domingo, 21 de dezembro de 2014

O CASAMENTO


Paulo Roberto Cândido de Oliveira, agrimensor das terras fonéticas, arquiteto dos desenhos fermentados, garimpeiro das esmeraldas das palavras, engenheiro de elétricos edifícios invisíveis e esmerado especialista na medição das altas e baixas tensões do coração, é um fiador do tecido linguístico que desde os doze anos de idade se aventura, com calma, a acionar o sol do espírito e temperar o alimento da alma.

É um poeta, ou profeta, advinhador das eras, desses que desenha na lousa do firmamento a estrela de vento, que atomiza os prótons e nêutrons sob a caldeira de um único elemento. Filho e imitador da divindade, sopra com o verbo e ergue castelos de bondade.

Colocou no mesmo frasco a essência e a existência, e saiu a propagar a complementariedade do Uno e do Verso, que formam o que chamamos de Universo (Como bem lembrou Huberto Rohden, “o Universo nunca é só Uno nem só Verso – é sempre Uni-verso”). Cheio de mistérios, Paulo já subiu aos espaços etéreos para nos convidar a fazer uma “Viagem ao Céu Particular”.

Paulo evita pedestal, mas é aquele gênero especial que se pode chamar de intelectual. E há uma característica que parece inerente ao bom intelectual: é alguém que na comida insípida coloca um pouco de sal. O verdadeiro intelectual tem uma inata virtude: a comunhão com a inquietude!

Intelectual orgânico, desconhece o pânico. É discreto e irreverente, símbolo do militante includente. É. Malgrado adore velejar no seu oceano particular, é um surfista que desliza com emoção por sobre as ondas da inclusão. É membro proeminente da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF – onde tem assento na Cadeira 29, cujo patrono é o poeta, dramaturgo e jornalista Antonio Sales, um dos idealizadores da épica Padaria Espiritual.

Paulo Roberto – que figura como fundador e principal animador da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos – ALASAC, é um insuflador do gérmen da criatividade, sementeiro da boa vontade, amante da novidade.

É um frasista excepcional. Erige edificações fonéticas que só os pedreiros livres da alta prestidigitação das palavras são capazes. Neste livro, em que compartilha seu modo especial de reflexionar sobre essa instituição prenhe de desafios e portentos batizada de casamento, Cândido nos sacode com suas argumentações singulares e nos bafeja com suas tiradas geniais.

Só a título exemplificativo: ao final do terceiro capítulo, ele destila esta: “continuemos casados com a Literatura e sigamos em frente. Isto não é uma imposição do autor e sim, um pedido em prol do matrimônio da intelectualidade com a sensatez”. No desfecho do livro, parafraseando Vinícius, faz votos que “o casamento seja Eterno enquanto Puro”.

Tendo como protagonista um casal fictício, Ana e Roberto, ele principia afirmando que ‘Casamento é Coisa Séria’ para seguir nos chamando a atenção para ‘A Diversidade Humana e Suas Semelhanças’. Em seguida, levanta três indagações inquietantes na relação matrimonial: ‘Quando Impor?’; ‘Quando Supor?’ e ‘Quando Propor?’

No sexto capítulo fala sobre ‘As Sinalizações conscientes e inconscientes impostas, supostas e propostas por um "bate-boca matrimonial"’ para, ao final, nos brindar com “Reflexões Complementares e o reencontro de Ana e Roberto”.

Sugiro que este amuleto literário nos desperte para descer às profundidades relacionais, à gruta que esconde, à fonte que libera esse veio de luz dito amor ou entrelaçamento de almas. Melhor: como bem pontua: “Casamento, ‘casar mentes’”, proposição do escritor Robiyn Delphos, que o autor teve o prazer de conhecer pessoalmente em 2012, na cidade italiana de Florença.

Neruda preferia nominar quem passeava pela estação perene do amor de amante. Por isso cantou:

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama...

De todas as verdades escolheram o dia....
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras...
A ventura é uma torre transparente...
O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
têm direito a todos os cravos...

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem...
têm da natureza a eternidade...

Paremos diante deste livro. Ruminemos suas contraditórias provocações, a um só tempo intrigantemente silenciosas e delicadamente rumorosas. Mas, sobretudo, o admiremos. Ou apenas o fitemos com a retina demorada da estupefação. Esta é uma obra para se ler com os olhos da emoção.

(Júnior Bonfim, na apresentação do livro Casamento, de Paulo Roberto Cândido)

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