quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

OBSERVATÓRIO


Charlie Hebdo. O nome do Jornal Francês, livre piada interna a partir de uma sutil combinação entre os personagens de Charlie Brown e Charles de Gaulle, simboliza a natureza do periódico: a sátira, a irreverência! O jornal se notabilizou pela postura ousada e pelos arroubos corajosos na suas empreitadas pelas vias do humor vanguardista. Segundo João Batista Natali, “implicava com o catolicismo conservador, com o Partido Comunista, com a hierarquia judaica, com a extrema direita e com o terrorismo islâmico”. Na quarta-feira da semana passada, dia 7 de janeiro de 2015, em Paris, o semanário foi alvo do mais virulento ataque de sua história. Terroristas fundamentalistas invadiram a sede do Charlie Hebdo, no XI distrito de Paris. Em tese, seria uma forma de protesto mais uma vez contra a edição de charge satirizando a religião islâmica. Sucede que o atentado resultou em doze pessoas mortas, entre as quais Charb, Cabu, Honoré, Tignous, e Wolinski (cartunistas do jornal) e mais outras feridas gravemente.Das doze vítimas, onze morreram dentro da sede da editora e um do lado de fora. Duas vítimas eram policiais que faziam a guarda do local (incluindo a que foi vitimada do lado de fora da sede). O violento episódio chocou a opinião pública mundial e conclama a uma profunda reflexão: por que, depois de tantos avanços, a humanidade ainda exibe explosões de intolerância que lembram um retorno à barbárie?

TOLERÂNCIA

A intolerância, na visão de Sergio Paulo Rouanet, é “uma atitude de ódio sistemático e de agressividade irracional com relação a indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas crenças e convicções”. De todas as dificuldades que o ser humano possui para dialogar com o diferente, a que tem mais contundência e, sem embargo, causado maiores estragos à harmonia civilizatória é a denominada “intolerância religiosa”. José Saramago (2001) denominou este ódio recíproco fundado em valores religiosos como “O Fator Deus”: “De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus”.

TOLERÂNCIA II

O certo é que o reprovável fato ocorrido em Paris convoca o mundo inteiro a meditar sobre a necessidade do culto permanente à tolerância. Se sou católico e venero Maria, Mãe de Jesus, não posso obrigar os outros a ter a mesma atitude. Noutro giro, se alguém repudia essa minha crença, não pode também desrespeitá-la. O combate àintolerância e o fortalecimento das relações sociais com esteio no respeito aos contrários – a convivência respeitosa com o pensamento divergente – é um dos desafios mais robustos da atual quadra humana.

A TOLERÂNCIA NA POLÍTICA

O corpo das palavras pode ser coberto pelo manto da dissimulação ou da inverdade. Os gestos, no entanto, dispensam adornos, falam por si mesmos. Analisemos dois gestos. Governo Cid Gomes. O irmão do governador, Ciro, não escondia a postura irascível em relação ao líder policial Capitão Vagner, lançando sobre ele as referências mais pesadas. Governo Camilo. O novo Secretário de Segurança Pública, Delci Teixeira, com o aval de Camilo, em suas primeiras declarações disse que Vagner merecia respeito: primeiro, porque era um Capitão e, segundo, porque era o Deputado mais votado, tinha o apoio da sociedade. Em seguida, o próprio Governador recebe o Capitão Deputado em longa audiência no Palácio. Após um leve desarmamento de espírito e permuta de gentilezas, aquele que se prenunciava como um grande gargalo de gestão foi parcialmente contornado com um simples gesto de tolerância e boa vontade. Ponto para a maturidade exibida pelos dois lados. Uma simples atitude de humildade e abertura pode ser a solução de problemas aparentemente insolúveis. Lição para todos nós, em especial para os políticos.

CRATEUENSES

Por falar em Governo Camilo, há muita gente de Crateús e região que, mesmo sem exercer mandato, possui laços fortes com a nova gestão. Só a título exemplificativo: a crateuense Janaína Farias é assessora especial do Governador. Moacir Soares é amigo-irmão do doutor Carlile Lavor, Secretário de Saúde.

SECRETARIADO

O Prefeito Mauro Soares anunciou uma mudança no Secretariado. Os novos nomes merecem aquilo que a todo principiante é ofertado: um período de carência para o desdobramento do chamado voto de confiança. Alguns sinais emergiram: o ex-Prefeito Carlos Felipe mostrou que possui força tutelar sobre o atual: emplacou quem lhe era caro (como a própria consorte) e vetou desafetos(como José Humberto e Adriano das Flores). Aparentemente Mauro Soares se compôs com Elder Leitão, entregando-lhe uma das pastas estratégicas: a Saúde. Esta, no entanto, é a mais delicada área da gestão, onde a demanda é sempre superior à capacidade de atendimento. Pode ser uma faca de dois gumes. Robusto abacaxi, caieira de problemas, a Saúde constitui a principal empreitada que Elder enfrentará depois que passou a ocupar assento na máquina municipal. Seu espaço e destino na sucessão municipal estão diretamente vinculados ao resultado da cirurgia que necessariamente terá que realizar na Saúde local.

PARA REFLETIR

“O que é a intolerância?” E, respondia: É o apanágio da humanidade. Estamos todos empedernidos de debilidades e erros; perdoemo-nos reciprocamente nossas tolices, é a primeira lei da natureza”. (Voltaire)