sábado, 31 de maio de 2014

A CIDADE DOS SONHOS DE FRANCISCO, por Geovane Saraiva


A vida é um mistério belíssimo, de tão extraordinária que é, Deus quis que existíssemos por sua vontade, numa estreita e íntima relação terna, afetuosa e paternal, entre nós e Deus. A iniciativa, nesse contexto, de nos convidar para uma realidade profundamente harmoniosa, parte dele: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém escutar a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei como ele, e ele comigo” (Ap 6, 30-31). Da nossa parte, temos como tarefa reavivar o entusiasmo, dom e graça do nosso bom Deus, por tudo que dele provém, não o decepcionando durante a vida.

Esta vida é curta e passageira. “O homem é como um sopro, os seus dias, como uma sombra que passa” (Sl 144, 4). É claro que moramos em cidades e por vontade do Criador e Pai, a exemplo do Apóstolo dos gentios, do papa Francisco, de Dom Hélder Câmara e de inúmeros homens de Deus, sonhamos com a cidade celeste, a Jerusalém do Alto. Recordamos o grande Santo Agostinho, na sua imortal obra, A cidade de Deus, na qual nos assegura que “dois amores fundaram duas cidades, a saber: O amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena e o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial”.

Como nos deixou sensibilizados e edificados o Sumo Pontífice, na sua viagem à Terra Santa, como peregrino da concórdia e da paz, nos gestos grandiosos e magnânimos. Dentro do plano salvífico de Deus ao salvar a humanidade, após visitar o lugar de batismo de Jesus, em Betânia no além Jordão, Francisco escreveu uma dedicatória do próprio punho no Livro de Honra, a saber: “Despojados a alma e os pés se aproximaram do batismo doze tribos de Israel; Peço a Deus onipotente e misericordioso Que nos ensine a todos a caminhar na sua presença com a alma e os pés descalços e o coração aberto à misericórdia divina no amor pelos irmãos. Assim, Deus será tudo em todos e reinará a paz. Obrigado por oferecerem à humanidade este lugar de testemunho".

“Que alegria quando ouvi que me disseram: Vamos à casa do senhor. Jerusalém, cidade bem edificada num conjunto harmonioso; para lá sobem as tribos de Israel, as tribos do Senhor” (Sl 121, 1-2). Que a humanidade deixe de lado o indiferentismo, para que, associada e sensibilizada com a força figura humana de Francisco, tenha sempre diante dos olhos, na mente e no coração suas palavras seguras e proféticas: “Não nos cansemos de buscar a paz, disse ao Presidente de Israel, Shimon Peres. A construção da paz exige, antes de qualquer coisa, o respeito pela liberdade e a dignidade de cada pessoa humana. Renovo os meus votos de que se evitem, por parte de todos, iniciativas e ações que contradizem a declarada vontade de chegar a um verdadeiro acordo e de que não nos cansemos de buscar a paz com determinação e coerência”.

Deus nos dê sempre mais a graça de aprender com o papa Francisco, quando afirmou que o conflito é inaceitável, também nas palavras conjuntas dele e do Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, suplicando a unidade: "Mesmo sendo plenamente conscientes de não ter alcançado a meta da plena comunhão, confirmamos hoje nosso compromisso de avançar juntos para aquela unidade pela qual Cristo Nosso Senhor orou ao Pai, para que todos sejam um". Não podemos esquecer seu coração tomado de sensibilidade diante do Muro das Lamentações: "Minha peregrinação não seria completa se não incluísse também o encontro com as pessoas e as comunidades que vivem nesta terra e por isto fico feliz de poder estar com vocês, amigos muçulmanos", dirigindo-se ao líder religioso islâmico, Mohamed Hussein.

Os conflitos, a ausência de paz e de concórdia perseguem a todos e a cada um, sem exceção. Peçamos a Deus que nos cumule de graças e virtudes indispensáveis, no sentido de vivermos o nosso batismo, despojando-nos do velho homem, inspirados na exortação do Apóstolo Paulo: “Tende vós os mesmos sentimentos que Cristo Jesus teve: Ele, que sendo de condição divina, não se apropriou ser igual a Deus...” (cf. Fl 2, 5-15), tão bem representado pelo Santo Padre, na sua generosa doação, constantemente ofertada ao mundo.

* Geovane Saraiva é padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso. É autor dos livros “O peregrino da Paz”, “Nascido Para as Coisas Maiores”, “A Ternura de um Pastor”, “A Esperança Tem Nome”, "Dom Helder: sonhos e utopias" e "25 Anos sobre Águas Sagradas”.