quinta-feira, 6 de setembro de 2012

TRÊS GÊNIOS DO NORDESTE


HOMENAGEM A NELSON RODRIGUES, JORGE AMADO E LUIZ GONZAGA

Dideus Sales

Nelson Rodrigues, cronista,
Dramaturgo iluminado;
O genial Jorge Amado,
Fulgurante romancista;
Luiz Gonzaga, um artista
Da sanfona e da canção,
Três notáveis na invenção,
Três gigantes, três arcanos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson Jorge e Gonzagão.

Três símbolos deste país
Deixaram enorme lacuna:
Amado, de Itabuna,
Do Exu, o rei Luiz,
Nelson deixou seu matiz
Na robusta produção.
Os três com certeza não
São sagrados nem profanos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

Três corcéis soltos sem rédea
Nos campos férteis das artes,
Três cetros, três estandartes
Três estros além da média
Nelson deu alma à comédia,
Luiz criou o baião,
Jorge leu com emoção
Os sentimentos baianos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

Três bússolas, três timoneiros
Três videntes, três estetas
Três sonhadores poetas
Três autênticos brasileiros
Três mágicos, três feiticeiros
Três luzes na amplidão
Três sementes de emoção
Lançadas em solos planos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

Três cascatas, três rochedos
Três rapsodos etéreos
Três enigmas, três mistérios
Três boêmios, três aedos
Três decifráveis segredos
Três bombas numa explosão
Três invernos no sertão
Três destinos, três ciganos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

Três plantadores de sonhos
Três jardineiros, três lagos
Três caminheiros, três magos
Três vencedores medonhos
Três estafetas risonhos
Três aves de arribação
Três faróis na escuridão
Três naus em três oceanos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

Três geniais nordestinos
Três astros incandescentes
Três jazidas, três torrentes
Três lentes, três paladinos
Três artistas genuínos
Três monstros da criação
Três mundos de inspiração
Três deuses, três soberanos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

Jorge Amado absoluto
Em seu ideal político;
Nelson Rodrigues um crítico
Controverso e muito astuto;
Luiz Gonzaga um matuto
De apurada aptidão,
Os três legaram à nação
Feitos quase sobre-humanos.
Três gênios fazem cem anos
Nelson, Jorge e Gonzagão.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Lavô, o bonito

Abro a coluna com duas historinhas que tem como personagem o ex-governador do RN, Lavoisier Maia.

Lavoisier não é um tipo de beleza admirado. Mas é considerado uma figura simpática. Um grande galanteador. Quando governador do RN, era esperado para inaugurar o serviço de energia elétrica do Paraná, cidadezinha encravada no extremo oeste do Estado. Preparou-se uma grande festa. Palanque armado, povo reunido, banda de música, muita comida e bebida. O governador não aparecia. Lá pelas 23h, esgotado das andanças na região, faminto, chegou à praça central para o grande evento. Confusão para saber quem iria preceder o governador nos discursos. Depois de muita negociação, chegou-se ao consenso: a palavra seria apenas do governador Lavô, como era chamado pelo povão. Extenuado, o governador pegou o microfone e começou: "meu querido povo do Paraná". Nesse instante, um bêbado com uma garrafa de cachaça, na frente do palanque, começou a gritar para delírio geral: "é o bonito, é o bonito, é o bonito". Ali mesmo, sob uma tempestade de risos, acabava-se o comício.

O galanteador

O ex-governador, ex-senador do RN e ex-deputado Federal Lavoisier nunca perdeu a oportunidade para exibir as qualidades de galanteador. Em uma de suas viagens de Natal a Brasília, um pouco antes da decolagem do avião, pediu a um amigo, sentado atrás, que lhe emprestasse os jornais da terra. O amigo procurou se levantar para levar os jornais, mas foi demovido pela aeromoça, já que o avião estava decolando. O rapaz pediu "leve, por favor esses jornais para o governador Lavoisier". A aeromoça, levando os jornais, quis conferir a informação: "o senhor é o governador Lavoisier Maia ?". Com sua inconfundível língua enrolada, Lavoisier respondeu de pronto: "Pois não, sou deputado, mas ex-governador, ex-senador e também ex-casado, à sua disposição". (P. S. Havia se separado de Vilma Faria, também ex-governadora e ex-deputada Federal)

FHC entra na arena

O ex-presidente Fernando Henrique mantinha, até semana passada, uma postura de equidistância da guerra eleitoral. Foi agraciado pela presidente Dilma com o convite para participar, em Brasília, de um evento que reuniu ex-presidentes da República. Lembre-se que ele participara antes de um jantar, em outubro de 2011, com o grupo The Elders, reunindo a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, a indiana Ela Bhatt e o ex-presidente americano Jimmy Carter. FHC retribuiu o gesto, expressando elogios à primeira mandatária. Mas mudou de postura nos últimos dias, ao se referir à "pesada herança" que ela herdou do governo Lula, em artigo publicado, dia 2, domingo, no Estadão. (Aliás, do lado dele, estava meu artigo sobre a corrupção). Na verdade, parecia uma resposta a todas as abordagens, feitas nos últimos anos, sobre "a herança maldita" que a era Lula atribuía ao ciclo FHC. O tucano bateu forte, mostrando os buracos abertos pela administração lulista. Apontou, como exemplo, "a desorientação da política energética".

Dilma responde

Em nota oficial, a presidente não apenas refuta o argumento de que teria recebido a "pesada herança", mas insere o seu patrocinador na galeria dos "estadistas". E acusou: "não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão". A nota foi uma candente defesa do lulismo e, claro, do seu próprio governo. A tênue linha educativa que distinguia as relações entre a atual presidente e o ex-presidente se esgarçou. Ao decidir chutar o pau da barraca do ciclo Lula, FHC entrou na guerra eleitoral. Pode ter sido movido pela intensa presença de Lula nos programas dos candidatos petistas nas capitais, a partir de SP, onde seu candidato, José Serra, entra em acentuado declínio. O fato é que a polarização entre tucanos e petistas toma lugar não apenas na vanguarda das campanhas de Serra e Haddad, mas na retaguarda, onde aparecem os ícones partidários, liderados pelos dois maiores, Lula e FHC.

Mais leitura sobre São Paulo

Adensa-se o caderno de leituras sobre a campanha de SP. Por mais que este consultor tenha feito exaustivas análises sobre os possíveis cenários, continua a enfrentar a questão: quem vai para o segundo turno? Para esta instigante dúvida, a bola de cristal recusa-se a dar respostas fechadas. Mas aponta algumas hipóteses: 1) Russomanno consolida sua posição; 2) Serra, caindo mais, abre espaço para o ingresso de Fernando Haddad no segundo turno; 3) É provável um "embolamento" de candidatos ao redor do patamar de 20% a 25%.

Segundo turno

No segundo turno, as dificuldades seriam bem maiores para José Serra. Que veria contra ele a integração dos outros candidatos de maior expressão eleitoral. Russomanno seria, até, mais mortal para Serra que Fernando Haddad. Contra este, poderia desaguar uma onda crescente anti-petista. Serra, para sobreviver à maré vazante, teria de resgatar na cachola dos eleitores a credibilidade perdida. Persiste a versão de que, eleito, não ficaria até o final do mandato. Ademais, a impressão que passa é que, em 2012, Serra faz a mesma campanha de 2004.

Efeito televisivo

Haddad já consegue se firmar como candidato de Lula. Faz, também, uma campanha moderna, de efeitos tecnológicos de impacto na TV. Chalita aparece bem na TV, com imagens limpas, discurso claro e tentando quebrar a polarização. Poderá subir bastante. Serra usa a velha morfologia. Campanha previsível. Russomanno tem um programa de TV muito pobre de ideias e propostas. Que procura disfarçar com a embalagem do povo. Está sempre ao lado de gente, conversando, ouvindo, fazendo-se de xerife. Soninha é poesia e utopia. Paulinho tem melhor desempenho que em campanhas passadas. Passa franqueza. Mas circula em um corredor de restrições. Os restantes são pequenos traços expressivos. Recheados de exclamações radicais.

PT em tom menor

Nesse momento, o cenário eleitoral aponta para um refluxo do PT no Nordeste na esteira do adensamento do PSB, a partir da provável derrota do senador Humberto Costa, em Recife, e consequente vitória de Geraldo Julio, candidato do governador Eduardo Campos. A propósito, Geraldo já passou Costa: 33% contra 25%. Mas se o PT ganhar em SP, recupera com juros e correção monetária todas as eventuais perdas que, por acaso, registrou na trajetória eleitoral de 2012. Uma vitória em SP seria o sonho dos sonhos petistas. Consolidaria a posição do partido na maior praça eleitoral do país, abrindo horizontes promissores para a disputa do governo do Estado e reeleição da presidente Dilma.

Os primeiros candidatos

Se Fernando Haddad vencer na capital paulista, abre-se a fila de pretendentes ao governo do Estado, em 2014, com os nomes de Aloysio Mercadante e Marta Suplicy. Mas o ícone do partido, Luiz Inácio, dependendo das circunstâncias do momento (economia, saúde pessoal), poderá ser o coringa do baralho. Difícil acreditar nessa hipótese. Mas tudo é possível em política. Se a economia cair no despenhadeiro, Lula serviria de contraponto e sairia puxando a emoção das massas. Caso contrário, continuará a ser o "conselheiro-mor" de Dilma e dos petistas que entrarão na moldura dos candidatos.

Manu em Porto Alegre

Manuela D'Ávila (PC do B) abre os horizontes de amplas possibilidades. Porto Alegre abre caminho para ser administrada pela disposição e jovialidade desta candidata.

Cenas do passado

Corre na rede um vídeo sobre Celso Russomanno quando fazia cobertura de carnaval. Trata-se de campanha negativa contra o candidato. Outro tempo, outro contexto, outras motivações.

Assistência social

O que é mais assistência social? Tirar um jovem das ruas e do mundo das drogas, incentivando-o com uma bolsa de estudos, com a qual poderá ajudar a família, ou incentivar meninas nordestinas a terem filhos e, assim, poderem ganhar a Bolsa Maternidade? No Nordeste, milhares de moças recebem o adjutório paternalista do governo. Recusam-se a trabalhar porque não querem ter carteira assinada. Temem perder a bolsa maternidade. Essa mentalidade é incentivada pela área social do governo Dilma. Lamentável esse conceito de assistência social. Que ameaça perpetuar o paternalismo assistencialista/caduco/dinossaurico do Estado brasileiro.

Devoluções

O Grupo do ex-senador Luiz Estevão fez acordo para devolver aos cofres da União R$ 468 milhões. Que teriam entrado ilegalmente em suas contas. Agora é a vez do ex-juiz Lalau. A AGU confirma que o Brasil recuperou, por meio do Tribunal Federal da Suíça, US$ 6,8 milhões que estavam bloqueados no país desde 1999, na conta bancária do ex-juiz. As coisas começam a tomar um novo rumo.

A economia sob controle

Quem apostava na economia desembestada, neste segundo semestre, pode ter de mudar suas expectativas. Tudo indica que continuará sob cabresto curto. Os controles estão afiados. Os pacotes de motivação continuarão a ser abertos. Para os próximos meses, os efeitos defasados de política monetária, a continuidade dos estímulos fiscais/tributários e o programa de investimento em transporte e logística, recentemente anunciado pelo governo Federal, devem intensificar o processo de retomada já em curso da atividade industrial. O monitoramento da inflação terá lupa mais precisa. Significa que o governismo dará o tom geral das eleições, deixando as oposições com perspectivas de vitória apenas nos espaços onde os governantes estaduais oposicionistas forem bem avaliados. Por governismo, leia-se: o conjunto de partidos que formam a base política do governo Dilma.

A indústria da guerra

Pequena observação à margem da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Mitt Romney arrecada o dobro de Barack Obama. Ele passou a ser a bola da vez em matéria de novidade. Ele entrou na faixa dos já vistos e conhecidos. O republicano ressuscita o império da guerra. As grandes corporações despejam milhões de dólares em sua campanha. Voltam a ter esperança de produzir arsenais de guerra. E a faturar em cima do espectro dos conflitos do mundo contemporâneo.

Oração de Brian I

Discurso de Brian Dyson, ex-presidente da Coca Cola, ao deixar o cargo.

"Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são: Trabalho - Família - Saúde - Amigos e Vida Espiritual. Você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la, ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas - Família, Saúde, Amigos e Espírito - são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente quebrada, marcada, com arranhões, destroçadas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Entenda isto: aprecie e se esforce para conseguir cuidar do valor mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à sua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E, sobretudo... Cresça na sua vida interior, na parte espiritual, a coisa mais transcendental, porque é eterna".


Oração de Brian II

"Shakespeare dizia: 'Sempre me sinto feliz, sabes por quê? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói'. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a!". Viva intensamente e recorde: Antes de falar... Escute! Antes de escrever... Pense! Antes de criticar... Examine! Antes de ferir... Sinta! Antes de orar... Perdoe! Antes de gastar... Ganhe! Antes de se render... Tente de novo! Antes de morrer... Viva!".

Vagas especiais

SP lidera a vanguarda em algumas frentes da cidadania. Um exemplo pode ser apontado nos espaços destinados ao estacionamento de pessoas portadoras de necessidades especiais e idosos. Mas, nos últimos tempos, observa-se relaxamento da fiscalização. Nas ruas e em estacionamentos de shopping centers, as vagas especiais estão sendo ocupadas por automóveis sem as devidas identificações, incluindo os cartões especiais emitidos pelo DETRAN. A cidadania exige respeito à legislação. Cobra-se fiscalização rigorosa dos órgãos responsáveis.

Conselho a presidente Dilma

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff:

1. A Corte Suprema do país é o espaço sagrado que deve abrigar os mais preparados e renomados nomes do saber jurídico nacional.

2. Essa razão, por si só, justifica que os perfis designados para compor o alto colegiado devem reunir os valores morais e éticos e a bagagem de conhecimentos que conferirão credibilidade, respeito e grandeza ao STF.

3. Vossa Excelência, do alto de sua imensa responsabilidade, saberá escolher, dentre a plêiade de nomes, aqueles que reúnem as melhores condições para substituir os ministros que, compulsoriamente, deixam a Corte, ministro Cezar Peluso (que já saiu) e Ayres Britto (ao final do ano).


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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

OBSERVATÓRIO

Jean Jacques Rousseau ensinou que “a juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar”. O filósofo Sêneca consignou: “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres”. Semana passada o Brasil assistiu o juiz Cesar Peluso, obrigado a se aposentar em virtude da idade, anunciar: <b>“Nenhum juiz condena ninguém por ódio. Magistrado condena em primeiro por uma exigência de justiça. Em segundo, porque reverencia a lei, que é a salvaguarda da própria sociedade. É com amor e em respeito aos próprios réus, que a condenação é um chamado para que se reconciliem com a sociedade”. Desta forma, e com a voz embargada, Peluso proferiu seu último voto no STF. Após sua fala, ele se emocionou e foi homenageado no plenário. Os discursos eram de elogios à maturidade.

VELHOS TRONCOS

Os mais vividos, aqueles a quem a vida beneficiou com uma bagagem maior de astres e desastres, têm sido pouco reconhecidos. Ou melhor, na proporção em que merecem. Cresci vendo homens que construíram belíssimos acervos – seja material, seja moral. Em Crateús, o senhor João Freire, do exíguo espaço de sua barbearia, erigiu um invisível obelisco de respeito e admiração. No dia 18 de agosto deste 2012, abriu as portas do seu lar para receber os amigos e celebrar noventa anos de existência. Parabéns para ele!

VELHOS TRONCOS II

Também como um velho tronco, da árvore genealógica dos Sales, era o médico e empresário Francisco Sales de Macedo. Faleceu no último dia 31 de agosto de 2012. Em sociedade com José Fernandes da Silva, que também já partiu para outra dimensão, fundou o maior equipamento médico-hospitalar privado da região.

A CAMPANHA

No inicio do mês passado anotamos que a campanha política em Crateús estava morna, modorrenta, maçante. O clima agora está diferente. Começou a esquentar. Uma pesquisa, legalmente registrada, indicou que Carlos Felipe lidera com 51%, seguido de Ivan com 31%. Os demais (Maçaroca, Adriana Calaça e Eduardo Machado) ainda não atingiram a marca de dois dígitos. Surge, então, a pergunta: a eleição está ganha para Carlos Felipe? A resposta: Não! A pesquisa é o retrato do momento em que foi realizada. Para fazer uma avaliação mais precisa, há que se fazer o cotejamento dessa pesquisa com outras – anteriores e posteriores. Assim que se passaram as convenções circulou oficiosamente uma pesquisa em que Felipe exibia uma diferença bem maior. A partir da próxima pesquisa – quando se realizar a comparação com esta última – é que se poderá traçar um indicativo mais abalizado.

TENDÊNCIA

Por exemplo: se na próxima pesquisa ficar confirmada a tendência de queda de Felipe e subida de Ivan, há uma forte indicação de que os dois caminham para uma polarização acirrada, cujo desdobramento é imprevisível. O pior cenário para quem está na frente é perder pontos; em sentido contrário, é por demais otimista a situação de quem está atrás e crescendo. Vejamos as últimas eleições. O exemplo mais eloquente foi o de Tasso Jereissati, que partiu na frente, com larguíssima folga. Todos o diziam eleito. Na reta final, caiu e foi ultrapassado por Eunicio e Pimentel. Portanto, ninguém pode cantar vitória neste momento. Mesmo sem estarmos no inverno há muita água para rolar por debaixo da ponte da Ilha.

COMÍCIOS

Por falar em Ilha, o bairro Cidade Nova foi o escolhido para o primeiro grande comício de Ivan e Antonio Luiz, sábado passado. A divulgação de um vídeo revelando o uso da máquina por um secretário para fins ilícitos agitou a multidão. No mesmo horário, na sede do distrito de Curral Velho, Felipe e Mauro realizavam também uma grande concentração.

IMPUGNAÇÕES

O TRE julgou os recursos às impugnações das candidaturas de Carlos Felipe, Lourenço Torres e Eudes Oliveira. Os dois primeiros tiveram os registros deferidos; o último, foi definitivamente indeferido. Em relação a Carlos Felipe pesam sérias denúncias a respeito de má gestão de recursos públicos. Porém, como ainda não existe condenação definitiva, teve a candidatura liberada. Deve ficar alerta quanto ao futuro. Lourenço Torres teve a candidatura impugnada por ter contas desaprovadas no TCM. Porém, conseguiu demonstrar que as irregularidades apontadas no Acórdão eram sanáveis. (Em verdade, não existem provas de que Lourenço seja desonesto. Merece ser candidato). O caso de Eudes Oliveira difere dos demais. Não se trata de contas públicas. Diz respeito a uma questão de natureza judicial, cujo processo já transitou em julgado desde 2011. Porém, como os efeitos perduram para o futuro, acabaram alcançando-o neste momento.

PARA REFLETIR

“A velhice é um estado de repouso e de liberdade no que respeita aos sentidos. Quando a violência das paixões se relaxa e o seu ardor arrefece, ficamos libertos de uma multidão de furiosos tiranos.” (Platão)


(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

MINISTRO CESAR ASFOR SE APOSENTA

Depois de 20 anos, 3 meses e 19 dias, o ministro Cesar Asfor Rocha deixa o STJ e voltará para a advocacia.

Durante as duas décadas na Corte, o ministro foi membro da Comissão de Jurisprudência do Tribunal, membro do Conselho de Administração, membro da Comissão de Documentação, presidente da Comissão de Coordenação, presidente da Comissão de Regimento Interno, membro da 1ª seção por dois anos, membro da 1ª turma por dois anos, presidente e membro da 2ª seção por treze anos, presidente e membro da 4ª turma por treze anos, diretor da revista do STJ, vice-presidente, presidente em exercício de 22/7 a 3/9/08 e presidente, de 3/9/08 a 3/9/10.

Sob o seu comando, o STJ entrou definitivamente na era digital, consolidou os recursos repetitivos, disponibilizou novos serviços e incrementou a integração com organismos internacionais.

Como relator, decidiu, de maio de 1992 até maio deste ano, mais de 146 mil processos, dos quais 140 mil apenas no STJ. No TSE, seus julgados foram 4 mil processos, e no CNJ, mais 2.795. Como vogal, participou do julgamento de mais de 600 mil processos.

Na ocasião de 20 anos de STJ, Migalhas lançou uma coleção de livros de autoria do ministro, composta de quatro títulos, em seis volumes.

Sobre o ministro

Nascido em 5 de fevereiro de 1948, em Fortaleza/CE, o filho de filho de Alcimor Aguiar Rocha e Síria Maria Asfor Rocha bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará no ano de 1971. É mestre em Direito Público pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará e possui dois títulos de doutor honoris causa, um outorgado pela Universidade Federal do Ceará e outro pela Universidade de Fortaleza.

Francisco Cesar Asfor Rocha foi o único ministro da história do STJ que ocupou todos os cargos destinados aos membros do Tribunal e, dos 87 ministros e nove desembargadores convocados que integraram o STJ em toda sua história, Asfor Rocha só não trabalhou com sete.

(do site Migalhas)

domingo, 2 de setembro de 2012

O CUSTOSO LEGISLATIVO MUNICIPAL

A democracia custa caro. A conhecida sentença, sempre pinçada para explicar o elevado e crescente custo das instituições democráticas, nunca foi tão procedente quanto neste ciclo eleitoral que estamos vivenciando. Os custos do espetáculo democrático, que entrou na fase da programação eleitoral na mídia, baterão um recorde, ultrapassando limites de gastos de campanhas anteriores, fato que se ampara na decisão dos comitês partidários de nivelar por cima as planilhas financeiras como artifício para estreitar os subterrâneos do chamado caixa 2. Pelas contas do Tribunal Superior Eleitoral, os gastos de 194 candidatos a prefeito nas 26 capitais chegarão a R$ 1,26 bilhão.

Ao lado da expansão dos cofres eleitorais, vale destacar a forte participação de figurantes na disputa para a representação legislativa. O número de candidatos a vereador registra um aumento de 87 mil em relação a 2008, chegando aos 435,8 mil. Em razão de mudança constitucional, em 2009, o Congresso Nacional ampliou o número de cadeiras nas Câmaras Municipais e este ano serão eleitos mais 5.405 vereadores, o que explica em parte o incremento de candidaturas.

A motivação para ingresso na política, convenhamos, é um fenômeno que deve ser comemorado. Afinal, o melhor oxigênio para renovar os pulmões da política é o que entra pelos poros dos Legislativos municipais, no entendimento de que a democracia representativa assenta neles a sua base. Mas o desejo cívico de representar parcelas da população explica, por si só, o aumento do número de candidatos a vereador?

A resposta implica, inicialmente, saber o que faz um vereador. Sob sua responsabilidade se abrigam as tarefas de fazer leis em defesa da comunidade, acompanhar e fiscalizar os atos e decisões do Poder Executivo municipal. Tal atividade exige pleno conhecimento das demandas comunitárias e monitoramento dos atos do prefeito. Mas a realidade tem feito do vereador um despachante da população ou, no caso das grandes cidades, dos moradores de bairros e regiões. É ele que ajuda o eleitorado a ter acesso aos serviços públicos. Ressalte-se o caráter de servir à polis, ideal cívico que Aristóteles identificava nos cidadãos. A primeira imagem da política é, portanto, a simbolizada pela praça central de Atenas, a Ágora, onde os senadores da Antiguidade se reuniam com o povo para ouvir demandas e clamores. Os desvios no caminho da política ocorreram e se multiplicaram, ao longo da História das nações, no embate entre valores da vida pública e conveniências da vida privada. A imbricação de interesses de uns e outros acabou por afastar o DNA da política do berço original e semear o vírus da corrupção na teia construída pelos Estados.

De missão a política virou profissão. Os políticos tornaram-se profissionais. Foi assim que a representação popular passou a ser um negócio vantajoso. A democracia como o governo do povo, pelo povo e para o povo, como ensinava Abraham Lincoln, abriu espaço para o aditivo "e o governo para mim, também". Dando cobertura à nova ordem, armou-se um novo triângulo do poder, constituído pela burocracia estatal (administradores públicos), pela representação popular (mandatários) e por grupos de negócios (empresas e grupos privados). O processo decisório passou a ganhar uma taxa de compartilhamento.

A complexidade da vida moderna, as crescentes demandas de comunidades comprimidas nos espaços urbanos, a superposição da coisa privada à res publica, na esteira do definhamento dos mecanismos clássicos da democracia, ajudaram a plasmar o novo território da política. Que no Brasil floresce de maneira avassaladora graças ao fertilizante patrimonialista, abundante entre nós.

Sob essas curvas entramos nos plenários e corredores da representação legislativa municipal. O mandato de vereador passou a ser um negócio que custa, hoje, R$ 10 bilhões anuais ao País. Ao Rio de Janeiro, por exemplo, quase R$ 8 milhões e a Natal, mais de R$ 2,2 milhões por ano. Nessas duas capitais os salários de vereador batem no teto, ou seja, mais de R$ 15 mil, o máximo permitido pela emenda constitucional que autoriza um salário de até 75% do auferido pelos deputados estaduais.

Como se pode aduzir, mais que legislar e fiscalizar em prol da causa coletiva, muitos detentores de mandato começaram a enxergar a política como escada de ascensão pessoal. Pior, agora, é constatar o desfile de caras, bocas, vestes e gestos dos nossos futuros e legítimos representantes nos Legislativos. A amostra que vimos em São Paulo (metrópole desenvolvida) na última semana é de causar arrepios. Imaginem os desfiles canhestros em plagas atrasadas...

A dúvida assoma: como essas pessoas nos vão representar? Muitos clonam suas aparições na performance de Sua Excelência o palhaço Tiririca, na crença - até razoável - de que o conteúdo semântico que se pode extrair de duas frases gritadas velozmente será suplantado pela estética de jegues, galos, cachorros, chapéus, paletó vermelho, braços enfaixados, caras mascaradas ou por uma fonética que descamba em estribilho.

Pois bem, a esdrúxula coreografia eleitoral dos postulantes à vereança é a mais desabusada demonstração de inutilidade da comunicação eleitoral no País. Perfis sérios, confiáveis, dignos de crédito e mérito acabam, infelizmente, contaminados e engolidos pela expressão extravagante da imensa maioria dos parceiros. É uma faceta do custo Brasil do desperdício. Parcela substantiva dos bilhões de que o País carece para reequipar suas estruturas de segurança, saúde e educação é jogada no lixo de uma programação de péssimo gosto.

O Brasil precisa muito da missão dos vereadores. A instituição política que os abriga deve ser respeitada e defendida. Sua força e seu prestígio dependem, porém, de um lume ético e moral para iluminar as Câmaras Municipais e evitar que os candidatos mais se assemelhem a bufões da corte eleitoral.

(Gaudêncio Torquato)