quinta-feira, 16 de agosto de 2012

MULHERES CANTANDO QUADRÃO À BEIRA-MAR


1-Dalinha Catunda

O sol empalidecendo
Ondas subindo e descendo
Nossa paixão acendendo
E o barco a sacolejar.
No balanço do veleiro
Um amor aventureiro
Vivi com meu timoneiro
No quadrão à beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”


2-Rosário Pinto

Lá no Planalto Central
Em Brasília a capital
Numa noite magistral
A lua a desmaiar
Uma paixão, de repente
Na vida se fez presente
Na cidade reluzente
No quadrão à beira-mar
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”



3-Creusa Meira

Queria por um momento
Falar de contentamento
Esquecer o sofrimento
Neste breve versejar
Sorrir para não chorar
Ao lembrar o triste dia
Que perdi minha alegria
No quadrão à beira mar
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”


4-Nezite Alencar

Pelo mar, entre os abrolhos,
Lembro o verde dos seus olhos,
As lágrimas me descem aos molhos,
Pois é grande o meu penar:
Um dia um barco ligeiro
Levou meu amor primeiro
Vestido de marinheiro
No quadrão à beira mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito à beira mar”.



5-Williana Brito

Sentindo a brisa cheirosa
Naquela hora saudosa
Ouvi uma voz bondosa
Dentro de mim declarar:
A vida é dom, é presente,
Amor é o que move a gente,
Cante e viva bem contente
No quadrão à beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”



6-Francy Freire

Meu amor vai na garoa
Remando em sua canoa
Cantando uma rima boa
Pra solidão espantar.
E eu fico aqui tão sozinha,
Levando a mesma vidinha,
Da sala para a cozinha
No quadrão a beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”



7-Bastinha Job

A natureza tão bela
A gente sente e ver nela
A mão de deus que nos vela
No céu, na terra , no ar;
No dia quando amanhece
Na noite quando escurece,
Nossa mão se eleva em prece
No quadrão a beira mar
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!



8-Josenir Lacerda

A onda beijando a praia
No poente o sol desmaia
E o céu perene atalaia
Dia e noite a vigiar.
Assim também é meu sonho
Ora alegre, ora tristonho.
Em versos traduzo e ponho
No quadrão a beira mar.
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!



9 – Anilda Figueiredo

No luar do meu sertão,
Entreguei meu coração,
Ao fogo de uma paixão,
Hoje resta recordar:
Fecho os olhos, sinto o cheiro
Daquele belo vaqueiro,
Que me abraçou no terreiro,
No quadrão à beira-mar.
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!


10-Dalinha Catunda

Este canto feminino
É um canto nordestino
Canto sem desatino
De quem sabe mergulhar.
Não é um canto qualquer
Mas um canto de mulher
Que navega como quer
No quadrão à beira mar.
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!


A MULHER EM TRÊS TEMPOS NO CORDEL

1º - a mulher teve grande importância no ofício de repassar a cultura popular. Foi mestre em difundir suas tradições, contando histórias, lendas, causos, cantando cantigas de ninar, fazendo advinhas, cantando cantigas de roda, repassando as superstições, pois tudo isso é parte da andante cultura oral. O cordel parente próximo do repente não ficou de fora, era lido contado ou cantado, também, por mulheres. E era assim as pessoas tempos atrás, se reuniam em alpendres terreiros e calçadas.

2º - a mulher foi tema dos folhetos nas mais diversas formas: a musa, louvada por seus poetas, escrachada por outros, conforme o olhar de cada bardo sobre a figura feminina.

3º - finalmente, chegou a vez da mulher marcar espaço e ocupar seu lugar ao lado do homem de igual para igual. Não, apostando numa competição, e sim numa parceria. E assim, aconteceu. A mulher hoje escreve cordel, ocupa as academias de literatura popular, onde antes era apenas um clube do bolinha, enfim, a mulher ganhou voz e começa a ser respeitada como poeta cordelista.

Mais uma vez, consegue reunir, aglomerar, não em alpendres, calçadas e terreiros, na debulha do feijão, mas num espaço mais amplo, a internet! Onde navega com garra desbravando novos caminhos e fincando sua bandeira.

Estas mulheres, que juntei para cantar um QUADRÃO A BEIRA MAR, todas engajadas e comprometidas em escrever literatura de cordel e explorar novos espaços, inclusive os das mídias contemporâneas.

.
Dalinha Catunda/ABLC e /AILCA
Rosário Pinto/ABLC
Creusa Meira/Bancária
Nizete Alencar/ACC
Williana Brito/ACC
Francy Freire/professora
Josenir Lacerda/ABLC e /ACC
Anilda Figueirêdo/ACC
Bastinha Job/ ACC
ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel
ACC - Academia dos Cordelistas do Crato
AILCA - Academia Ipuense de Letras Ciências e Artes

*
Texto e ilustração de Dalinha Catunda
Versos de poetas convidadas

2 comentários:

Dalinha Catunda disse...

Olá Júnior,
Primeiro quero agradecer a postagem e dizer da importância desta divulgação.
Temos mulheres poetas, cordelistas, repentistas, cantando tão bem quanto os homens desta área, mas infelizmente, nosso espaço é bem menor e meu intuito é mostrar estas mulheres na internet, para que os olhares se voltem para elas também.
Tenho participado de eventos em Crato, Juazeiro e lá a mulherada tem história neste mundo encantado da cultura popular, porém precisamos de um reconhecimento maior.
Mais uma vez muito obrigada.

Rosário Pinto disse...

Pois é amigas(os) poetas, nossa Dalinha sempre cheia de idéas, nos trouxe o convite para que as mulheres cantasse o quadrão à beira-mar e, o resultado está sendo extremamente positivo.Conseguiu arrebatar uma boa parcela da mulherada que faz e publica seus versos - com aquele olhar próprio de mulher, linguagem especial, temáticas específicas para falar do mundo sob a ótica feminina e não feminista. A função do Cordel de Saia vem se realizando: pesquisa, informação, difusão e congregação dessas poetas que tem muito a dizer. Obrigada pela participação de todos e pelos acessos de nossos leitores. Vamos continuar realizando estas rodas poéticas e, preparem-se para novos convites.
bjs,
rosário pinto