sábado, 25 de maio de 2013

OPINIÕES DO NOVO MINISTRO DO STF

Presidente do STF, Joaquim Barbosa ateou revolta nos meios políticos ao afirmar, há cinco dias, que o Brasil tem “partidos de mentirinha” e um Congresso “inteiramente dominado pelo Poder Executivo.” Indicado por Dilma Rousseff para ocupar uma cadeira no Supremo, o advogado Luís Roberto Barroso, disse coisa muito pior numa entrevista concedida há sete meses à repórter Andrea Michael.

Para Barroso, “a classe política vive em um mundo à parte, de poder e de interesses pessoais.” As alianças partidárias são feitas “sem base ideológica”. O eleitor “vota em candidatos e não em partidos”, num “modelo que está na raiz de boa parte dos problemas políticos brasileiros, inclusive os de corrupção e fisiologismo.”

O novo ministro será sabatinado no Senado nos próximos dias. Depois, assumirá a vaga aberta com a aposentadoria de Carlos Ayres Britto. Chegará em tempo de participar do julgamento dos recursos protocolados no STF pelos 25 condenados no julgamento do mensalão. Na entrevista de outubro do ano passado, Barroso disse: “Minha maior preocupação é com o pós-mensalão.” Ele indagou: “O que o Brasil vai extrair de positivo desse momento ruim para a política?”

Na opinião de Barrroso, manifestada numa fase em que o julgamento ainda não havia encerrado, “mais do que a condenação de pessoas, o processo do mensalão constitui a condenação de um modelo político que não vem de ontem.” Nos últimos 20 anos, disse ele, o Brasil avançou muito. Sob FHC, “conquistamos a estabilidade monetária, que foi um divisor de águas.” Sob Lula, avançou-se na área social, “com a ascensão de milhões de pessoas acima da linha da pobreza.”

A despeito de ter “muito a celebrar”, afirmou o novo ministro, o Brasil também tem o que lamentar. “Nem FHC nem Lula tentaram mudar o modo de fazer política no Brasil.” Como assim? “Para implementar sua agenda política, eles aderiram a esse modelo” viciado. No dizer de Barroso, é preciso “romper com essa tradição”. Uma tradição “que promoveu duas consequências negativas drásticas.”

Uma consequência nefasta “é o decolamento entre a classe política e a sociedade civil, que não se sente identificada com sua representação parlamentar.” A outra é a “criminalização da política.” Afora a “baixa representatividade” dos políticos, disse Barroso, “vivemos um momento em que as notícias são sobre o mensalão mineiro, o mensalão do DEM, o do PT, sempre flagrando casos de corrupção.”

Nessa matéria, Barroso não tem dúvidas: “Há um problema no sistema e, se não enfrentarmos isso, ficaremos sempre à espera do próximo escândalo.” Tomado pelas palavras, o novo ministro enxerga no Legislativo brasileiro uma instituição débil. “Tem-se falado que vivemos um momento de excesso de interferência e de atuação do Judiciário em instâncias antes dominadas pelo mundo político. A meu ver, vivemos um momento de escassez da boa política.”

Barbosa acredita que a solução da encrenca depende do empenho do inquilino do Palácio do Planalto. “Alguém precisa ter coragem e desprendimento para comprar essa briga.” Ele avalia que Dilma Rousseff “poderia ter condições de fazê-lo”. Porém, já desperdiçou a sua primeira hora. Agora, só “no início do próximo mandato.” Por quê? “Digo isso porque no início do mandato é que se tem o maior capital político.”

Do modo como está estruturado, afirmou Barroso, o modelo político brasileiro leva “pessoas de bem, que querem mudar o país”, a “negociar votos [ no Congresso] com aqueles que usam a política para fazer negócios particulares.” O agora ministro do STF acrescentou na entrevista de outubro que o país convive com um sistema político que “joga bons e maus no mesmo pântano.”

O custo das eleições, realçou o ministro indicado, “faz com que ninguém possa ter um projeto político sem um farto financiamento eleitoral. E é aí que o Brasil formal e honesto se aproxima do submundo em que há dinheiro de todas as origens.” De resto, “o sistema eleitoral não contribui para a governabilidade”.

Por que não? Como o presidente eleito sai das urnas sem maioria no Congresso, “o sistema eleitoral e o sistema partidário exigem que, depois da eleição, o ele precise compor essa maioria.” Uma maioria “que não vem do voto, mas da negociação caso a caso.” É quando “se misturam as negociações legítimas com fisiologismo, liberação de verbas e nomeações para cargos públicos que são providos sem concurso no Brasil.”

Evocando o mensalão, Barroso disse que enxerga no julgamento do caso “uma grande denúncia do modelo político-eleitoral brasileiro.” Usou uma metáfora forte: “É um grito por reformas.” Ou são feitas as mudanças ou “não há como entrar para a política sem pactuar com esse modelo baseado no dinheiro.”

Perguntou-se a Barreto o que mudou no entendimento do STF ao longo do julgamento do mensalão. E ele: “O Supremo, que sempre teve uma posição bem liberal e em defesa do acusado, principalmente do princípio de presunção da inocência, revela uma guinada um pouco mais dura e punitiva, superando, inclusive, alguns precedentes, como no entendimento de que não é mais necessário um documento assinado pelo acusado ou um ato oficial dele para que o crime de corrupção seja configurado.”

Prosseguiu: “Minha avaliação é que houve certo endurecimento do STF, talvez como resultado de uma interação com a sociedade. Não acho justa a afirmação de que o Supremo seja pautado pela sociedade, mas ele é permeável aos seus anseios. Há uma mudança de postura. Se isso vai ser bom ou mau, o tempo dirá.”

O tribunal foi técnico ou político? “É impossível um julgamento desse porte, com essas consequências, não ter uma dimensão política”, respondeu Barroso. “Mas os votos têm sido técnicos. No direito em geral, existem extremos em que há a certeza positiva, a significar que algo aconteceu, e há extremos em que há certezas negativas, quando é possível afirmar que algo nao aconteceu.”

Nesse contexto, filosofou o indicado de Dilma, “para o bem e para o mal, entre um extremo e outro, existem muitas possibilidades. E aí as interpretações dependerão da visão de cada um.” O país está ávido por conhecer a interpretação que Barroso dará aos recursos dos condenados do mensalão.


(Josias de Souza)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

TERAPIA DO ELOGIO


Renomados terapeutas que trabalham com famílias, divulgaram uma recente pesquisa onde nota-se que os membros das famílias brasileiras estão cada vez mais frios, não existe mais carinho, não valorizam mais as qualidades, só se ouvem críticas.

As pessoas estão cada vez mais intolerantes e se desgastam valorizando... os defeitos dos outros. Por isso, os relacionamentos de hoje não duram.

A ausência de elogio está cada vez mais presente nas famílias de média e alta renda. Não vemos mais homens elogiando suas mulheres ou vice-versa, não vemos chefes elogiando o trabalho de seus subordinados, não vemos mais pais e filhos se elogiando, amigos, etc.

Só vemos pessoas fúteis valorizando artistas, cantores, pessoas que usam a imagem para ganhar dinheiro e que, por conseqüência, são pessoas que têm a obrigação de cuidar do corpo e do rosto. Essa ausência de elogio tem afetado muito as famílias.

A falta de diálogo em seus lares, o excesso de orgulho impede que as pessoas digam o que sentem e levam essa carência para dentro dos consultórios. Destroem seus casamentos, e acabam procurando em outras pessoas o que não conseguem dentro de casa.

Comecemos a valorizar nossas famílias, amigos, alunos, subordinados. Vamos elogiar o bom profissional, a boa atitude, a ética, a beleza de nossos parceiros ou nossas parceiras, o comportamento de nossos filhos.

Vamos observar o que as pessoas gostam. O bom profissional, o bom filho, o bom pai ou a boa mãe, o bom amigo, a boa dona de casa. A mulher e o homem que se cuidam...

Enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro, é impossível viver sozinho e feliz, e os elogios são a motivação na vida de qualquer pessoa.

Quantas pessoas você poderá fazer feliz hoje elogiando de alguma forma? Então elogie alguém hoje!



Autor: Arthur Nogueira, psicólogo.

_ _ _ _ _ _ _ _ _


Repito aqui parte de um recado do ano passado:

Dedique mais tempo para:

- estar com a família, conversando, sem TV,

- fazer refeições juntos, à mesa.

- colocar em ordem a cozinha.

- estar na varanda ou jardim.

- rezar com e pela família.

- escrever memórias de família

- dar atenção a cada membro da família.

- apontar qualidades de cada membro da família.

- recordar, listar e celebrar datas significativas para a família.

- admoestar, refletir, incentivar e corrigir com caridade.

- escolher programas de TV ou rádio que mostrem valores e virtudes.

- presentear a família com bons livros e revistas, iniciando uma biblioteca.




quinta-feira, 23 de maio de 2013

LUIS ROBERTO BARROSO É O NOVO MINISTRO DO STF



A presidente Dilma Rousseff escolheu Luís Roberto Barroso para ser o novo ministro do STF. O advogado substituirá Carlos Ayres Britto, que deixou a Corte em novembro do ano passado, após sua aposentadoria.

O anúncio oficial foi feito pela ministra da Comunicação Social Helena Chagas. Segundo a ministra, a presidente tomou a decisão na manhã desta quinta durante reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "O professor Luís Roberto Barroso cumpre todos os requisitos necessários para o exercício do mais elevado cargo da magistratura do país", diz a nota da Presidência.

Atuação

O jurista atuou em importantes processos junto ao STF, como a pesquisa científica com células-tronco (ADIn 3.510), a interrupção da gravidez de feto anencefálico (ADPF 54), a união estável homoafetiva (ADIn 4.277 e ADPF 132), o caso de extradição do italiano Cesare Battisti (Ext 1.085) e do convênio entre a Defensoria Pública de SP e a OAB/SP (ADIn 4.282).

Recentemente, Luís Roberto Barroso opinou acerca do poder de investigação do MP. Para ele, o problema da ineficiência, corrupção e violência da polícia não reside nas características dos membros ou na instituição em si, mas nas condições em que exerce o seu mister, isto é, “na linha de fronteira entre a sociedade e a criminalidade”. Dessarte, pergunta o constitucionalista, se o MP substituir a polícia em todas as suas atividades, manter-se-ia o parquet imune aos mesmos abusos e contágios.

História e formação

Formado pela UERJ (Turma de 1980), é advogado desde 1981 e Master of Laws (LL.M) pela Universidade de Yale, EUA, doutor e Livre-Docente pela UERJ, professor Titular de Direito Constitucional de graduação e pós-graduação da UERJ, da Escola da Magistratura do RJ e professor visitante da UnB. É ex-Conselheiro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e ex-Membro da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB. Barroso integra a Comissão de Altos Estudos da Reforma do Judiciário, do MJ.

Ele nasceu na cidade de Vassouras (RJ) em 11 de março de 1958. O pai de Luís Roberto Barroso é membro aposentado do MP/RJ; sua mãe, já falecida, foi advogada e uma das poucas mulheres que se formaram na Faculdade Nacional de Direito, na década de 1950.

Barroso é o quarto ministro indicado no governo Dilma; os três ministros que ingressaram na Corte anteriormente foram Teori Zavascki, Rosa Weber e Luiz Fux. A indicação será publicada no DOU e o nome do constitucionalista ainda precisará ser aprovado pelo Senado após sabatina.

(Fonte: Migalhas)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com mais uma historinha da Paraíba.

Zé Cavalcanti, político populista, filho de Né Cavalcanti, de São José de Piranhas, administrou a cidade de Patos entre novembro de 1963 a janeiro de 1969, devido a prorrogação de mandatos de prefeitos e vereadores. Sempre andou às turras com o governador João Agripino. Numa das campanhas, os ânimos ficaram mais acirrados. Certo dia, Zé foi surpreendido por um telefonema de João Agripino, que o chamava ao aeroporto de Patos. Sem qualquer explicação do governador, tomaram o avião e seguiram para Catolé do Rocha. Na chegada, Agripino comunicou:

- O seu amigo Zé Sérgio foi quem mandou que eu lhe trouxesse para tomar parte num comício hoje aqui em Catolé.

Era tarde para Cavalcanti protestar. Só que o candidato adversário de Zé Sérgio era o Frei Marcelino. A noite, no comício, Cavalcanti, o segundo orador, foi anunciado com estardalhaço. Começou pregando uma peça contra o governador, postado ao seu lado e de quem queria se vingar.

- Vocês daqui de Catolé já me conhecem bem, que esta não é a primeira vez que falo aqui em campanha. E, para ser sincero, vou iniciar desagradando a todos, dizendo que se estivesse aqui, acompanharia Frei Marcelino!

Suspense!

Repetiu:

- Já disse e torno a dizer: se eu estivesse aqui, acompanharia Frei Marcelino!

Antes de levar uma bofetada, emendou:

- Estaria com Frei Marcelino, sim, mas na Igreja, acompanhando procissão e assistindo missa, que ofício de frade é rezar e não fazer política!...

Ba(r)boseiras? não

O ministro Joaquim Barbosa acaba de receber mais uma bateria crítica por ter dito que os partidos políticos brasileiros são de "mentirinha" e mais: que o Congresso Nacional é inteiramente dominado pelo Executivo. Teria dito alguma baboseira? Ou, usando seu sobrenome, barboseira, algo exagerado em se tratando de uma figura polêmica como Sua Excelência? Pois bem, o presidente do STF não exagerou. Disse o que se sabe. Este consultor, ao longo dos últimos anos, tem se dedicado à tarefa de descrever a qualidade da nossa representação política. E comprova o que o ministro Barbosa diz: os partidos políticos são assemelhados, pasteurizados, perderam substância ideológica, lutam em torno da meta "o poder pelo poder".

Congresso refém

O nosso presidencialismo, por sua vez, é de caráter absolutista, imperial. O poder da caneta - nomeação, demissão, aprovação, desaprovação - o coloca na dianteira dos Poderes Legislativo e Judiciário. Todos comem no prato cozido pelo Executivo. Quem tem o poder de nomear os ministros do Judiciário? Ora, o presidente da República. Herdamos a índole absolutista dos tempos do Império. A força do presidencialismo nasce nas águas do nosso passado. Tradição ibérica. Veja-se o Orçamento da República. Tem o selo autorizativo. Aprovado pelo Parlamento, as verbas nele consignadas só são liberadas com a aceitação/aprovação do Executivo. Não é a toa que o atual presidente da Câmara quer aprovar o Orçamento Impositivo, pelo qual os recursos destinados aos seus fins serão garantidos.

Barbosa e a liturgia

Se o ministro Joaquim Barbosa falou o que já se sabe, por que tanta reação e tantas críticas à sua expressão? Porque ele esqueceu a liturgia do poder. Há coisas que são verdadeiras e não podem ser ditas por um comando de Poder. Joaquim representa a voz do Judiciário. Expressa a voz da autoridade máxima de um Poder. Trata-se, então, de um Poder execrando outro. A liturgia do cargo não permite que se expresse usando as palavras que usou: mentirinha, por exemplo. Quer dizer, não temos partidos políticos. Ocorre que eles existem. De maneira legal e legítima. Se são assemelhados, isso é outra coisa. O analista político pode dizer isso, mostrando que a crise da democracia representativa é exatamente o declínio dos partidos, o destroço das ideologias, o arrefecimento das bases e o enfraquecimento dos Parlamentos.

Leitura correta, expressão chula

A leitura pode ser correta, mas a expressão parece chula, quando emitida pelo presidente da nossa Corte maior. Acrescente-se ao fato o perfil polêmico de Joaquim Barbosa, ainda envolto no manto do mensalão. Foi um relator enérgico. Condenou importantes figuras da constelação política. Ganhou fama. Passou a ser visto como um eventual disputante da seara política. Diz o que lhe vem à cabeça. Não consegue administrar as tensões e pressões. Abriu fissuras em outras áreas que operam o Direito. Envolveu-se em projetos e recursos que formam um divisor de águas entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Por isso, qualquer coisa que diga - mesmo as maiores obviedades - ganha alcance e gera efeitos bombásticos.

Crise entre poderes?

Há quem veja o acirramento da crise entre os Poderes. Ora, essas tensões fazem parte das democracias, principalmente as incipientes como a nossa. Não temos uma árvore democrática forjada ao longo de muitos séculos. Ainda estamos vivenciando o ciclo de ajustes e afinações. Nossas instituições ainda padecem da pequena vivência histórica. Tudo está para ser reformado: os partidos políticos, o sistema de governo, as estruturas de Estado. Não será mais uma fala franca e sincera do Barbosa que trincará as bases de uma relação entre os Poderes.

Estranha concorrência

O governo de SP conduz de maneira estranha a concorrência para a compra de 65 trens (520 carros) para a CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, um negócio de quase R$ 2 bilhões, o maior da história neste setor. Ao abrir a licitação internacional, o governo impôs praticamente as mesmas condições para as empresas nacionais e estrangeiras. Detalhe da maior importância: as nacionais pagam todos os tributos, mão de obra, etc. Enfim, seu preço embute o altíssimo Custo Brasil. As estrangeiras, não: além de incentivos fiscais em seus países, entram aqui a custo zero, pois a Secretaria de Transportes Metropolitanos goza de imunidade tributária.

Perda de 80 mil empregos

Talvez o governo paulista não tenha avaliado as graves consequências de sua conduta nesta concorrência: ao favorecer os estrangeiros (pode-se ler chineses) com qualidade e preço inferiores, a Secretaria de Transportes pode decretar o fim da indústria ferroviária nacional. Isto significa a perda de 80 mil empregos (20 mil diretos e 60 mil indiretos), renúncia fiscal de todo imposto recolhido pelos fabricantes com plantas no Estado e a interrupção da tecnologia para este país tão carente disso.

Obedecer ou não à Justiça?

O caso de SP é ainda mais emblemático, pois o Palácio dos Bandeirantes procura inviabilizar a indústria ferroviária brasileira, em atitude oposta à do governo Federal, que incentiva as indústrias automobilística e naval, em franco crescimento. Uma liminar concedida pela Justiça pede que o governo paulista leve em consideração os "favores fiscais" conferidos às empresas estrangeiras, para nivelar a situação entre as concorrentes nacionais e internacionais. Resta saber se o governo paulista obedece à Justiça ou se leva adiante sua determinação de favorecer estrangeiros para quebrar as nacionais. Mas continua estranho o fato de o governo paulista promover o desemprego em empresas que têm suas fábricas justamente no Estado de SP.

Uma cunha no Cunha

Quem está carecendo de uma cunha - no sentido de uma interferência em seu padrão de comando - é o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. Trata-se de um sujeito inteligente, trabalhador, ágil, e que passou a canalizar a indignação dos atores políticos que formam a base governista. É sabido que a presidente Dilma não vê com bons olhos as pressões da esfera política. Tende a rejeitá-las. Donde se pode pinçar a hipótese de que seu conceito nas casas congressuais é muito ruim. Bem distante da aprovação que alcança na sociedade, algo em torno de 75%. Pois bem, as demandas reprimidas da base governista estão sendo canalizadas por Eduardo Cunha, que viu a oportunidade de marcar posição e, em certo sentido, fazer oposição ao próprio governo, que apóia. Uma contradição. O que fazer? Ora, só inserindo uma cunha na estratégia oportunista do Cunha.

Aécio morno

Aécio Neves assumiu a presidência do PSDB com um clássico discurso de oposição. O que é ser clássico no campo da expressão? É dizer mais ou menos o seguinte: temos de mudar para melhor; temos de fazer mais; temos de combater a corrupção; temos de incentivar os investimentos; o Brasil tem de crescer muito mais do que mostra esse pibinho. E assim por diante. A pergunta é: como fazer isso? Quais as alavancas para mover o país? Por onde mexer? Quais as grandes ações prioritárias que devem merecer nossa atenção? Ninguém viu e ouviu respostas para essas questões. Não adianta dizer que esse escopo virá no momento certo. O momento de expor um ideário para o país é esse : bem antes do ciclo eleitoral. Quanto mais cedo se apresentarem as ideias, mais condições terão de ganhar o crivo social. O PSDB não tem ainda um discurso para o país. Fernando Henrique, que deveria ajudar, também continua com sua linguagem tatibitate.

Boato chegou ao bolso

Este consultor tem repetido seu refrão: quem pode tirar o eleitor do sério é a equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Bolso com grana significa geladeira cheia, barriga satisfeita, coração agradecido e cabeça dando o voto a quem....joga a graninha no bolso. Pois bem, a massa está satisfeita. Vivendo situação de conforto. Quando, porém, o boato desfaz a equação, a correria se instala. Todos correm aos bancos. Para sacar seu dinheirinho do Bolsa Família. O governo passa a ser execrado. Por poucas horas. Até se descobrir que a correria foi fruto de boato. Nesse caso, a indignação se volta contra as oposições. Moral da história: quem com boato ataca, com a verdade será ferido. Que aparecerá mais cedo ou mais tarde.

Slogans

Slogan da Dilma: vamos fazer mais. Slogan do Eduardo Campos: vamos fazer mais e melhor. Slogan do Aécio Neves: vamos diferente para fazer melhor. Resumo: todos compromissados com a fazeção. O Brasil é uma eterna repetição.

A rede de Marina

O partido Rede, de Marina Silva, deve chegar às 500 mil assinaturas nos próximos 30 dias. É razoável contar com ele no próximo pleito.

Honra ao mérito

Vejam essa: acontecimento curioso envolvendo a Câmara de Vereadores de Arcoverde, sertão de PE, tem causado muita polêmica na cidade. Uma ex-prostituta famosa no local e conhecida como Nena Cajuína vai ganhar uma medalha de honra ao mérito por serviços prestados à comunidade. A proposta foi da vereadora Célia Cardoso e foi aprovada com unanimidade.

Conselho ao governador Alckmin

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, volta sua atenção ao governador de SP, Geraldo Alckmin.

1. Vossa Excelência dedicou, ao longo de sua vida, uma história densa em defesa dos interesses do Estado de SP. A essa altura de seu mandato, precisa cultivar essa história e coroar assim sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes;

2. Assim, não convém levar adiante uma concorrência lesiva aos interesses da indústria ferroviária nacional, que planta neste Estado o seu desenvolvimento;

3. Não permita que essa indústria quebre, com uma consequente demissão em massa de milhares de trabalhadores, apenas para beneficiar empresas estrangeiras que nenhum vínculo têm com o povo paulista.

____________

(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 21 de maio de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

O estado da Política

A Política, essa mesma com "P" maiúscula, existe como prática que facilita a solução e encaminhamento de conflitos de interesses dos cidadãos de uma comunidade determinada, seja um país, seja um condomínio. Nesta acepção específica da Política, o Brasil está vivenciando um momento particularmente "perigoso". Os interesses econômicos e sociais estão sendo solucionados por meio de uma classe política movida por interesses eleitorais, quando não por interesses pessoais, e os agentes deles ou desconfiam, ou se aproveitam, quando não fazem as duas coisas. A votação da chamada "MP dos Portos" na semana passada foi mais uma expressão do caos político que vivemos: interesses privados legítimos se misturaram a formas nefastas de interferência política, interesses públicos foram difusamente defendidos ou na base do "toma-lá-dá-cá", o governo viu-se chantageado, bem como chantageou, e assim foi. Isso tudo num contexto de votação de medida essencial ao desenvolvimento brasileiro. Este é o estado da Política.

O estado da Política - II

Afora a demonstração da semana passada no Congresso, vê-se que a corrida eleitoral iniciada pela presidente Dilma e seu tutor, o ex-presidente Lula, deve inviabilizar quaisquer reformas mais substanciais até o ano que vem. Os partidos que apóiam o governo sabem dos anseios palacianos e destes extraem as mais variadas formas de aproveitamento político. Não há coloração ideológica e nem nome de partido que não participe deste caro convescote do Poder Legislativo. A oposição, de outro lado, mostra-se débil, pouco programática e com articulação sofrível. Basta ver a patética (e simbólica) ação política do senador Álvaro Dias (PSDB/PR) flagrado pela Folha de S.Paulo ao apresentar uma emenda à votação da MP dos Portos igual à de um colega do PT, o deputado Luis Sérgio. Neste contexto, preocupa o acúmulo de pautas na agenda nacional : da violência urbana ao controle da inflação, da educação à desindustrialização do país, tudo está pendente de soluções estruturais. Isso enquanto a classe política está ilhada em seus próprios interesses e jogos políticos. Perigo à vista. Para quem quer ver, é claro!

O estado da economia

Procuramos não fazermos previsões categóricas, porquanto estas não são passíveis de serem feitas quando o assunto é economia e política, ou vice-versa. Afinal, a política depende da economia e vice-versa, mesmo que não faltem oráculos soltos no mundo. De todo o modo é possível perceber tendências, até mesmo quando estas não estão visíveis, a partir do exercício do espírito crítico da análise política e econômica. Pois bem : os números recentes da produção industrial e do consumo indicam que o PIB brasileiro este ano está mais para o número pífio do ano passado que para algo entre 3% e 3,5%. De outro lado, é praticamente certo que a fragilidade das relações políticas no Congresso não permitirá nenhum avanço institucional capaz de sanar os problemas estruturais que barram o desenvolvimento. A MP dos Portos foi a grande reforma do ano (vide as duas primeiras notas desta coluna).

O estado da economia - II

Preocupação que deve ser redobrada é a possibilidade de o país vivenciar uma onda de desinvestimento externo, num contexto em que os EUA se recuperam com certa rapidez - basta ver o desempenho das bolsas daquele país - e a Europa dá alguns pequenos sinais de avanços. Além dos avanços na Índia e China (de novo). As melhores expectativas em relação ao Brasil estão no passado por conta dos poucos avanços alcançados pelo atual governo e pelos riscos que decorrem da equação que combina valorização cambial, inflação em alta, desindustrialização e queda dos preços das commodities. Poucas variáveis estruturais do país estão sendo mexidas politicamente para melhor. Quase nenhuma, se observadas as principais (reformas tributária e previdenciária, incentivo à tecnologia, educação e aumento da eficiência da infraestrutura). Felizmente ou infelizmente, as políticas adotadas pelo país têm de atender as expectativas dos agentes econômicos para a taxa de investimento subir. O que se vê é um governo voltado de costas para o capital, sustentado pelo eleitorado mais pobre e encalhado pelos seus presumidos aliados. A economia segue este ritmo.

PSDB e Aécio: agora, o "como fazer"

Aparentemente - em política as aparências costumam enganar, ainda mais se tratando de tucanos de plumagens reais - o PSDB, sob a clara liderança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uniu-se em torno de um projeto comum e da candidatura presidencial de Aécio Neves. Até a seção paulista do partido, a mais reticente em relação às pretensões do ex-governador e senador mineiro, parece ter aceitado as regras do jogo, em que pesem as demonstrações de caturrice política do ex-governador José Serra. Em princípio, o PSDB está centrando sua campanha na recuperação do legado da gestão Fernando Henrique Cardoso - estabilização monetária (derrota da hiperinflação), reforma do Estado (especialmente as privatizações) e início das políticas de renda (depois aprofundadas e radicalizadas, no bom sentido, pelo governo Lula). Herança que os tucanos abandonaram nas três campanhas presidenciais em que foram derrotados e que defenderam muito envergonhados.

PSDB e Aécio: agora, o "como fazer" - II

Pode ser um bom começo para aquecer as forças partidárias para o embate eleitoral e solidificar a unidade agora exibida, alcançada a duras penas (coloridas, como só cabe a tucanos de extirpe). Não basta, porém, até porque, até agora, a estabilidade monetária já é uma conquista do país, a memória nacional quase perdeu o seu mentor, e as conquistas sociais estão definitivamente incorporadas ao patrimônio petista. Que, aliás, sabe incorporar muito bem os seus feitos - e também os não-feitos. Além de esconder os malfeitos. Aécio, para se mostrar competitivo, terá de passar da celebração do passado e das críticas à atual condução da política econômica para uma etapa mais avançada do que fazer e como fazer para melhorar a situação atual.

PSDB e Aécio: agora, o "como fazer" - III

Os percalços que a economia nacional está registrando nos últimos meses, como temos comentado em nossas colunas mais recentes, ainda não chegaram com força até as classes que têm o maior cabedal de votos e que decidem de fato no Brasil qualquer eleição: os extratos D, E e a chamada "nova classe média" ou "classe média de Lula". É para esses que os tucanos precisam arranjar um "discurso" e propostas concretas - e principalmente factíveis - para manter a estabilidade da moeda e melhorar a qualidade de vida da população. Os eleitores do que se convencionou também de chamar de o "andar de cima" do extrato social, tirante em algumas camadas, já são votos anti-petistas por natureza. O próprio PT já sabia disso e nas últimas eleições tem feito esforços para mudar isto. A candidatura vitoriosa de Fernando Haddad à prefeitura de SP teve tal viés. Agora, Lula busca novos "Haddads" para concorrer a alguns governos estaduais, especialmente ao de SP. Os tucanos terão de descer de seus poleiros engalanados e pular ao rés do chão se quiserem ser competitivos em 2014. Ficar simplesmente esperando a economia desandar pode significar mais quatro anos de relento na esfera Federal.

Um agravo para Dilma e para as expectativas econômicas

Como comentamos na nota anterior, o "andar de cima" nunca foi de depositar a maior parte de seus votos nos candidatos petistas ou por ele apoiado. Inclusive o empresariado - ele até financia as campanhas, no velho modelo de botar ovos em várias cestas, porém no silêncio das urnas costuma ser mais conservador. Aliás, aqui como acolá, mundo afora. Porém, impressiona como estão se deteriorando rapidamente as expectativas do mundo empresarial no governo Dilma, puxada pelos percalços que a economia vem apresentando e a forma como a política econômica vem sendo conduzida. Essa perda vem sendo registrada, paulatinamente, pelos índices de confiança mais recentes levantados tanto por instituições como a FGV como por entidades empresariais tipo CNI e Fecomércio.

Um agravo para Dilma e para as expectativas econômicas - II

O mais recente sinal dessa deterioração foi retratado por uma pesquisa realizada na semana passada pelo jornal "Valor Econômico". Levantamento feito com presidentes de 97 das 200 maiores empresas do país, durante o Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos, revelou que 66% deles (56% na sondagem anterior) se revelaram dispostos a votar em Aécio Neves contra apenas 12% para ela, 11% para Eduardo Campos e o restante para Marina Silva e outros. A boa notícia para a presidente é que 68% dos entrevistados dizem que ela será eleita, o que significa que os empresários não acreditam que a deterioração do ambiente econômico que está elevando a insatisfação deles vá chegar à maioria dos eleitores.

Um agravo para Dilma e para as expectativas econômicas - III

De todo modo, a insatisfação dos empresários com o cenário macroeconômico é um dado complicador para a gestão econômica, no momento em que o governo busca reconquistar a confiança deles para ampliar os investimentos na economia nacional. E a política eleitoral está de tal maneira embaralhada com a economia que torna todo o quadro ainda mais confuso. Mais sobre a MP dos Portos no blog "A política como ela é".

O jogo político-partidário ficou mais delicado

As forças de informações governamentais dão como uma vitória do governo a aprovação, catimbadíssima como se diz na gíria esportiva, da MP dos portos, sem modificações "destrutivas" ao projeto original e ao parecer do senador Eduardo Braga (PMDB/AM). As distorções mais graves impostas pelos rebeldes aliados nas madrugadas de votação na Câmara, garantem as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, serão extirpadas por vetos presidenciais. É meio fato esta interpretação oficial. Ao final da maratona, o que se viu é que está totalmente desprestigiada a chamada "coordenação política do governo" e as relações do Palácio do Planalto com seus aliados.

O jogo político-partidário ficou mais delicado - II

Não funcionam nem as resistências de Dilma em não ceder mais do que ela entende do que seria razoável - ceder ela cede, basta ver o rosário de nomeações de aliados - nem ceder além disso, com verbas para as emendas parlamentares e outras promessas sendo liberadas de última hora. O governo fica sempre a mercê do Congresso nos grandes momentos. Diz-se que o grande rebelde desta vez, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, foi derrotado pelas forças governistas. Ora, se o foi, por que a necessidade de vetos ? E se os vetos podem gerar novas insatisfações e novos embates. A realidade é que a presidente Dilma saiu deste embate, infelizmente para ela e para boa parte dos brasileiros, um pouco mais dependente do PMDB no Congresso. Na última hora o socorro veio para ela de Henrique Alves e, especialmente, de Renan Calheiros. Parecia até que o PMDB jogou afinado para valorizar seu passe : enquanto Eduardo Cunha e sua turma batiam, o comando peemedebista assoprava. Com dois agravantes : o PT não gostou dessa afinação peemedebista. E uma parte do petismo não gostou nada do projeto aprovado. Dilma vai ter de mudar muito seu modo "político" de agir, tanto com o Congresso como internamente. Já começam a pipocar de todos os lados - e não apenas dos discursos da tímida oposição - críticas e observações negativas ao estilo presidencial de ser e de governar.

FT: frustração e o estilo "mandão" de Dilma

Vejamos os dois extratos do editorial do FT de ontem:

"(...) corre o risco, mais uma vez, de frustrar imensas expectativas". "A aparente sensação de bem-estar do Brasil é uma fachada. O crescimento da economia no ano passado foi de menos de 1%, pouco melhor que a zona do euro. Este ano, o Brasil está crescendo menos que o Japão. A inflação está corroendo a confiança do consumidor e há uma sensação de mal-estar. A causa é o abrandamento do investimento, tendência que começou em meados de 2011 e continua. Mais investimento é exatamente o que o Brasil precisa para manter os empregos e tornar-se a potência global a que aspira ser". (...) "O estilo 'mandão' dela não é adequado para a persuasão colaborativa exigida pelo tipo particular de política de coalizão do Brasil. A tomada de decisão tem sido centralizada, o que evita a corrupção, mas retarda o processo. Dilma também tem evitado consistentemente as reformas orientadas para o mercado em favor do protecionismo de alguns setores preferidos e seus lobbies, como as mimadas montadoras"(...)

Para quem tem dúvidas sobre a deterioração da imagem do país, meio editorial basta.

O vencedor é...

Renan Calheiros tornou-se candidato imbatível este ano ao "Troféu Bravateiro-Mor do Brasil", disputa no Brasil que na seara da política sempre teve uma boa centena de pós-doutores aptos a abocanhar o laurel. O senador alagoano e presidente do Senado já ganhou a corrida depois que alardeou que na votação da MP dos portos foi a última vez que a Casa fará algo de afogadilho como fez quinta-feira e que de agora em diante o Senado não votará MPs que lhe cheguem com menos de sete dias antes de caducar. Calheiros fará o que seu senhor - ou melhor, sua senhora - mandar. Escrevam para conferir.

Traduttori, traditori

Só pode ter sido uma traição - ou um grave equívoco do tradutor - a afirmação atribuída ao ex-presidente Lula no evento comemorativo dos dez anos do PT na presidência da República, em Porto Alegre, na presença de Dilma. Não pode ser para valer: "O político ideal que vocês desejam, aquele cara sabido, aquele cara probo, irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de vocês". Como diz o aforismo italiano, traduttori, traditori.

Lençóis maranhenses

Desculpem a ignorância, a falta de informação desses escribas, mas ficamos, por dizer assim, estupefatos, ao descobrirmos que no Maranhão existe um município batizado de Governador Edison Lobão. No futuro devemos esperar também um com o codinome "Ministro Edison Lobão" e uma série de outras municipalidades com o sobrenome "Sarney", uma família que é uma espécie de donatários da província, e à qual Lobão é agregado.

Mais notícias dos lençóis maranhenses

Informações de um blog local - "Blog Marrapa" - reproduzidas pelo blog do jornalista Ricardo Noblat, de Brasília, na semana passada:

"A governadora Roseana Sarney passou pelo maior vexame durante a passagem do governo itinerante por Governador Edison Lobão. Confrontada sobre a qualidade de ensino por um aluno da escola pública, Roseana se viu encurralada.

- Se as escolas não têm qualidade, você tem que cobrar isso dos professores - respondeu a governadora, se esquivando da responsabilidade.

Esperto, o estudante retrucou:

- Eu estou falando é de infraestrutura da sala de aula, escola com estrutura adequada.

Sem reação, ela tenta desviar do assunto:

- Ei, ei, ei, olha aqui. Eu quero saber qual foi sua nota do Enem.

Nisso o estudante desmascara Roseana mais uma vez e acusa a situação do ensino público oferecido pela rede estadual:

- Eu ainda não fiz o Enem, tô sem aula, e tô correndo risco de não fazer o Enem porque não tem professor na sala de aula".

Como diria Millôr Fernandes, pano rápido. E sem comentários, por desnecessários. O Índice de Desenvolvimento Humano o Maranhão já diz tudo.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

SE ANIVERSARIO, POESIO!



Quando um véu de escuridão
Cobria o céu da ampla pátria,
Um ano após a militar martelada
Que toscou a fecundação cidadã
E cortou asas de sonhos libertários,
Numa costela oeste do Ceará
Dois primos da mesma teimosa estirpe
Desafiavam as tolas imposições
Das familiares convenções
E se deixavam consumir
Pela sombra do cajueiro da paixão.

Rebentei de um lampejo de desobediência.

Fui gerado ao lado de uma oiticica de raízes colossais
No tapete de úmida areia da grota da Baé.

Jesomar e Rosária, Rosária e Jesomar
Meu pai e minha mãe, minha mãe e meu pai:
Muito aprendi com o esquadro e o compasso
Abertos sobre o Livro da Lei dos vossos salmos existenciais.

************************************************************

Volto aos barrancos de minha infância,
Às gitiranas doiradas que me abençoaram,
Às veredas escuras que me deram a luz,
Aos frondosos mufumbos que me perfumaram,
Ao estrume azul do velho Curral,
Ao piso vermelho do amendoim original
E retomo as essenciais interrogações
Que só a mim me interessam:

- De qual argila fui moldado?

- Qual o húmus que sustenta minha canafistula pessoal?

- Onde aportarei em minha errante caminhada?

Se ainda estou sem resposta,
Pelo menos um alento de carnaúba carrego,
Do drama que minha tia Dalva nunca escreveu
Do alforje curado no couro dos Vieiras
Do som do pífano do compadre Pedro Cabloco:

Dos três que passaram e do derradeiro que ficou
Uma lição recolhi, uma tocha se acendeu,
Uma lamparina permanece me alumiando a alma:

Hoje sou outro!

(Júnior Bonfim)

************************************************

Somente um dia grandioso poderia dar à luz um grandioso ser humano.

Feliz Aniversário, amigo Júnior Bonfim.

Que Deus o mantenha sempre o mesmo. Isso basta.

Parabéns.

Com efusivo abraço,

Boaventura Bonfim e família.

domingo, 19 de maio de 2013

O ARTIGO DE ANGELINA JOLIE NO "THE NEW YORK TIMES" - "MINHA ESCOLHA MÉDICA"



Minha mãe combateu o câncer por quase uma década e morreu aos 59 anos. Conseguiu sobreviver por tempo suficiente para conhecer seus primeiros netos e tê-los nos braços. Mas meus outros filhos jamais terão a oportunidade de conhecê-la e de descobrir o quanto ela era amorosa e carinhosa.

Minha mãe combateu o câncer por quase uma década e morreu aos 59 anos. Conseguiu sobreviver por tempo suficiente para conhecer seus primeiros netos e tê-los nos braços. Mas meus outros filhos jamais terão a oportunidade de conhecê-la e descobrir o quanto ela era amorosa e carinhosa.

Muitas vezes conversamos sobre a "mãe da mamãe" e me vejo tentando explicar a doença que a tirou de nós. As crianças perguntaram se o mesmo poderia acontecer comigo. Sempre respondi que não deviam se preocupar, mas a verdade é que tenho um gene "defeituoso", o BRCA 1, e isso eleva muito meu risco de ter câncer de mama e câncer de ovário.

Meus médicos estimaram que eu tinha risco de 87% de câncer de mama e de 50% de câncer de ovário, ainda que os riscos sejam diferentes de mulher para mulher.

Apenas uma fração dos cânceres de mama resultam de uma mutação genética herdada. As mulheres com BRCA 1 defeituoso têm, em média, 65% de risco de desenvolver a doença.

Assim que eu soube que minha realidade era essa, decidi agir de modo proativo e minimizar o risco ao máximo.

CIRURGIA

Tomei a decisão de realizar uma dupla mastectomia preventiva. Comecei pelos seios porque meu risco de câncer de mama é mais elevado do que meu risco de câncer de ovário, e a cirurgia é mais complexa.

Em 27 de abril, concluí os três meses de procedimentos médicos que a mastectomia requeria. Ao longo do período, pude manter o sigilo sobre o que estava acontecendo e continuar com meu trabalho. Mas agora decidi escrever a respeito com a esperança de que outras mulheres possam se beneficiar de minha experiência.

Câncer continua a ser uma palavra que causa medo no coração das pessoas, produzindo um profundo senso de impotência. Mas hoje é possível determinar por meio de um exame de sangue se você é altamente suscetível a câncer de mama e câncer de ovário e agir a respeito.

Meu processo começou em 2 de fevereiro com um procedimento conhecido como "nipple delay" [autonomização], que impede doença nos dutos mamários por trás dos mamilos e irriga a área com fluxo sanguíneo adicional.

O procedimento causa alguma dor e muitos hematomas, mas aumenta a chance de preservar o mamilo.

Duas semanas mais tarde, fiz a principal cirurgia, na qual o tecido do seio é removido e a área é ocupada por um preenchimento temporário. A operação pode demorar até oito horas.

Quando você acorda, está com tubos de drenagem e expansores nos seios. Parece uma cena de filme de ficção científica. Mas, dias depois da cirurgia, já pode voltar à sua vida normal.

Nove semanas mais tarde, a cirurgia final é completada com a reconstrução dos seios por meio de um implante. Houve muitos avanços nesse procedimentos nos últimos anos, e os resultados podem ser muito bonitos.

Eu quis escrever este artigo para contar a outras mulheres que a decisão de fazer uma mastectomia não foi fácil. Mas estou muito feliz por tê-la tomado.

FILHOS

Minha probabilidade de desenvolver câncer de mama caiu de 87% para menos de 5%. Agora posso dizer aos meus filhos que eles não precisam ter medo de me perder para o câncer de mama.

É animador que eles não vejam coisa alguma que lhes cause desconforto. Veem as pequenas cicatrizes que ficaram, e só. Tudo mais é a mamãe, a mesma à qual estão acostumados. E eles sabem que os amo e que farei qualquer coisa para ficar com eles pelo maior tempo possível.

Do ponto de vista pessoal, não me sinto menos mulher. Sinto ter ganhado força por fazer uma escolha forte que de forma alguma diminui minha feminilidade.

É minha sorte ter um parceiro, Brad Pitt, tão amoroso e tão presente. Assim, para quem tem uma mulher ou namorada que esteja passando por isso, é importante saber que você será parte importante da transição.

Brad esteve no Pink Lotus Breast Center, onde fui tratada, durante cada minuto das cirurgias. Conseguimos encontrar momentos que nos permitiram rir juntos. Sabíamos que essa era a coisa certa a fazer por nossa família e que isso nos aproximaria. E foi o que aconteceu.

Para qualquer mulher que esteja lendo este texto, espero que ele possa ajudá-la a saber que você tem escolhas.

Quero encorajar todas as mulheres, especialmente as que tenham histórico familiar de câncer de mama ou ovariano, a buscar informações e procurar especialistas médicos que possam ajudá-las quanto a esse aspecto de suas vidas e a fazer escolhas pessoais informadas.

Gostaria de apontar para o fato de que existem muitos médicos holísticos maravilhosos trabalhando em alternativas a uma cirurgia. Meu tratamento será postado no site do Pink Lotus Breast Center. Espero que isso seja útil para outras mulheres.

O câncer de mama mata 458 mil pessoas por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), principalmente em países de baixa e média renda.

Garantir que mais mulheres tenham acesso a testes genéticos e tratamentos preventivos que podem salvar vidas deve ser uma prioridade, não importa quais sejam as origens e os meios das pacientes. O custo dos testes de BRCA 1 e BRCA 2, que é de mais de US$ 3.000 nos EUA, continua a ser um obstáculo para muitas mulheres.

Optei por não manter o sigilo sobre minha história porque existem muitas mulheres que não sabem que podem estar vivendo sob a sombra do câncer. Também espero que elas possam passar por testes genéticos e, em caso de risco, que saibam que existem opções fortes para elas.

A vida vem com muitos desafios. Aqueles que podemos encarar e sobre os quais podemos ter controle não devem nos assustar.

Angelina Jolie / 2013
The New York Times

Tradução de PAULO MIGLIACCI