domingo, 13 de outubro de 2013

CARTA AO EDUARDO (POR OCASIÃO DO SEU ANIVERSÁRIO!)


Meu primo Eduardo Paula Rodrigues:

Um pássaro virtual me trouxe a missiva em que narras a sucessão dos fatos que constituem tua árvore essencial. Minha primeira reação foi correr para o mar. Tua vida parece se resumir a uma corrida, após uma busca para conhecer o mundo através de uma inserção marítima. E hoje à tarde o mar, esse incansável viajante que nunca sai do lugar, me estimulou a te pedir vênia para dar publicidade a alguns detalhes da tua intimidade.

Confesso que desconhecia, oh sexto filho do Janjão e da Mariinha, o porquê do teu nome composto Eduardo Paulo. Eduardo porque nasceste em 13 de outubro, dia de santo Eduardo, o Confessor, penúltimo rei saxão da Inglaterra. Já o Paulo surgiu em homenagem a Paulo Sarasate, excelso líder cearense quando viestes ao mundo. No cartório, grafaram ‘Paula’ ao invés de Paulo.

Na infância fostes talhado para a fortaleza, sendo cúmplice da madrugada e acordando antes da aurora para beber o leite ‘mugido’, a fim de tanger o comboio de animais que transportava a água de beber em pipas de madeira.

Na sequencia, a cidade. Crateús. Febril, pulsante, desafiadora. O Externato Nossa Senhora de Fátima, a Escola da Dona Delite. E a inusitada recepção: o código do rigor, o estatuto da severidade, o puxão na orelha, o regimento da palmatória. Mas essa exigente etapa era condição sine qua non para a realização do sonho de todo estudante daquela agradável província: passar no exame de admissão do Ginásio Pio XII. Como “reprovar era um verbo proibido de se conjugar”, passaste.

Naquele final da década de 1960, o País sob o governo das armas, um anúncio te despertou a atenção: “Entre na Marinha e conheça o mundo”. Vislumbraste ali não apenas uma oportunidade de trabalho, mas a oceânica aventura de mudar de vida. E foi na Escola de Aprendizes Marinheiros, precisamente em 04 de junho de 1971, que enfrentaste o teu maior maremoto existencial: a perda do pai, aos 52 anos, vítima de acidente automobilístico.

Se a amplidão do mar tinha inicialmente te inebriado, o convés do navio te sufocava.

Desejavas um porto seguro, correr em terra firme, subir degraus na escadaria educacional, viver novas experiências. Aí, concursado do Banco Central, foste para o centro do País, a Capital da República. Tiveste a oportunidade de saborear o convívio poético com o tio-avô Alexandre Lucas, o maior condoreiro do nosso clã, que resolveu adotar o sobrenome Boquady - “Jatobá” em tupi-guarani – como uma forma de prestar reverência à nação indígena. Jamais esqueceste o gesto generoso de Jesus, filho de Lucas, ao te ofertar o indispensável apoio na condução do barco educacional, essencial para que pudesses aportar com tranqüilidade nessa ilha de excelência pública que é o Banco dos Bancos, regulador do crédito e do volume de dinheiro na economia.

Em Brasília, saboreaste a Ambrosia, o doce de divinal sabor, produzido pelo fogão de lenha do coração. Desposaste Antonia, que te deu a inteligente e radiosa Ana Paula, a mais velha, jovem discípula da deusa Thêmis e o promissor Lucas, o mais novo, em adiantado estágio de preparação para prestar o juramento de Hipócrates.

Quem enfrenta a procela, aprende a pisar com agilidade no espaço terreno. Por puro diletantismo, começaste a correr pelas ruas, como um hobby para recondicionamento físico, e viraste um maratonista de dimensão internacional, com atuação na famosa maratona de Nova Iorque e, por quatro vezes, na COMRADES, a ultra maratona da África do Sul, que ocorre desde 1921.

Porém, a incursão mais espetacular que registraste foi em direção às montanhas da bem-aventurança, praticando a filantropia nas ribanceiras da própria vazante familiar, presidindo a Associação Beneficente em Prol dos Portadores de Ataxia (ABPAT/DF), um lenitivo para o incômodo hereditário que inquieta vários parentes com dificuldades de coordenação motora.

Sei que amas a leitura, gostas de ouvir música e adoras pescar. Tens, porém, uma frustração: nunca aprendeste a tocar um instrumento musical. Ficai tranqüilo: tua trajetória é uma melodia à essência solene da vida!

(Júnior Bonfim)

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