terça-feira, 16 de junho de 2015

LUTAI PELA PALAVRA IMORREDOURA!


Permitam-me que, em deferência à brevidade, diga apenas três palavras, até porque hoje queremos mais festejar do que discursar.

A primeira: quero compartilhar com vocês a exultação da alma! Tive a graça de apalpar a semente original que fez germinar este Sodalício. (Às vezes sou indagado a respeito da fundação desta Academia. Ou, quem seria o fundador? Esta é uma obra coletiva, não uma construção individual. Logo, fundadores são todos os que assinaram a ata de fundação. No máximo, existiu um idealizador. E se a mim coube esse lampejo, essa provocação inicial, deixemos que escape pelo córrego da despretensão).

O que vale registro, o que há de constar em ata, o que merece ir para os anais, o que comporta arquivo é o auspicioso fato de que este Sodalício, em apenas seis anos, se firma como o mais eloquente, o mais expressivo, o mais reluzente patrimônio imaterial dessa estação telúrica dita pelo nosso Presidente Raimundo Cândido como Ribeira do Poty.

Por isso, nesta noite memorável sinto vontade de transformar o peito em uma enorme cachoeira poética para derramar cristalinas estrofes de louvor ao Escritor Superior por nos dadivar com este momento indelével. A nossa Arcádia chega ao pé da serra da culminância. Gratidão é o nome do sentimento que, feito o perfume do mufumbo, explode no roçado delicado do nosso coração!

A segunda palavra é sobre o momento atual. Vivemos a mais extraordinária e desafiadora era da caminhada humana.

Diferentemente da caverna de Platão, quando a treva não dialogava com a luz, na caverna pós-moderna elas se amalgamam na mesma cacimba paradoxal. O homem atual tem o universo armazenado em um pequeno aparelho, mas sofre a angústia de não saber se programar para receber um software espiritual ou - pasmem! - abrir o mais íntimo de si mesmo para a comunhão fraterna.

Na mata de concreto da tensão ou no descampado das inquietações da alma, surge o desafio da lavratura de um édito libertador. Essa a missão que nos impõe a ferrovia do amor!

E aqui vem a minha terceira e derradeira palavra: sobre o papel dos acadêmicos! Vocês, que hoje cruzam o pórtico invisível desta Arcádia, que solenemente prestaram o juramento de água e terra, de fogo e ar, saibam que carregam doravante o dever sagrado de contribuir para o conserto planetário, para o resgate da alegria e para a propagação da paz!

Não se envaideiçam com a imortalidade acadêmica; ela é ilusória e vã. (Alias, sobre o fato de chamarem acadêmico de imortal, bem explicou Olavo Bilac: "sem pão, sem lar, sem conforto/ o acadêmico, afinal,/ não tem aonde cair morto/ por isso que é imortal"...).

Lutai, pois, pela imortalidade literária, aquela que os tornará instrumentos da mensagem permanente, da palavra imorredoura, da escritura que homenageia os fonemas do infinito.

Concluo com uma rogatória, uma súplica especial a Sarasvati, deusa dos antigos Vedas ou, na mitologia grega, Minerva, divindade tutelar dos poetas, intelectuais, escritores e músicos, bem como encarnação da sabedoria, da razão e da pureza divina.

Que ela vos abençoe e vos guie nesta empreitada sob a reitoria do Espírito!

Muito obrigado!

(Júnior Bonfim, na solenidade de posse dos novos acadêmicos da Academia de Letras de Crateús – ALC – no Teatro Rosa Moraes, em 13.06.2015).

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