quarta-feira, 8 de junho de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Idôneo, o comandante

Em certa cidade fluminense, o chefe local era um monumento de ignorância. A política era feita de batalhas diárias. Um dia, o chefe político recebeu um telegrama de Feliciano Sodré, que presidia o Estado:
- Conforme seu pedido, segue força comandada por oficial idôneo. O coronelão relaxou e gritou para a galera que o ouvia:
- Agora, sim, quero ver a oposição não pagar imposto: a força que eu pedi vem aí. E quem vem com ela é o comandante IDÔNEO.
(Historinha contada por Leonardo Mota, em Sertão Alegre)

A análise Swot

Procuremos adaptar a análise Swot para o caso Palocci. Após essa análise, talvez se possa fa-zer apreciação mais adequada da decisão da presidente em tirar o ministro Palocci da equipe. Não procederemos a uma análise rigorosa, mas tão somente à rápida aplicação das questões: forças (streghts), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats).

Forças

Antonio Palocci foi um ministro bem conceituado nos mais variados conjuntos das forças pro-dutivas. Médico, ex-prefeito, como ministro da economia do primeiro ciclo do governo Lula, saiu-se muito bem, sendo respeitado pela maneira como soube aprofundar os eixos iniciados pelo governo FHC. Domina bem a matéria econômica. E os partidos da base o preferiam a ou-tros, mesmo que não tenha correspondido aos seus pleitos e demandas. Antes de cair, sinali-zava com a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, os partidos seriam contemplados. Conservava o apoio de forças do mercado.

Fraquezas

Atingido pela segunda vez - a primeira foi por conta do caseiro Francenildo - Palocci abriu um flanco nos próprios costados do governo Dilma. Como demorou bastante a se explicar, colabo-rou diretamente para espanar a fumaça pelo ambiente político. Sai do governo deixando no ar muitas interrogações. Não disse que consultorias prestou, quais os clientes e quanto ganhou de cada um, etc.. Ou seja, fez uma defesa genérica. Coisa que poderia ter feito no dia seguinte à denúncia de multiplicação do patrimônio. Para complicar sua situação, veio à tona a informação de que mora em apartamento em nome de um laranja. Ou seja, mais fumaça chegou aos ares. E passou a ser objeto de fogo amigo. Isso contribuiu para a queda.

Oportunidades

O governo Dilma deveria aproveitar a saída de Palocci para reformular o modelo de gestão, de forma a estreitar a articulação com a esfera política, considerada, hoje, muito frágil. A perma-nência de Palocci dificultaria tal possibilidade, na medida em que o ministro passou (e ainda passará) bom tempo no corredor da suspeita e da dúvida. Teria ele a mesma independência, ficando no governo? Não. Seria compelido a atender aos pleitos dos atores políticos. O governo Dilma, ao tirá-lo do Ministério, marca presença da autoridade, atenuando a especulação de que é tutelada todo tempo pelo ex-presidente Lula.

Ameaças

A saída de Palocci pode fechar o tempo na frente das relações com a área política. Mas isso vai depender da nova ministra, a senadora Gleisi Hoffmann. A substituição de Palocci por um qua-dro sem muito traquejo na esfera política terá o condão de fechar ainda mais as comportas congressuais? Será que o governo terá forças para fazer a reformulação que pretende no Có-digo Florestal? Gleisi participou de debates quentes e recentes no plenário do Senado. Pode vir a ser questionada pelas oposições. Por outro lado, cessa o processo de deterioração da imagem governamental. Imagem que, segundo se sabe, passou a se corroer em grandes centros urbanos. Pesquisa que teria sido feita em São Paulo aponta para uma queda de 15 pontos per-centuais na avaliação positiva do governo. A lua de mel com o Palácio do Planalto acaba e se abre um novo ciclo.

PMDB, o mais forte

O caso Palocci joga mais forças nos braços do PMDB. Que tem apresentado uma unidade nunca vista, nem nos tempos do velho Ulysses. Michel Temer, o vice-presidente da República, é o centro da convergência peemedebista.

"Não sou Deus, mas posso ser"

Tertuliano, maníaco religioso, batina cinzenta adornada de cores berrantes, terços e escapulá-rios, e conhecido pelos "repentes". Costumava recitar:

"O ano tem doze mês,
O dinheiro é quem faz guerra,
Adão foi feito de terra,
Não se morre duas vez;
Um reinado com dois reis
Não houve nem há de haver,
O homem não tem poder
De fazer outro feliz :
Como é que este bruto diz :
- Não sou Deus, mas posso ser ?"

PSD já nasce gordo

O PSD, partido que está sendo criado pelo prefeito Gilberto Kassab, já tem, a essa altura, o compromisso de ingresso de 50 deputados Federais. A janela aberta pelo TSE, que deu 30 dias para migração partidária, sem punição aos migrantes, consolida a gordura da sigla. Kassab espera obter as 500 mil assinaturas necessárias para a formalização do partido até o final de agosto.

O papel de Lula

Luiz Inácio está com a corda toda. Quer ir, já, já, para as ruas. Não se conforma de ser mero observador da cena política. Quer participar. Iria a Brasília esta semana, mas foi desaconse-lhado a viajar. Sua ida à capital Federal há dias não fez bem à imagem do governo Dilma. Lula pode querer ajudar, mas deve entender que a presidente precisa ganhar a confiança social. E esse desafio carece de um estilo próprio de governo. Sem tutelas que possam sugerir interfe-rências do ex-presidente na condução do país. Será que Lula concordou com a saída de Palocci?

O papel da mídia

Não adianta querer culpar a mídia pela crise. Aqui e ali aparecem maldosos comentários de que a mídia está fabricando uma crise. Que besteira. A mídia abre espaços para o que vê e apura. Quem vê a imprensa como golpista tem cegueira na cabeça.

Ser fita

"Deus me perdoe, se é pecado,
Mas eu queria ser fita
Só para andar na cintura
Duma cabocla bonita."
(Do Cancioneiro nordestino)

Cenário paulistano

Gabriel Chalita é o primeiro candidato indicado para disputar a prefeitura da maior capital do país, São Paulo. Foi recebido pelo PMDB em grande festa, semana passada, na Assembleia Paulista. Ele e Paulo Skaf, presidente da FIESP, são os nomes que abrem o processo de reno-vação do partido no maior colegiado eleitoral do país. Pesquei a informação de que o presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso está sendo convidado pelo presidente do PTB, deputado Campos Machado, a ser o candidato do partido para a prefeitura. D'Urso tem discurso denso e poderá dar uma boa contribuição ao debate político, a partir das bandeiras da Justiça e da Cidadania, que cobrem o seu dia a dia. Fala-se, ainda, em Bruno Covas, o neto do governador Mário. Que poderia sair pelo PSDB. Todos vestindo o manto da renovação. Coisa para a democracia brasileira.

Governo é solidário

Atenção, tomadores e prestadores de serviço. O TST ratifica, em súmula, uma posição que serve para moralizar a área de prestação de serviços. Se houver inadimplência do prestador de serviços - por quaisquer motivos - o tomador governamental deverá arcar também com o ô-nus. Ou seja, acabará no colo do órgão público eventuais compromissos com os contingentes terceirizados. Essa situação é típica de serviços contratados a preços inexequíveis, baixos, co-brados por prestadores inidôneos. O alerta está dado.

Certidão negativa

Mais um alerta na área dos serviços. O Senado aprovou projeto de lei que exige das empresas que participarem de licitações públicas a apresentação de uma certidão negativa de débitos trabalhistas. O documento seria emitido on-line pela Justiça do Trabalho para comprovar a ausência de dívidas com os empregados - desde que estejam apuradas em decisões judiciais transitadas em julgado. E condiciona o recebimento de benefícios fiscais à apresentação da certidão, que teria validade de 180 dias. Projeto agora irá a plenário. Aprovado, será encami-nhado à sanção presidencial.

JK?

Anos de chumbo grosso. Tempos magros, época de fechadura braba. Falar em Juscelino era, no mínimo, pecado mortal. Mudança das placas dos carros, as chamadas alfanuméricas. A Câmara Municipal de Diamantina oficia ao Contran solicitando as letras JK para as placas dos carros do município, "como uma forma de homenagear o grande estadista John Kennedy". O Contran não atende. Um conterrâneo de Juscelino desabafa:
- Esse pessoal do Conselho deve ser republicano, eleitor do Nixon.
(Historinha de Zé Abelha)

Basta o essencial

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, chupo displicente, mas percebendo que faltam poucas. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, co-biçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade... Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial."
(Anônimo na multidão)

Conselho à presidente Dilma

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministério da Justiça. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff:
1. Presidente, aproveite a saída do ministro Palocci para fazer uma reformulação profunda na área de articulação com a esfera política.
2. Faça um exame dos pontos positivos e negativos do caso Palocci, uma leitura das ameaças e oportunidades que advirão. E oriente a nova ministra Gleisi Hoffmann para abrir um novo ciclo, que deve ser inspirado em princípios de franqueza, transparência, lealdade e compromissos.
3. Converse com o ex-presidente Lula sobre as inconveniências de presença (dele) no palco da administração. Abra ampla e urgente interlocução com líderes e partidos da base.

(Gaudêncio Torquato)

Nenhum comentário: