terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

OSVALDO BEZERRA


Na noite de 27 de outubro de 2009, a convite do senhor Iran Parente, empresário que por muitos anos comandou a Crateús Algodoeira S/A, participei de uma solenidade do Lions Jangada Fortaleza, onde foram prestadas homenagens a Arimateia Santos e Claudino Sales, ex-integrantes daquele clube. Lá estava Osvaldo Bezerra do Nascimento, cuja silhueta denunciava um combatente em prol da própria saúde. A certa altura, sentou-se ao meu lado e me pediu para fazer a leitura, no microfone, de uma peça de arquitetura literária que havia preparado para aquela ocasião. Externei-lhe que me sentia honrado com a deferência, mas – cristão novo naquele ambiente – julgava que ele, enquanto lavrador do texto e sobejamente conhecido de todos, era indiscutivelmente mais indicado. E assim ocorreu.

Após o evento, ainda sob o impacto emocional daquele momento, mencionei que desejava brindá-lo com uma crônica. O seu globo ocular se iluminou.

No dia seguinte, chegava ele ao meu escritório, trazendo uma Revista da Academia Leonística de Cultura no Ceará, onde ocupava a cadeira 41. Às folhas 46/47 da Revista, um texto de seu lavor contendo admoestações sobre “O Homem – Dignidade – Oportunidade”, onde se lia: “É no respeito pelo homem que se fundamenta todo relacionamento social. Uma vez perdido esse respeito, perde-se a possibilidade de estabelecerem-se relações sociais saudáveis e, conseqüentemente, a oportunidade de usufruirmos a felicidade real que poderíamos gozar neste mundo, com o verdadeiro prazer de uma convivência delicada e elegante sem a qual a humanidade se transformaria em verdadeira alcatéia de lobos”.

Mais adiante, exclamava: “Quão bom seria que o homem usasse o seu cérebro privilegiado, sua inteligência, o seu raciocínio, sua disposição, enfim, as suas potencialidades, para o bem-estar social”.

No caso, identificamos que a caneta utilizada por Osvaldo para a escrita desse texto fora irrigada com a tinta do mesmo sangue que agitava seu batimento cardíaco. Desde meninote, quando mirava sua figura galante, de apreciador dos bons costumes, alimentador de hábitos gregários, sempre imaginei: “aí vai um típico lorde, homem de espírito nobre”.

Este fidalgo cidadão, nascido em Independência no dia 1º de março de 1937, partiu. Deixou-nos na última terça-feira, 26 de janeiro de 2010. Foi ocupar seu merecido assento entre os membros da elevada estirpe.

Sua extensa e memorável dedicação ao múnus público se iniciou e sempre girou sob o esquadro de Crateús, onde iniciou os estudos na Escola Normal, com passagem no Ginásio Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, e na Escola Padre Champagnat, em Fortaleza, onde depois bacharelou-se pela Universidade Federal do Ceará.

Mesmo sob a administração de seu filho Osvaldo Júnior, o tradicional Cartório do 1º Ofício, na Rua Coronel Lúcio, em Crateús, tem o fenótipo do velho Osvaldo. Confunde-se com sua figura. As paredes, enfeitadas com diplomas, prêmios, troféus e certificados os mais diversos, lembram seu intenso apostolado público e sua afortunada militância filantrópica.

Na seara pública, dentre outras empreitadas, foi diretor da Escola de Comércio Padre Juvêncio, de 1962 a 1966; Superintendente regional de Ensino, de 1964 a 1968; Chefe do Escritório Regional da Casa Civil, em Crateús, de 1969 a 1970; Consultor Jurídico do Estado, de 1972 a 1978.

Na atividade sócio-cultural, dirigiu o Clube Caça e Pesca; foi Secretário do Centro Folclórico de Crateús; presidiu, em sete mandatos distintos, o Lions Clube de Crateús, tendo assumido as mais destacadas funções, inclusive a de Governador do Distrito L-15, além de participar de praticamente todas as Convenções Distritais e Nacionais, bem como das internacionais de Dallas, no Texas, Estados Unidos, e de Montreal, no Canadá.

Um dos seus principais contributos a Crateús foi ter idealizado, por uma chispa altruística, um dos mais respeitados espaços educacionais da urbe. Em 1967, sob o influxo inspirativo da insígnia Leonística do SERVIR, solicitou ao pai, Antonio Bezerra do Nascimento, uma quadra no bairro Castelo. Nessa quadra foi erigida, em forma de H, a “Escola Lions Clube”, uma das mais privilegiadas referências de escola pública da cidade.

Osvaldo, em sua germinação latina, significa “poder dos deuses”.

Imaginava escrever-lhe uma estampa louvativa. E, depois, observar a reação das suas esferas oculares. Que pena! Elas se fecharam antes disso.

Por isso, sem pestanejar, saúdo sua alma leonina, plena de potencialidades sublimes, e agradeço sua contribuição terrena. Boa estada no céu!

(Por Júnior Bonfim)

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