organizados, que são as academias – é a de contribuir para que as galinhas se transformem em águias, é fomentar a proliferação de vaga-lumes nos obscuros túneis do tempo, é ser fresta de luz na caverna platônica”.

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)