quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

POSSE DE UBIRATAN AGUIAR NA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS

Em prestigiadíssimo evento na noite de ontem, 16 de janeiro de 2013, o ex-ministro Ubiratan Aguiar tomou posse na cadeira 29 da Academia Cearense de Letras, o mais antigo sodalício de letras do Brasil.

O mundo político (capitaneado pelo governador em exercício Domingos Filho e pelo prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio) e o mundo empresarial (tendo à frente o Presidente da FIEC, Roberto Macedo) compareceram ao Palácio da Luz para reverenciar os líderes militantes das letras Alencarinas.

São poucos os momentos em que presenciamos o status quo político e o poder econômico se curvarem à nobreza, à dignidade e à elegância da cultura. Ontem ocorreu uma dessas raríssimas exceções.




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

LIÇÕES DE UM ACIDENTE

A imprensa cearense noticiou, na semana pretérita, a ocorrência de um grave acidente envolvendo um ônibus, uma carreta e uma moto nas proximidades da cidade de Crateús.

Além de ter levado a óbito duas pessoas, o desastre ocasionou uma superlotação no hospital, porque dezenas de pessoas tiveram que ser atendidas. Esse acontecimento lamentável sacudiu a cidade, mobilizou a região e comoveu a todos.

Penso que, pelo menos, três lições podem ser extraídas desse evento fatídico: o imperativo de um trânsito civilizado, a força dos meios de comunicação e a eletricidade da ação solidária.

Em se tratando de trânsito, somos, indiscutivelmente e por maioria, uma população magnetizada pela imprudência. Os dados estatísticos assombram qualquer cidadão minimamente ponderado: cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem no mundo anualmente em consequência de acidentes de trânsito. Só no Brasil, todos os anos, são aproximadamente 430 mil acidentes, com 619 mil feridos, 38 mil mortos. (é como se, diariamente, desaparecessem quatro cidades de Ipaporanga, que era o destino final do ônibus acidentado). Não por acaso a ONU (Organização das Nações Unidas) nomeou o decênio atual, iniciado em 2011, como a Década de Ação para a Segurança no Trânsito.

Essa mobilização cidadã, no sentido de sensibilizar motoristas, ciclistas e pedestres, que há de alcançar todo o tecido social, é urgente, prioritária, fundamental. Significa se deixar impregnar por aquela sensação inspirativa que levou Almir Sater a compor a música Tocando em frente: “Ando devagar porque já tive pressa/ Levo esse sorriso porque já chorei demais/ Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe/ Só levo a certeza de que muito pouco eu sei/ Eu nada sei/ Conhecer as manhas e as manhãs,/ O sabor das massas e das maçãs,/ É preciso amor pra poder pulsar,/ É preciso paz pra poder sorrir,/ É preciso a chuva para florir...”

A segunda lição com que esse lamentável episódio nos brindou foi com o potencial comunicativo dos tempos hodiernos. Os meios de comunicação social, sobretudo o rádio e a internet, protagonizaram uma extraordinária mobilização das pessoas de um modo geral e dos profissionais de saúde em especial para o desencadeamento daquela que foi a terceira lição: uma eletrizante ação de solidariedade.

Em que pese, no caso sob exame, a prática solidária tenha se resumido mais ao cuidado com as lesões que ofenderam a integridade corporal dos atingidos pelo acidente, ela é uma manifestação substantiva muito mais profunda.

A solidariedade pode ser resumida no impulso humano de incorporar, como suas, as principais manifestações do outro: a lágrima que escorre dos olhos, a dor que abre ferida na alma, a injustiça que queima o peito, a capacidade de semear esperança.

Emblemáticos homens, mitos e místicos, ou que simplesmente tocaram o arco-íris do horizonte da justiça humana, tiveram a existência temperada pelo vinho da solidariedade.

Che Guevara, o carismático rebelde, o sonhador contumaz que foi duro sem perder a ternura, deixou uma pedagógica carta escrita para seus filhos pequenos em que aconselhava a prática solidária: “Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça praticada contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Essa é a qualidade mais linda de um revolucionário”.

Os cristãos elegeram uma simples junção de dois pedaços de madeira nos sentidos vertical e horizontal - a cruz – como símbolo excelso da união entre o celestial e o terreno. Pois, para Jesus, o Cristo, amar a Deus e ao próximo é o resumo de toda a sua boa nova.

Há alguns anos o escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez destacou magistralmente o aprendizado que emana do verdadeiro espírito de solidariedade: “Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”.

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

OBSERVATÓRIO

Em 1989, a Câmara Municipal de Crateús era composta por vários estreantes. Eram vereadores de primeiro mandato, dentre outros, os engenheiros Joaquim Anízio e Luciano Feijão e os professores Chico Barros e Arquimedes Marques. Este se destacava pelas constantes intervenções em plenário. Em geral sustentando temas polêmicos, o Vereador Arquimedes terminou por se afastar, nos debates, do conjunto dos outros edis. A popularidade que granjeou o tornou alvo dos colegas, que resolveram lhe pregar uma peça. Em pleno processo de elaboração da Lei Orgânica Municipal, numa sessão em que seriam votadas várias matérias – e havia uma que só o Professor era contra - combinaram com o então Presidente Emanuel Cardoso a inversão da sistemática de votação. (Naquele tempo, a mecânica era semelhante à atual: o presidente, projeto em punho, exclamava: - quem for a favor permaneça sentado; quem for contra, levante-se). Pois bem, na hora do julgamento da dita matéria, o Presidente – cumprindo o combinado – falou apressadamente: - Quem for a favor fique de pé, quem for contra fique sentado. Todos ficaram de pé... O vereador Arquimedes, percebendo o ardil, avermelhou-se de raiva, cerrou os punhos e os lançou violentamente sobre a mesa, bradando: - Eu votei a favor, mas sou é contra essa porra!...

ROLO COMPRESSOR

O Poder Legislativo, apesar dos contratempos, sempre ostentou o status de ser o mais democrático dos poderes da República. Por conta de seu caráter plural, composto de representantes dos mais variados segmentos sociais, o Parlamento é a casa do exercício do contraditório, da exposição da divergência, do respeito entre os contrários. Mas nem sempre é assim. Vez por outra, principalmente quando o poder constrói maioria folgada, emerge a tentação do rolo compressor. O grupo majoritário, desrespeitando os pilares da legalidade, passa por cima do Regimento Interno e impõe sua vontade. Foi o que ocorreu na sessão de quinta-feira, 10 de janeiro de 2013. Um projeto de lei desprovido de aprofundado debate, sem concessão de vistas (que é direito do vereador), sem pareceres das comissões (que são obrigatórios), foi aprovado na marra.

A GÊNESE

No início da década passada, a Secretaria de Educação de Crateús lançou o projeto “Avanços Legais”. Conforme o próprio nome aponta, tratava-se de um conjunto de ações visando a normatização da educação municipal a partir da elaboração de leis que representassem também um avanço no ordenamento jurídico municipal. Além de conferir ao Conselho Municipal a condição de cérebro e coração das políticas referentes ao sistema de ensino, o projeto incorporava a ideia de que, como as normas são regras de convivência, a produção de leis deveria ser fruto de uma construção democrática, a partir da formação de consensos. Assim nasceu a Lei 486/02, que versa sobre o Estatuto do Magistério em Crateús. Avançada para aquele momento, hoje reclama atualizações, algo que os integrantes do magistério municipal têm pleiteado.

ALTERAÇÕES

Ancorado nesse pleito legítimo, o executivo Municipal enviou à Câmara Municipal um projeto que promove não o progresso, mas o retrocesso: eleva o número de alunos por sala de aula e diminui gratificação dos professores, extirpa a hora-atividade do professor e cria gangorras no processo seletivo de diretores e coordenadores escolares. Inconformados, os vereadores oposicionistas protestaram. Arnaldo Minelvino, do DEM, pediu vistas do projeto. Foi negado. Para não respaldar uma decisão contrária à legalidade, o vereador Conegundes Soares concitou a bancada oposicionista a se retirar do plenário. O projeto foi aprovado. Porém, ao invés de aplausos, os vereadores presentes receberam vaias...

OPOSIÇÃO

Alguém precisa alertar o Executivo Municipal para que avalie sua postura. Diferentemente do primeiro mandato, em que o Prefeito foi eleito com o apoio de quase dois terços da população, a situação agora é outra. Se dermos ao pleito de outubro de 2012 a tradução de uma consulta plebiscitária, salta aos olhos que a maioria do povo ficou contra a Administração Municipal. Mais de 50% do eleitorado votou na oposição e disse não ao Prefeito candidato à reeleição. Isto significa que o modelo de gestão implantado no primeiro mandato não agradou a população. Se bem pensasse, o Prefeito começaria o segundo mandato fazendo diferente do que fez no primeiro. Mas não! Resolveu o gestor aprofundar o velho modelo: nomeia cargos por solvência política ao invés de priorizar a excelência técnica; mantém com a Câmara uma relação promíscua à cata de cooptar vereadores; etc. Porém, fica cada dia mais claro que eleição, atualmente, não é somatório de liderança, mas de sintonia popular. De quem está no governo o povo quer uma boa e competente gestão, que vai além da simples realização de obras. O povo quer sentir que o governo é operoso, mas também generoso; que é eficiente, mas também transparente; que versa, mas também conversa; que peita, mas também respeita; que age, mas também interage; que agrega e congrega.

PARA REFLETIR

“Quando os cidadãos temem o governo, temos uma ditadura; quando o governo teme os cidadãos, temos liberdade”. (Thomas Jefferson).

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)