quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O CASTELO DO DEPUTADO







O dono chama-se Edmar Batista Moreira. Aos 59 anos, é um ex-capitão da Polícia Militar que, da noite para o dia, se transformou em empresário bem-sucedido e deputado federal. A dona é Júlia Fernandes, de 52 anos, nascida de uma família humilde. O casal é proprietário de um fabuloso castelo no interior de Minas Gerais. São 7.500 metros quadrados de área construída (maior que o Castelo de Neuschwanstein, nos Alpes da Baviera, que inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney), 32 suítes, dezoito salas, oito torres, 275 janelas, uma piscina com cascata, fontes e espelhos d'água. Fica no distrito de Carlos Alves, vilarejo de pouco mais de 1.000 habitantes e 300 casas, no município de São João Nepomuceno, a 70 quilômetros de Juiz de Fora.

O castelo de Edmar e Júlia nasceu de um desejo dela. A mulher do deputado ficou enciumada quando um irmão de Edmar, Elmar, comprou a fazenda mais bonita da região. "Se eles têm a melhor fazenda, então eu quero um castelo", teria dito. O "capitão Edmar", como é conhecido, não poupou esforços e criatividade para superar o irmão. Estima-se que, em doze anos de obras, a construção tenha consumido 10 milhões de reais – mais do que o preço de muitos castelos de verdade no interior da França. Agora, pronto em todo seu esplendor, o palácio serve de casa de campo para o casal passar os fins de semana e receber eventuais convidados. Entre eles lá esteve, em 1993, o então presidente da República, Itamar Franco.

Entra-se no castelo dos Moreira por um enorme portão de ferro. De lá, uma sinuosa estrada de 4 quilômetros percorre o quintal de 8 milhões de metros quadrados e leva até a casa. Ao longo de suas curvas, postes metálicos sustentam luminárias e caixas de som. Das oito torres do castelo, a mais alta é a que abriga no topo a suíte do casal, com 110 metros quadrados. Tem 47 metros de altura, igual a um prédio de treze andares. Cada uma das 32 suítes conta com quatro cômodos: quarto, sala de estar, closet e banheiro. O castelo está equipado, ainda, com uma cozinha industrial capaz de atender 200 pessoas, dois elevadores, sistema de aquecimento central, uma capela e um anexo de lazer, com sauna, salão de jogos e de ginástica. Também possui uma adega subterrânea climatizada, com capacidade para 8 000 garrafas. As quase três centenas de janelas são feitas de madeira sucupira. As escadarias são de granito escuro.

Filho de um carteiro de Juiz de Fora e de uma professora primária, Edmar Moreira foi criado entre oito irmãos. Influenciado pelo pai, ingressou na Polícia Militar e chegou ao posto de capitão. Sua carreira militar foi interrompida por um episódio que escandalizou a sociedade juiz-forana. Em 1968, em uma festa de réveillon no Clube D. Pedro II, ao saber que um rapaz se havia engraçado com sua mulher, Moreira foi buscá-lo em casa. Ele obrigou o moço a entrar de pijama na festa, escoltado por policiais, e humilhou-o na frente de todos. Acusado de "abuso de autoridade", o capitão foi punido e afastado da ativa. Três anos depois, formou-se em direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Com o diploma na mala, mudou-se para São Paulo, onde fundou uma empresa na área de segurança. Começou a enriquecer. Hoje tem três companhias no ramo. Segundo um dossiê elaborado por um desafeto seu e entregue anonimamente no ano passado à Polícia Federal e ao ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, o enriquecimento de Moreira foi turbinado por algumas falcatruas. O relatório garante que o ex-capitão não paga o FGTS de seus empregados e sonega imposto de renda, INSS e ISS. O dossiê revela ainda que suas empresas mantêm um endereço de fachada em Pilar do Sul, interior de São Paulo, para escapar da tributação da prefeitura paulistana. Procurado por VEJA na semana passada, o deputado recusou-se a conversar com a reportagem.

Moreira tem dois mandatos como deputado federal, o primeiro pelo PRN de Fernando Collor e o segundo pelo PPB de Paulo Maluf. Apresentou cinco projetos, um deles propondo aumento de salário aos policiais militares. Além do castelo, é dono de um apartamento tríplex no bairro de Higienópolis, em São Paulo, onde mora, de uma mansão no Guarujá, no litoral paulista, de outra em Coronel Pacheco, terra natal de Júlia, e de vários imóveis em Juiz de Fora. Nenhum dos imóveis, porém, é motivo de tanto orgulho e zelo por parte do deputado quanto seu castelo. O deputado não permite sequer que o fotografem. Os incautos que se aproximam para usar o monumento como pano de fundo de fotos de debutantes e noivas são expulsos das cercanias pelos seguranças e, com freqüência, têm os filmes confiscados. Quer dizer, na arquitetura o ex-PM Moreira se imagina um príncipe. No comportamento, age como coronel do sertão.

(Da VEJA)

DEM PEDE AFASTAMENTO DO DEPUTADO

A Executiva Nacional do DEM pediu ontem que o deputado Edmar Moreira (DEM-MG) deixe o cargo de segundo vice-presidente da Câmara e, consequentemente, a função de corregedor da Casa. Em nota assinada pelo presidente da sigla, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o partido determina ainda o encaminhamento das denúncias contra o deputado à Comissão de Ética do DEM.

"Renunciar? Por quê? Eu ‘tô’ sendo condenado por que tribunal?“, indagou o deputado.

Moreira é acusado de ocultar de sua declaração de bens à justiça eleitoral um castelo de mais de R$ 20 milhões em São João do Nepomuceno (MG). Ele alega que o imóvel está em nome de um de seus filhos.
O corregedor diz não ver motivo para deixar a função, mas considerou “justo” um eventual processo para investigá-lo na Casa, mas disse não desejar que isto aconteça.
Ele disse também não ver problemas em dar explicações à Executiva do partido, como defendeu o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO). O corregedor, no entanto, não apresentou nenhum documento para comprovar suas afirmações.

Outra denúncia contra ele foi feita pela Procuradoria Geral da República e já está no Supremo Tribunal FEderal. A empresa de segurança do deputado é acusada de recolher as contribuições previdenciárias dos funcionários e não repassar à Previdência Social. Moreira afirma já ter feito o pagamento e ter enviado comprovantes à Justiça.
A nota da Executiva do DEM afirma que o partido não concorda com as afirmações de Moreira sobre a impossibilidade dos deputados julgarem os colegas. O partido lembra que teve o primeiro presidente do Conselho de Ética em 2001 e que defende a existência do órgão.

O partido afirma que qualquer decisão do parlamentar no cargo de corregedor estaria comprometida devido as denúncias “O conjunto de fatos expostos recomenda, como solução adequada, sua imediata renúncia à segunda vice-presidência da Câmara”, diz trecho do documento.

O DEM informa que as denúncias serão encaminhadas à Comissão de Ética do partido e que espera, em breve, uma decisão final sobre o caso. Moreira venceu a eleição para a segunda vice-presidência derrotando o candidato oficial do partido, Vic Pires Franco (DEM-PA).

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