terça-feira, 13 de novembro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

E ele, em que lugar estava?

Nos últimos dois anos sete bancos foram liquidados ou sofreram intervenção do BC. A razzia começou com o Banco Panamericano, repassado para a Caixa Econômica e o BTG, e seguiu com o Cruzeiro do Sul, o Matone, o Prosper, o Schain, o Morada e, no mês passado, o BVA. O caso Panamericano ainda hoje dá dor de cabeça e seus controladores, especialmente a Caixa, que entrou no negócio, como todos sabem, por uma decisão política de Brasília. E sem ter sido alertada das fraudes que por lá havia, pelo menos é isto que seus dirigentes alegam quando cobrados. Em todos esses bancos foram encontradas fraudes, algumas mais outras menos grossas, que se realizaram ao longo de um bom tempo, não nasceram na antevéspera da intervenção. As revelações que a imprensa vem trazendo a respeito dos negócios do Cruzeiro do Sul são, no mínimo, cabeludas. No mercado também se comenta assustadamente as coisas que se passavam no BVA. Coisas medidas em bilhões de reais, um bom naco com os fundos de pensão das estatais. A pergunta que não quer calar é simples : por onde andava a fiscalização do BC todo esse tempo?

Mais benefícios

Na semana passada o governo fez mais uma modificação na regra dos compulsórios. Pode servir como uma luva num banco muito comentado atualmente, até por suas histórias paralelas no mensalão: o mineiro BMG.

Curiosidade aguçada

Depois dos balanços do trimestre encerrado em setembro dos três maiores bancos privados nacionais - Bradesco, Itaú e Santander - e do maior banco público, o BB, todos com resultados inferiores ao esperado, a grande expectativa do mercado é com os resultados da CEF. A CEF tem sido mais audaciosa que os bancos privados e até que o BB, não só na política de rebaixamento dos spreads, como também na concessão de empréstimos. O BB aumentou seus empréstimos mas teve reduzido seu lucro. A Caixa vai dar uma aula para todos os concorrentes?

O etanol em pane

O endividamento das usinas de açúcar e álcool subiu quase 25%, e está próximo dos R$ 52 bi. E a previsão é de que pode subir ainda uns R$ 5 bilhões nos próximos meses. O setor está querendo um fôlego oficial qualquer para ultrapassar a tempestade e não surgir alguns calotes. O problema mais sério está ligado ao preço da gasolina, usado pelo governo como uma das âncoras da política antiinflacionária, mas que ajuda a deprimir o preço do álcool e o caixa das usinas.

Será que vai subir?

Há dias, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, insuspeito de qualquer tipo de oposicionismo no momento, fez coro com a direção da Petrobrás, dizendo que está mais do que na hora de o governo permitir um aumento no preço da gasolina e do diesel para não garrotear ainda mais o caixa da estatal. Mas não há sinais de fumaça no ar que o reajuste esteja a caminho. Os suspiros da inflação, embora pequenos, incomodam Brasília. O espaço para o aumento dos combustíveis está sendo preparado pela redução das tarifas de energia, entre 16% e 28%, média de 20%, prometido pela presidente Dilma para fevereiro.

Uma novela: as tarifas de luz

Dilma terá mais trabalho do que imaginava para aprovar a MP 579, de prorrogação de contratos de energia elétrica, somado a redução nas contas de luz. As reações das empresas ao valor das indenizações que terão de receber e ao novo valor da tarifa, não foi das melhores. Até a Eletrobrás está chiando. Dilma diz que não admite que a MP seja desfigurada no Congresso, porém há pressões fortes das empresas e de algumas bancadas estaduais. Nos últimos dias, sinal de que o jogo pode ir longe, quem sabe numa batalha judicial, o ministério de Minas e Energia passou a admitir, por exemplo, reabrir o prazo para a estatal mineira Cemig aceitar a prorrogação de todas as suas usinas com contratos vencendo. Se abrir uma exceção para a Cemig receberá outras reivindicações. Já há quem diga que talvez a redução das contas de luz venha a ser bem menor do que o projetado.

Um alerta

A votação da redistribuição dos royalties do petróleo, quando a Câmara não atendeu a pelo menos dois desejos da presidente Dilma - destinar o dinheiro em sua totalidade para a área de educação e só adotar novos critérios para o petróleo novo, não incluindo o que já está licitado e em produção - é um alerta para o governo para as dificuldades que ele pode encontrar na hora de votar a MP 579. A Congresso jogou uma bomba no colo da presidente: se vetar desagrada, se não vetar, desagrada também. E nos dois casos o fim da confusão pode ser o STF. Porém, dependendo do correr da briga no Judiciário, o governo pode ficar impedido da realizar, no tempo prometido, licitação de novas áreas de exploração de petróleo, tanto nas áreas do pré-sal como nas outras. Há sete anos não ocorre nenhum leilão, o que está levando à diminuição das reservas nacionais e até a uma estagnação da produção brasileira. Um adiamento desses leilões já marcados - maio e novembro - mais a confusão na área elétrica, não seriam nada agradáveis com os investidores, já ressabiados com o que muitos chamam de excesso de intervencionismo e outros de excesso de voluntarismo do governo brasileiro.

Dilma e 2014

A prioridade da presidente Dilma, como ficou claro nos últimos dias, é reorganizar suas alianças políticas com vistas à disputa pela reeleição. As mudanças ministeriais em vista - a presidente diz que não é reforma, serão apenas ajustes - terá apenas este sentido. Não virá para melhorar o desempenho da equipe de governo, embora, em algum momento possa trazer tal benefício. E tudo está sendo feito de comum acordo com o presidente Lula, com quem ela teve, na terça-feira à tarde, no Palácio da Alvorada, uma conversa de longas quatro horas. Como o esquema está fechadíssimo, Brasília, que normalmente já é um poço de boatos, está fervilhando. Certo mesmo é que o prefeito Kassab ganha um Ministério - para ele ou para alguém do PSD - e o PMDB terá mais uma cadeira na Esplanada.

Não é a oposição...

...no momento a preocupação de Lula e de Dilma. PSDB, DEM e PPS precisarão primeiro encontrar um rumo antes de incomodarem o Planalto. A fera a ser acompanhada se chama Eduardo Campos. E a tática do governo parece ser dividir seu partido. A cunha são os irmãos cearenses Cid e Ciro Gomes. Ao contrário, por exemplo, do que aconteceu com o PT e o PMDB, que tiveram todas as suas cúpulas reunidas num jantar com a presidente, a conversa de Dilma com o PSB foi dividida em duas: um jantar com Eduardo Campos e um almoço com o governador do Ceará, Cid Gomes. E Dilma parece apostar que o PSD e do B vá domar o PSB.

Semana vazia

Afora os ajustes da presidente Dilma com seus aliados - ontem ela jantou com o grupo do prefeito Gilberto Kassab - a semana política, mais até do que a semana, com o feriado nacional de 15/11, e o feriado em muitos municípios do dia 20 (Dia da Consciência Negra) vai esvaziar Brasília. Afinal, como ensinava o poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Pelo menos não todos os brasileiros. Com isso, o Câmara e Senado, ficarão com pouco mais de 30 dias corridos (contando os sábados e domingos) para aprovar, entre outras coisas urgentes, algumas MPS que vão caducar até janeiro, o Orçamento Geral da União e as novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. Dificilmente, na correria, sairá uma coisa de alta qualidade.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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