quarta-feira, 13 de julho de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Plena absolvição

O rapaz, advogado novo em Princesa Isabel, Paraíba, ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, dono da cidade:
- Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui.
O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda:
- Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem.

Mais uma vez, historinha da coleção do amigo Sebastião Nery.

E Gurgel, hein?

Pois bem, a presidente Dilma decidiu reconduzir Roberto Gurgel ao cargo de procurador-geral da República. Até aí tudo bem. Gurgel acaba de fazer a denúncia formal contra os mensaleiros. Confirma o laudatório do procurador anterior. Pergunta: o que os senadores petistas farão? Aprovarão ou não a recondução de Gurgel? Já as oposições alegam: ele foi muito governista. Não quis ir a fundo no caso Palocci. Pergunta: como as oposições avaliarão a recondução? Parecer deste consultor: há muita firulação. Gurgel deve passar na prova que o Senado fará a ele em agosto. A conferir!

Crises intermitentes

Sai o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e a mídia abre as trombetas: segunda crise ameaça governo Dilma. Ora, mais crises virão. Todas muito previsíveis. O presidencialismo de coalizão obedece a um fluxo de idas e vindas, marés vazantes e marés enchentes. As bases do governo sempre vão fazer pressão ou contrapressão. Trata-se de um jogo. Os partidos querem inserir seus quadros na administração. Os perfis nem sempre agem de acordo com a agenda ética. Por outro lado, o DNA da corrupção se espraia pelas três instâncias federativas. Ante a repercussão negativa, a dona da caneta não tem alternativa que a de despachar os indiciados.

O sal da terra

"Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que há de se salgar ? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens". (Cristo, em O Sermão da Montanha)

O novo ministro

Paulo Sérgio Passos é um nome da presidente Dilma. Que quer limpar influência e mando do deputado Valdemar Costa Neto. O PR teve de endossá-lo. Trata-se de um técnico que fez amizade com a presidente. Que o trata por Paulinho. Ele é marido da cantora Rosa Passos.

Reforma ministerial

O Ministério que inaugura um governo é a primeira moldura. Que, ao longo do tempo, vai sofrendo desgastes. Há quadros mal colocados na parede; alguns são muito esmaecidos, outros se quebram ao sabor do vento. As peças vão sendo remodeladas ao longo do tempo. Dilma pensava em fazer a primeira alteração ao final do ano. E ainda conserva esta ideia. A saída de dois ministros antecipa a revisão de quadros. Ante a versão de que coloca no escanteio alguns ministros, a presidente poderá, até, adiar a reforma que imagina e começar a prestigiar perfis considerados marginalizados. É evidente que alguns nomes ainda não mostraram eficiência.

Superfaturamento?

Costume por estas bandas. Fecha-se o contrato por X. Depois de algum tempo, aparecem os aditivos. E o preço sobe a montanha.

A ousadia

"Desde o condutor dos transportes e o tocador de tambor até o general, a ousadia é a mais nobre das virtudes, o aço verdadeiro que dá à arma o seu gume e o seu brilho". (Clausewitz, em Da Guerra)

Oposições mais fortes

O poder é um jogo de soma zero. A perda de um jogador é o ganho de outro. Cada vez que um episódio negativo bate no corpo do governo, este perde pontos e as oposições se fortalecem. É o que temos percebido. O governo Dilma, em seis meses, perdeu uns pontinhos. Foi bem até o terceiro/quarto mês. E a indicação apontava para taxas crescentes, sob o conceito de que Dilma é uma presidente técnica, equilibrada e educada com seus acenos bem vistos para Fernando Henrique, a quem escreveu uma carta carregada de encômios. Nos últimos dois meses, o governo entrou numa curva. Que começou com o carro desembestado do ex-ministro Palocci. Por enquanto, a locomotiva governamental ainda desce a ladeira.

Embates conceituais

Fernando Henrique produziu aquele texto onde procurou descrever o papel das oposições. Sua tese é a de que as oposições cairão do cavalo ao procurarem a montaria do povão. Foi dizer isso e o pau caiu sobre ele. FHC sugeriu que as oposições fixassem o foco nas classes médias. Escrevi um artigo no Estadão reforçando este ponto de vista, mostrando o poder de irradiação de influência das classes médias. Que funcionam como a pedra jogada no meio do lago. Fazem marolas que chegam às margens. Agora, é Zé Dirceu quem faz um texto em resposta à FHC. Li o documento. Trata-se de um arrazoado sobre os programas sociais do PT e uma forçada de barra conceitual na tentativa de enquadrá-los no escopo do socialismo. Pura bobagem. Dirceu faz parte de um time que joga com bolas furadas. Apega-se ao velho vocabulário para discorrer sobre o escudo protecionista que os governos - qualquer um - têm obrigação de formar em defesa das classes mais carentes.

A emoção

"A emoção é necessária, porque sem ela não se pode viver. O importante é sonhar e ser sincero com seu sonho". (Jorge Luis Borges)


Crise externa

A Europa enfrenta novamente a ameaça de crise. Itália, Espanha e Portugal temem que suas economias sejam as primeiras a se romper, caso a gigantesca sombra que paira sobre a Grécia chegue até seus territórios. Os EUA também estão ameaçados. O desemprego não cede. O Brasil, por seu lado, parece esbanjar oportunidades. Há muitos buracos que precisam ser tapados e a gastança chega aos píncaros. Não por acaso, Mantega e sua equipe econômica roem as unhas para evitar ondas mais altas na praia da inflação. Juros altos seguram a barra. Mas a produção brasileira sofre duramente com o dólar pedindo esmola e o real esbanjando pujança.

O centro


"O centro vale mais que os extremos". (Cardeal Mazarino, em Breviário dos Políticos)

PR sairá da base?

PR ameaça sair da base do governo. Essas ameaças partem de fontes não identificadas, que se valem do genérico: parlamentar que não deseja se identificar, um líder partidário, fontes do Congresso, etc. Bobagem. PR é governista de corpo e alma. Seus participantes jamais trocariam o bem-bom do governismo pela fonte seca do oposicionismo. Seria mais fácil o sol não aparecer, amanhã, que o PR abandonar o curral governista. Por isso, as sinalizações de fontes não identificadas servem apenas como expressão de barganha.

Ensaios para 2012

Lula quer puxar Fernando Haddad, ministro da Educação, para o palco paulistano. Haddad já bebeu muita água no copo governamental e, ao que tudo indica, quer colocar seus lábios em novas taças. É o candidato de Lula a prefeito de São Paulo. Luiz Inácio crê em caras novas. Atenção: ele tem faro. Mas o ex-presidente confessou a um amigo, semana passada: será difícil tirar Marta Suplicy do jogo. Trata-se do perfil com maior recall e índice de votos do PT na capital. E a senadora está muito motivada. Marta mostra-se enjoada com o palavrório do Senado. Gosta mesmo do Executivo. Há uma vírgula em sua pontuação: a rejeição é alta. Se detém, hoje, uns 30% de intenção de voto, registra o mesmo índice na área da rejeição. Pode diminuir? Sim. Tudo vai depender do clima ambiental: economia, satisfação geral, violência social, imagens dos governos estadual e municipal, polarização entre PSDB e PT, e adversários.

Surpresa

"Nem sempre vale a pena ser o primeiro a atacar; mas se o inimigo atacar primeiro você pode inverter a situação. Na estratégia, ganha mais quem surpreende o inimigo". (Miyamoto Musashi, em Um Livro de Cinco Anéis)

Safra governamental

Quem está bem nos governos estaduais? As leituras que faço dão conta de que os governadores, quase todos sem exceção, estão às voltas com a carência de recursos. Estendem o pires na mão no Planalto Central. Afluem aos Ministérios. Que não têm ordem - nem orçamento - para liberar recursos. Não sei quem tem avaliação acima de 7. Regular.

Pastore e os ex-detentos

José Pastore é um dos mais preparados scholars do país. Tem as mais completas planilhas sobre o mundo do trabalho. Professor renomado da nossa USP, consultor de diversas entidades, a partir da CNI, Pastore lança, em breve, um novo livro: "Trabalho para Ex-Infratores", 158 páginas, Editora Saraiva. Trata-se de uma obra que relata os resultados de uma pesquisa sobre a reinserção de ex-detentos no mundo do trabalho. Ao examinar os determinantes do crime e da reincidência, o autor procura desvendar o que de melhor pode ser feito em prol da recuperação dos que cumpriram suas penas ou estão em vias de cumpri-la. E apresenta sugestões aos que desejam operar programas de reintegração de ex-detentos, além de recomendações práticas para sua execução.

Suplentes sob sombras

A senadora Marisa Serrano, do PSDB, deixa o cargo no Senado para ser conselheira do TCE/MS. Seu suplente é o empresário Antônio Russo Netto. Russo é dono do frigorífico Independência, que entrou em recuperação judicial em 2009, deixando uma enorme lista de credores às portas do Judiciário, até hoje. Com a morte do senador Itamar Franco, o suplente Zezé Perrella ganha um mandato de senador por 7,5 anos. Perrella é presidente do Cruzeiro. Pesa sobre ele denúncia de enriquecimento ilícito.

Criando necessidades

"Um príncipe sábio deve encontrar um modo pelo qual seus cidadãos, sempre e em qualquer tempo, tenham necessidade do Estado e dele; assim, eles sempre lhe serão fiéis". (Maquiavel)

O grito do Capibaribe

O psiquiatra e escritor Luiz Carlos Albuquerque acaba de lançar em Pernambuco o segundo livro voltado para o público jovem. O primeiro, "A Guerra dos Bichos", está na sétima edição e mais de quarenta mil exemplares, fazendo parte de programas MEC e Secretaria de Educação de São Paulo. No recém-lançado "Batra, o Sapo", o autor conta as peripécias de um espécime que nasce no interior de Pernambuco junto aos olhos d'água que dão início ao rio Capibaribe e sente que acompanhar o rio até o mar será o seu destino, a jornada de sua vida. O longo percurso é feito de lenda, ação, humor, perigos e aprendizagem. O sapo é também um animal político.

Bom senso

A presidente Dilma chamou Luciano Coutinho e ordenou : tire o BNDES desse jogo do Pão de Açúcar com Carrefour. O banco passou mal no teste da opinião pública. A presidente usou o bom senso.

Turismo

O turismo brasileiro atravessa um ciclo de decepções. E demissões. Mais um nome sai da frente turística: a secretária de Turismo e Fomento de Ilhabela, Djane Vitoriano de Jesus, após um ano e três meses de mandato, deixou o cargo na manhã de ontem. Junta-se ao conjunto de outros secretários que abandonaram cargos nos últimos meses, em Búzios, São Francisco do Sul e Angra dos Reis.

Desindustrialização

A FIESP defende posições avançadas (e corajosas) do governo no território tributário. Mas o governo não está disposto a atender a algumas sugestões da entidade. A Federação defende desoneração total dos encargos trabalhistas da indústria de transformação, transferindo essa carga tributária sobre a folha de pagamento para outros setores da economia. O presidente da FIESP, Paulo Skaf, põe as coisas no devido lugar: "O Brasil enfrenta um processo de desindustrialização precoce. Para revertê-lo, a nova política industrial é fundamental, mas não suficiente. É preciso modificar a política macroeconômica".

Reputação

"Aquele que troca reputação pelos negócios perde os negócios e a reputação". (Quevedo y Villegas)

Conselho ao novo ministro dos Transportes

1. Faça uma radiografia das obras Federais em todos os pontos do território. Veja orçamentos iniciais e finais.
2. Procure saber como, onde e por que as obras estão atrasadas, são ou foram superfaturadas e os responsáveis pelos projetos - planejamento e execução.
3. Convoque a mídia e mostre resultados da planilha de obras a cargo do Ministério dos Transportes. Indicando o nome dos prestadores de serviços.
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(Gaudêncio Torquato)

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