sábado, 12 de fevereiro de 2011

PARA REFLETIR

"Ninguém é grande nem pequeno neste mundo pela vida que leva, pomposa ou obscura. A categoria em que temos de classificar a importância dos homens deduz-se do valor dos atos que eles praticam, das ideias que difundem e dos sentimentos que comunicam aos seus semelhantes."

Ramalho Ortigão

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

UMA LENDA!


"Certa vez, na Índia, um sábio passeava, com seu discípulo, à margem do rio Ganges, quando viu um escorpião que se afogava. Ele então correu e, com a mão, retirou o animalzinho e o trouxe à terra firme. Naquele instante, o escorpião o picou...

Dizem que é uma dor terrível... Inchou a mão do sábio. Assim que ele o colocou no chão, pacientemente, o escorpião voltou para a água. E ele, com a mão já inchada e aquelas dores violentas, vai e o retira novamente. E o discípulo a observar...

Numa terceira vez que ele traz o escorpião, já com a mão bastante inchada e as dores violentas, ele o põe mais distante em terra.

Aí, o discípulo já não suporta mais aquilo, e diz:

"Mestre, eu não estou entendendo... este animal... é a terceira vez que o senhor vai retirá-lo da água e ele pica sua mão dessa maneira. O senhor deve estar sofrendo dores horríveis...".

E ele, com a fisionomia plácida das almas que conhecem o segredo do bem, daqueles que já realmente conquistaram um território de amor e de renúncia no coração, que têm a visão das verdades celestes, vira-se para o discípulo e diz:

“Meu filho, por enquanto a natureza dele é de picar, mas a minha é de salvar.”


(Autor desconhecido)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Lei-te, Murilo, Lei-te


Sebastião Nery conta que Jânio estava hospedado na casa do deputado Murilo Costa Rego, no Recife, na campanha para presidente da República. Acordou com sede:

- Murilo, tu podes providenciar-me um uísque?

Murilo providenciou. Quando o garçom chega com a garrafa, está entrando na sala uma comissão de prefeitos pernambucanos. Jânio não se perturba:

- Eu disse leite, Murilo. Lei-te. Veio o "lei-te". Que o candidato sorveu com prazer! Para tristeza da cabeça.


Centrais x Dilma


Essa eu quero assistir de camarote: Centrais Sindicais contra governo Dilma. Centrais soltaram documento indicando rompimento com a presidente. Coisa para inglês ver. Se esse rompimento tivesse uma base mínima de solidez, deveriam as Centrais sair de todos os espaços que ocupam na administração Federal, a partir do Ministério do Trabalho, onde a Força Sindical implantou o ministro Carlos Lupi. As Centrais defendem o salário mínimo de R$ 580,00, sinalizando, porém, um acordo no patamar de R$ 560,00. Dizer que Dilma está rompendo com 8 anos de gestão Lula em favor de interesses do setor financeiro é uma grande besteira. Imaginem se Dilma fosse ceder a todas as pressões das Centrais.


Lula puxa a orelha


Se Lula, segundo as Centrais, foi o máximo na defesa dos interesses dos trabalhadores, agora puxa as orelhas dos sindicalistas. Pois nessa matéria do salário mínimo, em sua viagem ao Senegal para participar do Fórum Social Mundial, Lula simplesmente disse que os sindicalistas estão sendo "oportunistas". Nesse caso, o documento das Centrais contra Dilma acaba sendo um bumerangue. Bate, de volta, na casa das Centrais. Que, meio confusas, saem com esta: "Lula perdeu a chance de ficar calado".


PMDB Serrista


Há um grupo de 12 peemedebistas que querem se "vestir" de autênticos. Liderados por Osmar Serraglio, do Paraná, fazem agora um manifesto criticando o "fisiologismo" do PMDB. Esquecendo que nenhum partido viceja, hoje, sem entrar nos espaços da administração. Procurei fundamentos para entender as razões do Grupo. E constatei: são remanescentes do Grupo Serrista. Eleitores que votaram em José Serra para presidente. Perderam a eleição, ficaram sem rumos e espaços no partido. Mas fazem barulho e vão continuar abrindo visibilidade.


Lula com Chávez


Lula passará 5 dias com Chávez na Venezuela. Ainda este mês. Vão fazer exercícios de alongamento nas falas do programa presidencial na TV.


Bahia sem todos os santos


A Bahia já não é cantada como Terra de Todos os Santos. Há muito, se diz que virou Terra de Todos os Pecados. Brincadeiras à parte, a Bahia virou, agora, terra da violência. O dado é estarrecedor: 61 mortos para cada 100 mil habitantes, índice que assusta até o ranking da ONU. Fico imaginando os efeitos dos programas de distribuição de renda no Nordeste, a partir do Bolsa Família : era para termos um ambiente mais amigo, solidário, igualitário. O que vemos é a barbárie dos assassinatos. O que está acontecendo, Jaques Wagner? Cadê você, Jaques Wagner?


Cristina traída


Cristina Kirchner acaba de receber uma boa notícia: Nestor, o marido falecido, tinha uma amante, uma ex-secretária que agora revela o segredo. A moça bota no ar aquele roteiro mais que conhecido: veio do Sul, deixou tudo para ficar perto do amante. Eram apaixonados. Cristina traída será uma Cristina vítima. Que receberá a solidariedade de milhares de argentinas e de famílias conservadoras. Será mais uma injeção para vitaminar a reeleição da presidente no próximo outubro. A conferir!


Romário


Em matéria de política, Romário bate um bolão!!!


Lula e Mubarak


Em 2003, Lula visitou o Egito e festejou a ditadura de Osni Mubarak. Nessa semana, no Fórum Social Mundial, no Senegal, Lula execrou o ditador. Minha velha mãe, do alto dos seus mais que respeitados 94 anos, sempre me lembra: "meu filho, nunca diga - desta água não beberei".


Crueldades


Um turco se encontra com um canibal. "Sois muito cruéis", disse o maometano. "Comeis os cativos que fazeis na guerra". Ao que o canibal replicou: "E o que fazeis dos vossos?" Resposta: "Ah, nós os matamos, mas, depois que estão mortos, não os comemos". Montesquieu, autor desta historinha, arremata: "Não há povo que não tenha sua crueldade particular".


Levantando a poeira


Apreciei bastante o Pai Nosso rezado pelos sambistas do Rio de Janeiro no meio das cinzas e da fumaça do incêndio que devastou as tendas de 3 Escolas de Samba. Prejuízo calculado em R$ 20 milhões. Mas não há dinheiro para pagar o esforço, a criatividade, a união de pessoas e comunidades que, há um ano, dão o melhor de si para abrilhantar o desfile de suas Escolas. O Pai Nosso rezado sob as cinzas abre as esperanças que o carnaval carioca, mesmo sob forte impacto, desfilará soberbo, garboso, exuberante na passarela do Samba.


Quer ver?


Padre Aneiko, deputado estadual pelo PDC, vinha do Paraguai. Na fronteira de Foz do Iguaçu, encontrou-se com duas amigas, que lhe pediram para passar com uns perfumes de contrabando. Arrumou no cinturão, embaixo da batina. Na Alfândega, o fiscal pergunta:

- Alguma mercadoria, padre?

- Não.

- E aí embaixo da batina ?

- O que tem aqui embaixo é dessas duas moças. Quer ver?

O fiscal não quis.


Imbróglio à vista


A mesa da Câmara tomou a decisão de dar posse aos suplentes eleitos pelas coligações e não aos nomes dos partidos, isoladamente. O imbróglio está no ar. Em 2007, o TSE, respondendo a uma consulta sobre fidelidade partidária, fixou que o mandato no sistema proporcional pertence ao partido. De lá para cá, a confusão se estabeleceu. Até o momento, o STF não julgou o mérito dessa questão. Decisões dadas às liminares individuais foram no sentido de dar ao partido o direito à suplência. O poder político, exercido pela Câmara, tem interpretação divergente. Essa pendenga deverá ser decidida em breve. Este consultor já escreveu artigo sobre o tema. Se a coligação existe e elege, é a ela que deve caber a vaga.


Táticas


Conselhinhos para o cotidiano. Em terreno dispersivo, não lute. Em terreno fácil, não pare. Em terreno controverso, não ataque. Em terreno aberto, não tente barrar o caminho do inimigo. Em terreno de estradas cruzadas, una-se aos aliados. Em terreno seco, saqueie. Em terreno difícil, marche sempre. Em terreno cercado, recorra a estratagemas. Em terreno desesperador, lute.


Tiririca


Quando perguntaram a Tiririca qual seria seu primeiro projeto na Casa? Ele gaguejou...

- Na ...Casa, nesta Casa......? Fazer uns esticadinhos para botar mais 2 banheiros no Gabinete.


PT dividido


Não é apenas o PMDB o partido de querelas e divergências. No PT, as brigas entre alas se ampliam. Há um grupo descontente com a presidente Dilma. Integrado por Arlindo Chinaglia, Jilmar Tatto, Henrique Fontana e Odair Cunha, entre outros. Fizeram campanha contra Vaccarezza, reconduzido à liderança do Governo na Câmara, em reconhecimento ao seu bom trabalho.


Pressa de chegar


"Só quem realmente deu a volta ao mundo inteiro tem pressa de chegar em casa". (Chesterton)


ACM Neto segura?


O novo líder do DEM, deputado ACM Neto, é ágil, faz boa articulação, perfil respeitado. Conseguirá, com todo esse aparato, segurar as forças do DEM que pretendem se desvencilhar do partido? Acho difícil. O DEM perde substância a cada ciclo legislativo. Não tem discurso. Como, aliás, todos os outros partidos. Não faz oposição como deveria fazer. Falta a ele visão estratégica. Poderia renascer com a vitamina de uma reforma política. Por isso, acho que Kassab, prefeito de SP, e Colombo, governador de SC, mais cedo ou mais tarde, procurarão outros nichos.


Pena mínima


O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel/PB, ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, dono da cidade:

- Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui.

O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda:

- Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem.


Salário mínimo


Prova de fogo do governo Dilma será na próxima semana, quando será votado projeto de lei, em regime de urgência, sobre salário mínimo de R$ 545,00. Prova de fogo do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza.


Meirelles


Informei em primeira mão que Henrique Meirelles havia sido escolhido para ser a Autoridade Pública Olímpica, o comandante dos programas para a Copa e Olimpíadas. Pois bem: continua convidado. Mas o PC do P chiou. Quer que a área continue sob sua égide. O bom ministro Orlando Silva bem que gostaria de acumular as funções de APO e ministro dos Esportes. A presidente Dilma pediu para Meirelles esperar um pouco mais.


Parábola


O sujeito encontra um tesouro escondido no campo. O que faz? Esconde-o de novo. Cheio de alegria, corre, vende tudo o que tem para comprar aquele campo.


Suplentes de senadores


Agoniza a tese dos suplentes sem voto que assumem o mandato na vaga do titular. Este consultor aposta na tese de que os suplentes sem voto têm os dias contados. Os que estão na planilha, claro, têm direitos adquiridos. Mas há uma forte indicação de que as vagas, no impedimento do titular, serão preenchidas pelos candidatos votados, obedecendo-se à escala do mais votado ao menos votado.


Maluf


O pedinte se aproximou de Maluf quando ele chegava à Câmara dos Deputados e tascou:

- Deputado, me arranje um cinquinho para um lanche.

Maluf, apressado, responde na lata:

- Não, meu amigo, não podemos dar gorjeta. Somos proibidos. A lei não permite. Vão dizer que estou comprando votos.

O pedinte não se conform:

- Mas doutor, ninguém tá vendo. Ninguém. Só nós dois.

Maluf, olhar matreiro, aponta o polegar para o céu:

- Você se engana, meu amigo. Somos nós dois e Ele. Ele, lá em cima, está nos vigiando.

Sorrateiro, deixou o pedinte a olhar para os céus.


A transparência de Netinho


José Police Neto, o presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, é um perfil que respira o cheiro do tempo. Antenado ao clima e às circunstâncias. Acaba de criar a figura do Ouvidor da Câmara. Pessoa que agirá como "os sentidos" do corpo legislativo municipal. Netinho quer implantar uma estrutura comprometida com todos os ideais republicanos: transparência, clareza, agilidade, dinamismo, operacionalidade, integração de áreas e espaços, participação do cidadão no processo legislativo. Netinho expressa modernidade institucional. Na esteira do Brasil das Reformas.


Verlaine


"Violinos com seu choro assombram o outono e eu, corpo morto de torpor, me abandono" ( Les sanglots longs des violons de l"automne blessent mon coeur d'une languer monotone - Paul Verlaine)


Conselho às Centrais Sindicais


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos congressistas. Hoje, volta sua atenção às Centrais Sindicais:

1. Tenham cuidado na formatação de propostas em relação ao salário mínimo e a outras demandas de natureza econômica.

2. Não exijam um salto maior que as pernas do país podem dar.

3. Os avanços e conquistas do sindicalismo nos últimos tempos chegam a assombrar por sua dimensão e expressão. Cuidado: tudo de mais é veneno. O ciclo político que se abre convida a decisões parcimoniosas e equilibradas. Sem exageros e radicalismos.


(Gaudêncio Torquato)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CRATEÚS E QUIXADÁ SEDIAM ENCONTRO SOBRE DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Os municípios de Quixadá e Crateús recebem nesta semana os Seminário Regionais sobre Promoção, Defesa e Controle Social dos Direitos da Criança e do Adolescente, promovidos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e Secretaria da Educação do Estado (Seduc).

O evento é aberto para participação de educadores, técnicos das áreas de assistência social e saúde e representantes de entidades não governamentais com atuação na área.

O seminário em Quixadá ocorrerá na terça-feira (8) e na quarta-feira (9). As atividades do primeiro dia ocorrerão na sede da Câmara Municipal (Travessa Tiradentes, 515) e serão voltadas especificamente para os educadores das redes estadual e de 27 municípios das regiões jaguaribana e sertão central, tratando do Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Peteca).

Já o segundo dia será sediado no Centro Vocacional da Diocese de Quixadá (Sítio Combate) e abordará o sistema de garantia de direitos e a defesa do conjunto de direitos da criança e do adolescente, quando será aberto a, além dos educadores, técnicos e interessados dos segmentos de saúde, assistência social e ONGs.


Em Crateús, o seminário ocorrerá na quinta-feira (10), e na sexta-feira (11), na sede da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 13), da Seduc, que fica no Km 03, da BR 226 (bairro Venâncios).

O evento reunirá representantes de 16 municípios do sertão de Crateús e região dos Inhamuns, organizado com o mesmo formato e programação do seminário de Quixadá (primeiro dia voltado aos educadores e segundo dia aberto aos demais interessados).


“Com estes seminários, estamos formando melhor importantes atores sociais para exigir e fortalecer políticas públicas em favor das crianças e adolescentes de todo o nosso Estado”, afirma Antonio de Oliveira Lima.

Ele afirma que os dois primeiros seminários já realizados (em Sobral e em Itapipoca, no final de janeiro) capacitaram cerca de 440 participantes. O procurador ressalta que outros três seminários ainda serão realizados, além dos de Quixadá e de Crateús: em Juazeiro do Norte (22 e 23/2), Iguatu (24 e 25/2) e em Fortaleza (dias 22 e 23/3).

(Por Luciano Augusto)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

TEMPO DE MUDA - por Fernando Henrique Cardoso


Novo ano, nova presidente, novo Congresso atuando no Brasil de sempre, com seus êxitos, suas lacunas e suas aspirações. Tempo de muda, palavra que no dicionário se refere à troca de animais cansados por outros mais bem dispostos, ou de plantas que dos vasos em viveiro vão florescer em terra firme. A presidente tem um estilo diferente do antecessor, não necessariamente porque tenha o propósito de contrastar, mas porque seu jeito é outro. Mais discreta, com menos loquacidade retórica. Mais afeita aos números, parece ter percebido, mesmo sem proclamar, que recebeu uma herança braba de seu patrono e de si mesma. Nem bem assume e seus porta-vozes econômicos já têm que apelar às mágicas antigas (quanto foi mal falado o doutor Delfim, que nadava de braçada nos arabescos contábeis para esconder o que todos sabiam!) porque a situação fiscal se agravou. Até os mercados, que só descobrem estas coisas quando está tudo por um fio, perceberam. Mesmo os velhos bobos ortodoxos do FMI, no linguajar descontraído do ministro da Fazenda, viram que algo anda mal.


Seja no reconhecimento maldisfarçado da necessidade de um ajuste fiscal, seja no alerta quanto ao cheiro de fumaça na compra a toque de caixa dos jatos franceses, seja nas tiradas sobre os até pouco tempo esquecidos “direitos humanos”, há sinais de mudança. Os pelegos aliados do governo que enfiem a viola no saco, pois os déficits deverão falar mais alto do que as benesses que solidarizaram as centrais sindicais com o governo Lula.


Aos novos sinais, se contrapõem os amores antigos: Belo Monte há de vir à luz com cesariana, esquecendo as preocupações com o meio ambiente e com o cumprimento dos requisitos legais; as alianças com os partidos da “governabilidade” continuarão a custar caro no Congresso e nos ministérios, sem falar no “segundo escalão”, cujas joias mais vistosas, como Furnas (está longe de ser a única), já são objeto de ameaças de rapto e retaliação. Diante de tudo isso, como fica a oposição?


Digamos que ela quer ser “elevada”, sem sujar as mãos (ou a língua) nas nódoas do cotidiano nem confundir crítica ao que está errado com oposição ao país (preocupação que os petistas nunca tiveram quando na oposição). Ainda assim, há muito a fazer para corresponder à fase de “muda”. A começar pela crítica à falta de estratégia para o país: que faremos para lidar com a China (reconhecendo seu papel e o muito de valioso que podemos aprender com ela)? Não basta jogar a culpa da baixa competitividade nas altas taxas de juro. Olhando para o futuro, teremos de escolher em que produtos poderemos competir com China, Índia, asiáticos em geral, Estados Unidos, etc. Provavelmente serão os de alta tecnologia, sem esquecer que os agrícolas e minerais também requerem tal tipo de conhecimento. Preparamo-nos para a era da inovação? Reorientamos nosso sistema escolar nesta direção? Como investir em novas e nas antigas áreas produtivas sem poupança interna? No governo anterior, os interesses do Brasil pareciam submergir nos limites do antigo “Terceiro Mundo”, guiados pela retórica do Sul-Sul, esquecidos de que a China é Norte e nós, mais ou menos. Definimos os Estados Unidos como “o outro lado” e percebemos agora que suas diferenças com a China são menores do que imaginávamos. Que faremos para evitar o isolamento e assegurar o interesse nacional sem guiar-nos por ideologias arcaicas?


Há outros objetivos estratégicos. Por exemplo, no caso da energia: aproveitaremos de fato as vantagens do etanol, criaremos uma indústria alcoolquímica, usaremos a energia eólica mais intensamente? Ou, noutro plano, por que tanta pressa para capitalizar a Petrobras e endividar o Tesouro com o pré-sal em momento de agrura fiscal? As jazidas do pré-sal são importantes, mas deveríamos ter uma estratégia mais clara sobre como e quando aproveitá-las. O regime de partilha é mesmo mais vantajoso? Nada disso está definido com clareza.


O governo anterior sonegava à população o debate sobre seu futuro. O caminho a ser seguido era definido em surdina nos gabinetes governamentais e nas grandes empresas. Depois se servia ao país o prato feito na marcha batida dos projetos-impacto tipo trem-bala, PACs diversos, usinas hidrelétricas de custo indefinido e serventia pouco demonstrada. Como nos governos autoritários do passado. Está na hora de a oposição berrar e pedir a democratização das decisões, submetendo-as ao debate público.


Não basta isso, entretanto, para a oposição atuar de modo efetivo. Há que mexer no desagradável. Não dá para calar diante da Caixa Econômica ter se associado a um banco já falido que agora é salvo sem transparência pelos mecanismos do Proer e assemelhados. E não foi só lá que o dinheiro do contribuinte escapou pelos ralos para subsidiar grandes empresas nacionais e estrangeiras, via BNDES. Não será tempo de esquadrinhar a fundo a compra dos aviões? E o montante da dívida interna, que ultrapassa um trilhão e seiscentos bilhões de reais, não empana o feito da redução da dívida externa? E dá para esquecer dos cartões corporativos usados pelo Alvorada que foram tornados “de interesse da segurança nacional” até o final do governo Lula para esconder o montante dos gastos? Não cobraremos agora a transparência? E o ritmo lento das obras de infraestrutura, prejudicadas pelo preconceito ideológico contra a associação do público com o privado, contra a privatização necessária em casos específicos, passará como se fosse contingência natural? Ou as responsabilidades pelos atrasos nas obras viárias, de aeroportos e de usinas serão cobradas? Por que não começar com as da Copa, libertas de licitação e mesmo assim dormindo em berço esplêndido?


Há, sim, muita coisa para dizer nesta hora de “muda”. Ou a oposição fala e fala forte, sem se perder em questiúnculas internas, ou tudo continuará na toada de tomar a propaganda por realização. Mesmo porque, por mais que haja nuances, o governo é um só Lula-Dilma, governo do PT ao qual se subordinam ávidos aliados.


*Ex-presidente da República