sexta-feira, 9 de julho de 2010

MUITOS ANOS DE VIDA, CRATEÚS!

Hoje evitarei falar dos teus defeitos. Hoje me escusarei de amplificar os teus clamores. Hoje quero apenas lembrar que devemos - por uma razão amorosa, obrigação que jorra do olho d’água da consciência - reativar a orquestra dos teus filhos e, com as partituras do coração, entoar o tradicional canto de amor à tua existência. Parabéns, Crateús!

Ambulante garoto, sem sotaque cigano
Mergulhei na tua capoeira de concreto
E descobri o iodado sal do mundo:

A chama suave e ardente da conjunção afetiva,
O copo boêmio que leva o líquido estonteante,
O movimentado vazio dos vagabundos,
A algazarra da aurora urbana,
Essa gota de malícia chamada sensualidade,
O som arrebatador dos violões apaixonados,
A grave disposição do Externato,
O peso e o pesadelo da palmatória da D. Delite,
A educação feita na construção sintética de amor e rigor,
A disputada corrida para o pão com refresco,
Os rebeldes motivos da rua em crescimento.
Esta é a tribo dos Karatiús.


Comenta-se que nas bandas oeste
E centro-sul da terra Alencarina
Perambulavam três nações de aborígines:
Os Quixelôs,
Os Inhamuns
E os Karatiús.

Devotados ao trabalho,
Os Quixelôs se firmaram
Nas imediações Iguatú;

Pintados para a guerra
Os Inhamuns combatiam
Nas caatingas do Tauá;

Amantes da festa e da alegria,
Os Karatiús se arrancharam
Na ribeira do Poty
E deixaram a latência
De uma semente solene
Que estremece a croa fluvial
E faz as árvores delgadas
De sua mata ciliar
Se agitarem num baile
De extravasamento e ostentação.


Crateús,
Com sua verde cabeleira de árvores,
Com sua alucinação festiva,
Com a doçura de suas veias fluviais,
Com seu suave desenho maternal,
Com suas invisíveis pratas de mistério,
Lançou sobre mim
Uma inextinguível luz.


Quando desfolho combates
Em tua História, Crateús,
Quando saboreio
A abertura de teus pobres,
Quando me inebrio de teu
Aroma noturno,
Quando toco
Teu tórax revolucionário,
Sinto que de ti recebi
Uma fragrância de simplicidade
Reconheço o poder
Das descobertas
E concluo
Que és uma cidade
Que Eu Amo!

(Por Júnior Bonfim, na edição de 06 de julho do Jornal GAZETA DO CENTRO OESTE, Crateús, Ceará)

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