terça-feira, 16 de outubro de 2012

OBSERVATÓRIO

04 de outubro de 2012. Três dias antes das eleições. O Jornal O POVO estampou matéria paga noticiando o resultado de uma pesquisa realizada em Crateús fazia mais de uma semana. Resultado: Carlos Felipe – 52,3%; Ivan - 38%. 05 de outubro de 2012. Sessenta mil panfletos haviam sido confeccionados em uma gráfica da cidade e estavam sendo distribuídos por todo o município. A peça publicitária induzia as pessoas a assimilarem que a pesquisa era do dia 04.10. E que Felipe venceria as eleições com uma maioria de 6.800 votos. No dia anterior, uma decisão judicial havia proibido a divulgação de outra pesquisa, realizada na semana da eleição, apontando a vitória de Ivan por uma pequena vantagem. Resultado: Carlos Felipe foi reeleito com uma diferença de 1.900 votos. Deve isso a três fatores: o embuste das pesquisas, a exclusividade da utilização da última noite de campanha (carreata de sábado) e o uso da máquina. Em todas as épocas, a máquina sempre foi usada a serviço da candidatura oficial. Agora não foi diferente (os contratados que o digam).

PESQUISAS

As eleições deste ano comprovaram que pesquisas – apesar do rigor científico e da eficácia metodológica - também são permeáveis a manipulações e fraudes. Por sua força indutiva sobre a população, as pesquisas têm enorme peso sobre o resultado das urnas. Há um considerável contingente de votantes que só se define na semana da eleição. Em se tratando de disputas acirradas, esse percentual do eleitorado que é adepto do voto útil (ou que “não quer perder o voto”) acaba sendo decisivo. Foi o que se deu em Fortaleza com a candidatura de Heitor Férrer. E em Crateús, com Ivan. Tivessem sido divulgados os números da última pesquisa, certamente estaríamos diante de outra realidade.

CANDIDATOS

Todos os cinco postulantes à Prefeitura de Crateús merecem registro, reconhecimento e encômios. Eduardo Machado representou a ousadia individual de um cidadão simples que, mesmo passando ao largo dos cânones gramaticais, deu o seu recado. Massaroca realizou o sonho pessoal de concorrer à Chefia do Executivo e, apesar dos contratempos, manteve a bandeira içada até o final da batalha. Adriana delimitou o território do idealismo, dos que fazem política bronzeados pelo sol da utopia. Ivan foi a grande revelação do pleito. Em apenas três meses catalisou a insatisfação popular e se viabilizou como alternativa de poder. Carlos Felipe garantiu a continuidade do seu projeto. Foi o vitorioso e ganhou mais quatro anos à frente da municipalidade.

AS LIÇÕES

No mês passado registramos nesta Coluna: “que ninguém seja tomado pelo espasmo da admiração se candidaturas oposicionistas, em grande número, obtiverem êxito nas próximas eleições. Domínios de várias décadas estão sob o signo da ameaça. Dia sete de outubro as urnas revelarão um novo cenário”. De fato a previsão se confirmou. Na região, vários municípios corroboraram esse prognóstico: Quiterianópolis, Independência, Ipaporanga, Ararendá... Essas eleições inauguraram uma nova fase na vida política. Um eleitor diferente – atento e exigente – está se gestando. Este novo eleitor tende a ser intolerante com o caciquismo duradouro. Há um ambiente propício à alternância de poder. Ninguém quer mais um mesmo grupo ou cacique mandando a vida toda. Novo Oriente escapou dessa onda porque o grupo da situação, inspirado na sensibilidade política de Nenen Coelho, resolveu se compor com um segmento da oposição. Agora, o Prefeito eleito Godô deverá dar uma oxigenada na gestão.

AS LIÇÕES II

Em Crateús, a candidatura de Ivan deixou um legado positivo. O candidato do PMDB fez uma campanha inovadora. Não se rendeu ao modelo tradicional. Fez compromissos simples, claros e exequíveis. Registrou-os em Cartório, a fim de que não ficassem como palavras ao vento, conforme faz a maioria dos candidatos. Como oposicionista, foi combativo sem resvalar para a irresponsabilidade. Só aceitou fazer denúncias de irregularidades que podia comprovar documentalmente. Cumpriu todas as obrigações pactuadas com os aliados, até porque só deu passos proporcionais às próprias pernas. Do ponto de vista financeiro, racionalizou custos, fez uma campanha modesta, sem abuso de poder econômico. Não cedeu a pressões grupais. Deixou nítido que estava ali para cumprir uma missão. Sempre alimentou o sonho de servir à sua terra. Estava preparado para dar o seu contributo. Dentre os nomes disponíveis no segmento político que compunha, revelou-se o mais talhado para o embate neste momento. Sai da arena de luta pela porta da frente. Está de parabéns!

AS LIÇÕES III

Carlos Felipe deverá fazer uma análise amiúde da campanha. Há quatro anos, saiu consagrado por mais de 60% dos votos. Agora, obteve menos da metade dos votos válidos. Ou seja, mais de 50% do eleitorado não quis lhe sufragar. Noutras palavras: se a oposição tivesse marchado de maneira unificada, teria ganhado a eleição. Isto significa que Felipe começa seu segundo mandato sem o carimbo da legitimidade majoritária do povo. Portanto, se pretender se reconciliar com a maioria, é indiscutível que há necessidade de fazer alterações. Terá o médico Prefeito a coragem de pegar no bisturi da burocracia prefeitural e realizar a devida cirurgia? Só o tempo dirá.

PARA REFLETIR

“Nada é permanente, exceto a mudança”. (Heráclito)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

Um comentário:

Paulo Nazareno. disse...

JB, por incrível que pareça, somente ontem (2110) vi o tal panfleto. Do sábado para Domingo,quando foram "soltos", fui a Tianguá rever amigos.
O mínimo que se pode chamar aquilo é de molecagem;premeditada a ignonimia,fica a cicatriz eterna do embuste na nunca história de Crateús.