quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

DOMINGOS FILHO



Há pouco mais de cem anos nascia no sopé das montanhas do Líbano, próximo dos cedros milenares, o multifacetário artista Gibran Khalil Gibran. Amante daquela ambiência mística e fascinado pela natureza em fúria, adorava correr com os ventos e apreciar as tempestades.

Matriculado no Colégio da Sabedoria, em Beirute, recebeu em certa oportunidade uma admoestação do diretor que, procurando acalmar o vulcão de desejos impacientes que era sua alma, advertiu-lhe que uma escada deve ser galgada degrau por degrau. Gibran respondeu: "Mas as águias não usam escadas!"

Pessoas há que, como Gibran, têm espírito de águia: rompem os limites imaginários, as barreiras pré-conceituais e os obstáculos conceituais. Com a brisa do amor e o tufão do destemor, voam à frente apontando o horizonte de luz e o oceano energizante da vida.

No átrio quase imperscrutável da política, templo ordinariamente ornado com símbolos profanos, vez por outra divisamos asas de águia. O advogado Domingos Gomes de Aguiar Filho, atual Presidente da Assembléia Legislativa do estado do Ceará, é uma delas.

Em seu quarto mandato como representante maior da comuna “barro amarelo”, na origem tupi-guarani, depois São João do Príncipe ou, como se notabilizou nos tempos atuais, Tauá, Domingos Filho chegou ao comando do Parlamento Cearense e consolidou-se como um dos mais prestigiados representantes do povo da atual safra Alencarina.

Quem primeiro me desenhou um perfil do Domingão foi Moacir Soares. Era antevéspera do ano eleitoral municipal de 2004. Então Secretário de Saúde de Tauá na gestão de Patrícia, consorte de Domingos, Moacir ponderou: “Cuidado! Você vai conversar com um político acima da média. Como alguém que vai para uma partida de xadrez, prepare-se porque a qualquer momento ele poderá lhe surpreender com um xeque-mate”.

Com efeito, ao longo do diálogo senti que estava diante de um homem que cavalgava pela caatinga da política montado no alazão do pragmatismo, vestindo o gibão da ciência e tendo à mão o chicote da arte.

Inicialmente, pôs no tabuleiro as premissas em que assentava suas tratativas. Dentre outras, duas peças primordiais: a dama da franqueza e o bispo da lealdade.

Perguntou-me: - o que você acha imprescindível para a gente ganhar uma eleição? Falei que apreciava a “Teoria dos Três G”: Garra, Grana e Gente. Ou seja, disposição para o embate, estrutura de trabalho e apoio das pessoas. Ele replicou: Acrescente mais um, mude para a “Teoria dos Quatro G”: Garra, Grana, Gente e Gogó. Porque, uma boa comunicação também é essencial.
E, de fato, é muito atento a todas as formas de comunicação, inclusive a gestual. Arquiteto de frases impactantes, gosta de pontuar: “Palavras mentem; gestos, não”. (Aliás, um de seus movimentos gestuais é conhecido: levar a mão aos cabelos e enrolá-los como se estivesse fazendo cachos. Esse hábito sempre denuncia sua taxa de ansiedade ou índice de stress.)

Noutro momento da palestra, soltou: “Abstenho-me dessa política de amor e ódio que vocês praticam em Crateús”. Fiz-me de desentendido. Ele explicou: “Chamo política do amor e ódio essa prática crônica e irracional de um dia estar amando e, no outro, odiando. E vice-versa”.

No desenrolar daquela conversa senti a profecia de Moacir se materializando. Ele começou a lançar cordas invisíveis sobre mim e, ao final, estava amordaçado.

É óbvio que essa maestria com que toca a orquestra das articulações políticas tem uma nesga hereditária. Oriundo de uma fonte cristalina de políticos honrados, herdou do pai, Domingos Gomes de Aguiar, o amor à causa pública e o ímpeto de manter límpido o córrego da tradição familiar, iniciada com o seu bisavô, Domingos Gomes de Freitas, e seqüenciada pelo avô, Odilon Aguiar. Com a mãe e mestra, Mônica Moreira Gomes de Aguiar, aprendeu a soletrar o alfabeto da política.

Bacharel em direito pela Universidade Federal do Ceará, iniciou a militância na área do Direito Público. Logo descobriu que estava mais vocacionado a cumprir o mandato popular que o judicial. Eleito deputado estadual pela vez primeira em 1994, sempre ocupou cargos na Mesa Diretora da Assembléia. Foi duas vezes segundo vice-presidente; uma vez terceiro secretário e duas vezes quarto secretário. No seu quarto mandato parlamentar, foi eleito para a presidência do Legislativo Estadual e reeleito por unanimidade dos seus pares.

No iter popularis, se defrontou com momentos decisivos em que viu testada a máxima que sempre proclama de ser “amigo dos amigos”. Em 2002, enquanto muitos debandaram, manteve-se quase solitariamente fiel no compromisso assumido com o colega de Assembléia Wellington Landim, então candidato ao Governo do Estado.

Orador empolgado, não raro entremeia suas falas com canjas musicais. Gosta da boa música, como MPB e o forró autêntico, tipo pé de serra. Certa vez, foi assediado por um músico popular que desejava montar uma banda. Num arroubo pragmático, idealizou a banda “Forró sem limite”. Ainda bem que familiares o demoveram da idéia...

Se, como empresário musical era uma incógnita, como político se revelou empreendedor nato. Comanda hoje o maior volume de realizações da história do Legislativo. Desde 2008, preside o Parlamento Nordestino, que tem como objetivo defender de forma conjunta soluções para os problemas que atingem os estados da região. E, em setembro de 2009, foi eleito presidente do Colegiado dos Presidentes das Assembléias Legislativas do País (biênio 2010/2011). O primeiro nordestino a comandar o Colegiado.

Descortinou 2010 à frente do Governo do Estado, cuja interinidade foi marcada pelo estilo cauteloso, discrição na postura e nobreza nas atitudes. Em todas as rodas de projeção política, quando se discute o cenário de uma vice-governadoria para o PMDB, seu nome é o que mais desponta.

Sobre isso, seu espírito de águia nada fala. Embora saiba, como Gibran, que as águias desconhecem escadas, Domingos Filho prefere subir com talentosa habilidade e solene firmeza cada degrau da escadaria do sucesso!

(Por Júnior Bonfim - na Revista Gente de Ação)

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