quinta-feira, 16 de abril de 2009

ACADEMIA DE LETRAS DE CRATEÚS


Escritores, poetas, artistas populares e amantes da literatura de Crateús estão discutindo a Criação de uma Academia de Letras no município. Academias de letras são instituições com formato de Sociedade que, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, podem ser compostas de um mínimo de 12 e um máximo de 40 membros, podendo existir apenas uma única em cada jurisdição territorial ou institucional, por área literária.

A Academia de Letras de Crateús, com nome ainda não definido, pretende congregar produtores de literatura, nos seus mais variados estilos, cujas obras apresentem boa qualidade, e virá a ser composta de escritores desta terra ou que tenham produção literária com abordagem acerca de seu povo ou de sua realidade.

Embora ainda não se conheça os propósitos desta nossa academia de letras de Crateús e não se possa estimar os efeitos de seu advento, posto que ainda não é fato, a iniciativa há que ser valorizada por diversas razões. Primeiro, as ações voltadas para o estímulo à leitura representam uma batalha relevante pela sobrevida da mais antiga e mais importante forma de criação e registro de cultura de todos os tempos: a escrita, que demarca a aurora da própria história humana. Diante dos avanços da tecnologia midiática que multiplica e sofistica em escala industrial os mais sensacionais recursos de entretenimento, o saudoso, velho e bom livro vai sendo cada vez menos folheado pelas gerações mais novas.

Sendo uma organização de escritores e amantes das letras, a Academia será e poderá mais que os seus indivíduos isoladamente, pois, no presente modelo de sociedade tangido por metropolização populacional, massificação cultural e globalização econômica, os indivíduos são cada vez menos enxergados como tal e as burocracias vão cercando todos os caminhos do fazer coletivo. Nem é preciso ter lido o Antonio Gramsci para entender que a necessidade de organização, neste contexto, se torna quase uma obrigação, inclusive nos acontecimentos culturais.

Este município de Crateús, que há muito se queixa de um certo isolamento geográfico, por falta de estradas que o ligue a regiões importantes do País, por situar-se na região mais árida do Ceará, por sua condição ambígua de ser ex-Piauí e despejar suas águas e lágrimas em outra Estado que não o seu, queixas a parte, tem realmente grande carência e dificuldade de dar notoriedade às criações inteligentes de seus filhos, embora se saiba existir nesta terra excelentes produções e produtores de cultura.

Longe da função tradicional de proporcionar a seus membros honrarias, status de imortalidade, diplomas e demais comendas que alimentam o ego e as vaidades, a nossa Academia de Letras traduz o desafio de, sobretudo, identificar, articular e organizar os feitores da palavra, surgidos neste pedaço de Sertão, mas que, quase sempre, vão ao longo da vida depositando numa gaveta ou pasta empoeirada pedaços rabiscados de papel, até perderem-se no anonimato, dadas as dificuldades de publicação e difusão impostas pelo contexto social.

Por esses e tantos outros motivos que coabitam as boas intenções e esforços dos futuros acadêmicos, que venha a ACRALE (Academia Crateuense de Letras), ou a ALECRA (Academia de Letras do Município de Crateús), ou qualquer outra denominação que as mentes criativas possam inventar. O importante é que venha a oportunidade e a possibilidade de, num futuro não tão distante, se vejam numa e noutra esquina rodas de poesia, recitais nas tardes de sábado, sarais, luais... para aliviar os ais, e muitas crianças e jovens do amanhã soletrando as suas próprias invenções e as de suas gentes.

Por Elias de França (escritor/poeta)

Um comentário:

Dalinha Catunda disse...

Academia de Letras em Crateús

Olá Júnior,

Mesmo não deixando, sempre, comentários, acompanho seu blog.
Acho de extrema importância a criação de uma Academia de Literatura em Crateús.

Agregar os diferentes valores culturais é acrescentar um algo mais a cidade.
Veja Ipu, uma cidade bem menor, com sua Academia em pleno funcionamento, organizando lançamentos e assim atuando, abre as mais diversas possibilidades para os que se dedicam a arte do escrever.

Sou de Ipueiras moro no Rio de Janeiro. Sou membro da ABLC. Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
Adoro as plenárias, onde podemos, entre outros assuntos, mostrar nossos trabalhos oralmente, apreciar diferentes trabalhos e render homenagens aos nomes consagrados de nossa literatura popular. Publicar todo ano uma antologia e mais do que isso, a confraternização de poetas de diferentes estados, predominando os estados do Nordeste.

Se a vista não me engana, na foto vejo: Bento Raimundo cantador e sanfoneiro amigo que sempre encontro no meio do ano quando passo temporada no Ceará.

Espero que Crateús leve em frente a boa idéia de uma Academia.
Um abraço,
Dalinha Catunda