quarta-feira, 11 de maio de 2011

ELIEL MACHADO DA PONTE


Diviso aleatoriamente as pessoas que escolho para abrilhantar esta Coluna. Algumas, em função de posições que ocupam no gramado social, são amplamente conhecidas; outras, por razões que não me compete perquirir, optaram por buscar assento na arquibancada do anonimato. Quiçá porque assimilaram, como Gandhi, a liturgia da natureza: trabalham continuamente, mas em silêncio.

É o caso de Eliel Machado da Ponte, um cidadão que conheci na década de 1970, quando pilotava um ônibus da Viação Machado. Vindo das Três Lagoas do Coreaú, Eliel se fez um ser humano fácil em meio às dificuldades da vida. Filho de agricultores pobres, sua primeira escola foi a roça – onde aprendeu que é necessário paciência e perseverança para colher a fartura natural. Jamais esqueceu o frugal alimento que lhe era oferecido na mesa do sofrimento: o feijão, a farinha e a rapadura – símbolo da dureza que se transforma em doçura.

Com apenas 11 janeiros teve cortado o cordão do afeto maternal: Florência Carneiro Portela, sua genitora, desencarna por ocasião de um parto. Logo que completa 18 anos, o filho de Francisco Machado da Ponte segue a marcha independente da vida.
Trabalhando com os primos Raimundo Machado e Milton Machado, empresários do ramo de transportes, faz progressos: começa na função de cobrador e ajudante de bagagens, depois vira motorista.

Laborando no percurso Crateús a Independência, conhece a mulher que iria tornar cativo o seu coração: Elzafá Pedrosa Machado. Convolaram núpcias em 1975 e, com a chegada de herdeiros, se dedicaram inteiramente à formação dos mesmos: Magidiel e Ismael Pedrosa Machado, pois o caçula, Gebnnel, prematuramente (com apenas dez dias de vida) foi levado para outra dimensão.

Em que pese as enormes barreiras postas na estrada da sua vida, Eliel sempre alimentou firmemente o sonho de formar os filhos. E na direção desse sonho pilotou como um sábio. Ou como um mestre, na melhor esteira do ensinamento Budista: "O Mestre na arte da vida faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu lazer, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a sua religião. Ele dificilmente sabe distinguir um corpo do outro. Ele simplesmente persegue sua visão de excelência em tudo que faz, deixando para os outros a decisão de saber se está trabalhando ou se divertindo. Ele acha que está sempre fazendo as duas coisas simultaneamente."

Em 1996, transporta o filho mais velho, Magidiel, para a Capital Alencarina, a fim de que pudesse dar concreção ao mais profundo desejo de sua alma. No ano seguinte repete o gesto com o outro filho, Ismael. Nesse mesmo ano, enfrenta uma grave intempérie: perde o emprego! Mas não perde a fé, essa inexplicável força que remove montanhas e gera luz onde reina a escuridão. A mão Divina o abençoou e um novo emprego surgiu, na Empresa Gontijo. Faltando apenas dois anos para a graduação dos seus pupilos, passa a trabalhar na Empresa Barroso, onde laborou até obter a aposentadoria.

Homem de sólidas crenças, Eliel conseguiu voar ao topo do monte do discernimento: aprendeu que a vida é passageira e que, nessa viagem fugaz, nossa melhor ação é lançar sementes do bem à beira do caminho e cavar masmorras às paixões ilusórias. Virou obreiro da messe Espírita e, como Allan Kardec, “reconhece o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações”.

Antenado com os campos infinitos da percepção dos valores essenciais, tem seguido a bússola do desprendimento da matéria e conseqüente dedicação às causas do espírito, concentrando energia na valorização interior e no serviço ao próximo.

A partir desse desabrochar íntimo da sensibilidade, recolheu da realização do sonho de ver os filhos bacharéis em direito, em julho de 2002 (Magidiel e Ismael pontificam entre os mais promissores causídicos das plagas do Poty) o sinal da oportunidade de se dedicar com mais afinco ao ideal de servir ao semelhante. Passa a trabalhar voluntariamente na Creche José Maria Camerino, dedicando tempo e trabalho, atenção e afeto para a comunidade do bairro Fátima II.

Em 2006, elege a meta de construir um Centro Espírita no bairro Cidade 2.000 como o seu grande propósito. Em 15 de dezembro do mesmo ano, inaugura um grande templo Espírita, dotado de moderna infra-estrutura e à altura do vigoroso trabalho social que realiza junto àquela comunidade.

Eliel renasce em cada desafio e se mantém colhendo frutos de prosperidade, pois descobriu a norma fundamental: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. (Allan Kardec)


(Júnior Bonfim, na edição de ontem do Jornal Gazeta do Centro-Oeste, Crateús, Ceará)

Um comentário:

Sergio Moraes disse...

Caro Junior,
justa e merecida a homenagem prestada ao querido amigo e irmão Eliel.
Abraços.
Sergio Moraes