terça-feira, 11 de maio de 2010

O DISCURSO

Autoridades que compõem a mesa,

Meus Irmãos, Cunhadas e fraternos confrades:


A mim me incumbiram de saudar os entrantes nesta Academia.

Pensei em lhes estender a mão, afagar-lhes com um tríplice abraço, oferecer-lhes o ósculo da paz e desejar-lhes boas vindas. Só isso.

Mas a magnitude deste momento, a excepcionalidade deste evento me impulsiona a compartilhar com vocês uma breve reflexão.

Como bem sabeis, pedreiros livre que engalanam esta sinagoga da virtude, a nossa Instituição é um estandarte que atravessou os séculos graças à auréola da significação simbólica.

Para nós, os símbolos têm o significado que a etimologia original, do grego clássico, elucidou: sim (junto) e bailein (lançar). O sentido é lançar as coisas de tal modo que permaneçam juntas.

Pois bem. Como no universo do simbolismo nada ocorre por acaso (para os Maçons, existe Acácia, nunca acaso), fico perquirindo por que estamos realizando esta Sessão exatamente no templo fundante da Maçonaria cearense! Logo que cheguei – meu caro Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Vereador Salmito Filho, que muito tem colaborado com a nossa Instituição - divisei uma mesa composta por uma plêiade de maçons em cuja memória está guardado o fio histórico da Maçonaria cearense. Destaco Zelito Magalhães que escreveu um livro narrando nossa caminhada histórica. Destaco Osmar Maia Diógenes, esse ícone da fraternidade, o único que conseguiu a façanha de ser Grão Mestre das três potências maçônicas cearenses.

É como se o Grande Arquiteto do Universo – professor Antonio Cerqueira - estivesse nos convidando para um Ágape Fraternal em que nos banquetearíamos saboreando as nossas raízes.

Pois é para isto que entendo este Sodalício, a existência desta Arcádia, o funcionamento desta Academia.

Para extrairmos a seiva das nossas raízes e oferecermos um contributo frutífero à geração presente de maçons. Resgatarmos nosso passado heróico! Lembrarmos – meu estimado ex-professor Fernando Távora, Procurador estadual - de que a nossa Ordem foi o espaço do rito de passagem, a abóbada celeste que, entre suas Colunas de Luz, forjou grandes mestres para o território complexo das ciências, para o emaranhado fonético do salão das letras, para o jardim florido das artes.

Permitam-me que saliente três exemplos que povoam as enciclopédias universais.

Cito Benjamim Franklin, elétrico patriarca das Américas, inventor contumaz, criador do pára-raios, dos óculos bifocais, dentre inúmeras outras criações da sua mente prodigiosa. É exemplo de maçom empreendedor.

A história registra o caso, por exemplo, de uma mulher, doente mental, casada com um homem desequilibrado em todos os sentidos. Alcoólatra e desocupado, estava longe de ser pai modelar ou marido referencial. Esse casal, no entanto, teve quatro filhos: o primeiro, doente mental; o segundo, paralítico; o terceiro, acometido de outra enfermidade séria; o quarto também deficiente. Mesmo com todo esse histórico de tragédia, a mulher estava grávida pela quinta vez. E esse quinto filho, que tudo apontaria para ter também uma vida desventurada, foi Ludwung Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais da humanidade. Maçom e homem de artes. Gênio perpétuo e inolvidável.

Outro, no campo das letras – e lembro que o Osmar me dizia que outrora existia nesta Oficina uma biblioteca francesa - foi François-Marie Arouet, o francês Voltaire. Incondicional amante da liberdade, foi advogado dos oprimidos e escritor magnífico. Deixou frases insuperáveis em defesa da liberdade de opinião, como essa: "Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-la."


É disso que estamos precisando – comendador Hermes Elias, Presidente Anízio Araujo - meus Irmãos todos: para um Oriente abatido por sucessivas crises ao longo de seus últimos anos, a aura empreendedora de um Benjamin Franklin; para um Oriente sacudido pela desesperança no futuro, a audácia do exemplo de um Beethoven; para um Oriente que se engalfinha em discussões estéreis, que têm dificuldade de conviver com a opinião alheia, que enxerga no pensamento divergente uma razão para se render à inutilidade da cólera e alimentar uma irracional divisão interna, o exemplo libertário de um Voltaire.

É disso que precisamos. Este o nosso desafio: estarmos à altura do que nos cobra este momento histórico. Que esta Academia seja essa força revolucionária, capaz de sacudir as colunas sagradas dos nossos templos e nos fazer enxergar o universo mágico da verdadeira Maçonaria, trolha que aplaina as diferenças e nos convoca para a prática da tolerância e do amor!


(Transcrição livre de discurso proferido ontem à noite, no templo da Loja Igualdade, na Rua Senador Pompeu, 578, Centro, Fortaleza, Ceará)



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lb deixou um novo comentário sobre a sua postagem "ACADGOB":

Junior, voce foi simplesmente brilhante. PARABENS!

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