terça-feira, 11 de junho de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

É a economia, a economia, a economia... - 1

Não é nada que não possa ser revertida (a perda de 8% na avaliação da presidente Dilma). Porém, vai exigir da presidente e de sua equipe uma extraordinária e real disposição - para além do simples discurso de boas intenções - para mudar os rumos de condução da política econômica até aqui determinado por ela. Todos os sinais da pesquisa mostram que a avaliação presidencial foi abalada por um fato básico: a inflação persistentemente acima do razoável, já afetando o poder de consumo da população. Outros fatores, tais como os desarranjos com a base aliada e o Congresso, a lambança do bolsa-família e a questão indígena afetaram os índices apenas marginalmente. Estes dão mais a sensação de um governo perplexo e desarranjado, o que pode afetar a aceitação de Dilma mais à frente, não neste instante.

É a economia, a economia, a economia... - 2

O foco agora foi o bolso e o medo adicional do desemprego. A dúvida é saber o quanto o governo está disposto e tem condições políticas de "dar um cavalo de pau" mais forte na economia. O BC, aparentemente com a concordância de Dilma, já entrou mais firme com a arma de que dispõe para combater a alta de preços - a elevação dos juros, que promete prosseguir daqui para frente. Promete-se também dar um peteleco mais forte nos investimentos. A dúvida, no caso, é sobre a capacidade executiva do setor público, um dos gargalos até aqui da gestão Dilma, apesar de sua vendida imagem de "gerentona" durona e eficiente. Um ponto frágil ainda é o dos gastos públicos, mesmo com as juras do ministro da Fazenda Guido Mantega assegurando, a cada minuto, que a gestão fiscal está sob controle. Não é o que pensa o BC, que na ata da última reunião do Copom, ainda que na sua linguagem meio tortuosa, não mostrou entusiasmo com esse lado da política econômica.

É a economia, a economia, a economia... - 3

Também não é o que anotam os investidores externos, como mostrou a decisão da Standard & Poors de colocar viés negativo na nota de risco do Brasil. E não é principalmente o que apontam os fatos. O superávit primário, tido por dez entre dez economistas não oficiais como essencial para ajudar o BC a segurar a inflação, é cada vez mais uma incógnita. O que se conseguiu até abril está bem abaixo do prometido. No mesmo dia em que surgiam as suspeitas do BC e dos agentes externos quanto à disposição real do governo de aderir realmente a um plano de austeridade fiscal, o Palácio do Planalto editou uma M - a 618 - altamente suspeita. Entre outras coisas, ela permite ao Tesouro Nacional emitir R$ 30 bi em títulos da dívida pública para capitalizar o BNDES e a Valec. Não é propriamente um sinal alentador para a economia. Leia mais : (1 - clique aqui) - (2 - clique aqui)

Agências de risco e seus sinais

Como já ficou provado ao longo de duas décadas de riscos e crises sistêmicos, as agências de risco têm papel limitado e, sobretudo, chegam quase sempre atrasadas nas suas avaliações, além de cometerem erros grosseiros. Sua utilidade prática é duvidosa, mas sua influência para "guiar" certos segmentos de investidores é relevante. No caso da sinalização negativa sobre a economia brasileira a agência S&P parece estar no timing certo, pois a deterioração é visível e coloca riscos substantivos no médio prazo. Contudo, o mesmo não se pode dizer da "retirada" do alerta sobre a economia dos EUA. Lá, a evolução tem sido muito favorável, conforme pudemos comentar em várias notas nos últimos meses. Porém, haveremos de convir que a confusão política entre democratas e republicanos na questão do orçamento dos EUA, bem como os sinais dúbios que o Fed vem emitindo em relação à política de expansão monetária são sinais de alerta gigantescos para que se afaste, numa análise de crédito soberano, o risco sistêmico do país. A S&P agiu movida por percepções e não indicadores.

Rudimentar, meu caro Watson

Quando Palocci ainda era ministro da Fazenda do governo Lula, por sugestão do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, ele apresentou ao presidente Lula a sugestão de um programa econômico para zerar o déficit público nominal em alguns anos, dois ou três. Ou seja, o governo passaria a gastar de fato apenas o que arrecada, incluindo pagamento dos juros da dívida. A proposta foi fulminada pela então já poderosa ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com uma simples expressão: classificou-a de rudimentar. Delfim Neto, que não é suspeito de nenhuma má vontade com governo e até atua como conselheiro presidencial, voltou a defender enfaticamente esta posição em entrevista este fim de semana ao jornal "O Estado de S. Paulo". Como reagirá Dilma agora ? Com um "rudimentar" ou um "elementar", meu caro Watson.

Inflação aleija, câmbio mata

O título desta nota relembra a frase do saudoso ministro Mário Henrique Simonsen. Como se sabe (e pregamos há alguns anos nesta coluna), sem a reversão da valorização do real é quase impossível a reintrodução da economia brasileira num cenário verdadeiramente competitivo nos próximos anos. Setores necessários à indústria, sobretudo aqueles que agregam conteúdo tecnológico, necessitam de uma relação mais favorável do ponto de vista cambial entre a produção local e a importação. O governo sabe disso e já incorporou esta variável na política econômica. Contudo, terá de correr riscos. Para um governo (este e o anterior) que correu pouco risco na política econômica a solução do risco cambial não será tarefa fácil do ponto de vista político - do econômico é muito difícil. Pode até ser adiada a solução para o próximo mandato. Pode, inclusive, "custar um mandato inteiro" como foi o caso do segundo mandato de FHC.

Novilíngua

Até entre auxiliares e conselheiros da presidente da República já começa a circular a expressão "moderação salarial", que, bem traduzida, quer dizer simplesmente o seguinte: é preciso diminuir a massa salarial para ajudar no combate à inflação e garantir maior índice de produtividade para as empresas brasileiras. Resta saber se é um processo que se dará naturalmente pelo desenrolar das atuais dificuldades econômicas ou se terá de ser apressado no curto prazo. Neste caso, quem colocará o guiso no pescoço do gato em plena efervescência eleitoral?

É a eleição, a eleição, a eleição...

Todas dificuldades que a presidente Dilma vem enfrentando com os aliados, com reflexos no Congresso Nacional, têm uma única causa : as eleições do ano que vem. E não propriamente a sucessão presidencial. Mas as eleições estaduais e para o legislativo, que são as que garantem de fato força dos partidos para disputarem a divisão do poder em Brasília. Partido fraco, sem bons governos estaduais, sem bancadas de bom tamanho, fica apenas com migalhas do poder. Além de se desmilinguir com o tempo. É este o jogo que está sendo jogado e que põe Dilma na berlinda política. A eleição presidencial neste caso vira um detalhe. Até porque não há uma absoluta correspondência entre o voto presidencial e os outros votos.

Armadilhas no Congresso

Não bastassem as dores de cabeça da economia, suficientes para tirar o sono presidencial por longas noites, Dilma terá pela frente nas próximas semanas uma pesada agenda na Câmara e no Senado. O cardápio dos deputados e senadores até o recesso de julho é indigesto para o Palácio do Planalto:

1. Novas regras para tramitação e votação de MPs, que limitam em parte o poder do governo de editar tal instrumento.

2. Novas regras para votação dos vetos presidenciais, também complicando a vida da presidente. Há casos delicados na pauta como os royalties do petróleo e a lei dos portos.

3. O fim do voto secreto em diversas votações no Congresso, inclusive para cassação de parlamentares. Isto dói no coração governista por causa dos "mensaleiros".

4. A obrigação de o governo liberar as emendas dos parlamentares no Orçamento.

São todas providências que fortalecem o Congresso. E algumas muito caras aos parlamentares como a liberação automática de suas emendas. Para barrá-las Dilma terá de jogar pesado.

Capitanias Hereditárias

Renan Calheiros prepara a candidatura de Renan Calheiros Filho ao governo de AL. Jader Barbalho faz o mesmo com Helder Barbalho no PA. Ambos pelo PMDB e com o desejo de apoio do PT e de Dilma. Não para já, mas Edison Lobão no MA, dono de um subclã do clã Sarney, prepara a candidatura do senador Lobão Filho ao governo estadual. A política brasileira está cada vez mais um direito hereditário.

Carne e couro

Como vai ficar o BNDES depois da compra de negócios de carne e couro da Marfrig pela JBS Friboi? Afinal, o banco estatal é sócio - e que sócio! - das duas empresas.

BNDES intacto

O BNDES e seu presidente estão em quase todos os lugares e participam de quase todos os negócios relevantes da República. O seu desempenho, contudo, não é objeto de maiores considerações, seja no âmbito da fiscalização política e social, seja no âmbito do próprio governo. Sem "papel desenvolvimentista" revelou-se no financiamento de negócios na área de petróleo, frigoríficos, indústria automobilística, etc. Pouco se vê em setores "modernos" da necessitada economia industrial. Quais seriam os vetores a influir nas decisões daquela casa desenvolvimentista? Que tipo de análise revela as estratégias de seu presidente ? Por que há tantos consultores rodeando as decisões tomadas por ali?

Outra questão

O nosso leitor já percebeu como andam acesos os "negócios internacionais" do país quando estão envolvidas empresas estatais, especialmente a Petrobras ? Nota-se este vigor especialmente quando estamos a tratar de Argentina, Venezuela, países africanos e outros latino-americanos. Quais seriam os interesses ao redor de toda essa movimentação que envolve a alta cúpula petista, incluindo o ex-presidente Lula, e próceres governistas? Teriam essas movimentações relação com a tal da "CPI da Petrobras"? Esta coluna pouco sabe a respeito. E os seus leitores?

Obama, um terceiro membro da família Bush?

As "descobertas e vazamentos" sobre as atividades espiãs do governo norte-americano revelam, além dos próprios fatos, um presidente bem conservador, arraigado a uma visão vencida do império que preside. Barack Obama é daqueles que pareciam ser uma novidade e não passa de uma peça no antiquário da política norte-americana. Fosse John McCain ou outro republicano de estirpe nobre, a política seria a mesma. Obama não é inovador. É apenas marqueteiro mesmo. Menos natural em seu papel que George W. Bush, o amigo de Lula.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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