terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

O Banco Central, os juros e o exemplo

Como não funcionou totalmente a verborragia oficial para convencer os agentes econômicos, especialmente o mercado, que o BC não tem nenhuma limitação em relação à política monetária e aos juros, começa-se a especular mais fortemente, inclusive nos corredores brasilienses, sobre a possibilidade de a autoridade monetária aprovar na reunião do Copom da próxima semana, ou na do final de abril, um ajuste na Taxa Selic. Seria apenas um aumento pequeno, de apenas 0,25 ponto percentual, apenas para mostrar que o BC continua independente, não sofre "ingerência" nem do Ministério da Fazenda nem do Palácio do Planalto. E mais: que as conveniências eleitorais não batem na porta do imponente edifício meio ocre de grande destaque na paisagem de Brasília, ao lado da Praça dos Três Poderes.

O Banco Central, os juros e o exemplo - II

O BC só voltaria a mexer nos juros básicos da economia para valer mesmo se as expectativas do governo em relação ao comportamento da inflação não se confirmarem. Pelas contas planaltinas, a inflação anualizada ficará alta até meados do ano, sempre acima de 6% podendo até estourar o centro da meta (6,5%) e depois cairia gradualmente até chegar a 5,5%, a mais recente aposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo não desistiu de usar todos os instrumentos possíveis para fazer este ano um PIB bem melhor que o do ano passado, que deve ter ficado em torno de 1%. Inclusive os instrumentos monetários. Por isso, o ajuste de 0,25 ponto se vier é apenas para dar o recado de que o BC está vivo. Todavia, esse rumo pode mudar muito se os preços continuarem rebeldes no segundo semestre. Por uma simples razão: é melhor fazer o mal agora (aumentando os juros) quando a eleição está relativamente longe do que ter que mexer com um dos principais slogans da campanha de Dilma quando a luta eleitoral estiver pegando fogo.

Política econômica e campanha antecipada

Esta coluna ouviu de um dos futuros ouvintes das apresentações do Road Show que Mantega, Gleisi Hoffmann, Luciano Coutinho e outros farão no exterior a seguinte análise: "Nenhum empresário, especialmente na área de infraestrutura, faz apostas grandes, quando faz, em ano eleitoral. O governo, ao antecipar a corrida eleitoral, criou um problema para si mesmo. De um lado, pede dinheiro para quem hesita em dar. De outro, amplia as dúvidas políticas sobre os investimentos. Assim, fica bem difícil...". Obviamente que este não é um ponto de vista isolado. De fato, os maiores comentários dos investidores externos sobre o Brasil é sobre o governo e não os negócios. Questionam a interferência do governo nos setores, as disputas políticas e as reformas que não são feitas. "Na China temos dúvidas grandes sobre estes temas, mas o país cresce acima dos 8%. Por aqui, as dúvidas são grandes, mas o país não cresce", assinala o interlocutor.

Câmbio real

Os economistas costumam se jogar em cálculos de todas as cepas para saber se o câmbio está valorizado ou desvalorizado. Em países onde há liberdade cambial plena, estes cálculos são incertos. Em países como o Brasil e a China estes cálculos são ainda mais incertos. Todavia, se o governo e o BC quiserem uma informação objetiva, basta fazer uma simples pesquisa sobre os custos para a implementação de um projeto no Brasil e compará-los com outras partes do mundo. A resposta deixaria qualquer burocrata do governo preocupado.

Investimentos: caminho de volta

Sabe-se que o mundo está complicado. Há enormes incertezas, sobretudo nos países centrais. Isso, contudo, não tem impedido que capitais mais ariscos estejam tomando o rumo dos EUA. Por lá, percebe-se que lentamente o país está saindo da escuridão e os preços dos ativos são mais convidativos. Além do fato de existirem Estados com incentivos fiscais verdadeiramente estimulantes.

O segredo de polichinelo continua

Já foi dito aqui, mas vale repetir: nenhum governante gosta de antecipar sua sucessão, mesmo se ele for candidato à reeleição e estiver bem na fita de largada. É o caso da presidente Dilma Rousseff. A antecipação só traz desvantagens: divide a atenção do gestor; assanha os adversários que naturalmente aumentam o tom de suas críticas e cobranças e também entram em campanha; e assanha ainda mais os parceiros, que ganham mais uma arma de barganha para garantir a aliança partidária reeleitoral. É exatamente isto que Dilma está experimentando agora, depois que botou espontaneamente seu bloco na rua e, na semana passada, ganhou o aval de ninguém menos do maior eleitor do país, o ex-presidente Lula. O melhor exemplo são os parceiros que já estão com seus candidatos lançados à ministérios, postos de segundo escalão e boas diretorias de estatais e até de agências reguladoras. A presidente pretendia fazer uma reforma restrita, como já foi comentado aqui. Não vai dar mais. E por mais que ela se esforce, a presidente deixará os "mortos e feridos" pelo caminho. Um custo que poderá ser cobrado nas votações no Congresso e no palanque de 2014.

Pergunta e resposta incômoda

Por que Dilma correu todos esses riscos, antecipando ela própria o debate eleitoral? Há várias teorias circulando. Não erra, porém, quem acreditar que um dos alvos tem hoje residência em São Bernardo do Campo.

Lupas sobre a gestão de Haddad

Não são poucos os petistas de coturno alto que estão preocupados com a gestão de Haddad no prédio do Viaduto do Chá. Estes acham que o tutelado de Lula está condicionado a ficar longe dos holofotes do dia a dia como era o caso do Ministério da Educação. Há severas dúvidas se o prefeito paulistano aguenta uma enchente num dia e um incêndio no dia seguinte.

Ele vai nomear também?

Todos os indícios são de que a presidente Dilma "terceirizou" para o ex-presidente Lula as tarefas de manter a base aliada no Congresso unida e obediente e a de formar o grande palanque com o qual ela pretende disputar a reeleição do ano que vem. O objetivo é macro: é aceitável que fiquem de fora apenas o PSDB, o PPS, o DEM e o partido de Marina Silva (se vier a ser criado). Até mesmo o PSB de Eduardo Campos está sendo cercado para, na hora certa, ser cassado e jogado no redil oficial. Tais objetivos exigem amplas (e às vezes inconfessáveis) negociações. Todos estão dispostos a seguir com a presidente desde que sejam regiamente compensados. Com antecipação, nada de contas a pagar em 2015. É aqui e agora. A moeda de troca mais comum chama-se emprego, em ministérios e postos chaves na burocracia Federal. As perguntas são: (1) Lula recebeu carta branca para negociar como bem entender com os aliados? (2) Pode fazer qualquer oferta? (3) Ela vai nomear também ou só indicar? É bom lembrar que parte das indicações de Lula para Dilma no início do governo dela acabou "faxinada".

Eles não estão gostando

Uma parcela dos petistas, com todo o respeito que tem por Lula e Dilma e entendem que o objetivo maior do partido deve ser o poder maior da República, não está gostando muito dos movimentos para criar um palanque para Dilma inflado como nunca houve antes na história deste país. O temor se justifica: os aliados, como compensação pela adesão, deverão cobrar, além de empregos, apoios petistas para seus candidatos a governador, apoio preferencial a alguns candidatos ao Senado e alianças nas eleições para a Câmara dos Deputados sempre que for conveniente para eles. É a escola PMDB em ação : não disputa a presidência, mas garante algum poder nos Estados e bancadas de peso na Câmara e no Senado, seus dois grandes trunfos de barganha com a presidência. O PMDB, que é o modelo dos outros em menor escala, sonha em ter candidatos competitivos aos governos estaduais em pelo menos 20 dos 27 Estados. Muitos com o apoio do PT. Como no RJ, por exemplo, onde o petismo já está nas ruas com a candidatura do senador Lindeberg Faria.

Acomodação difícil

Acomodar tudo isto é uma tarefa complicada até para um político da estirpe de Lula. Uma de suas manobras parece já fracassada: a de fazer Eduardo Campos vice de Dilma e do poeta Michel Temer candidato a governador de SP com o apoio do PT. Nem PT nem PMDB gostaram da conversa e ela está sendo dada como encerrada.

Nem tudo são flores

Aparentemente, o PMDB está apaziguado e em harmonia depois das eleições de Renan Calheiros para a presidência do Senado e de Henrique Eduardo Alves para a da Câmara. Não é bem assim, porém. Está em convulsão nos bastidores partidários novamente, especialmente na bancada da Câmara e em alguns Estados, a insatisfação da "plebe" com o tratamento que recebe do governo Federal, com as relações sempre na base de intriga com o PT, e com os caciques partidários. Este sempre foi um tema recorrente no PMDB nos últimos tempos, mas que Michel Temer e seu grupo conseguiram contornar com habilidade e sem muitos danos, a não ser alguns sustos que os peemedebistas costumam pregar na presidente Dilma. Agora, porém, está diferente. Como já se entrou na reta final das eleições do ano que vem, os peemedebistas querem ser tratados, tanto pelo governo, quanto pelo PT e os manda-chuvas do partido com "mais respeito", como alguns deles andam dizendo abertamente pelos corredores do Congresso.

Ameaças de deserção

Há ameaças sérias de deserção, como a dos mineiros bandeando-se para a candidatura de Aécio Neves se não ganharem um ministério ou algo nas estatais que valha por isso. De um modo geral, o PMDB quer mais ministérios "eleitoralmente" melhores que os quase decorativos (sem importância ou porque eles não mandam de fato) que têm hoje. Esta insatisfação pode explodir na convenção do partido dia 2, sábado, quando Michel Temer, tido por muitos como mais dilmista e governista que peemedebista, pretende disputar a reeleição para mais um mandato à frente da legenda.

Aposta na deserção

Aécio Neves aposta sério na deserção. Não à toa ficou escondido quando a dupla Henrique Alves e Renan Calheiros estava sendo eleita para liderar o poder Legislativo. O risco de Aécio é evidente: pode estar tão sintonizado na "pequena política" que pode esquecer-se de que o eleitor está nas ruas. Aparentemente o mineiro percebeu este risco, mas o seu jogo tem limites: não para de pensar nos parceiros de palanque em 2014. Resta saber se haverá público para escutar o que tem a dizer na eleição presidencial. Além disso, o único aliado interno ao PSDB que tem no curto prazo e que tem voz própria chama-se Fernando Henrique Cardoso, com seus méritos e deméritos.

Teoria da conspiração

1. Com a campanha na rua, os fantasmas começam a rondar até cabeças bem assentadas. Alguns dilmistas, por exemplo, estão vendo nesta movimentação toda do governador Eduardo Campos para fixar sua candidatura como sendo, na verdade, um movimento em favor da candidatura de Lula. O governador já teria dito a mais de uma pessoa que a única coisa que o faria desistir de concorrer à presidência em 2014 seria o ex-presidente querer concorrer.

2. Outra teoria conspiratória diz que, em contrapartida, os dilmistas poderiam lançar o balão de ensaio de uma candidatura Lula do governo de SP, única forma segura de quebrar a hegemonia tucana de 20 anos em SP. Criaria certamente um fato quase consumado e um constrangimento para Lula. São teorias um tanto quando absurdas. Porém, em política, bruxas há.

Quinta coluna

Lula começa sua peregrinação pelo país quarta-feira por Fortaleza, no CE, considerado uma fortaleza inexpugnável dos irmãos Gomes. O governador Cid e o irmão sem mandato Ciro prometem prestigiar o evento do PT que Lula vai abrilhantar. Não está acontecendo de graça a escolha de Fortaleza para inaugurar a nova caravana da cidadania de Lula. No fim de semana, Ciro Gomes, político sem travas na língua, já soltou críticas do presidente do PSB, Eduardo Campos. Brasília conta com os irmãos Gomes para minar o prestígio de Campos por dentro da legenda.

Conspiração ou quinta coluna

Nas últimas semanas o governo já anunciou diversas revisões nos seus planos de concessão (ou privatização) de rodovias, ferrovias e portos. E outras poderão vir. Havia tantos erros assim ? Foram casos de descuido ou ações propositais de quem é contra essas concessões. Sabe-se que há muita resistência na burocracia e nos partidos às "malditas privatizações".

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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