sexta-feira, 3 de abril de 2015

CONJUNTURA NACIONAL

I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum

Conta Leonardo Mota que o mestre Henrique era reputado marceneiro nos sertões de Sergipe. Sua especialidade estava nas "camas francesas a Luís Quinze". Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era a "Luís Quatorze" ; se a queixa era contra a excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era "cama francesa a Luís Dezesseis..." O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais em latim de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido:

- Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro?

- Você não sabe não? Ali falta é o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha: aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque...

Ufa, Semana Santa

A Semana Santa surge como um lenitivo para as dores de cabeça dos atores governativos. A partir da presidente Dilma, que poderá descansar das agruras e pressões a que vem se submetendo nos últimos dias. Nomeação de ministros, divisão de espaços, desmentidos do que foi dito, articulação com o Congresso Nacional, MPs polêmicas - o acervo de questões que mexem com a cabeça presidencial é denso. A Semana Santa é bem-vinda.

Turismo

Dilma deverá nomear esta semana o novo ministro do Turismo. A questão é: onde colocar o bom ministro Vinicius Lajes? Vinícius tem sido um dos melhores ministros do governo. Afável, simples, técnico, rápido no gatilho. Sem burocracia. Se sair da Pasta do Turismo, será bem aproveitado em outra área. Henrique Alves ocupará seu lugar.

PL 4.330

Felizmente, o país vislumbra um avanço no caminho das relações capital-trabalho: a votação do PL 4.330, que trata da Terceirização de Serviços. O tema tem sido debatido nos últimos 20 anos. As Centrais Sindicais fazem objeção ao projeto. Mas, como se sabe, tudo se resume a uma questão de dinheiro. A tese da Força Sindical é a de que as contribuições sindicais deveriam ser canalizadas junto ao sindicato preponderante, no caso, os sindicatos das empresas tomadoras de serviços. O que faria de uma copeira numa empresa siderúrgica trabalhadora siderúrgica. Claro, reivindicaria a condição e, assim, veria seu salário no teto dos trabalhadores do setor. As Centrais encheriam seus cofres. E a Terceirização iria para o buraco. Deixaria de existir. Essa maluquice tem a objeção dos sindicatos que fazem terceirização e das empresas tomadoras de serviços.

Dia de abril

Dia 12 será mais um Dia D. As redes sociais estão convocando o povo às ruas. Ouço: veremos o dobro do número de pessoas que compareceram às ruas dia 15 de março. Mais uma vez, tenho duvidas. A banalização desses eventos de massa acaba esmaecendo sua força. Com possibilidade de vermos menos gente nas ruas. Mas o ânimo social exacerbado funciona como contraponto. Portanto, este consultor permanece na dúvida.

A prisão de Moro

Não. O juiz Sérgio Moro, que aparece como herói nacional, não corre perigo de ser preso. O título acima quer significar a prisão que o juiz defende para os condenados na primeira instância. Ora, a presunção de inocência é um dos pilares básicos do nosso Estado de Direito. Ninguém será condenado até o trânsito em julgado da sentença. O que exige recurso de indiciados até a última instância. E se a Justiça inocentar o indiciado ao final do processo, depois do próprio ter passado bom tempo no xilindró ? O juiz Sérgio Moro abriu grande polêmica com sua tese exposta em artigo em O Estado de São Paulo, de 29 de março.

O pacote de Levy

Joaquim Levy tem sido um vendedor ambulante de seu pacote fiscal. Ouve as queixas dos setores, algumas com muita zanga, e se mantém em estado fleumático. Fala duro e com convicção. Tem credibilidade. Mas seu pacote deverá receber remendos aqui e ali. Não de modo a desfigurar a embalagem nem de modo a ferir de morte os nichos da produção. In médium virtus. A virtude está no meio. Mas o que será esse tipo de virtude?

A esfera política

A esfera política continua olhando de soslaio o Palácio do Planalto. Enquanto a presidente padecer em seu gabinete, as casas congressuais não a enxergarão com simpatia. A economia, como locomotiva do trem, não deve melhorar no curto prazo. Nesse caso, a má vontade dos parlamentares se fará ver em decisões que contrariarão o Planalto. Nem a mudança da articulação política será suficiente para melhorar o clima com o Congresso. Que agirá com independência do Executivo.

Enxugamento

Sabe-se que a presidente encomendou um estudo sobre o enxugamento da estrutura ministerial. De 39 ministérios, sobrarão quantos? Uns 25? 20? Ou continuaremos na casa dos 30%? Este consultor não acredita que esta hipótese seja adotada em curto prazo. Seria uma baita confusão na Esplanada.

O PT reage

O PT vive a maior crise desde sua fundação. A sigla é demonizada. Embalada no manto da corrupção. Está no fundo do lamaçal. E decidiu reagir, sob argumentos de Lula, Rui Falcão e outros comandantes reunidos em São Paulo. Tomaram a decisão: vamos reagir; vamos às ruas; vamos ao ataque. Porque o ataque é a melhor defesa. Este consultor acredita que a estratégia petista pode se transformar em bumerangue: acirrará os ânimos. Aumentará a tensão nas redes sociais e nas ruas. O PT não pode e não deve aparecer como vestal. Seu traje ético está sujo. Iguala-se a de outros atores políticos. Com a diferença de que, nesse momento, enxerga-se um corpo que queima no meio da fogueira.

O despiste

Lula deu a ideia para o PT despistar o nome e buscar uma expressão que possa condizer com o discurso das ruas: uma Frente Ampla, como a que foi liderada no Uruguai pelo ex-presidente José Mujica; ou o modelo chileno de la concertacion. Ou seja, ele quer embalar o PT com uma designação simbólica capaz de traduzir a indignação social, na esteira das ruas. Lula quer ser oposição ao status quo; ao governo da presidente Dilma, maneira de disfarçar o governismo encarnado pelo PT. Lula é um craque. Quando presidente, subia aos palanques para desancar... seu próprio governo. As massas o aplaudiam nesse papel.

Nome para o STF

A presidente Dilma se fechou em copas na especulação sobre o nome para ocupar a vaga do ex-ministro Joaquim Barbosa no STF. Faz bem. A decisão é dela. E quanto mais fazem pressão, mais ela fecha os ouvidos.

Nalini no Roda Viva

Segunda-feira, o presidente do TJ/SP, José Renato Nalini, será o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, um dois mais prestigiados programas da TV brasileira. Estarei na bancada dos entrevistadores.

Haitianos

O Brasil abriu as portas para o mundo. Cerca de 50.000 haitianos encontraram a rota do Acre para entrar no país. Foram bem acolhidos, receberem documentação e moradia. Mas o governo acreano livra-se da massa haitiana, incentivando sua peregrinação para São Paulo e outras regiões do país. O gesto do governo brasileiro pode, até, parecer digno. Urge lembrar, porém, que temos os nossos desvalidos. Milhões. Chega aos meus ouvidos a pergunta: haitianos e cubanos integrarão os exércitos de Stédile ? Este consultor não acredita. Seria uma afronta.

Maioridade penal

A CCJ da Câmara dos Deputados aprovou proposta que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos de idade. A Câmara vai criar comissão especial para analisar a PEC. Depois de votada duas vezes no Plenário da Câmara e passar pelo Senado, também em dois turnos, a proposta poderá virar lei. A tramitação da PEC ainda pode ser questionada no STF. Tema causará intensa discussão na sociedade. A conferir!

Quebradeira

O Grupo OAS pede recuperação judicial. Uma pedrinha no dominó?

Desemprego

Ouvi a pergunta de um grande empresário, semana passada, numa palestra sobre a Conjuntura proferida no Rio de Janeiro: "o desemprego está à vista. Empreiteiras, desempregando cerca de 200 mil; setor construção civil, parado; setor automobilístico, começando a desempregar; outros, em início de processo; desemprego na Grande São Paulo, chegando aos 10,5%. Alguém do governo está vendo isso?" Lembrei o poema de Manuel Bandeira, o poema do Beco:

"Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?

- O que eu vejo é o beco."

Complementei: mas o beco tem saída. Não sei se à esquerda, à direita ou ao centro.

O Brasil banca

Recebo uma lista com empréstimos do Brasil, por meio do BNDES, a países amigos :

1 - MOÇAMBIQUE BARRAGEM USD 350.000.000,00

2 - MOÇAMBIQUE CORREDOR DE ONIBUS USD 180.000.000,00

3 - NICARAGUA HIDROELETRICA USD 343.000.000,00

4 - BOLIVIA ESTRADA DA COCA USD 199.000.000,00

5 - VENEZUELA PONTE USD 300.000.000,00

6 - VENEZUELA METRO USD 732.000.000,00

7 - ARGENTINA SOTERRAMENTO USD 1.500.000.000,00

8 - ARGENTINA AQUEDUTO USD 180.000.000,00

9 - PANAMA AUTO PISTA USD 152.800.000,00

10 - PANAMA METRO USD 1.000.000.000,00

11 - PERU HIDROELETRICA USD 320.000.000,00

12 - EQUADOR HIDROELETRICA USD 243.000.000,00

13 - EQUADOR HIDROELETRICA USD 90.000.000,00

14 - CUBA PORTO MARIEL USD 68.200.000,00

15 - MOÇAMBIQUE AEROPORTO USD 125.000.000,00

16 - PERU ABASTECIMENTO DE AGUA NI

17 - URUGUAI GAZEODUTO NI

18 - LUANDA LINHA EXPRESSA NI

Total .............................USD 5.783.000.000,00

(Gaudêncio Torquato)

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