sábado, 3 de agosto de 2013

TEMPO DOS “FRANCISCOS”


A extraordinária beleza da paisagem moderna reside no fato de que, paralelo ao filme das grandes vias de infortúnios e mazelas que chocam a humanidade, eclode uma exuberante passarela de álamos, um imenso jardim de flamejante esperança. Em contraponto ao exibicionismo da crueldade, surgem protagonistas da bondade, dóceis criaturas que carregam ramos de ternura e enfrentam as trevas da dureza conduzindo estrelas de delicadeza. Um expoente dessa estirpe que pratica a benevolência ativa é, sem embargo, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, nome escolhido em reverência a um amante da biocracia nascido em Assis, na Itália.

Para quem costuma cantar a Oração da Paz, Francisco é mais que um nome. É um emblema azul, um roteiro existencial, uma profissão de fé no altruísmo, um voto de amor ao despojamento, uma apaixonada aliança com os mais expressivos valores evangélicos.

Francisco é o humano sintonizado com o Divino, adulto que se conserva menino, mortal que descobre o transcendental. Por isso, constantemente temos que suplicar ao Onipotente para que nos prodigalize com a abertura de coração e a serenidade de espírito, a fim de que possamos distinguir, em qualquer edificação do gênio humano, a argamassa do bem.

Quando adquirimos a liberdade dos pássaros, somos capazes de perceber essa elétrica carga de bondade que perpassa os fios de todas as crenças, convicções, idéias e religiões. Esse campo magnético do Inefável pode ser identificado em um terreiro de Umbanda ou em uma Igreja Evangélica, no espaço de um Centro Espírita ou no altar de um Templo Católico. O que o define não é a massa da construção material, mas a corrente que movimenta a arquitetura imaterial. Nas palavras do Dalai Lama, “a melhor religião é aquela que te faz melhor. Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...”

No dia 12 de junho estávamos, eu e minha consorte, aguardando horário de vôo no aeroporto Pinto Martins. De repente, soou a informação de atraso no embarque. Como hoje sei que nada ocorre por acaso, resolvi exercitar a tolerância. Isso é teste à paciência, raciocinei. Começo a ler um livro quando me chega um colega da AMLEF: Francisco, de sobrenome Castro. Fluiu, então, um diálogo leve e prazeroso. Francisco fez um resumo envolvente deste livro, PEQUENAS HISTÓRIAS DE FRANCISCO, síntese da sua vida. Já tinha informações, embora esparsas, da sua virtuosa história. Nunca imaginei, no entanto, quão imenso era o acervo patrimonial escriturado no seu cartório existencial.

Ele não é apenas o filho de uma mulher simples e guerreira, o órfão de pai ainda criança, exposto à selva de concreto da adversidade urbana e que se firmou como um cidadão letrado, possuidor de mais de um diploma universitário, respeitado e vitorioso.

Este “Francisco” é um condor livre e de benignos costumes, que atravessou com tranqüilidade o salão dos passos perdidos da era profana, praticou as quatro viagens essenciais, lapidou o granito bruto da alma humana, construiu cárceres para o vício e erigiu portais à virtude.

Eis um artífice da rotatória do companheirismo: passou na prova quádrupla, caminha diariamente pelas avenidas do serviço à humanidade, exibe a estética de construir relações negociais com ética e descobriu o sentido de dar de si antes de pensar em si.

Atentem bem: este Francisco, dito Castro, é um hospedeiro da ciência, um sementeiro da sabedoria, um insuflador da bondade! Sabe que sobre nossas consciências paira uma inteligência suprema, causa fundante de todas as coisas e que atua soberanamente com lastro na justiça e na paz.

É despiciendo dizer, porém vou repisar: com a leitura dessa obra, a admiração que nutro por ele se robusteceu.
Suponho não ser vanglória ou soberba afirmar que o mundo se reclina, consciente e reverentemente, ao despojado império da humildade, personificado naqueles que sobrepõem a prática à prédica.

Vivemos a era dos “Franciscos”, seres encantados e encantadores que batem com ternura à porta do nosso coração para nos brindar com flores de gratidão e apontar a vereda da evolução! Este Francisco é um deles!

(Júnior Bonfim, na Revista GENTE DE AÇÃO deste mês)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

"Oi, nós, hein, falano ingrês"

Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O governo da PB tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma estrutura para banhos em águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, certo dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede:

- Meu caro, quero H2O.

Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O? Apolônio, solícito:

- Pois não, um instante!

Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), contumaz boêmio, acostumado aos salamaleques da vida.

- Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. Que diabo é isso?

Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética. Desanimado, manda ver:

- Apolônio, sei não. Consulte o Freitas.

Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o respeitado intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato:

- H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água.

Apressado, Apolônio levou ao freguês uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu:

- Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês. Lascou-se!

A passagem de Francisco

O papa Francisco fez história no Brasil. Sua passagem de uma semana nesses trópicos ficará marcada no calendário da Igreja Católica, no coração dos jovens e de milhões de brasileiras e brasileiros de todos os espaços e profissões, e, também na cabeça dos políticos. O pontífice, com sua simplicidade, encantou a todos. E abriu uma locução muito fértil, que certamente ficou gravada nos sistemas cognitivos. Pregou uma igreja mais despojada do fausto e da burocracia; uma igreja capaz de sair da casca onde se abriga para ir de encontro aos pobres e marginalizados. Abençoou multidões. Beijou criancinhas. Não esmoreceu um minuto. O papa até pareceu o milagre que um país devastado pelo desencanto ganhou.

Puxão de orelhas

O papa deu um puxão de orelhas - por mais que tenha sido suave, como se apresenta - na igreja burocrática, que se afastou das periferias, e nos políticos. Incitou os padres e bispos a reencontrarem o caminho das ovelhas perdidas. Fez uma bela peroração nessa direção. E condenou a corrupção, a ambição pelo dinheiro, a vida escravizada pelo consumismo desvairado. Puxou a orelha dos atores da velha política, incitando-os a abrir espaço aos jovens. Foi bem claro: "a nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço". Um recado adequado no momento oportuno para a platéia certa.

Cabral e a humildade

Sérgio Cabral, o governador que recebe o maior tiroteio das ruas, mostra-se, agora, humilde. Diz que aprendeu lições de humildade com o Papa Francisco. Viva.

Os jovens

Ao lembrar que a juventude é a "janela pela qual o futuro entra no mundo", no discurso que abriu sua agenda no país, o Papa Francisco quis ressaltar o motivo de sua peregrinação - presença na Jornada Mundial da Juventude - e também alertar os políticos que aos jovens devem ser dadas condições para exercer de maneira condigna seu papel na sociedade. A população jovem brasileira soma 51 milhões de pessoas - 10 milhões entre 15 a 17 anos, 23,1 milhões entre 18 a 24 anos e 17,5 milhões entre 25 a 29 anos - sendo, nos últimos tempos, o motor da mobilização social nas grandes e médias cidades do país. Como agrupamento mais descontente com a classe política, desfralda o simbolismo citado pelo carismático pontífice para fustigar as fortalezas do poder e, à sua maneira, aplainar os caminhos de um amanhã que se lhe apresenta sombrio, uma existência que ameaça ser mais sofrida que a de seus pais.

Meus limites

"Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo". Wittgenstein.

Proximidade

A peroração com a qual explicou a perda de fiéis da Igreja Católica enfatizou o distanciamento entre ela e o povo. Contou casos que revelaram a razão pela qual parcela dos católicos migrou para as igrejas evangélicas. Pois bem, esse distanciamento também ocorre na esfera da política. Os representantes se distanciam a olhos vistos dos representados, o que contribui para explicar a intensa movimentação que se vê na sociedade, principalmente dos jovens, que se afastam da esfera política por conta das formas tradicionais de representação, o modus operandi dos atores, as ações e atitudes escandalosas que sujam a imagem dos representantes nas instâncias federativas.

Horizontes mais claros

Os sinais dados pelo Papa jesuíta abrirão novos horizontes. Veremos um país mais corajoso e rebelde. Ele próprio convidou os jovens a serem revolucionários, audazes, rebeldes. Uma espécie de endosso aos jovens nas ruas. As manifestações deverão continuar. Setoriais e pontuais. Os grupamentos descobriram que podem mudar o rumo das coisas. Por isso mesmo, as pressões de lá para cá, das margens para o centro da política, serão mais intensas. Os horizontes serão mais claros. A transparência, maior. A vigilância, mais acesa. Ninguém estará imune ao bombardeio das ruas e ao tiroteio midiático.

Entender o jovem

Se a política não descobrir quem é esse jovem que vai às ruas e as razões que o movem será enterrada. Aliás, esse processo já se iniciou. Entender o jovem exige, primeiro, inseri-lo no quadro de transformações ocorridas nas últimas décadas. Karl Popper e Konrad Lorenz constatam, em sua obra "O Futuro Está Aberto", a existência de um abrangente processo de massificação na sociedade, caracterizado, sobretudo, pela perda de valores. O fim da Guerra Fria desfez as clássicas divisões ideológicas. Os países romperam fronteiras, integrando-se aos mercados globais e acompanhando a evolução tecnológica. O capital físico, variável-mor do crescimento econômico, cedeu lugar ao capital humano, caracterizado pelo conjunto de capacitações que as pessoas ganham por meio da educação, do treinamento e da experiência para desempenhar suas atividades com competência. Essa é a nova ordem que instiga os jovens.

Pragmatismo

Quando falta a matéria prima deste novo ciclo - que caracteriza a Sociedade da Informação e do Conhecimento - a frustração se estabelece. Da frustração para a revolta, o passo é curto, a rebeldia se impõe. Não estão os jovens preocupados com ideologia, direita ou esquerda. Pode ser que, em um ou outro país, o fundamentalismo de cunho religioso seja o leit motiv das mobilizações. Por aqui, o pragmatismo abre alas. Nossos jovens não vivenciaram os anos de chumbo. Apenas uns poucos ouviram de seus pais os ecos dolorosos do passado. A preocupação que os move agrega coisas como educação, emprego, melhoria dos serviços públicos. Reivindicam condições para competir em um mercado cada vez mais exigente. Se nossa geração não souber abrir espaço para a juventude, a janela do futuro ficará fechada. Abram ouvidos, políticos e dirigentes, à profecia do Papa Francisco.

Agosto, mês do cachorro louco

Agosto se abre com perspectivas sombrias. Lá para meados do mês, aguardam-se ações congressuais em resposta aos vetos da presidente Dilma. Hoje, a aposta é a de que alguns vetos presidenciais a matérias aprovadas pelo Congresso serão derrubados: o veto ao dispositivo da lei que permitia a transferência por herança da autorização para exploração de serviço de táxi; e o veto ao projeto de lei que previa a extinção da multa rescisória de 10% sobre o saldo do FGTS paga pelos empregadores nas demissões sem justa causa. A presidente sancionou, com um veto, a lei que estabelece novas regras para o rateio do FPE (Fundo de Participação dos Estados). O projeto foi aprovado pelo Senado no fim de junho. E deverá vetar outros projetos como a destinação dos royalties do petróleo para a educação e saúde e o que cria a aposentadoria especial para garçons.

Acirramento

Com a derrubada dos vetos, a tendência é de acirramento mais forte entre governo e base aliada. As relações entre PMDB e PT são tensas. Sobraria a Dilma a alternativa de se "vitimizar", jogando sobre o Congresso a culpa pelo atraso, pela inércia, pela inação. Mas é preciso ter em mente que a "vitimização" só daria resultado caso a presidente tivesse boa acolhida popular. Já teve. Hoje, está embaixo no ranking do prestigio. A imagem do governo está esgarçada. Sua identidade era a de gerente, um perfil que exprimia comando, controle, organização. Quebrou-se. A administração não mostra coisas novas. Patina. O clima é de desorganização, bagunça, interrogações, querelas até entre alas do PT, uma querendo mudança na economia, outra defendendo o status quo.

MD fracassa

A fusão entre PMN e PPS, para formar a MD (Mobilização Democrática) fracassou. A nova sigla era articulada pelo deputado Roberto Freire (PPS/SP) e poderia abrigar a candidatura de José Serra à presidência em 2014.

Alckmin

O governador Geraldo Alckmin, ao que se comenta, gostaria de ter em SP dois palanques, um do Aécio, outro do Serra. Juntos, ajudariam sua campanha.

Marina e as chances

Marina Silva é a pré-candidata que mais se beneficia com a agitação das ruas. Mas uma campanha presidencial precisa de muita coisa: bala para entrar na guerra (recursos), tempo de exposição na mídia eleitoral, um discurso denso sobre o país e apoios de partidos. Se Marina, por uma dessas curvas da política, chegasse ao pódio do poder central, teria condições de governar? Suas proposições são poéticas e sonháticas. O Brasil real é outra coisa.

"Lula nunca saiu"

Ao dizer que não há sentido no movimento "Volta, Lula", porque este nunca saiu, a presidente Dilma não apenas quis dizer que eles são indissociáveis mas devem repartir tudo: acertos e erros. Ou seja, se Lula voltar no lugar dela, isso é uma prova de que ambos fracassaram. Esta é a leitura deste consultor. Uma vacina contra os que defendem a candidatura do ex-presidente.

O álcool que faz falta

A ABRASPEA - Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool - quer recuperar, com embargos ao TRF, em Brasília, o direito de produzir e comercializar o álcool líquido em graduações mais elevadas. A Anvisa, de maneira arbitrária e com base em números falsos sobre acidentes, proibiu este comércio. Para a ABRASPEA, a agência oficial quer apenas surrupiar dos consumidores brasileiros o seu direito de escolha. Afinal, o álcool líquido é de uso comum das famílias brasileiras há séculos e faz muita falta para as donas de casa e em qualquer lugar que reclame uma limpeza mais rigorosa.

Conselho à presidente Dilma

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos líderes e dirigentes. Hoje, dirige-se à presidente Dilma:

1. O ambiente político está tenso. A base aliada ameaça derrubar os vetos de Vossa Excelência. A hora sugere uma atitude de modéstia e simplicidade - à moda Francisco - e uma articulação eficiente com a classe política.

2. A economia carece de novos rumos. Trata-se de um consenso entre economistas e cientistas sociais. O ciclo do incentivo ao consumismo se mostra esgotado. O país clama pela volta dos investimentos.

3. Aceite a real politik. Se plebiscito não pode ser feito para patrocinar uma reforma a vigorar já em 2014, use o bom senso e debata com a esfera política os caminhos mais viáveis a serem seguidos. Evite derrotas continuadas nas Casas Congressuais.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 30 de julho de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Leitura política e econômica de uma entrevista - I

A entrevista concedida pela presidente Dilma Rousseff à Folha de S.Paulo, publicada neste último domingo, é muito ilustrativa para o delineamento do provável rumo político e econômico do país nos próximos meses. De fato, a presidente confundiu convicções sobre princípios políticos com convicções sobre medidas políticas (e econômicas). Os primeiros dizem respeito à necessária visão republicana da política. Já as segundas dizem respeito à condução de certas políticas de governo. Ora, a confusão dos dois conceitos pela presidente resulta num quadro preocupante no qual se combinam diagnósticos errados sobre a condução do governo com soluções inadequadas. Vejamos algumas das conclusões extraídas da entrevista presidencial e os aspectos que devem prevalecer nos próximos meses nas decisões governamentais:

1. Inflação: não há grandes riscos para a alta dos preços. A meta de inflação é secundária na gestão da política monetária. Basta ver que FHC não a cumpriu quase sempre;

2. Política fiscal: a execução fiscal não é problemática e não deve haver maiores contenções dos gastos públicos. Além disso, não vê a presidente risco fiscal devido à redução da atividade econômica;

3. Câmbio: um problema incontornável, não há o que fazer, pois é fruto das intempéries externas;

4. Guido Mantega: o homem certo no lugar certo suportado por uma lealdade canina do Planalto;

5. Base aliada: será mantida, basicamente, às custas dos 39 ministérios e, nas demandas pós-manifestações juninas, precisa ser "submetida ao povo", via plebiscito;

6. Ministros e ministérios: são auxiliares sem poder de decisão e cobrados na medida da capacidade e intensidade de trabalho da presidente;

7. Empresários e setor privado: não são aliados, mas apenas a outra parte de um processo negocial;

8. Lula: um copresidente com o qual as divergências são normais (e antigas, desde 2005 quando era ministra da Casa Civil). Assim sendo, não precisa voltar porque não saiu;

9. Investimento: precisam crescer e, para isto, na essência, dependem do impulso estatal. Os leilões e concessões que devem ocorrer no segundo semestre vão dar este impulso;

10. Controle da mídia: a questão é controlar as empresas e não a opinião das empresas, mas ainda não se sabe como fazê-lo. Mas, será feito (um dia?)

Leitura política e econômica de uma entrevista - II

A entrevista da presidente joga um balde d'água fria na expectativa de que existam substanciais alterações na política e na economia nos próximos meses. Isso dependerá muito mais da evolução dos fatos do que da percepção da presidente. Esta última parece obscurecida por uma mistura de arrogância pessoal combinada com teimosia e miopia política. Se houver mudança por força dos fatos, esta será feita contrariando o desejo e o humor da presidente e não como resultado do natural processo político de reavaliação pelo qual "mudam os fatos, mudo de opinião". Com efeito : a perda de legitimidade política do governo, fruto da queda de popularidade, tornará a política e a economia muito mais arriscadas em função da visão de Dilma. As notas a seguir mostram um pouco dos riscos à vista.

Leram mesmo? Se leram, não entenderam - I

Tanto a presidente Dilma quanto o Congresso estão se vangloriando de ter lido com clareza e entendido perfeitamente os recados que os movimentos populares espalharam pelo país em julho. Não é o que parece, porém. O Congresso, depois de algumas medidas mais demagógicas do que reais, foi descansar em berço esplêndido, num recesso branco incompatível com a lei e suas obrigações. Os parlamentares não poderiam ter abandonado Brasília nos últimos 15 dias sem antes votarem a LDO. A volta tem tudo para repetir a rotina de sempre. Disputas com o Palácio do Planalto, pressões políticas, chantagens, vinganças (ver nota abaixo). Se a sociedade não ficar atenta, com manobras políticas para facilitar a vida eleitoral de todos no ano que vem.

Leram mesmo? Se leram, não entenderam - II

A presidente Dilma, em pelo menos três ocasiões públicas na semana passada, também deu mostra que sua leitura dos acontecimentos foi um tanto "vesga": (1) na recepção do Papa, de forma extemporânea (por ser uma propaganda explícita do governo numa sessão em que o personagem era outro); (2) no discurso na festa do PT em Salvador; (3) na entrevista exclusiva à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, domingo, sobre a qual comentamos nas notas anteriores. O extenso palavrório pode ser resumido: "está tudo bem com o Brasil, o que não estiver estamos prontos para consertar, atendemos o que as ruas pediram". Há controvérsias em relação a este otimismo. Ele está expresso na abrangente pesquisa realizada pelo Ibope por encomenda da Confederação Nacional da Indústria, divulgada na semana passada. Ela vai muito além da confirmação da queda vertiginosa da popularidade da presidente (com sobra também para boa parte dos governadores) e da avaliação de seu governo, o destaque a sondagem na maioria da mídia. É, na realidade, um retrato estatístico, com números contundentes, da insatisfação das ruas e seus porquês.

Três constatações relevantes da Pesquisa CNI-Ibope

1. 91% dos entrevistados acham que os impostos são altos demais no Brasil.

2. 87% da população concordam total ou parcialmente com a afirmação de que "o governo já arrecada muito e não precisa aumentar mais os impostos para melhorar os serviços públicos".

3. As respostas dos governantes e do Congresso Nacional não foram vistas de maneira positiva pela população. Mais de 30% dos entrevistados reprovaram totalmente essas respostas.

Vale a pena ler o excelente resumo dos pontos fulcrais da entrevista feito pelo jornalista Ricardo Noblat em seu blog. Com estes dados e as lições deixadas pelo papa Francisco por aqui, governo e oposições têm um roteiro seguro para agir e dar mais fé e confiança à sociedade. Ou agem nesta linha ou vão colher outros dissabores. Já está em pleno andamento a montagem de uma manifestação popular "como nunca antes vista neste país" para o feriado de 7 de setembro, o chamado Dia da Pátria.

Uma semana de paz. E depois... - I

Com o Congresso em recesso e o papa Francisco, com seus incômodos recados de volta a Roma, a presidente Dilma terá uma semana de relativo sossego, antes de mergulhar em alguns turbilhões previstos para perturbar sua paz em agosto e setembro. Em agosto, os embates serão com o Congresso, crônicas de crises anunciadas. Além das queixas mais recentes dos parlamentares, seus partidos aliados contra a condução da política de relações com o Congresso e da política econômica por Dilma, algo meio difuso, há um contencioso concreto para a presidente enfrentar no Legislativo - a questão de três vetos que ela apôs a propostas aprovadas na Câmara e no Senado, a saber:

1. Ao fim da multa adicional de 10% do FGTS dos trabalhadores demitidos por justa causa.

2. A obrigação do governo Federal ressarcir os Estados das perdas de receita referentes a benefícios fiscais concedidos pela União utilizando impostos partilhados (IPI e IR).

3. A prorrogação, até 2014, do Reintegra, programa de compensação a exportadores.

Uma semana de paz. E depois... - II

Derrubar vetos presidenciais era quase impossível até recentemente - poucos caíram nos últimos 20 anos. O Congresso chegou a acumular até recentemente mais três mil desses vetos sem votá-los. Recentemente, depois de trocas de farpas e acusações entre Executivo e Legislativo, por iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, criou-se uma nova sistemática para a votação dessa matéria: se o veto não for votado em 30 dias, ele passa a trancar a pauta do Congresso. Esqueceu-se (não totalmente o passado) e vai se tocar nova vida daqui para frente. Os vetos de julho de Dilma já entram nesta conta. E o ambiente entre a presidente, os parlamentares e seus partidos aliados - inclusive o PT - não está dos melhores. Além das velhas queixas, foi agravado nos últimos tempos pela perda de popularidade da presidente. Desde que Dilma - pelo menos neste momento - deixou de ser uma perspectiva absolutamente certa de poder a partir de 2015, seus parceiros ficaram mais críticos, mais exigentes e com maiores laivos de independência.

Uma semana de paz. E depois... - III

O quadro fica um pouco mais complicado quando se sabe que os vetos desagradaram a setores que sempre conseguem comover os parlamentares com suas queixas, a ver:

1. Reintegra e o fim da multa do FGTS irritaram o setor empresarial, de onde sai o grosso do dinheiro de campanha.

2. Ressarcimento de perdas com subsídios desgostaram prefeitos e governadores, de quem muito dependem deputados e senadores para se reelegerem. Como os congressistas estarão indo para Brasília depois de suas semanas de contatos mais diretos com as suas chamadas bases eleitorais, cuja insatisfação "com tudo que está aí" é mais que visível, sempre ficam mais críticos e mais assanhados ainda.

Em tempo

Parte dos vetos antigos, alguns ainda da gestão FHC foram anulados pelo Congresso. Mas para significativa deles, cerca de mil ainda está parada e pode ser colocada em votação dependendo de decisão da direção do Congresso e das pressões dos parlamentares. Alguns deles, como os vetos do Código Florestal e da nova lei dos royalties do petróleo, são "explosivos". De olho neles estão os aliados com sede de vingança, como a parte do PMDB que obedece à sinalização do líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha. Com sede de vingança ou de compensações. A presidente Dilma nunca precisou tanto do amparo do jeitinho do presidente Lula para acalmar - ou engabelar - os partidos da base aliada. Lula, pelo que se sabe, vai deixar de lado nesse segundo semestre suas viagens ao exterior para "vender o Brasil" e se concentrar em ajudar a presidente Dilma a "domar" os aliados, espicaçar a oposição e reconquistar o coração da opinião pública.

Teses eleitorais - I

Já estão visíveis algumas das teses com as quais os consultores de Dilma pretendem recuperar o prestígio da presidente e reconquistar os votos que estariam sendo perdidos agora por ela na corrida de 2014:

1. Os problemas brasileiros não são brasileiros, são internacionais. Nós somos vítimas da má condução da política econômica por outros países, principalmente os ricos.

2. A inflação de agora não é nada, inflação perigosa era a do tempo de FHC. Não dá para comparar uma com a outra e a oposição não tem autoridade moral para falar sobre esse assunto.

3. A insatisfação popular, que explodiu nos movimentos de junho, é consequência da política de inclusão social e de incentivo ao consumo do governo Lula, continuadas pela administração Dilma.

Parece a história dos "recursos não contabilizados" do mensalão. Se colar, colou.

Teses eleitorais - II

Até agora, a oposição só tem um tema de campanha: falar mal do governo. Por mais que Dilma esteja tropeçando, é muito pouco. Não há perigo de colar.

Teses eleitorais - III

Por essas e outras, o que não é "político" [de política tradicional] está tão em alta nas pesquisas. Quanto menos identificado com a "política" dos políticos, mais prestígio.

Sol quadrado

Cálculo de quem conhece o humor político em Brasília e o novo humor do STF pós-movimentos de julho: alguns dos réus do mensalão começarão a ver, como se diz popularmente, o sol nascer quadrado ainda em setembro.

Melhor depois

Já se fala em adiar as eleições diretas para a presidência nacional do PT, marcadas inicialmente para novembro. O clima não está para disputas. Antes Lula vai ter de fazer um cuidadoso trabalho de psicanálise política nos companheiros.

Línguas soltas - I

Ministros e figuras de proa do governo já não sussurram apenas suas insatisfações - gritam. Ninguém faz mais questão de não ser visto falando mal um do outro. A intriga virou esporte predileto em Brasília. É um "salve-se quem puder" que não acaba mais.

Línguas soltas - II

Tucanos de boa plumagem voltaram a se bicar. Tudo depois que Dilma começou a perder popularidade e a possibilidade de disputar com chances a presidência da República começou a ficar possível e não apenas um sonho.

Línguas soltas - III

Livres de intrigas, até agora, estão Marina Silva e Eduardo Campos. Marina é soberana em seu território. Campos, com a queda da popularidade de Dilma, passou a ser visto com outros olhos por seus adversários dentro do PSB, mormente os irmãos Gomes. A última entrevista do "mercurial" Ciro, por exemplo, foi de uma agressividade e grosseria com Dilma como há muito não se via.

Línguas soltas - IV

Por via de todas as dúvidas, embora Joaquim Barbosa continue negando qualquer intenção de disputar o Palácio do Planalto em 2014, já estão devidamente providenciadas informações, vazadas sem fontes visíveis (o famoso "off") para desconstruir a imagem do presidente do STF. Os vazamentos têm dupla utilidade : queimar Barbosa junto à opinião pública e tentar conter seus ímpetos na segunda e decisiva fase de julgamento do mensalão. Pode ser um bumerangue.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

10 DICAS PARA UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL


1 - Evite refrigerantes e atenção aos sucos prontos. O consumo de refrigerantes normais está relacionado a diabetes e obesidade, enquanto o de não adoçados (como light, diet e zero) causa piora do funcionamento dos rins. Já a frutose proveniente das frutas e que adoça os sucos prontos, quando consumida em excesso pode provocar aumento da pressão arterial.

2 - Distribua melhor as refeições ao longo do dia. Tente se alimentar a cada três horas para evitar redução do metabolismo e sobrecarga em determinadas refeições (principalmente à noite). Além disso, evite que o corpo entre na chamada "reserva de energia", que é quando o organismo entende que, pelo jejum prolongado, precisa armazenar calorias, dificultando a perda de peso.

3 - Aumente o consumo de líquido ao longo do dia, preferencialmente água. A ingestão contínua de líquidos mantém o metabolismo em constante movimento, assim como a atividade das células corporais e o funcionamento do intestino. Não espere a sede. Se ela chegar, é sinal de que o corpo já está desidratado.

4 - Prefira alimentos integrais em substituição aos carboidratos refinados. Os integrais levam mais tempo para serem digeridos, promovendo maior tempo de saciedade e melhor funcionamento do intestino.

5 - Não consuma alimentos muito calóricos no jantar, isso pode prejudicar o sono. Além disso, como o metabolismo fica mais lento à noite, o gasto de calorias nesse período será menor, podendo gerar ganho de peso.

6 - Pratique atividades físicas, elas são fundamentais para promover condicionamento, aumentar a longevidade e diminuir o estresse. Para quem tem mais de 35 anos, exercícios físicos ajudam a manter a massa muscular. A prática é importante porque parte do metabolismo depende da massa muscular.

7 - Só consuma medicamentos sob orientação médica. Sem o acompanhamento profissional, as pessoas tendem a tomar medicação em excesso ou a deixar de tomar medicamentos que realmente precisam.

8 - Durma bem. Para um sono mais tranquilo, evite: refeições pesadas à noite, cafeína depois das 17 horas e exercícios físicos extenuantes no período noturno.

9 - Tenha um hobbie ou faça atividades de que goste bastante, saindo da rotina. É uma ótima maneira de escapar do círculo de pensamentos preocupantes e de manter a motivação.

10 - Procure informação e ajuda para parar de fumar ou de consumir álcool em excesso. O cigarro é fator de risco para inúmeras doenças e sobrecarrega muito o aparelho pulmonar e o sistema circulatório. Já o álcool, além de trazer problemas comportamentais, é bastante nocivo ao fígado e ao pâncreas, que são fundamentais para o nosso metabolismo.


Fontes:

Dr. Mário Sérgio Rossi Vieira, fisiatra
Dr. Bento Fortunato, nefrologista
Érika Teixeira, nutricionista

MEU TESTEMUNHO!

Nasci e fui batizada
Como manda a tradição
Recebi nome de santa
Logo dois na ocasião
Antes de Lourdes, Maria!
Como minha mãe queria
E não houve objeção.
*
Fui crescendo e aprendendo
Com tia Isa a oração
Quando aprendi a rezar
Fiz primeira comunhão
Fui anjinho no altar
Nos festejos do lugar
Chamado coroação.
*
Gostava de me entranhar
Nas quermesses corriqueiras
Conceição era a rainha
Entre santas padroeiras
Vendo a santa no andor
Cantava em seu louvor
Nas procissões de Ipueiras.
*
Até gostava da missa
Mas detestava sermão.
Começando a namorar
Larguei logo a confissão
Na confissão coletiva
Eu passei a ser ativa
E a meu Deus roguei perdão.
*
Cresci e multipliquei
Mas perdi o paraíso.
Pedras foram atiradas
Mas não tive prejuízo
Tive que dizer adeus
Mas comigo tinha Deus
Que resguardou meu juízo.
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Ainda faço promessa
Como nos tempos d’então
Costume que aprendi
Vivendo no meu sertão
Na hora da Ave Maria
Eu faço o que mãe fazia
Me benzo e faço oração.
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Eu não vivo a lamber hóstia
Nem me encharco d’água benta
Banco duro de igreja
Minha bunda não esquenta
Mas vendo o Papa Francisco
Esqueço meu jeito arisco
Pra ser católica atenta.

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Dalinha Catunda

Fantástico exibe entrevista exclusiva com Papa Francisco