sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MEMENTO PARA ARACATI


Aracati é a beleza selvagem, a poesia deslumbrante, a duna suntuosa, o espetáculo vital, a pulsação eólica, a praia magnética, a esparramada alegria, a festa do firmamento.

Aracati é o registro permanente, memória em diário, testemunho cotidiano, apadrinhamento perene da renovação invariável das promessas de casamento do Jaguaribe com o mar.

Aracati significa vento. É, portanto, redundante dizer “vento do Aracati”. Aracati é o abano dos deuses, hélice feita pela natureza, movimento olímpico do ar na atmosfera, latência de tornado, arrojo de tufão. É, também, aragem cheirosa, suavidade noturna, sazonalidade de monção, fruta da estação, lua enamorada, brisa perfumada.

Aracati é o coração aberto, palma da mão estendida, rede de acolhida, lençol cantante, hospitalidade militante, colo acolhedor, habitação de amor.

Aracati: do teu agitado acordo com o mar surgiu Majorlândia, a ‘terra do Major’, sacudida pelas ondas fortes, largo banco de areia, exuberante parque coqueiral, arco-íris de velas de jangadas, falésias vestidas de branco e vermelho, cristal bucólico, prateleira de garrafas de areia colorida, harmoniosa tela de beleza!

Improvável resistir ao dinâmico encantamento do afetuoso aconchego da lua com a estrela tendo a falésia como altar! Um desenho topográfico com o formato de uma canoa (ou será coroa?) quebrada! Meca dos mochileiros, paraíso hippie, conjunção gastronômica planetária, santuário cultural de continentes, moldura ecumênica!

Canoa, Canoa! Coroa ou Canoa?! Canoa ou Coroa?! Importa, inspirada loa, sedutora proa - preta branca, branca preta, tua envolvente silhueta! Pergaminho histórico do achamento brasileiro, visão combinada de narrativa fabulosa de pescador, encomenda turística esquecida, casamento indígena de astros celestes, desencargo muçulmano de consciência, síntese dialética do firmamento expressando a união dos pólos masculino e feminino, êxtase procriativo, explosão de fertilidade e amor!...

Aracati transpira história por todos os poros. A imponência silenciosa do casario guarda segredos nunca revelados. Os azulejos portugueses enfeitam a fronte dos prédios ao mesmo tempo em que escondem a escritura invisível dos antepassados. O Centro Histórico, as construções coloniais, os templos seculares são a expressão material de uma memória imaterial. A antiga masmorra municipal, que hoje abriga o Parlamento Mirim da urbe, talvez ainda possua grilhões não quebrados. Muitos foram os filhos desta terra, no entanto, que elevaram às alturas estreladas os sentimentos mais puros e profundos da alma. Vários deles, que enalteceram com o talento todas as artes do engenho humano, hoje nomeiam logradouros de relevo na Capital.

Como olvidar o sabor de réplica na ousadia épica do jangadeiro Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, um dragão nascido no mar? Sentinela do oceano, libertador de primeira fila, destruidor de algemas, vanguardista da eliminação do tráfico negreiro, suscitou em Joaquim Nabuco a famosa expressão: “O Ceará é o começo de uma Pátria livre”.

Aracati, és histórico estuário do sonho libertário. Quando teu nome, em forma de brasa, arde, escreves a palavra Liberdade.

Aracati, Aracati: nativo ou visitante, próximo ou distante, de longe ou daqui, impossível não gostar de ti!


(Júnior Bonfim, na edição deste mês da Revista GENTE DE AÇÃO, em louvor ao aniversário de ARACATI)

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