terça-feira, 29 de junho de 2010

POLÍTICA E ECONOMIA NA REAL

Serra: da política à economia I

Afora os passos políticos que tem sido dados pelo candidato tucano, temos de observar cuidadosamente as suas propostas econômicas, e as possibilidades destas seduzirem um vasto eleitorado. De fato, a campanha de Serra cai nas mesmas ciladas conhecidas na fracassada campanha de Alckmin, em 2006. Tudo é colocado na perspectiva de que Serra é um "gerente" melhor que Lula. O candidato paulista poupa argumentos contras as políticas de Lula, mas diz que é preciso avançar. Ora, do ponto de vista estritamente eleitoral isto parece pouco, pois não há razões, digamos, objetivas para o eleitor crer nisto. Para este eleitor a economia vai bem, o emprego e a renda melhorar (sobretudo entre as camadas mais pobres), o país não tem riscos no curto prazo e há crença da comunidade internacional - política e econômica - em relação ao país.

Serra: da política à economia II


Este "vazio" de propostas demonstra uma das faces mais efetivas na política brasileira: a oposição no exercício de seu papel fica esperando o tropeço do governo e, enquanto isto, não se estrutura para oferecer, à luz de sua ideologia, novos caminhos que sejam atraentes ao eleitor. Tudo fica no varejo, na ocasião e num proselitismo frágil. Há, ainda, a vaidade e os interesses regionais que reduzem as possibilidades de um discurso abrangente para o eleitor. Até mesmo o papel fiscalizador da oposição está desmoralizado pelas mesmas razões que esta acusa o governo : há "ligações perigosas" de todos os partidos, em diversas esferas governamentais, com esquemas de corrupção e tudo mais que verificamos nos jornais diários. Portanto, o que vimos, até agora, do principal opositor à candidatura de Dilma, foi muito pouco estimulante do ponto de vista eleitoral. Serra deveria seguir a sua própria máxima: "é preciso avançar!".

A política econômica de Dilma

De forma absolutamente sucinta podemos resumir as propostas da candidata do PT: ela é a favor de tudo o que aí está. Sem tirar nem pôr.

Ausência de Lula no Canadá


O Itamaraty e o Planalto precisam burilar a desculpa dada para cancelar a participação de Lula, na última hora, na reunião do G-20 no fim de semana no Canadá. Logo o G-20 que Lula tanto incentivou e que serviu de bom palco diplomático para o presidente. Esta de coordenar a ajuda ao nordeste é bem fraca. Inicialmente porque uma "coordenação", em tempos de tecnologia avançada da informação, internet e tudo mais, se faz em qualquer lugar, em Brasília, em Toronto ou na Eslovênia. Dois dias fora de Brasília não mudariam nada. O presidente demorou a se dar conta da tragédia nordestina. Ela começou a explodir na sexta-feira, dia 18, e ele apenas sobrevoou o local uma semana depois, na quinta-feira. Até aí o governo não viu urgência na história a ponto de o presidente se afastar da campanha eleitoral para ver Pernambuco e Alagoas arrasados. A ausência de Lula, segundo olhares diplomáticos "não-itamaratianos", tem mais a ver ainda com as reações de seus parceiros ricos à ação brasileira no Irã e com o que o G-20 poderia decidir e acabou decidindo: apoiar ações drásticas de corte de déficits públicos por parte dos europeus, posição contrária à do Brasil e a dos EUA. O "cara" não é de entrar em bolas divididas.

G-20: a Europa falou grosso


Os EUA e os tais emergentes não acreditavam que a União Europeia viesse com um discurso tão pragmático e surpreendentemente unificado em relação à estratégia de superação da crise econômica que afeta o mundo. A posição europeia, como consta da nota acima, foi fiscalista: cortar o déficit fiscal drasticamente e assegurar a posição de crédito dos países do velho continente, sobretudo no caso da Itália, Portugal e Espanha. O Brasil ficou junto com os EUA neste tema, mas o diálogo entre ambos está truncado pela questão iraniana. Todos os países fora da esfera europeia queriam a continuidade do afrouxamento fiscal e monetário neste momento onde a recuperação é incipiente. Os efeitos desta divisão podem não ser sentidos no curto prazo, mas a união mundial em relação ao tema acabou. E há de repercutir no médio prazo.

Para a atenção xerife

A Petrobras perdeu em 2010, até sexta-feira, 25% do seu valor de mercado, correspondente à bagatela de US$ 52,9 bi. Um belo prejuízo. A empresa tem outros acionistas, além do governo Federal e negocia ações no exterior. Uma coisa é certa: parte desta desvalorização se deve ao falatório dos diretores da empresa e do governo em relação ao futuro da empresa. O "xerife do mercado", a CVM, está silenciosa demais, assistindo a tudo.

Contabilidade de padaria – o retorno


Incógnita

Se houve uma estratégia coerente com as projeções eleitorais para a escolha de Álvaro Dias como vice de Serra, e não só a tática minúscula envolvendo a eleição do PR, ela foi tão secreta que ninguém, até agora, fora do círculo íntimo do candidato tucano, atinou o que de fato seja. Um novo Maquiavel baixou nos poleiros do tucanato paulistano.

Areias ardentes

Aécio Neves, desde quando era governador de MG, tinha um hábito que não abandonou nem quando deixou o Palácio da Liberdade: costuma curar-se da agruras da política nas praias do RJ, sua cidade por adoção. Deve tomar cuidado ao pisar as areias cariocas neste tempo de confusão de vices no tucanato para não queimar os pés. Nunca seu nome foi tão referido em áreas de seu partido como nos últimos dias, a partir de sexta-feira. E não é de forma elogiosa. Ao que se diz: se ele quisesse não haveria tal confusão.

A imagem de Serra

Já informamos na nossa coluna passada que a campanha de Serra procurará enquadrar Dilma numa feição que seja negativa aos olhos do eleitor. Algo pessoal em que Serra é projetado como um "fazedor", um "professor", um "empreendedor", alguém que sabe projetar as suas virtudes pessoais em favor do povo. Dilma será a candidata "irritada", "de mal com a vida", aquela que é incapaz de "entender o povo" e assim vai. Tudo isto pode até funcionar, mas é algo de alto risco. Com Lula ao redor da candidata, esta estratégia pode não colar na governista. O eleitor pode ser até arisco, mas está longe de ser superficial.

"Não está cabendo mais"

Quanto mais Lula e Dilma alertam para os perigos do "já ganhou" - de público, pois no privado a vitória já é dada como conquistada no primeiro turno - mais cresce o salto agulha dos companheiros e aliados. As duas pesquisas, previstas para esta semana, do Vox Populi e do DataFolha, se confirmarem o que o Ibope escreveu no levantamento para a CNI, vai desencadear uma briga que já se trava clandestinamente pela divisão de um provável governo Dilma. Visto e ouvido em Brasília na quinta-feira: o PT não está disposto a pagar toda a conta que o PMDB está cobrando. Depois da urnas, medidos os votos, haverá acertos.

Ele só pode estar brincando

O líder do governo Cândido Vaccarezza sugeriu, como solução para arranjar recursos para a área de saúde – cerca de R$ 10 bilhões anuais que viriam da aprovação da regulamentação da EC 29 –, a aprovação também da legalização dos bingos. O dinheiro arrecadado com a taxação da jogatina seria destinado aos serviços públicos médico-hospitalares. Como deu tal declaração às vésperas do jogo do Brasil com Portugal e no auge das festas juninas, Vaccarezza só pode estar brincando.

Eles só podem estar brincando

Há muita gente certa de que, com muita pressão, vai faltar dinheiro público para construir um novo estádio em SP para a Copa de 2014, depois que a CBF comandou o descredenciamento do Morumbi. O governador substituto de Serra, Alberto Goldman, tem sido firme ao dizer que do mato do Palácio dos Bandeirantes não sai essa erva. O prefeito Gilberto Kassab não mostra a mesma convicção quando admite engenharias financeiras para bancar o projeto. Estádio para Copa do Mundo não é uma questão pública, é coisa privada. Vale lembrar, a propósito, uma declaração do jornalista britânico Andrew Jennings, especializado em negócios dos esportes ao jornal O Estado de S. Paulo deste domingo: "Qualquer brasileiro com mais de dez anos sabe que a corrupção em torno da Copa de 2014 já está instalada." Vamos guardar para comentar muito mais sobre o assunto no futuro.

Embalando Mateus

O governo mudou a lei para permitir que a Oi - ex-Telemar - comprasse a Brasil Telecom. Deu dinheiro público – empréstimos do BNDES, do BB, da CEF, investimentos do fundo de pensão – para financiar os maiores acionistas privados na transação. Acreditava-se, com isso e alguns pequenos e simples ajustes acionários, que estaria nascendo a grande multinacional brasileira de telecomunicações. Com forte viés estatal. Os ajustes não saíram ainda, um ano depois, porque não eram tão fáceis. A multinacional ainda está nas nuvens. E as dificuldades começaram a surgir, levando a nova multi - também conhecida como BrOi - a correr para as saias da madrinha. Primeiro, apareceu com um plano bilionário para ser a executora do Plano Nacional de Banda Larga. Era demais e não levou. Depois, foi pedir proteção contra uma eventual tentativa de compra por uma concorrente estrangeira. Agora, informa o Estadão, leva a Brasília um plano para montar um satélite brasileiro, em parceria com as Forças Armadas. Haja capital para os grandes sócios, que por acaso são do governo. Quem criou que ajude a embalar. Não foi por falta de aviso: a nova multi foi um negócio que poderia acabar nas arcas da viúva.

Desmoralização


Os ministros econômicos do governo estão se insurgindo, contra a proposta colocada na LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias, a ser votada provavelmente ainda esta semana no Congresso, para garantir um aumento real para o salário mínimo também em 2011, maior do que o governo pretendia dar. Eles também estão fechados para evitar que o Congresso aprove uma série de bondades para vários setores com o dinheiro público em época de quermesse eleitoral. Alegam, com razão, que não há recursos para tanto. Não comovem. É argumento desmoralizado.

A viúva segundo um governista


Observação de um governista que não tem nenhum resquício de rebeldia na alma: "Eles sempre dizem que não têm dinheiro e depois arranjam, como foi no caso dos aposentados. Eles querem que a gente faça o jogo sujo, mas aqui ninguém é bobo. Vão chorar noutras freguesias."

(José Márcio Mendonça e Francisco Petros)

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