sexta-feira, 19 de novembro de 2010

FRANCISCO CARLOS MOURÃO PARTIU PARA O ORIENTE ETERNO


Sacudiu-me o coração a notícia, recebida hoje pela manhã, do desenlace de Francisco Carlos Mourão, ocorrido na noite de ontem.

Era respeitado e querido por onde circulava.

À família, nossa ativa solidariedade.

Escrevi, a propósito do Dia do Maçom, uma crônica em sua homenagem, dês que era um exemplo de pedreiro-livre.

Reproduzo-a aqui como preito de reconhecimento a alguém que sempre fez uso do prumo nas suas construções esotéricas:


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20 de agosto é o Dia do Maçom. Maçom, Maçonaria... Assunto que ainda suscita interrogações, mercê da aura folclórica, do véu de mistério e da cerca de curiosidade que sempre revestiu a Instituição e seus integrantes.

Dada sua característica discreta – que muita gente confunde com secreta – a Maçonaria, principalmente depois do lançamento de Best Sellers sobre o tema (como os livros de Dan Brown), tem despertado enorme interesse na juventude investigativa, nos amantes da sabedoria humana e nos estudiosos de todos os matizes.

Afinal, o que é ser Maçom no mundo contemporâneo? Qual o segredo que alimenta os Maçons e que tem perpassado os séculos aguçando a massa encefálica da humanidade?
Em verdade, o segredo da Maçonaria é simples. É o mesmo que impulsionou os maiores luminares da História. Não se encontra em um manual, mas no universo espiritual. É um tufão que sacode o âmago do ser e o retira da escuridão da consciência para colocá-lo sob a luz da profundidade.

Ser Maçom é consagrar-se à firmeza de caráter. Sem frouxidão, ser manso e humilde de coração. É libertar-se das baixas contingências gregárias. Subjugar a influência das ilusões. É combater o despotismo, os preconceitos e os erros. É promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade. É hastear a bandeira da Fraternidade, da Igualdade e da Liberdade.

Ao redor desses ideais e postulados progressistas, homens livres e de bons costumes - sem distinção de raça, religião, ideário político ou posição social – têm se reunido para erigir templos à virtude e contribuir para o engrandecimento do edifício social da civilização humana. Esse é, em apertada síntese, o papel do Maçom na quadra atual.

Em Crateús, há dois prédios maçônicos. Um deles está localizado na rua que leva o nome do grande jurista que Viçosa do Ceará ofereceu ao mundo, Clóvis Beviláqua, o festejado autor do Código Civil de 1916. Ao lado desse templo, reside um dos seus fundadores, o mais antigo maçom em atividade na urbe e a principal coluna daquela oficina: Francisco Carlos Mourão.

Embora nascido, como o poeta do século XX, Gerardo Mello Mourão, na heróica Ipueiras, Francisco Carlos Mourão se fez crateuense. Passou por todas as provas da vida: do ar, do fogo, da água e da terra. Sagrou-se vitorioso. Virou um patriarca dos pedreiros livres da encosta do Poty. Instrutor dos que lapidam a esmeralda humana, desbastando a pedra bruta e a transformando em pedra cúbica, como um profeta que guia os seguidores na excelsa missão de espalhar a luz e reunir o que está esparso.

O rebento que o casal Aristides de Pinho e Raimunda Soares Mourão entregou ao universo no dia 13 de maio de 1933 é um modelo de pai, uma referência de dignidade, um farol de luta. Sabendo que a família é um dos principais alicerces da harmonia interior, casou-se com Jacira Mourão Lima, com quem procriou Rosângela, Janete e Gilson.

Ouvi falar dele a primeira vez ainda menino. Após ingerir um delicioso refrigerante, perquiri a origem. Disseram que era o Guaraná Cassino, orgulho dos crateuenses nos idos de 60 e 70, fruto da aura empreendedora de Chico Carlos Mourão. Tempos depois, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente quando apadrinhou meu irmão caçula.

Sua postura reta, altiva e vertical, sempre me impressionou. Aprendi que o homem maduro é aquele que enfrenta com a mesma serenidade tanto um terremoto de tristeza como uma explosão de alegria. Posso afirmar que, sem embargo, Carlos Mourão pisou os prados da maturidade. Descobriu o verdadeiro Segredo Maçônico. Naquele sentido que esposou um dos mais emblemáticos maçons de Portugal, o iluminado poeta Fernando Pessoa:

“O verdadeiro Segredo Maçônico...
É um segredo de vida
e não de ritual
e do que se lhe relaciona.
Os Graus Maçônicos comunicam àqueles que os recebem,
sabendo como recebê-los,
um certo espírito,
uma certa aceleração da vida
do entendimento
e da intuição,
que atua como uma espécie
de chave mágica dos próprios símbolos,
e dos símbolos
e rituais não maçônicos,
e da própria vida.
É um espírito,
um sopro posto na Alma,
e, por conseguinte,
pela sua natureza,

...incomunicável”.

(Por Júnior Bonfim).

Um comentário:

Sergio Moraes disse...

Caro Junior,
associo-me à dor da família e dos amigos de Francisco Carlos Mourão.
Homem sério e decente, perde a maçonaria e o comércio crateuenses um dos seus esteios.
Que o Grande Arquiteto do Universo dê a família e aos amigos, a consolação e a certeza que partiu para o Oriente Eterno um homem de bem.
Fraternal abraço do Sergio Moraes.