sábado, 2 de fevereiro de 2013

UM DEBATE ESSENCIAL

Ontem fui convidado para participar do Programa Debates do Povo, comandado pelo jornalista Ruy Lima, da Rádio O POVO CBN 95.5.

Atuaram também como debatedores o Presidente da Associação Cearense de Magistrados (ACM), juiz Ricardo Barreto, e a ex-Prefeita de Fortaleza, Maria Luiza Fontenele.

O tema em discussão era a eleição de Renan Calheiros para a Presidência do Senado, mas o que mais me despertou a atenção foi o depoimento comovente da professora Maria Luiza sobre um sobrinho seu que foi arrastado pelo redemoinho das drogas.

Esse assunto é, hoje, um dos que mais devem despertar a vigilância de todos. Por isso posto abaixo o testemunho de um pai que vivenciou esse desafio. Artigo publicado no Jornal O POVO de hoje.

A PERDA DE UM FILHO PARA AS DROGAS

Meu filho foi assassinado em decorrência do crack. Daí, postei numa rede social a foto minha e dele e ela foi compartilhada por mais de 230 mil internautas e visualizada por mais de 100 milhões de pessoas. Aquilo tudo despertou o País para um mal que está instalado e em evolução, matando jovens em larga escala, o crack.

Tive oportunidade de estampar minha dor em nível nacional e também tirar uma grande conclusão: nós, os pais, não estamos sendo preparados por políticas públicas para enfrentarmos as drogas quando ela ainda não invadiu nossos lares.

Agora, com a decisão do governador Cid Gomes colocando Socorro França à frente do combate as drogas, acendeu-se uma luz na outra ponta do túnel.

Observem, eu e minha ex-mulher tivemos o primeiro filho, o Tiago, com 20 anos de idade cada um. Adolescentes ainda. E quando ele apareceu com drogas revelou-se todo um despreparo espiritual e psicológico. Esse conhecimento era fundamental para o enfrentamento daquela nova situação. Só depois de toda uma experiência de vida, eu, hoje com 50 anos de idade e depois da pancada do assassinato do filho envolvido com o crack, e da campanha nacional Acorda Juventude ter sido deflagrada, posso declarar que Tiago, ao provar droga pela primeira vez, diante de pais despreparados, estava assinando a própria sentença de morte!

No nosso caso, fizemos tudo que não poderíamos fazer para a criação de um filho quando ele entra no mundo nas drogas, aos 14 anos de idade. Aliás, uma idade tardia nos padrões dos novos tempos! Ele foi posto para fora de casa, várias vezes, quando aprontava, mas deveria ter sido amado. Foi dito “sim” quando o certo teria sido o “não” com sabedoria.

Os pais dele não se entendiam dentro de casa. Casaram-se meninos e a droga por si só acrescenta desarmonia ao lar. Quando o correto teria sido lutarmos juntos para salvar a vida do filho. Faltou habilidade, fé e chamamento a nosso Senhor Jesus Cristo, como prega o governador.

Somos um povo atento, vigilante e agora conectado. O crack era a gota d’água que faltava para revelar o sentimento de abandono que sente a sociedade nesse aspecto, coligado à Segurança Pública.

O Acorda Juventude é apenas um sinalizador de que o povo não suporta mais incompetência dos governantes no trato desta droga maldita no País. Os parlamentares e os governos federal e estaduais devem despertar.

O Estado e a família, cada um em sua esfera, exercem papeis fundamentais e distintos no combate às drogas. O Estado não tem poder para estar dentro dos lares, vigiando, mas pode usar os meios de comunicação em massa para orientar tanto preventivamente como nos fatos consumados.

O crack é uma epidemia que está matando os jovens de todas as classes sociais. Poderiam os políticos se reunir uníssonos em uma grande força-tarefa e dominar o problema.


Venício Guimarães
Empresário

NATUREZA DAS PENAS

O apenado e a natureza das penas são duas vertentes de um pensamento maior em termos de Justiça. Assunto que se divide em duas ideias: a da Justiça Divina e a da Justiça dos Homens. Contexto dúplice de recuperação para quem comete atos ilícitos. Na lógica do raciocínio humano têm-se formas distintas a respeito dessas penas. Delinquir não é regra. É exceção. Nascemos para a prática do bem.

O oposto é mau uso do livre arbítrio. Temos a obrigação moral de proceder bem. Os laços de família devem proteger o Direito lídimo. A ninguém é dada a liberdade de agir longe dos cânones da legalidade. A criança já nasce com o sentimento implantado da natureza das penas. Se fizer algo errado olha, imediatamente, para o pai ou a mãe e muda a expressão do rosto. Sabe que não procedeu corretamente.

A família corresponde ao Tribunal da consciência. Às vezes sem palavras consegue-se o reconhecimento do menino ou menina que saiu da reta do bom comportamento. Somos juízes ao exercer a paternidade ou maternidade escudada na letra da lei moral. Qual a dificuldade para entender a natureza das penas e entrar na sistemática dos gozos espirituais?

- Viver bem está diretamente ligado à evolução dos Espíritos. A Doutrina Espírita vem prestando inestimável serviço a quem trabalha pela paz social. As paixões terrenas podem e devem ceder lugar aos cometimentos da boa convivência entre irmãos da Criação Divina.

O Espiritismo restaura os ensinamentos do Cristo e corrige toda distorção de conduta. A verdade é que a natureza das penas tem o caráter educativo. É preciso aprender a viver. Viver em paz!


Paulo Eduardo Mendes
Jornalista

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

E a carteira de reservista?

Abro a coluna de hoje com uma deliciosa historinha com Rui Carneiro, que pontificou por muito tempo no Senado, representando a Paraíba. Passada a campanha eleitoral, derrotados e vitoriosos, locupletados de dívidas, buscaram saldar os compromissos. Rui Carneiro, eleito para o Senado pela Paraíba, foi procurado por uma liderança importante do alto sertão paraibano. Chegara a hora de cobrar a promessa de campanha.

- Senador, agora que o senhor tomou posse, venho aqui cobrar o que me prometeu. Como o senhor sabe, nós o ajudamos muito, vestimos sua camisa. Foi uma campanha dura. Está aqui o meu filho José, a quem o senhor prometeu um empreguinho.

O Senador revirou a memória. Lembrava-se, sim, da promessa. Não podia faltar ao compromisso assumido. Mas, que emprego oferecer? Eis o dilema. Indagou:

- José, meu filho, você tem certidão de nascimento?

- Sim

- Identidade e título de eleitor?

- Sim.

José já se imaginava com o emprego ganho, quando mais uma perguntinha foi sacada da matreirice do senador.

- E a carteira de reservista, o documento mais importante para se obter um emprego publico? Me mostre, por favor.

José perdeu o rebolado. Acabrunhado, respondeu:

- Não, essa não tenho. Nunca me alistei...

Ânimo renovado, salvo pelo gongo, Rui Carneiro deu a cartada final:

- Todo cidadão brasileiro que quiser um bom emprego público precisa servir à Pátria. Ser reservista!

Despachou José e seu pai com um caloroso:

- Estou e estarei sempre à disposição! (Historinha enviada por Lázaro Torquato, meu irmão, em plena recuperação da saúde)

Estadania

Processo de tutela dos direitos da cidadania, em que esses passam a ser vistos como concessões e não como prerrogativas. Forma de enquadrar o ânimo social, dificultar sua emancipação política e perpetuar o poder cartorial. Conceito bem expresso por José Murilo de Carvalho em Cidadania no Brasil. País ainda está amarrado na árvore da Estadania.

A tragédia da vez

Mais uma tragédia anunciada. A morte que chega em grandes números sempre anuncia sua chegada. Pelo menos no Brasil, terra do jeitinho, da arrumação, das curvas, dos desvios, da mancomunação de interesses. A tragédia de Santa Maria/RS era mais que anunciada. Um espaço fechado, com capacidade para menos de mil pessoas, abrigando duas mil. Uma única porta de entrada e saída. E estreita. Materiais inflamáveis. Alvará de funcionamento vencido. Uma banda antenada na liturgia da incandescência do espetáculo. O uso de equipamentos que disparam faíscas para o teto. Essa é a receita de um grande incêndio. Muito menos do que isso já provocaria a morte de muitos jovens.

A liturgia da pós-tragédia

Passados os momentos de comoção, as camadas de dor passam a receber a argamassa da hipocrisia. Autoridades autorizam investigação para apurar as responsabilidades. Indiciados são detidos. As famílias recolhem-se em seus abrigos de aflição. A mídia vai jorrando suítes (matérias em sequência). Pouco a pouco, a tragédia se transformará em um tecido esgarçado pelo tempo. Até ser consumida pela mais nova tragédia. A dor de Santa Maria será substituída pelas dores mais lancinantes da atualidade. A irresponsabilidade continuará a ampliar os seus domínios. Apesar de proibições de funcionamento de algumas casas noturnas. Os controles entram em relaxamento. O pedido da presidente Dilma para prefeitos cuidarem mais atentamente da segurança dos ambientes de lazer e espaços públicos vira um borrão amarelado na história das tragédias. E assim, a sexta maior potência mundial afunda os eixos de sua cultura permissiva nas profundidades do retrocesso.

A campanha está nas ruas

No Brasil, o terreno da política é sempre movediço. Há buracos aqui e ali, entrâncias e reentrâncias para entrada e saída dos atores políticos. O remelexo é constante. Idas e vindas, articulações e desarticulações ocorrem ao sabor das circunstâncias. Por isso mesmo, a campanha de 2014 ganha as ruas. A presidente Dilma, em pronunciamento em rede de TV, anuncia redução do custo da energia elétrica para os consumidores e empresas, em claro posicionamento eleitoreiro. A bandeira da luz mais barata é popular. Na esteira da insinuação da presidente, o governador de PE, Eduardo Campos, do PSB, volta às manchetes e primeiras páginas de revista. O líder do PSB, Beto Albuquerque, anuncia: depois do pronunciamento de Dilma, não há mais como esconder a candidatura de Campos.

Já os tucanos...

Enquanto isso, os tucanos fazem sua Convenção partidária, forma de revitalizar o ânimo das bases. José Serra reaparece na cena com seu primeiro discurso após perder a prefeitura de SP para o petista Fernando Haddad. E o que fazem os partidários do governador Geraldo Alckmin? Lançam Serra na esfera da candidatura à presidência em 2014. Contra Aécio. Quer dizer, SP contra Minas. Nada de café com leite. Café de um lado, leite de outro. Aécio, por sua vez, abre o bico e descreve o travamento da gestão federal. Seu discurso é mero diagnóstico. Carece de propostas substantivas.

Cadê o projeto Brasil?

Aliás, essa é a questão que bate na floresta tucana. Onde está o Projeto para o Brasil? O que o país poderia esperar dos tucanos além de bicadas? As oposições estão travadas no âmbito do discurso. Falar por falar, denunciar por denunciar não leva a nada. Fernando Henrique apóia Aécio. Alckmin apoiaria Serra. Claro, até para poder tirá-lo de sua rota, que é a reeleição ao governo de SP em 2014.

Pérolas do Enem

- Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.

- O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.

- A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva.

- O ateísmo é uma religião anônima.

- A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.

- O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.

- Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

- Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.

Divisão de poder

Em política, tudo é possível. Inclusive, a entrega da prefeitura da Capital e do governo do Estado a um mesmo partido. Mas isso é algo bastante difícil. O eleitor tende a repartir o poder. Entrega a capital para ser administrada por um partido e o Estado por outro. Por isso, este consultor acha complicada a operação/intenção de Lula de eleger o ministro Padilha, da Saúde, como governador do Estado. Parece mais viável um candidato de outro partido, que não o PT. Esta agremiação, aliás, divide o eleitorado. Uma parte a ela se engaja, outra toma distância. A rejeição ao PT continua alta em SP. Mas o partido, sem dúvida, tem condições de jogar seu candidato no segundo turno.

Corrosão de material

Diante disso, surge a questão: quer dizer que é mais fácil para o PSDB ganhar o governo de SP? Em tese, sim. Mas há um fator complicador. É aquilo que o marketing político batiza de "corrosão de material". São 20 anos de poder tucano no Estado de SP. Tempo considerado limítrofe para se constatar os primeiros sinais de desgaste da identidade. Explico: Identidade é a coluna vertebral do ator político, seja ele pessoa jurídica, um governo, seja ele pessoa física, o governador Geraldo Alckmin, por exemplo. Identidade é a soma do discurso, ações, propostas, ideários, atitudes, forma de governar, ao lado do plano estético - visual do governo, gestos pessoais, etc. Depois de muito tempo, essa composição vai ganhando tons de cinza ou de amarelo desbotado. O discurso fica velho. O eleitor quer distinguir um novo colorido na paisagem.

O jeito Alckmin de governar

Geraldo Alckmin é, como diz a linguagem dos setores médios, um gentleman. Educado, pessoa de fino trato, cordial, ou, para usar outra imagem, o perfil do sogro ideal. Ao contrário de Mario Covas, um perfil rompante, destemido, que exibia autoridade na fala e nos gestos. Covas era conhecido pela coragem de enfrentar todos os obstáculos. Partiu para cima de um grupo que o apupava na entrada da Escola Caetano de Campos. Alckmin, ao contrário, tem jeito de que é incapaz de matar uma mosca. O estilo é a pessoa, já diziam os clássicos da literatura. Pinço a observação para a política. A identidade do governo de SP leva muito dos traços pessoais de Alckmin. Suave, maneiroso, sem um tronco firme (uma coluna vertebral) que possa identificar a administração. Esse é o busílis, o entrave, que dificultará a reeleição de Alckmin.

Alternativas

O PMDB deverá fechar posição em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil conhecido pelo ativismo e empreendedorismo. Skaf foi reeleito por unanimidade para a maior Federação de Indústrias do país. Mudou a feição da casa, transformando-a em foro de debates diários. Ali se vêem ministros, ex-ministros, grandes economistas e analistas da cena brasileira. Lidera ele grandes causas, como o barateamento do custo da energia, uma campanha da FIESP. Portanto, se for o candidato do PMDB e dispuser de um bom espaço de TV, poderá ser o meio termo entre o continuísmo tucano e o oposicionismo petista, que já ocupa o terreno municipal. Há, ainda, o nome do ex-prefeito Kassab. Trata-se de um grande articulador. Mas terá ele de quebrar grandes resistências a seu nome e redesenhar os costados da imagem. Além disso, sobraria para ele a disputa ao Senado. Também uma chance.

E Suplicy?

Pois é, em 2014, haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado. Eduardo Suplicy, o eterno senador petista, continuará a ter preferência ? Na visão deste consultor, trata-se de um perfil que também atravessa o corredor onde estão os materiais corroídos pelo tempo. Suplicy toparia ser candidato a deputado ? Minha impressão é de que o PT vai desviá-lo da Câmara Alta (Senado) e candidatá-lo à Câmara Baixa (Câmara dos Deputados).

Diálogo nacional

A partir de hoje, às 11 horas, estará no ar - pelo canal comunitário - o programa Diálogo Nacional, onde o vice-presidente da República, Michel Temer, será entrevistado por Ruy Altenfelder. Pela primeira vez, ver-se-á Temer falando sobre aspectos muito pessoais de sua vida, recitando e interpretando poesias de seu livro Anônima Intimidade (Editora Topbooks), a ser lançado, amanhã, a partir de 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista. Trata-se de um raro momento de descontração expressiva. Michel, como se sabe, é conhecido pela maneira discreta como se comporta, não tendo hábitos de extravasar na linguagem.

Maquiavel e Richelieu

Maquiavel dizia: "nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas". E o cardeal de Richelieu lembrava em seu testamento político: "o que é apresentado de súbito em geral espanta de tal maneira que priva a pessoa dos meios de fazer oposição, ao passo que quando a execução de um plano é empreendida lentamente a revelação gradual do mesmo pode criar a impressão de que está sendo apenas projetado e não será necessariamente executado".

Lições do inesquecível Saramago

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia".

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar".

"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".

"O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas".

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara".

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

"O talento ou acaso não escolhem, para manifestar-se, nem dias nem lugares".

"Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória".

"O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio".

Conselho às autoridades municipais

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente da República. Hoje, volta sua atenção às autoridades municipais:

1. Comecem sua gestão pelo controle rigoroso da segurança nos ambientes de lazer e nos espaços públicos usados pela comunidade. A tragédia de Santa Maria não pode se repetir.

2. Não tenham dúvidas em mandar fechar estabelecimentos que apresentem qualquer irregularidade e que ameacem a segurança dos seus ocupantes.

3. O respeito à autoridade municipal começa pelo cumprimento da lei, sob o império da Ordem.

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(Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OBSERVATÓRIO

Semana passada encontrei-me com Esmerino Arruda, o político mais longevo do Ceará. O nonagenário militante de batalhas políticas e lides empresariais, que há quatro anos enfrentou sua última pugna urnística e foi eleito prefeito de Granja, vivenciou momentos memoráveis da vida política e empresarial do País, os quais adora rememorar. Contou-me que, certa feita, viajou com Edson Queiroz para São Paulo. Foram até à cidade de Mogi das Cruzes. Edson Queiroz queria conhecer a experiência de implantação de uma Universidade liderada pelo crateuense Bezerra de Melo. A partir daí nasceu a Universidade de Fortaleza – UNIFOR, saudada pelo então ministro da Educação, Jarbas Passarinho, com a famosa frase: "Na meia luz do crepúsculo de hoje, vi um homem chorar e uma Universidade nascer".

EMPREENDEDOR
Assim como o crateuense Bezerra de Melo, Edson Queiroz foi um empreendedor por excelência. Esta era a sua marca. E como faz falta, na atividade pública, essa característica do sucesso na iniciativa privada. Neste início de quadriênio de mandato eletivo, em que as dificuldades se avolumam, os novos Prefeitos precisam colocar no cabeçalho de suas pranchetas o tema do empreendedorismo. Os melhores gestores serão os que souberem se firmar como grandes empreendedores. Longe de ser um talento inato, privilégio de iluminados ou de uns poucos escolhidos, empreender é uma habilidade que pode ser desenvolvida por qualquer um.

ORDEM
São Tomaz de Aquino ensinava que "a sabedoria é a maior perfeição da razão e sua principal função é perceber a ordem nas coisas". Para ele, a ordem é as coisas no seu lugar. Quando se tem muitos desafios a enfrentar, o caminho é estabelecer uma hierarquia na solução dos problemas. É a capacidade de escolher o que é mais importante e concentrar energias no que interessa. Definir prioridades.

NOVOS PREFEITOS
Alguns dos novos prefeitos têm demonstrado esse senso de ordem. O primeiro ato do Prefeito de Independência, Valterlin Coutinho, foi decretar emergência administrativa e financeira no município, pois assumiu uma máquina com grave quadro de ingovernabilidade: as despesas obrigatórias superam toda a receita prevista. Decretou recadastramento e retorno dos servidores aos órgãos de origem. A mesma coisa fez o Prefeito de Ipaporanga, Toinho Contábil. Este também realizou uma elogiável operação de remoção de entulhos e limpeza das ruas da cidade. Essa é uma ação emblemática, pois é o Poder Público protagonizando algo que toda a população também deveria fazer. O povo japonês cultiva a tradição de fazer o Susu harai (煤払い, pronuncia-se sússu rarái) – literamente: "varrer, botar pra fora a fuligem" - modernamente chamado de “Osouji”, que é a famosa limpeza de final de ano. Mas essa assepsia não consiste apenas em tirar o pó e passar um paninho úmido pela casa, é uma verdadeira limpeza mesmo: começa-se do sótão até o porão. Imagine essa cultura de higienização incorporada ao conjunto das pessoas!

NOVOS PREFEITOS II
Em Poranga, o novo alcaide, Cárlisson Emersson, reuniu a equipe e realizou um planejamento sistemático para os primeiros cem dias de governo. Atitude semelhante teve o Prefeito Godofredo, o Godô, de Novo Oriente. Embora amargando bloqueios vultosos de recursos, por parte do INSS e de dívidas milionárias de precatórios que se vencem agora e caíram em seu colo, Godô mantém a serenidade e a cabeça erguida. Introduziu um sistema inovador de avaliação dos secretários com base no cumprimento de metas. Cada pasta municipal tem objetivos a cumprir em períodos delimitados e a manutenção dos gestores à frente das secretarias está vinculada à execução exitosa dessas metas. É um sinal de profissionalização da gestão.

A SECA E O SHOW
Estamos em plena curva ascendente de uma grave crise causada pelo prolongamento da estiagem. Existem muitas comunidades em que o povo está praticamente sem água ou sendo obrigado a consumir água barrenta. São comoventes e constantes os relatos de alta mortandade de animais. Há agropecuaristas que registram perdas que totalizam cinquenta por cento do rebanho. O governador Cid Gomes tem sido bombardeado pela imprensa porque, em meio a esse quadro desolador, realizou a inauguração de um Hospital sob o conforto de um contrato de R$ 650.000,00 com a cantora Ivete Sangalo. O fato de ser um governante operoso e eficiente, moderno e trabalhador não o torna imune a críticas. O evento foi inoportuno; a despesa, alheia ao princípio de austeridade que todo gestor deve apreciar, considerada um gasto perdulário do dinheiro público. Teria muito mais utilidade se fosse aplicado em ações de combate aos efeitos da seca. O mesmo desafio está posto para os senhores Prefeitos por ocasião do período carnavalesco. Em Crateús, município com gritantes dificuldades neste momento, fala-se que, oficialmente, só de recursos próprios serão desembolsados R$ 100.000,00 para a folia momina. Ninguém nega a relevância do Carnaval, prestigiada festa popular. Pergunta-se: neste momento excepcional de crise, é um gasto oportuno, ou prioritário, ou necessário, ou imprescindível?!

PARA REFLETIR

“No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla”. (Roberto Campos)

(Júnior Bonfim, no Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

LAURO RODRIGUES BONFIM


Nos tempos febris da militância universitária, em que passeávamos empolgadamente pelas avenidas das ideias, impressionou-me o estudo da dialética. No ringue da palavra, emergia a tríade do método dialético: a tese, afirmação; a antítese, negação e a síntese, nova situação, incorporadora dos dínamos do confronto entre aquelas.

Raros são os espaços em que se verifica a habilidade convivencial dessa arte dialógica de sintética combinação dos opostos. Sem embargo, os cômodos familiares são os que mais revelam dificuldade para esse entrelaçamento de divergentes. Estudiosos que mergulham nas manilhas de existências pretéritas afirmam que os familiares são nossos cobradores de vidas passadas. Por isso, explodem tantos embates e conflitos no seio doméstico. As exceções apenas ratificam essa norma cogente.

Cada um dos filhos do casal José Bonfim de Almeida e Rosária Rodrigues de Almeida nasceu com uma diferença de dois anos de um para o outro. Eu fui o primeiro. Em seguida, o Lauro. Lauro Rodrigues Bonfim. Sempre o distingui com o aceno admirativo. Em tempos idos, antes de frequentarmos a atual quadra vivencial, certamente ele fora meu dialético contraponto construtivo.
Nos tenros dias da nossa aurora infantil, fomos cúmplices de traquinagens. Sentíamo-nos protegidos pelo pé de Benjamim, portal da casa do avô materno. Juntos, colhemos oiticicas nos balseiros do rio Serrote, inauguramos com pulos os poços amazonas de casa, brindamos o leite mugido, lutamos nos bancos de areia, levamos o dedo coberto de açúcar à boca e fugimos em disparada da escuridão iminente. Sem razão aparente – até porque as crianças desconhecem o apego à razão - apelidei-o de “gozé”... (tempos depois, porque se revelara um tanto linear como a disciplina militar, ganhou o epíteto de “sargento”).

Lauro Rodrigues Bonfim nasceu no mesmo dia da nossa genitora: 21 de janeiro. Herdou da mãe o amor à família. Preocupa-se com tudo e com todos. É correto e justo, em que pese ser um pouco teimoso. Malgrado ser "cabeça dura", tem o coração mole e a alma leve. É capaz de extremados gestos de benevolência, de pintar anonimamente telas coloridas de generosidade. (Na década de 1980, recém-concursado do Banco do Brasil, doava a quase totalidade dos vencimentos aos pais). Suas dunas de bondade encontraram a praia da bem-aventurança.

Entrelaçou os sonhos e desposou Suely, sua dedicada companheira de todas as horas. Da união nasceu Dara, uma viva e magnética flor que encanta os parentes e outros pares do mesmo ente.

O certo é que hoje, em que, como Raul, virou o dito do cidadão respeitado, e devia estar contente, sabe que longe das cercas embandeiradas que separam quintais, tem uma porção de coisas grandes pra conquistar e não pode ficar aí parado. E nesse momento relembro quando pisávamos a carroçável da adolescência, entre o perfume dos mufumbos e as palhas de carnaúbas, ocasião em que desenhei para ele os versos abaixo:

Falou, Gozé, hoje para nós o tempo é de sol.
Já se passaram os vagões da ingenuidade,
As areias da ilusão, a distância do girassol,
Os nomes loucos de criança, o curral da saudade.

Passaram, passou... agora é simplesmente
Extrair do canteiro a radiosa maçã,
Colocar na mesa o pão permanente
E marchar sorrindo a buscar o amanhã.

(Adormeço no ar o meu encanto invisível,
Outorgo-te o mar grande, o luar feminino.
Meu irmão, eu sou feiticeiro inacessível.
A luta te fez homem, a poesia me faz menino).

Ninguém derrotará nossa alegria de aço.
Temos política nas veias, firmeza nos passos,
Somos livres no olhar, profundos de coração.

Há que sonhar, lutar e viver semeando.
Recebestes a luz, agora tens uma missão:
Desenvolve essa aurora e prossegue amando
.

(Júnior Bonfim, no Jornal Gazeta do Centro Oeste e Revista GENTE DE AÇÃO)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

LUTO OFICIAL EM TODO O PAÍS

DECRETO DE 27 DE JANEIRO DE 2013


Declara luto oficial em sinal de pesar pelas vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 18, caput, inciso I, da Lei nº 5.700, de 1º de setembro de 1971,

DECRETA:

Art. 1º É declarado luto oficial em todo País, pelo período de três dias, contado a partir da data de edição deste Decreto, em sinal de pesar pelas vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 27 de janeiro de 2013; 192º da Independência e 125º da República.

DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardoso

domingo, 27 de janeiro de 2013

PORQUE A POESIA É ESSENCIAL, VAMOS RELER "OS ESTATUTOS DO HOMEM"

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


(Thiago de Mello, Santiago do Chile, abril de 1964)