terça-feira, 30 de outubro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

A ofensiva da política econômica

Há duas semanas, o Ministério da Fazenda e o BC estão preparando a estrada para alguns ajustes na política econômica. A intenção, primeiro, é adaptar o discurso a uma realidade que está teimando em não acontecer como a presidente Dilma e seus conselheiros econômicos esperavam. A inflação, dizem os especialistas, anda danada de teimosa, e não vai chegar ao centro da meta em 2013, como o próprio BC já admite. E ainda está rebelde o suficiente para empurrar os preços este ano para algo acima dos 5,5%. Na outra ponta, a atividade econômica, depois de um alento em agosto, voltou a ficar preguiçosa em setembro e não dá sinais de ter despertado inteiramente da letargia em outubro. Assim, um "PIBinho" entre 1,5% e 1,6% em 2012 já está no baú e muitos analistas dizem que não é muito difícil que o crescimento do PIB de 2013 entre 4% e 4,5% ficar apenas como num sonho de verão. Um analista com grande índice de acerto nessas previsões, o economista José Roberto Mendonça de Barros, já está cravando suas apostas num crescimento da economia nacional apenas entre 3% e 3,5% em 2013. Por isso, a economia andou inundada de boatos, inclusive de dança de cadeiras na área econômica.

O que fazer?

Os boatos nascem de uma constatação : o que mais o governo pode fazer para dar um piparote maior na economia, uma vez que medidas como mais incentivo ao consumo, queda substancial dos juros básicos e as desonerações fiscais, mesmo considerando-se o tempo necessário à produção de resultados, não está sendo o bastante. Um novo ataque na base de bondades fiscais começa a esbarrar nas dificuldades orçamentárias. A arrecadação não se recupera ao nível imaginado. E ela vai enfrentar uma safra de prefeitos com os cofres arrombados e ávidos e recursos.

Boatos apenas?

No que tange à dança das cadeiras, já se comenta abertamente a saída de Guido Mantega do comando da Fazenda. Sabe-se que o ministro enfrenta problemas pessoais. O que se especula é quem poderia substituí-lo. O nome de Alexandre Tombini aparece no topo da lista. É natural que o apreço da presidente por ele seja grande uma vez que cumpriu a "meta" de reduzir os juros básicos, apesar da inflação relativamente alta e dos exorbitantes juros dos empréstimos. Uma coisa é certa: a presidente, dado o seu perfil, deve querer alguém obediente às diretrizes emanadas do Planalto. Ou seja, dela.

Câmbio: um problema sem solução no momento

Já comentamos nesta coluna que a taxa de câmbio continua muito pouco competitiva para tornar a indústria nacional menos obsoleta e aumentar o investimento industrial local. Como se sabe, a taxa de câmbio nominal foi controlada pelo governo, na linha do que outros governos, da ditadura à FHC já o fizeram. O problema é que a taxa de câmbio real é incontrolável por definição: depende da taxa de inflação local e externa e da normalidade dos fluxos de capitais. O governo sabe disso, é claro. Tão claro quanto a constatação de que "mexer" na taxa nominal agora implica em mais inflação, estourando ainda mais a meta já estourada.

Uma safra magra de resultados

Para complicar, a safra de balanço das grandes empresas começou sujeita a uma pesada dieta, o que pressupõe menos impostos de parte dessas companhias para os cofres públicos no curto prazo. Bradesco, Itaú e Santander decepcionaram. A salvação, não total, porém, pode vir dos bancos estatais, BB e CEF, que ampliaram sensivelmente suas carteiras de empréstimos. O lucro da Vale mergulhou. E a Petrobras, embora tenha se recuperado do prejuízo-vexame do segundo trimestre do ano, veio com um lucro bem abaixo do esperado pelo mercado. O que coloca outro dilema para o governo: a companhia precisa fazer recursos com urgência para sustentar seus planos de investimentos e poder entrar, como está obrigada por lei, nos leilões do pré-sal do ano que vem.

Desânimo bursátil

Se o cenário externo melhorar um pouco, sobretudo na Ásia, a China em especial, dizem os especialistas, o mercado de ações brasileiro pode sofrer um substancial revés. O Brasil ainda é visto como "porto seguro" frente aos "furacões" no hemisfério norte. Todavia, gestores de recursos já não se impressionam com os planos de crescimento governamentais. Sabem que o jogo é apenas para a plateia, pois os fundamentos do país carecem de fortaleza para crescer. Mesmo que ninguém veja um desastre titânico pela frente.

De "apaguinho" em "apaguinho"...

... o apagão enche o papo. Para boa parte dos especialistas na área e para os observadores atentos da cena de infraestrutura no Brasil, o blecaute que na madrugada de sexta-feira assolou o Nordeste inteiro e mais parte do Pará e do Tocantins não foi uma surpresa. Era apenas uma questão de tempo. Ele havia sido recentemente prenunciado por dois outros "apaguinhos" menores também no Nordeste e duas interrupções no fornecimento de energia em plena capital da República. E mais: somente este ano, foram registrados, até sexta-feira em todo o país 65 blecautes de porte razoável - uma média de um a cada cinco dias. "Não é normal", nas conformadas palavras do ministro interino das Minas e Energia, Márcio Zimmerman.

Alertas já existiam

Alertas foram feitos de que caminhávamos para uma situação dessas, por falta de investimentos, porque a Aneel não cumpre direito suas funções, porque as estatais que têm grande peso no setor ainda estão em parte loteadas... E a situação pode se agravar com o susto que está sendo aplicado nos investidores com as novas regras para o setor. Este é o campo que a presidente domina, que fez sua fama de "gerontona" eficiente. Note-se que em outras áreas de infraestrutura, as agências reguladoras também perderam eficiência. Nestas o aparelhamento estatal é muito parecido e outros "apagões" já estão no ar. Só não aparecem tanto porque não tem a visibilidade que existe numa interrupção de fornecimento de eletricidade. O que Dilma vai fazer para dar um choque de eficiência no seu quintal? No caso, não dá para culpar nem a oposição nem as "perdas internacionais".

O sentido de uma eleição

Bem ponderados o dever e o haver, os vencedores e vencidos, os achados e os partidos, festejadas a vitórias e lamentadas as derrotas individuais e coletivas, o saldo real das urnas de outubro aponta para um eleitor-cidadão insatisfeito, inquieto, exigente e com extraordinário sentido de urgência. Sentimentos fruto das carências de atendimento público, em todas as esferas da administração, dos serviços minimamente básicos a ela devidos e da mobilidade social alcançada nos últimos anos. Um desafio para quem vai botar os pés nas prefeituras em janeiro - que não terão "dias de graça" para pensar muito -, para os que estão já com assento nos palácios estaduais e no federal e para todos os que sonham com dias de glória em 2014. O futuro político e eleitoral no Brasil nunca se viu diante de tão grande interrogação.

O pedaço do latifúndio de Dilma

Misturados os ovos, a omelete da recandidatura de Dilma ficou mais vistosa e mais saborosa. Mas ele terá de ser temperado no dia a dia da economia, cujo horizonte tem nuvens internas e externas já visíveis. A presidente, portanto, terá de recompor imediatamente seu conjunto aliado, aparar arestas, atender novas reivindicações que se formaram, para ter tempo e paz para atacar os problemas que estão pipocando (ver notas). O tempo agora é de operar o governo e as relações com o Legislativo.

Acerto de contas

Têm créditos com a presidente, a serem saldados até fevereiro, quando Dilma deverá encerrar os ajustes que fará paulatinamente em sua equipe: o PMDB e o PSD. O PP, pelo apoio de Maluf (quem diria?) a Haddad em São Paulo, quer mais, mas pode ter menos. PRP não deu o que recebeu com o Ministério da Pesca. E o PSB, com grande crescimento eleitoral, está no limbo, dependendo de como se comportar o seu presidente nacional, Eduardo Campos. Dilma não é de aceitar ambiguidades. A presidente terá também de haver-se com o PT, partido que sempre quer mais.

Sorrindo às escondidas

Não se pode dizer que o Palácio do Planalto tenha ficado infeliz com a vitória do candidato do PSB à prefeitura de Fortaleza, derrotando um petista para o qual Lula fez campanha ao vivo. O resultado fortalece os irmãos Cid e Ciro Gomes, uma espécie de contraponto ao imenso poder do governador de Pernambuco no partido.

Ao cara o que é do cara

Fernando Haddad é a "cara" do Lula. A espetacular aposta do ex-presidente em São Paulo, de tão bem sucedida, mascarou outras visões "caolhas" dele: Manaus, Recife, Belo Horizonte, Campinas, Fortaleza. Modesto, nem foi à festa petista em São Paulo, na qual, sintomaticamente, ganhou justa prioridade sobre Dilma nos agradecimentos do prefeito eleito e mais aplausos que a presidente. Como Zagalo, Lula parece repetir: "Vocês vão ter de me aturar". No PT já não haverá quem conteste as suas vontades. O partido é o homem.

Kassab e o PT

Vai ser intrigante para o eleitor ver o "famigerado" prefeito de São Paulo virar queridinho do Planalto quando a reforma ministerial vier. Oposição e governo são palavras obscuras para os analistas, mas são uma confusão ainda maior para quem vota na condição de cidadão de uma cidade. Haddad falou horrores de Kassab na campanha, mas este último será recebido em breve pela presidente como parte de sua base de apoio. A política nacional não é apenas incompreensível. Chega a ser algo bem mais complicado de escrever. Seria "impublicável".

Não foi dizimada, porém...

A oposição, no cômputo geral, ganhou uma boa sobrevida. Porém, ou se renova, arranja outra "cara", mergulha nos problemas nacionais que estão a tirar o sono dos empresários e, dizem, um pouco também do Palácio do Planalto, e apresenta-se como alternativa de fato de poder, ou terá apenas adiado sua extinção para 2014. A diferença entre o PT, maior força do governismo, e o PSDB, ainda a maior força do oposicionismo, é que enquanto o primeiro faz política com vontade (até com um certo exagero religioso), de maneira geral, os tucanos fazem política com um ar blasée, como quem tem coisas mais sérias e mais atraentes para fazer. FHC acerta ao falar em "renovação", mesmo que o próprio príncipe não saiba como fazê-lo.

Insatisfação confirmada

Como no primeiro turno, com exceções, o eleitor mostrou pouco entusiasmo com partidos e candidatos no domingo. Abstenções, votos brancos e nulos de um modo geral superaram os 25%. Em São Paulo, chegaram a 32%. A maioria dos eleitos ficou com cerca de 37% a 40% dos votos dos eleitores de suas cidades. O que traz para todos os novos prefeitos um desafio: atrair esses eleitores insatisfeitos e desconfiados. Todos começam em débito.

A fila andou em São Paulo

O sucesso do "poste" Haddad em São Paulo aconselha os ministros Marta Suplicy, da Cultura, e Aloizio Mercadante, da Educação, a manterem muito bem afivelados seus cintos na Esplanada dos Ministérios e traçarem para 2014 planos alternativos. Lula, com a autoridade de quem vislumbrou com acuidade rara o que o paulistano desejava, não resistirá a outro "dedaço" na sucessão de Alckmin. O faro do ex-presidente já se dirige para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho.

Além de São Paulo

A experiência vitoriosa em São Paulo, apesar do fracasso em Campinas com Marcio Porchman, deve fazer Lula a levar o PT a tentativas semelhantes em 2014 não só em território paulista. Onde ele colheu alguns de seus grandes fracassos, como em Recife, Belo Horizonte, Fortaleza e mesmo em Salvador, estava associado ao "velho", a figuras já carimbadas como Humberto Costa, Patrus Ananias, Luziane Lins, à dupla Nelson Pelegrini - Jaques Wagner. Um "choque de gerações" deve agitar as entranhas do partido antes das definições de 2014 - ressalvada, na luta presidencial, a prioridade de Dilma. O julgamento do mensalão também vai ajudar nesse processo. O PT vai dar toda solidariedade a seus companheiros condenados, mas não vai jogar seu futuro nisto. As dificuldades que Dirceu e Genoino enfrentaram quando foram votar (e até o aperto passado pelo ministro Ricardo Lewandowski quando foi depositar seu voto) são indicações insofismáveis do potencial de desgaste político do processo.

O que vem por aí

Reforçado pelas eleições, o PT aquece as turbinas para abrir duas frentes de batalha: uma "nova" reforma do Judiciário e controle social da imprensa. Apenas analisa a melhor hora para desencadear as batalhas. O caso do Judiciário deve ficar para depois do fim da aplicação das penas do mensalão. Não se cutuca uma onça tão grande com uma vara tão curta.

Marcos Valério não obedece ao calendário político

O destino do empresário Marcos Valério é trágico. Sua vida estará marcada pelo maior escândalo de corrupção da história brasileira e ficar atrás das grades lhe custará parcela preciosa da vida. Sabedor de seu destino poderá não se conformar com ele, pelo menos com a verdade que está nos autos. Esta nuvem pairará sobre a cabeça de muitos poderosos, por muito tempo. Será que emissários irão conversar com ele como ocorreu antes do julgamento do mensalão?

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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