sábado, 30 de janeiro de 2010

NÓS, ESCRAVOCRATAS


Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos: o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no Brasil.

Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras.

Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de qualidade.

Ainda que não aceitemos vender, aprisionar e condenar seres humanos ao trabalho forçado pela escravidão – mesmo quando o trabalho escravo permanece em diversas partes do território brasileiro –, por falta de qualificação, condenamos milhões ao desemprego ou trabalho humilhante.

Em 1888, libertamos 800 mil escravos, jogando-os na miséria. Em 2010, negamos alfabetização a 14 milhões de adultos, negamos Ensino Médio a 2/3 dos jovens. De 1888 até nossos dias, dezenas de milhões morreram adultos sem saber ler.

Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos escravocratas.

Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala.

Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento decisivo para a liberdade nos dias atuais.

Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos, escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.

Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos investimentos econômicos no lugar de escolas e professores.

Somos escravocratas, porque construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade.

Somos escravocratas de um novo tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.

A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão ficou mais barata e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os sem educação.

Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.

Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos intelectuais e economistas comemoram minúscula distribuição de renda, como antes os senhores se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do açúcar.

Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia da abolição plena.

Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888.

Não ousamos romper as amarras que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.

Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque continuamos escravocratas. E ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos condenados à falta de educação.



Cristovam Buarque, ex-reitor da UnB, é senador pelo PDT-DF

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OBSERVATÓRIO

Há poucos, uma emissora de rádio local me pediu uma avaliação sobre o primeiro ano de gestão do doutor Carlos Felipe à frente do Executivo Municipal. Compartilho aqui algumas das opiniões que externei.

O SIGNIFICADO DA ELEIÇÃO

A eleição de Carlos Felipe foi emblemática. Embora tenha votado em candidato concorrente, reconheço que Carlos Felipe catalisou as esperanças da população. Teve a imensa capacidade de estabelecer uma sintonia com os anseios da massa popular. O povo votou nele sob o forte desejo de que ele promovesse uma profunda alteração nos costumes políticos e na condução administrativa.

A OPORTUNIDADE PERDIDA

Infelizmente faltou-lhe aquilatar a real dimensão e o alcance histórico do seu papel. Ao invés de iniciar o seu governo conclamando a inteligência da cidade, pela mediação dos segmentos organizados, e as lideranças indistintamente para a construção de uma agenda de transformações sustentáveis, preferiu repetir os velhos modelos e as práticas que contestara: cooptação de vereadores, ações revanchistas, discurso discriminatório. Perdeu a oportunidade inicial da inovação.

O CHOQUE NECESSÁRIO

Além de uma mudança relacional, era imperiosa a promoção de um choque de gestão: corte nas gorduras, enxugamento da máquina, racionalização de procedimentos e constituição de uma robusta poupança. Na ânsia imediatista de mostrar resultado, iniciou obras sem folga de contrapartida e começa a enfrentar problemas (a reforma da Praça da Estação, por exemplo, está prestes a completar um ano e ainda longe de terminar). No lugar de um programa eficaz de desenvolvimento sustentável, temos uma série atabalhoada de ações desconexas ao sabor da conjuntura externa.

OS PROBLEMAS

Por conta desses desencontros entre o que foi prometido e o que está sendo efetivado, surgem problemas na própria base de sustentação do Prefeito. Na semana passada, o Vereador Nego do Bento subiu à tribuna da Câmara Municipal para dar publicidade do destino do dinheiro público crateuense. Obviamente, o edil apenas relatou o que qualquer pessoa que acesse a internet pode conferir, pois estas informações estão disponibilizadas no site http://www.tcm.ce.gov.br/transparencia/. O inusitado é que isso repercutiu. Imediatamente, surgiu uma saraivada de críticas em cima do ex-aliado. Ora, ele é um Vereador, eleito pelo povo. Tem legitimidade para falar. Independente de ter interesse contrariado, a crítica sobre a vida pública pode ser feita por qualquer pessoa. E o homem público verdadeiro, ao invés de procurar desqualificar quem a formula, deve observar o seu conteúdo. Se tiver fundamento, acolher e reformular. Mas é exatamente aí que reside outra faceta a ser considerada: o relacionamento com os opositores.

A OPOSIÇÃO
Onde se exercita a salutar prática da convivência democrática, a oposição é vista como benfazeja, freio e contrapeso a evitar os excessos e desleixos que a sujeição provoca. O prefeito nunca fez qualquer sinal de querer uma relação saudável e elevada com os setores que lhe fazem oposição. Nesse quesito, repete a velha e anacrônica política pendular de transitar sobre os dois extremos: ou as pessoas, por cooptação, o acompanham submissamente ou procura esmagar quem insiste em lhe fazer contraponto. Como se fosse impossível seguir outro caminho.

O SINDICATO DOS PROFESSORES

Um dos espaços onde se refuta, com conteúdo, essa obsessão hegemônica da Prefeitura é no Sindicato dos Professores Municipais. Nessa entidade que agrega os profissionais do magistério se pratica, além da defesa das prerrogativas dos trabalhadores em educação, uma intensa atividade cultural. Vale a pena se participar dos eventos promovidos no Quintal com Arte do Sindicato. Na manhã da última segunda-feira, foi realizada a solenidade de posse da atual diretoria, que tem à frente, em seu segundo mandato como presidente, Edilson Alves Pinto; Socorro Malveira como vice; Adriana Calaça como secretária e Socorro Marques como tesoureira. Marcaram presença representantes do Instituto de Desenvolvimento Social Dom Antonio Batista Fragoso - IDSAF, do Sindicato dos Professores do Estado, Academia de Letras de Crateús, Sindicato dos Servidores de Tamboril, MST, Cáritas, Associação do bairro Nova Terra, além é claro de professores e professoras do município, com filhos e outros familiares.


BLOG DA SABi

A Sociedade Amigos da Biblioteca Municipal Norberto Ferreira Filho – SABi, organização não-governamental fundada em 2004, com atuação na área cultural, atendendo prioritariamente crianças e adolescentes do município de Crateús, acaba de lançar um blog: http://sabicrateus.blogspot.com/. Dê uma espiada nele. Desde 2007, a SABi é Ponto de Cultura do Ministério da Cultura (MINC), desenvolvendo atividades de formação artístico-cultural na modalidade de Oficinas de Artes, sendo elas: oficina de teatro, grafite, sapateado, xilogravura, teatro de bonecos, contação de histórias, artes plásticas, violão, edição de vídeo, além da produção de documentários sobre personalidades e expressões culturais do nosso município. A SABi está funcionando na Casa de Arte e Cultura João Batista, situada à rua Francisco Sá, 148 - ao lado do Colégio Estadual Regina Pacis - oferecendo, além das oficinas de arte, internet grátis para toda a população.

PARA REFLETIR

"Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro." (Albert Camus)


(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje da Gazeta do Centro Oeste)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

AMANHÃ É DIA DE MAIS UMA EDIÇÃO DO JORNAL GAZETA DO CENTRO-OESTE!

CONJUNTURA NACIONAL

DESDE QUE O DINHEIRO VENHA

Vamos abrir a coluna com a matreirice mineira. Benedito Valadares chegou a Curvelo/MG, para visitar a exposição de gado do município. Na hora do discurso, atrapalhou-se:
- Quero dizer aos fazendeiros aqui reunidos que já determinei à Caixa Econômica e aos bancos do Estado a concessão de empréstimos agrícolas a prazos curtos e juros longos.
Lá do povo, alguém corrigiu:
- É o contrário, governador! Empréstimo a prazo longo e juro curto.
- Desde que o dinheiro venha, os pronomes não têm importância.

SEU LUNGA E OS CHATOS

E seu Lunga, hein? Virou personagem desta coluna tão grande é o sucesso que faz. Passo a receber colaborações de leitores. Que me encaminham historinhas com ele. Não procuro – nem é o caso – saber se são autênticas ou não. O cearense virou um monumento contra a cretinice. E, claro, contra os chatos. Um deles até questiona a coluna sobre os casos narrados. Uma das passagens fala em sonâmbulo. Argumenta que Seu Lunga não usaria tal expressão. Pode ser. Os chatos sempre nivelam por baixo. Se fosse dele, a palavra seria algo parecido com "sonambo". Pois esse chato chegou na casa do Lunga, em Juazeiro do Norte, e se anunciou:
- Ô de casa, tem gente?
- Não. Só tem percevejo e chato – gritou lá de dentro nosso querido personagem.
O chato não se afobou e, ao ver três imensos potes d'água, continuou:
- Tem água de beber?
- Não, só tem água de comer.
O chato calou-se.

TENSÃO: PMDB E PT

Apesar do estreitamento de relações, ocorrida nos últimos anos, graças a realpolitik acordada entre os dois, PMDB e PT vivem um clima de tensão. O PMDB sente que o PT começa a traí-lo, dando vazão a uma tendência histórica da sigla. A traição se dá na esfera da escolha para a chapa de Dilma. O nome peemedebista mais consensual é o de Michel Temer, presidente do partido. Nas últimas semanas, Lula passou a mandar recados e a soltar balões de ensaio. Quer outros nomes além do de Michel. Que, aliás, tem dito que é candidato a deputado e não a vice.

EFEITOS

Os efeitos da tensão apontam para a instabilidade da aliança entre as duas siglas. A convenção do PMDB, que seria antecipada para 6/2, foi adiada para 6/3, quando Michel deverá ser reeleito presidente do partido. Nesse ínterim, as tensões tendem a aumentar em decorrência das dificuldades de se fecharem acordos nos Estados. Em MG, por exemplo, Hélio Costa é candidato e só recuará se for indicado pelo PMDB como vice na chapa de Dilma. Não quer ser candidato ao Senado porque sabe que perde para o vice-presidente José Alencar, que pretende voltar à Câmara Alta.

FUMO E CASAMENTO

De Joaquim Bentinho para o compadre Cornélio, uma definição sobre o casamento:
- Casar, casar é mesma coisa que comprar fumo. A gente iscoi, iscoi, iscoi e acaba comprando um rolo de fumo. Nos premero tempo o fumo é bão! Mas despois, a gente fuma só pra aproveitar: já é da gente memo...

DESFAZIMENTO?

Pode a aliança com o PMDB ser quebrada? Pode, sim, e esta tendência começa a ser vislumbrada por alguns quadros da cúpula. Cresce, também, no seio do partido a ideia da candidatura própria. Nesse caso, o tempo de rádio e TV, que Dilma tanto espera, ficaria com o próprio PMDB, castrando a campanha midiática do PT. Uma campanha menos retumbante seria desastrosa para a pupila de Lula. Que, como se sabe, é ruim de palanque.

PALANQUEIRA? UM VEXAME

Quem já viu Dilma em palanque, principalmente nos últimos dias, constata: é um vexame. Artificial, sem emoção, sua fala mais se parece uma conversa cheia de promessas. Que não convence. Nem empolga. Não articula uma frase por inteiro porque faz desvios linguísticos que embrulham o pensamento. Vai ter uma campanha de palanque sem graça.

SERRA, MAGISTER DIXIT

O palanque sem graça terá noutra ponta o experimentado José Serra. Experimentado, isso mesmo. O que não significa bom de palanque. O governador, como bem definiu Jânio de Freitas, ontem, na Folha de S.Paulo, discursa como um leitor de orações didáticas. Serra tem conhecimento de causa, domina como poucos a matéria econômica, mas não é um palanqueiro. Está mais para professor em sala de aula. Com giz na mão e calibrando as cobranças aos alunos.
"Se bater na madeira isolasse o azar, o pica-pau não estaria em extinção." (Eugênio Mohallem)

SOCIALISMO FIESPEIRO

O socialista Paulo Skaf foi lançado ao governo de SP pelo governador de PE, Eduardo Campos, que dirige o PSB. Ou Campos está variando (como se diz no nordeste) ou o governador lança um balão de ensaio. A FIESP, se ele não se lembra, ocupa um imenso prédio na Avenida Paulista, simbolizando um poderio que, por tempos a fio, foi massacrado pelo também socialista Ciro Gomes. Candidato ao governo, Skaf daria vazão ao conceito de Kramer versus Kramer. Lembrete: Ciro tem a Avenida Paulista, onde se incrusta a FIESP, como o símbolo mais atrasado das elites paulistas.
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Seu Lunga vai ao banco descontar um cheque. A caixa pergunta:
- O senhor vai levar em dinheiro?
- Não. Me dá em clipes e borrachinha.
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INGENUIDADE OU VAIDADE?

O que pretende Paulo Skaf com a candidatura ao governo de SP? Será que ele realmente pensa que pode ter votos para se eleger? Chegou a dizer, em reunião interna da Federação, que se dispuser de recursos, daria para ganhar. Os jornais fizeram o registro. Dinheiro elege? Não. Dinheiro ajuda, coopta, mas votos em SP, o Estado mais racional do país, não são despejados sobre a cabeça de um candidato como o maná bíblico caindo no deserto. Ou o presidente da FIESP é ingênuo – o que não combina com seu perfil – ou muito vaidoso. De qualquer modo, este consultor reconhece: na maré vazia de bons políticos, Skaf tem todo direito de se colocar como opção. Que siga em frente.

PSB E PT

As relações entre o PT e o PSB vão de mal a pior. Tudo por conta do voluntarismo de Ciro Gomes. O deputado, que costuma abrir o bico, está calado. Passarinho na muda não pia. Ciro Gomes deverá fechar acordo com Lula nos próximos dias. Ele não quer ser o candidato do PT/PSB ao governo de SP. Mas Luiz Inácio assim o deseja. Vamos conferir para onde vão a vontade de um e o desejo de outro.

NA FACULDADE

Aluno de Direito ao fazer prova oral:
- O que é uma fraude?
- É o que o senhor, professor, está fazendo, responde o aluno.
O professor fica indignado:
- Ora essa, explique-se.
Então diz o aluno:
- Segundo o Código Penal, 'comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar'.

CABRAL E LINDENBERG

Quando me perguntam o que é a política, paro de falar e passo a apontar. Falar é um ato que consome tempo. Desgasta. Apontar não cansa tanto. Por exemplo. Lula xingou o PSDB, que xingou o PT, que xingou Sérgio Guerra, que xingou a ministra Dilma – dissimulada e despreparada –, que tem o apoio de Lula, que disse que Guerra é babaca. Moral da história? Lula, José Serra e Dilma aparecem sorridentes na pose de primeira página dos jornais. Mais um exemplo: o prefeito de Nova Iguaçu, Lindenberg Farias, esculhamba Sérgio Cabral, governador do Rio. E o que acontece? Os ex-desafetos aparecem abraçados e sorridentes. Quando me perguntam o que é política, economizo palavras: aponto para as fotos de jornais.
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Seu Lunga chegou numa barraca de feira e pediu uma tapioca. O feirante:
- É para viagem?
- O senhor está vendo alguma bagagem aqui?
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80% DE CHANCES

Marcio França, deputado e presidente do PSB paulista, diz que Paulo Skaf tem 80% de chances – na escala até 100% – de sair candidato ao governo de SP pela sigla. Eis aí uma miragem estatística. Trata-se do uso de uma alta percentagem em vão. Pura firula. 80% de chances de ser candidato equivalem, noutra leitura, a um pequeno dígito de chance de Skaf ganhar os louros da vitória.

LULA E AS ENCHENTES

Na vida dos governantes, certos momentos servem para exprimir seu estado de espírito e o modo como encaram adversários. Lula tem usado tais momentos para um exercício de autoglorificação. E, ainda, para espezinhar adversários. Mesmo que, circunstancialmente, alguns deles se façam presentes no instante da fala. Foi o que aconteceu, no dia 25/1, ao receber uma medalha conferida pelo prefeito Kassab. O governador Serra e o prefeito Gilberto ouviram de Lula a sugestão de fazerem um PAC para as enchentes que assolam a capital. O PAC, como se sabe, é execrado pelos tucanos, que enxergam nele pura propaganda. A sugestão de Lula foi entendida como uma alfinetada. Acho pior: uma porrada.

DEZ CONTRA UM

Quem acredita que Arruda se sustente no governo, levante a mão. Silêncio na sala. Um, dois, três ... dez pessoas na sala levantam a mão. Apenas uma acredita que o governador do DF será punido pela Justiça. É a visão do brasileiro sobre corrupção, política e justiça.

VIAGENS

E por falar em Luiz Inácio, fará mais uma viagem internacional. Já bateu o recorde. Passou bons meses afastado de Brasília. Lula vai receber os prêmios que ganhou. Até junho/julho, tem farta programação externa. Depois, comandará a campanha de Dilma.
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Seu Lunga vai ao armazém e pede veneno para rato. O balconista quer saber:
- O senhor vai levar?
- Não. Vou trazer os ratos para comerem aqui.
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E OS FÓRUNS, HEIN?

O Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em outras cidades, já não desperta emoções. Os atores são os mesmos. A conversa é uma mesmice. Stédile ameaçando com invasões. E, incrível, dizendo que o Movimento dos Sem Terra fará campanha contra o governador José Serra.

BRASIL NO HAITI

Esse ministro Celso Amorim é mesmo um falastrão. Repele a ideia de um Plano Marshall para salvar o Haiti. Porque põe fé no Plano Lula. Pensei que fosse piada. Fui conferir. Faz questão de repetir que o Plano de Salvação deve ser chamado de Lula. Porque o Brasil foi o primeiro a dar a ideia de uma reunião com os doadores. Quanta bajulação!

"O ideal de beleza do sapo é a sapa." (Voltaire)

CONSELHO AOS DEPUTADOS DISTRITAIS

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção aos deputados distritais:

1. A Câmara Legislativa de Brasília está sob a lupa da nação. Aproveitem a oportunidade para apurar ilicitudes, desvios, corrupção, expurgando todos os implicados no Mensalão.

2. Qualquer decisão no sentido da complacência e abafamento da situação será repudiada pela opinião pública e terá conseqüências nas eleições de outubro próximo.

3. Procurem apurar todas as denúncias e tomar as providências necessárias para fechar a malha de corrupção.
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(Por Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MORREU OSVALDO BEZERRA DO NASCIMENTO!

Júnior:

Talvez você não tenha tomado conhecimento da morte do Dr. Osvaldo Bezerra do Nascimento.

Não vi no seu blog.

Ele faleceu ontem à noite no Hospital Unimed. Estava com problemas de cirrose e do coração. Há mais de um ano não vinha a Crateús.

Sobre o Dr. Osvaldo você sabe muito mais que eu. Com certeza perdi um grande amigo e Crateús um dos filhos mais queridos.

Um abraço do César.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O FILME DE LULA E OS DOIS LADOS DA ARQUIBANCADA


Lula, o filho do Brasil. Esse é o nome da polêmica do ano (que mal começou). Já é possível antecipar essa previsão, pois o filme invade não só o debate sobre a produção de cinema nacional (apimentado pela polêmica sobre as leis de incentivo), mas também o debate político. Com orçamento recorde, atmosfera novelesca e elenco global, a película busca mimetizar todos os arquétipos (e feitos) de 2 Filhos de Francisco, se desenhando como a mais controversa cinebiografia já feita por aqui. Feito para emocionar, feito para chorar e, principalmente, feito para vender. Para efeitos cênicos, a discussão sobre o filme é nula, pois não traz nenhuma inovação e não se vende como alta cultura. Sob esse ponto de vista, qualquer crítica fica oca ao analisá-lo sob os mais altos conceitos da sétima arte. Mas como o personagem principal é um presidente ainda em exercício do mandato (e que busca fazer o seu sucessor em ano eleitoral), não há como não analisá-lo sob o aspecto político.

Pode-se argumentar que O filho do Brasil foi feito sem dinheiro público ― o que é verdade ―, mas expõe de maneira grosseira o jogo promíscuo das empresas privadas que patrocinaram o filme, interessadas em adular o governo, com as piores das intenções. O espectador não fica livre nem dos "merchans", como na constrangedora cena em que os personagens pedem uma determinada cerveja, enxertando um slogan que nem existia na época em que o filme se passa. Há de se ressaltar a ótima caracterização do ator que incorporou Lula no filme. Rui Ricardo Diaz reproduz os trejeitos e a voz sem cair na caricatura. E Glória Pires é bastante contida (e por isso mesmo, correta) na interpretação de Dona Lindú, mãe de Lula.

Inicialmente idealizado como uma mistura de documentário com melodrama (vulgo "docudrama"), o diretor Fabio Barreto alterou a rota no meio do caminho e resolveu partir para a ficção, ora omitindo, ora "romanceando" fatos da vida do presidente, para efeitos dramáticos (e mercadológicos). No mais perigoso deles, o episódio em que os sindicalistas jogam o empresário do alto de uma escadaria da fábrica e este morre estatelado no chão, resultando numa histeria coletiva. No livro de Denise Paraná (que serviu de suporte para o filme), Lula "achou que estavam fazendo justiça", compactuando da atitude de seus companheiros. No filme, ele cai em prantos, horrorizado com toda aquela violência ― forjando um Lula humanista e, por isso mesmo, desumanizando-o. Deixando claro que, no filme, a intenção é somente esculpir um mito, tudo o que Lula (supostamente) teria de ruim é empurrado (metaforicamente) para o seu pai, Aristides, interpretado por Milhem Cortaz. Como bônus, entre outras ironias, temos Fabio Barreto e seu pai, Barretão (o Assis Chateaubriand do cinema nacional), admitindo terem sido eleitores de Fernando Henrique Cardoso, incitando ainda mais a (falsa) polêmica entre o ex e o atual presidente e alavancando a promoção do filme.

O ponto mais correto do filme (que se aproxima de um documentário) fica para a formação da figura política de Lula, remontando sua trajetória sindical. Para quem achava que o presidente já abraçava as causas esquerdistas na luta contra a ditadura militar, vai se decepcionar, pois o Lula que aparece naquela época, além de já ser carismático, era também conciliador, extremamente pragmático e apolítico (sim, no sentido ideológico ― procurando ficar alheio às lutas políticas dos anos 60 e 70). Só depois de liderar as greves no sindicato em 1978 é que Lula ficou famoso no país inteiro, e, posteriormente, foi abraçado pela "intelligentsia" de esquerda, que viria a fundar o Partido dos Trabalhadores. No filme, temos um bom retrato da gênese do camaleão político que vemos nos dias de hoje, que gesticula com a mão esquerda e manipula com a direita.

Os detratores acusaram o filme de ser eleitoreiro antes mesmo de ele chegar às telas. Ao que os defensores rebateram argumentando que ele não mostrava a trajetória política do presidente (acaba em 1980, pouco antes da fundação do PT). Ambos os lados têm razão... Em termos. Se o filme não mostra os feitos do governo, não pode ser tido como eleitoreiro, mas o desfecho épico, com imagens de Lula eleito em 2002, nos braços do povo, deixa uma mensagem subliminar de que aquela figura "romanceada" teria mantido todos os valores (que o filme acabara de ensinar) durante os oito anos de mandato. Imagine o que Dona Lindú pensaria se visse seu filho defendendo mensaleiros, abraçando Collor, mancomunando-se com Sarney e toda a alcateia do PMDB...

Mas, como era de se esperar, o problema de O filho do Brasil foi muito além das salas de exibição e dos cadernos e sites de cultura. Quando se tem um líder popular no poder, as reações vão da mais profunda idolatria ao ódio mais rancoroso. De um lado, a classe média ressentida, que se recusa a aceitar o ex-torneiro mecânico no poder. Atacam Lula pelo fato dele não ter estudado e defendem políticos com respeitáveis títulos de doutores (mesmo que seus currículos acadêmicos sejam tão extensos quanto suas fichas criminais). O ódio chega a tal ponto que, se escorregarem numa casca de banana e caírem de bunda no chão, são capazes de colocar a culpa no Lula. Na impossibilidade de arrancá-lo as tripas e vê-lo empalado em praça pública, pegam carona em qualquer bobagem que o presidente fala (e olha que são muitas) para impichá-lo moralmente. Com o filme, encontraram mais uma via para tentar converter seus interlocutores ao antilulismo fanático e oportunista.

Do outro lado, os pitbulls da "esquerda" militante. Empenham-se ― com todo o ódio ― na defesa cega e aguerrida de seu deus. Se já ficavam contrariados em ver uma simples charge no jornal, imagine o que acontece com alguém que resolver criticar o filme do "chefe". Qualquer crítica ou manifestação contrária pode (e deve) ser patrulhada. É aí que aparecem as muletas mais comuns do exército chapa-branca: "preconceito", "mídia", "elitista", "facista" (eles escrevem errado mesmo), "golpista", "direita"... Portanto, cuidado: se os pitbulls estiverem sem suas focinheiras, é bom que você já tenha tomado a sua dose da vacina contra a raiva...

A política, da maneira como é vista no Brasil, mostra uma paupérrima gama de cores: ou é preto ou é branco (a idiotice do debate é tão grande que muitos já insinuariam aqui uma polarização racial). Não existem tons de cinza em nossa palheta. O compromisso partidário não permite ser a favor do Pro-Uni e, ao mesmo tempo, contra o aparelhamento estatal (ou vice-versa). É também proibido elogiar a política de juros do Banco Central e, ao mesmo tempo, reconhecer os feitos do Bolsa Família ― ou criticar os dois, que seja. A discussão sobre as cotas raciais nas universidades, a política externa no caso Honduras e no caso Cesare Battisti... Tudo, absolutamente tudo no Brasil é discutido com uma cartilha ideológica ou partidária debaixo do braço (nem o STF escapa). Muitos não se dão nem ao trabalho de refletir o que está escrito nessas cartilhas, apenas regurgitam tudo o que ali está, de maneira absolutamente acrítica. Aqui, ou se é radicalmente contra ou se é colericamente a favor. De modo personalista e apaixonado, deixamos de reconhecer erros e acertos, para defendermos as resoluções mais descabidas, tudo em nome de identificações meramente pessoais. Quem quiser questionar alguma coisa, não precisa ficar em cima do muro, basta ficar acima do muro. Esse governo não é a soma de todos os medos, como muitos querem acreditar (as diferenças entre Lula e Hugo Chavez são abissais), mas também está muito longe de ser essa maravilha que os adeptos do discurso do "nunca antes nesse país" fazem parecer.

Ambas as frentes (contra e a favor), infiltradas em blogs políticos pretensamente "independentes" e/ou "imparciais", levam a defesa de suas concepções políticas às últimas consequências. O achincalhamento, a difamação, a intolerância e a perseguição implacável de seus "adversários" mostram do que é feita a arte do extremismo político. Num momento em que se tem uma eleição presidencial à frente e que Lula cumpre o seu último ano de mandato, o filme traz à tona os piores sentimentos e preconceitos daqueles que encaram o debate político como uma pancadaria entre torcidas num jogo de futebol. Além de colocar a internet em estado de sítio, o filme retoca a já pesada maquiagem publicitária do presidente, visando a aprovação máxima, a popularidade inatingível, a unanimidade ― uma contradição para um país que se pretende democrático. No país das novelas, pode funcionar como enredo de horário "nobre", mas ao "romancear" a trajetória de um líder político, insinua o culto à personalidade, remodelando-o para o consumo, como uma figura mítica, incorruptível e magnânima. Quem acompanha (mesmo que à distância) o noticiário de Brasília, vê um Lula muito diferente. Assim, O filho do Brasil conseguiu pecar no timing do lançamento, desconstruir um grande roteiro (que já estava escrito) e ainda jogar no lixo a chance de ser tanto rentável comercialmente, quanto elegante no trato com a coisa pública. Uma pena.

Bom, fim de mais um clássico. As torcidas já se armam para mais uma guerra. O pau promete quebrar feio dessa vez...

Diogo Salles
São Paulo, 19/1/2010

PRESIDENTE DO PSB REPELE PRESSÃO PELA SAÍDA DE CIRO

Às vésperas de receber Lula em Pernambuco, o governador Eduardo Campos disse que cabe apenas ao PSB definir se Ciro Gomes disputará o Planalto:

“Nossas decisões não serão tomadas por dirigentes de outras legendas. Nossas decisões serão tomadas pela nossa direção”.

Campos é presidente nacional do PSB. Falou sobre Ciro depois de almoçar com um personagem que inspira ojeriza em Lula: o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Cristão novo no PSB, Skaf liderou o movimento que resultou na rejeição, em 2007, da emenda que prorrogava a CPMF.

Desde então, Lula traz o presidente da Fiesp atravessado na traquéia.

O neo-socialista Skaff reivindica o aval do PSB para disputar o governo de São Paulo. Deseja justamente a posição que Lula reservou para Ciro.

Em entrevista, Campos disse que “a candidatura de Paulo Skaf amplia” o palanque da oposição em São Paulo.

Afirmou que que Skaf vai “ficar mobilizado” até que o PSB tome sua decisão sobre o “projeto Ciro”. Algo que só deve ocorrer em março.

Lembrou que a data foi acertada com Lula. E não vê razões para descumprir o combinado.

O governador exalou incômodo com o noticiário acerca do encontro que terá com Lula, nesta quinta (28). Estranha sobretudo o caráter político conferido à conversa.

É algo que, segundo disse, Lula não acertou com ele. O presidente fará no Recife escala para uma viagem à Suiça.

Chega no início da tarde, acompanhado de oito ministros. Entre eles Dilma Rousseff, a candidata do PT.

A comitiva presidencial tem agenda cheia –um pa©mício, visita a uma exposição e a uma sinagoga.

Só à noite, por volta de 20h, Lula será recebido em jantar pelo governador. Participam do repasto companheiros de viagem de Lula.

É gente demais para uma conversa consequente, que o petismo se apressa em apresentar como definidora dos destinos de Ciro Gomes.

Em férias na Europa, Ciro retorna ao Brasil nesta quarta (27). Informa-se que deve dar as caras no Recife.

Integrante da comitiva de Lula, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado disse nesta segunda (25):
"O PSB tem legitimidade para ter candidato, mas o importante é unir a base e vencer no primeiro turno...”
“...O presidente vai a Pernambucano conversar com Ciro e eu vou junto”.

O lero-lero sobre a pressão para que Ciro troque a cena nacional pelo ringue paulista foi açulado pelo próprio Lula.

Em reunião ministerial, na semana passada, o presidente repisou a tecla da sucessão plebiscitária –era Lula X fase FHC.

Disse que conversaria com o “companheiro Ciro” sobre a candidatura dele ao governo de São Paulo. Deu a entender que o jogo estava, por assim dizer, jogado.

É nesse contexto que Eduardo Campos veio ao meio-fio para propalar a autonomia do seu PSB. Uma autonomia que enfrenta uma conspiração dos fatos.

Ao transferir o seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo, em setembro passado, Ciro aceitou gostosamente o papel de candidato multiuso.

Em novembro, animada pelas pesquisas que mostravam um Ciro encostado em Dilma, a Executiva do PSB proclamou-o candidato à presidência.

Dono de escassos 2,5 minutos de tempo de TV, o PSB sonhava pôr de pé uma coligação com pelo menos outras duas legendas: PDT e PCdoB.

Dias atrás, acossado por Lula, o PDT proclamou o apoio a Dilma. O PCdoB, premido pelo menos assédio, também se encaminha para o colo da ministra-candidata.

Em movimentos calculados, Lula tratou de asfixiar a candidatura presidencial de Ciro. Em menos de cinco meses, deixou o PSB falando sozinho.
De resto, numa conversa do tipo ‘olho no olho’ com Lula, o presidente do PSB tende a atenuar o tom de voz.

A gestão de Eduardo Campos é, hoje, uma das mais umedecidas pelas verbas borrifadas por Brasília. Graças a Lula, converteu o Estado em canteiro de obras.
Candidato à reeleição num Estado em que a popularidade de Lula roça os 90%, Campos não dispõe de motivos nem de disposição para divergir de Lula.

Resta saber o que tem a dizer o próprio Ciro. Antes de tomar chá de sumiço, desfilara sua candidatura presidencial por diversos pedaços do mapa brasileiro.

Por onde passou, fez questão de atacar alvejar o tucano José Serra e realçar a “frouxidão moral” que permeia a união PT-PMDB em torno de Dilma.
Soou tão enfático que, agora, vai parecer um frouxo se ceder aos apelos de Lula, incorporando-se à caravana dos imorais.

(Escrito por Josias de Souza)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CONVITE!

A QUEM INTERESSA UMA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL PLEBISCITÁRIA?


1. A dinâmica do processo pré-eleitoral até este início de 2010 mostra que a campanha presidencial sofreu mudanças importantes. O lançamento a fórceps de Dilma por Lula e o estressamento em suas aparições acompanhadas deste, mostraram que seu potencial é menor do que se imaginava. Sua imagem -burocrata- e a de Lula -paizão- são opostas. O fato de Dilma ter nos setores de renda menor a mesma média que tem em geral, pode ser também por dificuldade de introjeção.

2. Ciro, nas últimas pesquisas de 2009, mostrou menos potencial do que se imaginava, e mesmo no nordeste passou a ter sua média igual a geral, apesar de disparar no Ceará. Sem o Ceará, curiosamente, teria no nordeste menos do que nas demais regiões. Hoje, se poderia dizer que se ele ficar, vai ser só para atrapalhar Dilma. Havendo consciência disso, ele deixará de ser candidato.

3. Marina teve sete meses para sair da Amazônia e entrar nos demais Estados. Copenhague mostrou isso: seu destaque estava entre os de outros países preocupados com a Amazônia. O programa do PV não acrescentou uma vírgula à sua intenção de voto. Se conseguir reproduzir o resultado de Heloísa Helena, será um sucesso. Dessa forma, a Marina que cresceria e tornaria o segundo turno compulsório, parece não existir mais. Ela passou a ser um número baixo que levará ou não a eleição para o segundo turno, dependendo da diferença de Serra e Dilma.

4. Num quadro como esse, a eleição plebiscitária tende a passar a interessar especialmente a Serra. As razões parecem claras. Se a introjeção da imagem de Dilma não será simples, quanto menor o tempo de exposição, pior para ela. Sem experiência eleitoral, com imagem fotograficamente mutante, com uma TV dia sim, dia não, e cheia de ruídos de governadores, senadores, deputados federais e estaduais, maior a dificuldade para fazer entender que ela é "irmã" de Lula.

5. Os temas -economia, social, saúde, segurança, política externa...,- terminam não sendo diferenciadores. Até porque a oposição prefere o "somos todos iguais nesta noite", ou tudo começou com FHC, que a diferenciação, por temor à popularidade de Lula. A eleição vai depender de tipping points e da clássica dialética "segurança-insegurança" do eleitor. Segurança/Insegurança no sentido de risco. A capilaridade dos candidatos a governador do PT ou os realmente integrados é menor que os da oposição em proporção ao eleitorado.

6. Num segundo turno, com 10 minutos para cada lado, todo dia, sem os ruídos do primeiro turno, com as imagens limpas, com debates polarizantes, com a experiência adquirida na campanha e, por isso tudo, com a maior facilidade para Lula explicar o que a burocrata tem que ver com o paizão, Dilma terá um terreno mais fértil para avançar. Lembre-se de Alckmin x Lula em 2006.

7. Com essas preliminares, a tese da eleição plebiscitária, que pesava a favor de Dilma, agora pesa a favor de Serra. Nesse sentido, quanto menor o peso de Marina, maior a probabilidade da eleição se decidir no primeiro turno, e sendo assim, hoje, maior a probabilidade de vitória de Serra. Um quadro curioso, pois é o inverso do que se pensava seis meses atrás.

* * *

(Do ex-blog de César Maia)

domingo, 24 de janeiro de 2010

AMLEF



Ontem aconteceu mais uma reunião ordinária da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF – onde ocupo a cadeira 18.

O nosso habitat é o Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras – ACL – o mais antigo sodalício de letras do Brasil.

Sucede que, ontem, ocorreu um fato inusitado: ao chegarmos para a reunião, por um contratempo, as portas ainda estavam cerradas. E decidimos iniciar os trabalhos no coreto da Praça dos Leões, que fica ao lado do prédio.

Ali, debaixo daquelas generosas árvores centenárias e bafejados pelo vento praiano, realizamos um dos nossos mais energizantes encontros.

Dentre outros assuntos, debatemos sobre a próxima Antologia que a AMLEF vai lançar, aprovamos o nome da poetisa e jornalista Leda Maria para integrar o nosso quadro acadêmico e rendemos uma homenagem póstuma a Mário Caúla, convergência de luz da Academia que há pouco tempo deixou o nosso convívio.

A idéia da reunião ao ar livre foi genial; a reunião em si, agradabilíssima.



(Por Júnior Bonfim)