sexta-feira, 6 de maio de 2011

JITIRANA DE LUZ

No pórtico de entrada, um pelotão de Carnaúbas - palmeiras do semi-árido - anuncia o ingresso no território mágico da latência imorredoura. Na vereda que percorro esparrama-se o perfume original do mufumbo. Chego à sertaneja casa que amo. Mesclada de alvenaria e pau-a-pique, cercada por aquele tradicional entrelaçamento de madeiras locais. Quando, mesmo distante, para ela volvo o pensamento, sinto-me transportado para um espaço de deleite e aconchegante convívio. Na entrada toco a sagrada romã, símbolo do amor e da fecundidade. Miro o ornamental flamboyant e sua magnética ressurreição. Colho uma polpuda siriguela e sorvo o seu doce mel. Em seguida corro a vista na vigorosa canafístula e sento à sombra do juazeiro, estandarte da caatinga.

Pronto! Agora posso prosear sobre o autor deste livro. Só aqui, em meio às oiticicas da infância, ao estrume azul do velho curral, às ribanceiras do rio em que nasci, recolho a espontânea força para falar de um ser tão efusivamente terrestre como Antonio Dideus Pereira Sales.

Este poeta é co-responsável pelo meu ingresso no reino da alegria. No ano 2000, quando restaurava um habitat no torrão em que nasci, ele me fez uma doação valiosa e vital: um carro cheio de mudas – mamão, pitanga, coco, acerola, limão, alfavaca, laranja etc. - a fim de que eu circundasse com plantas minha gleba predileta.

Nascido nos sertões de Crateús, Dideus Sales veio a este ambiente chamado terra para cumprir a sina invulgar de divulgar a boa nova da poesia e esbanjar generosidade.

Desde cedo virou apóstolo do sonho, missionário do verso, lavrador de amizades, cidadão do mundo. Nos anos 1980 destacou-se ao desenhar, na atmosfera do interland cearense, um arco-íris de estrofes formosas e delicadas. Usava as nuvens sonoras do rádio para derramar os fios celestes da genuína, silenciosa, cativante e muitas vezes anônima poesia popular.

Depois, ganhou asas e voou o Brasil inteiro. Conhece versejadores da foz do enigmático Amazonas ao Porto Alegre do Rio Grande do Sul. É, por natureza, andarilho. Caminha por sobre o trilho da rima com brilho.

Cantando, se encantou com as graças de Isabel, uma bela morena do litoral. A Bel e um sedutor vento arrastaram o trovador para as ondas do mar de Aracati, onde se instalou e procriou o Mateus e a Vitória. Daquela terra suntuosa e exuberante comanda a linotipia da Gente de Ação, uma revista que divulga quem faz alguma coisa pela arrumação do mundo e que exibe um balaio dos melhores fiadores de palavras do Ceará.

Eis, minha gente, um típico e robusto animal do sertão, com uma das mais altas taxas de colesterol telúrico que conheço. Um canário da terra, um autêntico “cabeça vermelha”.

Na vida, como na literatura, nos defrontamos com dois modos de ser: o da prosa e o da poesia. Ao gosto da flora que amamos, Dideus optou por viver em permanente estado de poesia. É ele a JITIRANA DE LUZ!

(Júnior Bonfim)

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro amigo Junior Bonfim, COMO O Sr. ver lado politico na nossa terra natal, quem pode ser os possiveis candidatos a prefeito.

um abraço de uma amigo..