terça-feira, 17 de maio de 2011

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Brasília, temor e insatisfação

O estilo público da presidente Dilma tem sido muito elogiado, já quase em prosa e verso. O estilo privado, de "gestão de pessoas" e de abordagem política, nem tanto. Comenta-se na capital, em tom de queixa e revolta, a aspereza no trato com auxiliares, um certo fastio com a operação da política dos políticos e a demora no atendimento dos pleitos partidários. Diz-se que há uma certa soberba e arrogância pairando no Planalto, disfarçada nos eventos públicos. Foi por conta desse caldo de cultura que o governo esteve a minutos de sofrer sua primeira fervorosa derrota no Congresso, mais especificamente na Câmara, na votação do novo Código Florestal. Do PMDB ao PT, passando pelos aliados menos votados, havia uma disposição na noite de quarta-feira, quase madrugada de quinta-feira, de se votar contra as posições defendidas pelo governo. Bons contabilistas das coisas do Legislativo asseguram que a proposição mais ao agrado dos ruralistas do que dos ambientalistas teria cerca de 400 votos num total de 513. Velhas raposas dizem que, se o governo não ficar mais "simpático" a mesa pode começar a mudar. (Entenda-se por simpatia: nomear mais rapidamente os segundo e terceiros escalões, soltar mais verbas das emendas dos parlamentares e para os prefeitos e afagar deputados e senadores com gestos de carinho, recebendo mais, conversando mais com eles). O temor das broncas, para completar, geram, naturalmente, o temor de avançar decisões, de tomar a iniciativa sem consultar os oráculos nas mínimas coisas.

Só blábláblá, não

De uma experiente alma política, da base aliada: "O governo pensa que é espertinho demais e que leva a gente aqui somente no lero-lero. Ele está arriscado a sentir logo que aliado insatisfeito é muito pior do que esta oposição mambembe que está aí".

Estratégia de risco

Os operadores políticos do governo acreditam ter descoberto a forma para pressionar os ruralistas a apressar a votação do Código Florestal, aceitando as mudanças que os ambientalistas ainda querem fazer no relatório do deputado Aldo Rebelo, tido como excessivamente antiambiental - é que em 11 de junho termina a moratória para desmatadores concedida pelo presidente Lula. Daí em diante, quem está fora da lei fica sujeita a multas diárias, cuja repetição pode tornar os ônus para os proprietários. É fato. Mas é preciso saber se o governo terá força (ou determinação, ou coragem) para valer para punir quase 4 milhões de propriedades nessas condições, boa parte das quais trabalhadas por pequenos e microprodutores. É ameaça para não cumprir porque poderia criar um problema social e político de alta combustão. O governo está condenado a buscar um acordo rapidamente por um texto de algum consenso no Código Florestal ou então a prorrogar por mais um tempo a anistia a quem desmatou fora das regras.

Em ritmo de valsa

As divergências entre os partidos políticos na luta pela distribuição dos cargos Federais em Brasília e nos Estados, somada à disposição da própria presidente Dilma de tratar a questão com parcimônia e em câmera lenta, além de gerar insatisfações entre os parceiros, até no obediente PT, está provocando paralisações e até uma certa anomia em vários ministérios e órgãos oficiais. Há ministros que não conseguiram nomear até agora seus preferidos para áreas vitais de suas pastas, órgãos com interinos, órgãos comandados por pessoas que não sabem se vão continuar. Há casos de escolhidos para postos chaves que começaram a trabalhar sem a nomeação oficial, com mesa e cadeira na Esplanada dos Ministérios, e, depois de um bom período de atividade tiveram que sair porque o governo precisava do posto para outra composição política. Ainda há gente nesta situação desde janeiro. E Brasília assiste ainda, como na semana passada, a duas ou três posses importantes, com o governo às vésperas de entrar em seu sexto mês. A situação só é mais tranquila nas áreas em que houve uma continuidade e naquelas nas quais o novo ministro optou por manter a equipe passada. E não se trata apenas de ministérios de peso secundário. De fato, o fenômeno se dá em áreas ditas prioritárias. Na Saúde, por exemplo, somente nos últimos dez dias definiu-se os titulares da Anvisa e da Funasa. O que gera uma certa lentidão, quando não paralisa nas decisões desses organismos. Quem se sabe interino ou não tem certeza de que vai ficar por mais tempo, decide o menos possível, apenas toca o barco.

Tudo bem aqui fora

Em compensação, ao contrário do mundo político, que começou o governo com entusiasmo elevado e agora já está de crista baixa, no mundo real da economia e da sociedade, depois dos meses iniciais de desconfiança, o governo começa a ultrapassar o ceticismo vigente. Aumenta o número de agentes econômicos e formadores de preço que passaram a acreditar que a estratégia traçada para a política econômica, de combate gradual à inflação para não comprometer excessivamente o crescimento econômico, tem possibilidades de ser bem sucedida. Os dois próximos meses podem ser decisivos nesta retomada da confiança, a partir dos números da inflação, do desempenho real das contas públicas, da capacidade que o governo demonstrar de que vai continuar toureando as pressões políticas, e do desempenho da economia externa; esta última variável a grande incógnita do momento.

Hora imprópria

Por falar em economia mundial, tudo que não se queria agora é uma complicação no FMI, como a gerada por essa história do seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn. Os mercados ontem já refletiram negativamente a confusão, num momento em que a Europa volta a pisar em ovos e esperava do Fundo um anteparo para valer. Pode ficar tudo paralisado e incerto, ainda mais que já se abriu uma disputa perigosa pela vaga de Kahn.

"Conosco ninguém podemos"

No idos aos anos 1960, o escritor Sérgio Porto, na pele do seu alter ego Stanislaw Ponte Preta, o criador do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o país), dando vazas a sua veia musical, compôs uma música que intitulou "O samba do crioulo doido". (Nome hoje politicamente incorreto. Deveria se chamar: "Samba do afro descendente com deficiência mental"). Stanislaw contava a história de uma sambista que, depois de anos chamado a compor sambas de enredo para sua escola de samba, com temas e personagens da história do Brasil, posto diante do desafio de falar da "atual conjuntura" delirou de vez, e entre outras sandices cantou o casamento de Tiradentes com a Princesa Leopoldina, lembrou a "proclamação de escravidão" e por aí afora. Um sucesso de bom humor, sem consequências. Pois foi este espírito do sambista inventado pelo criador do Febeapá (nada mais significativo aliás) que baixou nos autores de um livro, aprovado oficialmente, sobre Língua Portuguesa, que está sendo distribuído nas escolas públicas nacionais. O livro, em resumo, considera que falar (e escrever) sofra dos padrões da norma culta (não a norma complicada, a mais simples, mas gramaticalmente perfeita) não é errado, pode ser apenas inadequado. Assim, valem, por exemplo:

"Nós pega o peixe" - "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado"

E outras sandices. Ou seriam asnices? A obra faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Com tais conceitos, dá aval ao lema de um bloco carnavalesco no interior de Minas: "Conosco ninguém podemos". E torna norma culta um velho linguajar de alguns futebolistas menos letrados: "A gente faremos tudo para vencer nossos adversário". O Ministério da Educação andou um tanto fora do ar após seguidas trapalhadas no Enem. Mas voltou com tudo, no melhor estilo do Lalau Ponte Preta do Febeapá. Ao contrário do que diz certo jargão, nem toda ignorância é santa, nem inocente, pois manter as pessoas ignorantes e mal informadas é mantê-las atreladas à pobreza e fáceis presas do clientelismo político.

Crer para ver

Tucanos têm espalhado que chegaram a um acordo entre suas diversas correntes não só em São Paulo, entre os grupos de Alckmin e Serra. Como também nacionalmente, entre Aécio e Serra. São Tomé está a postos para conferir.

Ver para crer

A cúpula do PMDB, de público, garante que o partido está satisfeito com o desenrolar do governo. Parece que faltou combinar com as bases.

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(Por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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