quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

O besourão

Abro a coluna com uma historinha que me foi contada pelo ex-senador Ramez Tebet, saudoso amigo. Por ocasião da criação do Estado do MS, em 1979, a população de Campo Grande ficava assombrada com a caravana dos 17 grandes carrões pretos dos deputados estaduais que paravam diante da Assembleia Legislativa. Os carros ganharam logo o nome de "besourão" e, ao passarem pelas ruas, as pessoas logo faziam o sinal da cruz, na tentativa de afastar o medo daqueles carros que mais pareciam transporte de defunto. Ninguém se atrevia a andar num carro daqueles. Até que um dia, ao comparecer ao velório de um correligionário, numa cidade do interior, dirigindo um desses carros, o então deputado Ramez Tebet teve que atender ao pedido da família do defunto. Queriam por que queriam que o defunto fosse levado naquele carro. Nessa hora, não dá para negar. E lá se vai o deputado carregando o caixão de defunto em seu "besourão". A história se espalhou por todo o Estado. Assim a fama negativa do carrão preto foi dissipada. O "besourão" passou a ser visto com outros olhos. A boa fama só veio, por incrível que pareça, depois de ter conduzido um defunto.

Lógica do marketing político

Nas últimas semanas, tenho enfrentado uma bateria de perguntas sobre possibilidades de candidatos. A pergunta-chave começa com o pleito de SP. Vou tentar usar a bolinha de cristal, não antes de checar os instrumentais e as técnicas de comunicação. Vamos começar pela última pesquisa Datafolha, que dá a Russomanno 31% dos votos e a Serra, 27%. O candidato do PRB aguentará o rojão eleitoral, ou melhor dizendo, uma bateria pesada de comunicação dos candidatos tucano e petista, cada qual com 7 minutos 39 segundos, e ele, com um pouco mais de 2 minuto? Pela lógica, não. Pois a massificação dos perfis, ao longo de 45 dias de campanha, tende a gerar canibalização. Expliquemos.

Canibalização

Entende-se por canibalização o esmaecimento de um perfil de baixa visibilidade perante outros, de alta visibilidade. Canibalizar - comer, devorar, superpor, ultrapassar, esmaecer. Ou seja, Russomanno, com pequena exposição, tende a ser superposto por Serra e Haddad. Esse é um princípio consagrado da comunicação. O mais forte massacra o menor. O sistema cognitivo do povão acaba substituindo nomes e perfis visíveis por nomes e perfis muito visíveis. O que não impede a pergunta: mas Russomanno não poderia consolidar sua posição com uma exposição de dois minutos? Pode, sim. Principalmente se fizer um bom programa de TV e rádio. Campanha política, porém, abriga outros componentes: estruturas administrativas, peso das máquinas municipal, estadual e Federal. Essas estruturas comportam milhares de funcionários, muitos ligados aos partidos e políticos. Daí a inferência: Serra contará com as máquinas da prefeitura e do Estado. Haddad, com a máquina Federal. Russomanno não terá esse apoio.

Cenários

Russomanno teria condições de enfrentar essas frentes poderosas? Difícil. Mas ele conta com o apoio de uma banda evangélica, representada pela Igreja Universal, cujo dirigente maior é dono da TV Record. Ou seja, conta com um eixo comunicativo forte, apesar do controle rígido que a Justiça Eleitoral impõe às redes. Pelos vetores acima delineados, é possível apontar este cenário: Serra, mantendo cerca de 30%: Haddad subindo para alcançar 25%. Os dois se posicionariam para o segundo turno. Mas, como em política, não existem regras, tudo é possível. Russomanno, nesse caso, teria condições de fixar seu perfil como o anti-Serra; e disputar com ele o segundo turno, deixando Fernando Haddad para trás.

E Lula? E o PT?

Essa é outra grande dúvida. Lula, com todo seu carisma, não puxará Haddad? Em SP, Lula não tem tido tanto sucesso. É o que diz a história. Os paulistanos sabem dar a cada um o seu peso. E decidem conforme suas conveniências. Vejo certa autonomia na decisão do voto paulistano. A micropolítica - as demandas das regiões e dos bairros - é mais importante que a força dos líderes e a imagem dos partidos. Acrescente-se que as siglas estão combalidas, desgastadas. Lula também não poderá fazer a campanha dos seus sonhos. Por mais recuperado que esteja, precisa ter muitos cuidados. O PT tem históricos 30% em SP. Será, porém, que o eleitorado não está saturado da polarização entre tucanos e petistas? Essa polarização também pega o Serra, que sofre da doença - desgaste de material. Serra é cara de ontem. E os paulistanos gostam de testar novas experiências, novos atores. Foi assim com Pitta. Foi assim com Marta. Foi assim com Kassab.

E os outros?

Quem também tem condições de um bom avanço é Gabriel Chalita. Que disporá de um programa de mais de quatro minutos, ou seja, uma grande exposição. É fluente, simpático, conta com grande apoio dos católicos e poderá sair-se muito bem dos debates. Soninha e Paulinho da Força deverão oscilar em torno dos 5%.

Defesa e ataque

"A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante". (Sun Tzu)

Mensalão

A essa altura, o mensalão fixou moradia no sistema cognitivo da população. Nas margens, associa-se à corrupção, roubalheira. Nos espaços centrais, já se faz ligação com partidos e seus esquemas. Quanto a influenciar o voto, é pouco provável que isso vá ocorrer. Eleitores distinguem as situações. Militantes de partidos apenas reforçam suas posições: petistas fazendo a defesa do partido, oposicionistas procurando marcar a sigla com o carimbo de corrupção. Com sobras para mensalão do PSDB e do DEM.

Inserções publicitárias

As inserções publicitárias de 30 segundos ao longo do dia terão mais influência no eleitorado que os programas eleitorais. Aparecem sem avisar, pegam o eleitor desprevenido, martelam rapidamente a cognição e, mais adiante, reaparecem. Serra e Haddad serão os mais beneficiados. Dentro de duas semanas, deverão alterar posições dos candidatos.

Campanhas de vereadores

Os programas eleitorais de vereadores cairão no vazio. O desfile de nomes, bocas e caras vai servir para animar papos, abrir risadas, gerar pequenos comentários. Um ou outro nome mais esdrúxulo chamará a atenção. Os sinais estéticos - maneira de expressão oral, gestualidade, vestimenta - deverão chamar mais a atenção. Mas até os "Tiriricas" estão saindo da paisagem.

Footing e trottoir

Cuidado, candidatos a prefeito de todo o Brasil, não confundam alhos com bugalhos. Lembre-se da historinha do Pedro Ivo.

Padre Pedro acabava de chegar a Vassouras/RJ. Houve reunião na paróquia. Reclamou: rapazes e moças estavam fazendo o footing em frente à igreja, perturbando os oficiais religiosos. O vereador Pedro Ivo, candidato a prefeito, pediu a palavra:

- É lamentável que em nossa terra não exista um local adequado para as famílias vassourenses fazerem o trottoir diário. Perdeu a eleição. (Da verve de Sebastião Nery)

A arena é o bairro

A campanha mais efetiva do vereador é nas regiões, nos bairros. A proximidade entre o candidato e o eleitorado é determinante do voto. Quanto mais identificado com as comunidades locais, mais bem sucedido será o candidato, principalmente aqueles que têm serviços a mostrar. Os candidatos de primeira viagem investirão muito mais que os perfis já conhecidos.

O discurso político

Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação.

Dilma, mais integrada

A presidente Dilma não está apenas consolidando sua imagem de gestora eficiente, mas de locomotiva de grandes projetos nas frentes de concessão/privatização. Nesse sentido, integra-se com mais firmeza nos escopos da competitividade, livre iniciativa e eficácia produtiva. Bem mais que Lula.

Censura no Maranhão?

O candidato do PT no Maranhão, Washington Oliveira, vice-governador da Roseana Sarney que está concorrendo à prefeitura, teria censurado blogs da capital, tentando cercear a liberdade de expressão de seus opositores. A ordem é censurar quem falar mal de Washington Oliveira. Vamos ver até onde eles vão com isso tudo. A coluna recebe e registra a informação.

Lula versus Edu

Luiz Inácio era grande amigo de Eduardo Campos. Estão atritados. Lula não gostou da atitude de Edu ao abandonar o candidato do PT em Recife, senador Humberto Costa, para lançar Geraldo Julio, do PSB. A política é mesmo mutante.

Aula de política

Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:

Colbert: Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço.

Mazarino: Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah, sim ? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criando outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E sobre os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como faremos?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

Senhoras e senhores candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos líderes sindicais. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos:

1. Procurem defender propostas concretas, factíveis, críveis, demonstrando como realizar sua implementação.

2. Escolham eixos centrais para firmar sua identidade e criar seu diferencial.

3. Cuidem de todas as áreas do marketing político, a saber: pesquisa, discurso, comunicação, articulação e mobilização.

____________

(Gaudêncio Torquato)

Nenhum comentário: