quarta-feira, 15 de abril de 2009

MONSENHOR MORAES PARTIU PARA A CASA DO PAI



Faleceu hoje o Monsenhor Francisco Ferreira de Moraes. Um dos mais longevos sacerdotes da atualidade, o maior construtor do Ipu deixa um rastro de luz sobre a estrada de sua vida!

Seguem duas crônicas que sobre ele escrevi:

UM HOMEM FELIZ!


Para ser feliz, o homem há de “ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro”.
Em que pese a dificuldade de recordar o momento em que engoli, pela primeira vez, essa pílula da sabedoria oriental, rememoro nitidamente que fiquei intrigado.

Lembro que, de quando em quando, mais precisamente em minhas caminhadas solitárias, as interrogações irrompiam:

- Quer dizer que, se me for impossível gerar um filho, estarei condenado à infelicidade?

- Se, por acaso, faltar-me a habilidade de fazer uma árvore germinar, amargarei para sempre os infortúnios do destino?

- Ou se, por alguma circunstância qualquer, os deuses da literatura me negarem os auspícios da arte da escrita, infelicitado estarei pelo resto dos meus dias?

Confesso que só me desvencilhei dessa angústia quando soube que os orientais cultuam a comunicação simbólica, a linguagem das parábolas. Diferentemente de nós, ocidentais, que nos apegamos à letra em si, os orientais buscam o sentido da letra, o espírito da sílaba, a mensagem que a palavra traz.

Nessa esteira de raciocínio, a expressão “ter um filho” significa “ter um discípulo”, “plantar uma árvore” é fincar raízes em algum lugar; “escrever um livro” é ter uma vida de tal modo exemplar que seja digna de ficar registrada nos anais da história.

Que dizer de um homem que, mesmo celibatário, possui uma legião incomensurável de admiradores e seguidores? Embora nascido em Crateús, plantou uma árvore de trabalho com raízes colossais no município de Ipu. Ali realizou prodígios. Verdadeiros milagres na acepção evangélica do termo. Como quem atende uma ordem celeste, iniciou a construção de obras magníficas e indeléveis sem dispor de qualquer reserva financeira. Levou-as a cabo mercê da ajuda dos fieis.

Outro dia me confidenciou que encosta a cabeça no travesseiro com a tranqüilidade do dever cumprido. Tem quase um século de vida. No próximo dia 01 de novembro de 2007 celebrará 70 (setenta) anos de sacerdócio. SETENTA ANOS! De vida, já é algo considerável. De vida sacerdotal, é simplesmente fenomenal.

Pois o longevo crateuense Francisco Ferreira de Moraes, o monsenhor Moraes, um dos maiores oradores sacros do Ceará, ocupará, às 17:00 horas, o altar da Catedral do Senhor do Bonfim para relembrar a primeira missa que celebrou na vida, em 01 de novembro de 1937.

Unamo-nos a ele. Miremos o seu exemplo. É um Homem Feliz!


A VOZ DO CORAÇÃO DE MONSENHOR MORAES


Estive na cidade de Ipú, dia 26 de agosto passado, para participar da solenidade de lançamento de “A Voz do Coração”, o mais novo livro do Monsenhor Francisco Ferreira de Moraes.

Envolto no manto dos seus 94 anos de idade, esbanjando invejável vigor intelectual, o eterno Vigário do Ipu nos brinda com uma obra primorosa, onde pululam versos singelos na forma e profundos no conteúdo. Como a legendária Bica do Ipu, monumental cascata que irrompe da Serra Grande e areja o calor do pé da Serra, a mensagem poética do Monsenhor Moraes é brisa que refresca o nosso cansaço de espírito.

Mais do que prestigiar o lançamento de um livro, fui à terra de Iracema para prestar reverência a um varão modelar, solene farol existencial, sagrada coluna referencial. Dos que pertencem à colossal árvore genealógica que germinou na Cruz, em Independência; dos que descendem do tronco de Alexandre Ferreira do Bonfim, o irmão da virtuosa Professora Rosa Moraes é, indubitavelmente, um dos mais portentosos frutos vivos.

Nascido em Crateús, contemporâneo de seminário e sacerdócio do saudoso Monsenhor Bonfim (ou “Tio Zezé”), monsenhor Moraes há honrado a História. Após uma profícua passagem por Nova Russas, fincou suas raízes no Ipu. Ali construiu sua morada definitiva, o lar da alma, a pátria do seu coração. Tendo o coração como fonte, foi mais que um sacro pastor de seres humanos: consciente de que o céu começa aqui, envolveu-se nas terrenas lutas pelo desenvolvimento local, travou o bom combate contra as agruras da sua gente a bafejou o município com incontáveis benefícios no campo sócio-econômico.

Seu livro, portanto, brota do mais fértil solo: o coração. Como bem ensinou Rui Barbosa, “o coração não é frívolo, tão exterior, tão carnal quanto se cuida. Há, nele, mais que um assombro fisiológico: um prodígio moral. É o órgão da fé, o órgão da esperança, o órgão do ideal. Vê por isso, com os olhos d’alma, o que não vê em ausência, vê no invisível, e até no infinito vê. Onde pára o cérebro de ver, outorgou-lhe o Senhor que ainda veja; e não se sabe até onde. Até onde chegaram as vibrações do sentimento, até onde se perdem os surtos da poesia, até onde se somem os vôos da crença: até Deus mesmo, inviso como os panoramas íntimos do coração, mas presente ao céu e à terra, a todos nós presente, enquanto nos palpite, incorrupto, no seio, o músculo da vida e da nobreza e da bondade humana”.

Emudeçamos! Que se faça um amplo silêncio, um silêncio de catedral sem sino e sem hino, um serrano silêncio de monastérios. Ouçamos apenas a dicção tenaz, a grave voz do coração de Monsenhor Moraes.


(Júnior Bonfim, in AMORES E CLAMORES DA CIDADE)

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc esta de parabens pela bela cronica. A primeira noticia do falecimento desse grande benfeitor do Ipu que deixou e amou essa terra. /no google vc partiu primeiro. parabens mais uma vez.
Denis Torwquato