terça-feira, 10 de agosto de 2010

OBSERVATÓRIO



Uma figura querida, médico popular, era Prefeito de Jati, no cariri cearense. Amigo seu, um candidato a deputado filho do Crato aproveitou certa ocasião em que estavam em uma roda de bebida e suplicou apoio. Incontinenti, recebeu sinal positivo. O tempo passou e o candidato, para evitar despesas, nunca mais pisou em Jati. Incomodado com a situação, o Prefeito chamou o candidato e disse: - “Ei moço, você acha que eu tenho os votos guardados num baú para lhe entregar? Aqui está a relação dos nossos amigos. Vá procurá-los. Tente conquistá-los. Do contrário, os votos nunca aparecerão.”


ESTA ELEIÇÃO

está provando que o tempo do voto no baú está realmente se expirando. A força da chamada “transferência de voto” vai minguando a cada prélio eleitoral. Lula, na Presidência, ganhou aura mitológica, mas está sendo obrigado a mobilizar céus e terra, sol e mar para fazer competitiva sua candidata. Tasso, mito cearense, apesar de pessoalmente deter a preferência de seis dentre cada dez cearenses, também sofre para ver deslanchar o seu indicado para o Governo do Estado. Carlos Felipe, promessa de mito que virou índio sem apito, derrama lágrimas antecipadas pelo desempenho pífio que as sondagens indicam para seu pupilo que pleiteia uma vaga na Assembléia Legislativa. Praticamente abandonou a Prefeitura. Pouco tem pisado lá. Está nas tribos atrás de votos.


MÁRCIO


Cavalcante registrou sua candidatura a Deputado Estadual. Sentado na cadeira do gabinete da Presidência da Câmara, Márcio sonha com outra cadeira e outro gabinete: de Prefeito. Mesmo sabendo das enormes dificuldades para obter êxito nessa empreitada, Cavalcante sonha obter votação que o habilite sentar na mesa da sucessão municipal de 2012. Se a estratégia vai ser bem-sucedida, só o tempo dirá.


PAULO


Nazareno, a mais emplumada ave do tucanato local, bateu asas e voou. Deixou o ninho tucano. O motivo? Paulo vai votar em candidato a governador fora do partido. Aos amigos confidenciou que nunca quer ver ninguém lhe lançando o anzol de traíra. Disse que sempre lutou pela fidelidade partidária. Não se sentiria bem em ouvir alguém dizendo que não punha em prática aquilo que pregava.


PORÉM


A história é diferente. Traíra – expressão pejorativa que identifica o filiado que é infiel às diretrizes partidárias – não cabe no presente caso. A decisão de fazer uma parceria eleitoral e política com Domingos Filho foi do PSDB de Crateús, não de uma figura isolada em contraponto à definição da agremiação. Da mesma forma que Tasso em 2002, objetivando fortalecer o palanque estadual, votou em Ciro e não em Serra, o PSDB de Crateús fez uma coligação com o PMDB, através de Domingos Filho, visando o pleito municipal de 2012. E isso é público e notório. Todos viram o atual Presidente da Assembléia pedindo votos para o PSDB na eleição municipal passada. A reciprocidade do apoio é mais que um gesto de cortesia. É honrar a palavra. Um imperativo ético, demonstração de grandeza, compromisso moral. Por isso, Paulo deveria ter pensado melhor sobre essa decisão. Era perfeitamente compreensível que continuasse na agremiação, como os demais filiados. Até porque continua votando em candidatos do Partido: Serra, Tasso, Nenen...


POR FALAR


Em Nenen, este acompanhou o Senador Tucano em seu périplo pela região. Ainda no período anterior à definição de candidaturas, Nenen tomou uma atitude corajosa. Disse em uma reunião partidária que, se o candidato a governador fosse Tasso, estaria com ele. Do contrário, tomaria outro rumo. Na hora, Jereissati externou que admirava a postura do Deputado e se dirigiu aos demais participantes: - “Quero que todos façam como o Nenen: sejam honestos. É melhor dizer de cara o que está pensando do que ficar prometendo algo aqui e fazendo outra coisa lá fora”. A decisão de Nenen em nada abalou sua relação com Tasso, que compreendeu perfeitamente as razões do seu posicionamento.


O TRE


Cearense endureceu na aplicação da lei complementar 135/2010, popularmente batizada de “Ficha Limpa”. Fruto de um amplo movimento ideológico pela ética na política, a lei albergou propostas populares que ainda carecem de conformação jurídica. Como a lei é novíssima, ainda comporta muita digressão exegética, muito esforço de interpretação. Há equívocos que certamente serão corrigidos pelas Cortes Superiores. Há aspectos da norma que são flagrantemente inconstitucionais. E isso está dito por Ministros da mais alta Corte de Justiça do País, o Supremo Tribunal Federal.


PARA REFLETIR


“Eu acho que os governos, como as pessoas, têm que ter caráter. Caráter e índole. E este caráter se expressa na maneira de ser e na maneira de agir. (...) Eu acho que os governos, como as pessoas, têm que ter personalidade, têm que ter brio profissional. (...) Mas eu acho também que o governo, como as pessoas, tem que ter alma, minha gente. Aquela força imaterial que os impulsiona e diz a forma. Alma. (...) Os governos, como as pessoas, têm que ter sensibilidade para agir e compensar as desigualdades. (...) Os governos, como as pessoas, têm de ser solidários e prestar atenção às grandes questões que dizem respeito ao futuro do país e do mundo. (...) Governos, como as pessoas, têm que ter compromisso com a responsabilidade e com a felicidade”. (José Serra)



(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal GAZETA DO CENTRO-OESTE, Crateús, Ceará)

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