quarta-feira, 27 de julho de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Quatro chinelas


O médico Francisco Ibiapina, do Jaguaribe, Ceará, tratava com muito zelo de um cliente recém-casado e acometido de forte gripe. O clínico fazia prescrições sobre o regime alimentar e sugeria cautelas para evitar recaída. A um lado, a jovem esposa presenciava a conversa, silenciosa e atenta aos conselhos do médico. Fixando nela os olhos amorosos e não se conformando com a desarrumação de sua lua de mel, o doente cochichou um pedido com voz rouquenha:

- Seu doutô: fazerá mal quatro chinela debaixo da minha rede?

Causo contado pelo historiador Leonardo Mota.


Sinal amarelo


Há um grande sinal amarelo nos faróis que iluminam a trajetória das principais economias mundiais. E esse sinal começa a ser aceso nos Estados Unidos. Dia 2 de agosto é o prazo fatal para sabermos se o sinal é de perigo. A questão gira em torno da dívida interna dos EUA, de US$ 14,3 trilhões. Os republicanos querem aumentar a dívida em apenas (?) US$ 1 trilhão. Os democratas propõem um aumento de US$ 2,4 trilhões e um corte de despesas de US$ 2,7 trilhões. Se o aumento não for suficiente, a Nação de economia mais forte do mundo dará um calote. A economia poderá contrair em até 5% e o resto do mundo, entre 3% e 4%. Os investidores começam a escolher uma moeda para substituir o dólar. Por enquanto, o franco suíço.


E por aqui?


O Brasil, desta feita, receberá impactos mais fortes que os da crise de 2008. O país, dizem os analistas, gastou muita munição para suportar os efeitos daquela crise. A gastança não teve limites. Somos um território cheio de riquezas. O futuro é promissor. Mas, em termos imediatos, não seremos uma ilha de segurança no meio de um oceano revolto.


Dólar baixo


O dólar chegou ao patamar mais baixo desde 1999: R$ 1,54. A exportação brasileira levanta a bandeira do SOS. E a China abocanha os mercados mundiais.


Gasolina pode subir?


Será que este consultor foi contaminado pelo vírus do catastrofismo, aquele que Fernando Henrique identificava quando presidente da República? Pode ser. Mas não dá para fazer leitura otimista, quando vemos, por exemplo, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, fazer a previsão sobre aumento da gasolina. Segundo Gabrielli, com a crise do mercado de etanol e a alta venda de carros flexíveis, que podem usar a gasolina ou o etanol, houve um aumento de 19% da demanda de gasolina em 2010, fazendo com que nossa capacidade de produção desse combustível chegasse ao limite. As refinarias estariam trabalhando no limite e, por isso, o preço doméstico poderá receber reajuste.


A carta de Pagot


Luiz Antônio Pagot saiu magoado do DNIT. O ex-diretor geral do órgão despediu-se em tom amargurado. Foi aplaudido pelos funcionários. E escreveu uma carta pessoal para a presidente Dilma. Lacrou a carta. O conteúdo deve ser bombástico. Ali deve haver um relato de decisões tomadas e atores responsáveis por elas. Pagot quer dizer que não era ele o único a tomar decisões. Infere-se que os nomes de todos os grandes responsáveis pelas decisões e apadrinhados lá estão.


Decifrando Haddad


Há uma grande interrogação nas frentes políticas sobre as razões que levam o ex-presidente Luiz Inácio a escolher o nome de Fernando Haddad, ministro da Educação, como candidato do PT à prefeitura de São Paulo em 2012. Tentemos decifrar as razões: 1. Lula é muito intuitivo. Conhece profundamente a alma eleitoral. Sabe que o povo gosta de novidades. 2. Haddad encarna a novidade que o maior eleitorado do país quer ver, simbolismo encarnado também pela então candidata Dilma Rousseff; 3. Marta Suplicy, com alta rejeição, tende a cair na reta final de campanha; 4. PT precisa sair da velha pista onde correm os mesmos e velhos atletas; 5. A campanha de 2012 deverá ser caracterizada como um palco de novos atores: além de Haddad, deverão aparecer Gabriel Chalita, pelo PMDB, e um perfil também novo, oriundo do PSDB. Da floresta tucana, o único com feição antiga capaz de boa performance seria José Serra. Que rejeita a candidatura.


Prévias


O desafio de Fernando Haddad é passar pelas prévias. Como se sabe, o PT tem defendido, ao longo de sua história, a realização de prévias partidárias, de onde sai o candidato. Lula, mesmo, já passou por elas. Agora, porém, receoso de que seu candidato, Haddad, perca as prévias para Marta Suplicy, Lula estaria minimizando sua importância. Como se trata do dono da flauta petista (quem é dono da flauta, dá o tom), é provável que não haja prévias na seara petista. A turma da Marta deve chiar.


Um Chile de miséria


A presidente Dilma arrumou um novo mote para embalar o programa Brasil Sem Miséria. Promete tirar das margens sociais "Um Chile de miséria", no caso 16 milhões de brasileiros que vivem nas últimas fraldas da pirâmide social. O discurso tem forte apelo de marketing. Sobre o aspecto operacional, há muitas curvas a serem enfrentadas.


Crime contra a Humanidade


Quem diria, hein, o paraíso terrestre com clima de inferno. A Noruega e os países nórdicos se elevam, na visão de muitas Nações, ao patamar mais alto da excelência de vida. A imagem que se tem deles é a de harmonia, equilíbrio, ajustamento social, respeito ao ser humano, solidariedade, paz. O brutal assassinato de 76 pessoas por um descendente de viking - um rapaz alto e louro - com toques de frieza polar arremata a tese de Samuel P. Huntington, de que a maior ameaça às Nações democráticas provém do fundamentalismo de caráter ideológico/religioso. Esse louco desvairado tem uma visão maniqueísta da civilização. Na longa carta que escreveu, para explicar a monstruosidade que cometeu, chega a criticar, inclusive, o Brasil, pela miscigenação de raças. Deve passar 30 anos na prisão. Será condenado por crime contra a Humanidade.


Mexendo com as panelas


Fugir da azáfama cotidiana em troca de minutos de fruição é um permanente desafio das pessoas que militam na esfera pública. A ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da Justiça, refugia-se na cozinha e gosta de fazer coisas complicadas, como folheados. Tem um livro de Receitas Especiais, de 300 páginas. O ministro do Esporte, Orlando Silva, é um artista na cozinha: faz coisas maravilhosas como vatapá e caruru. O senador Aloysio Nunes Ferreira oferece aos convidados um divino risoto de frutos do mar. O advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, faz uma imbatível picanha. Jarbas Vasconcelos, o senador pernambucano, só recebe elogios quando oferece carne de sol aos convidados. Banhada por longas horas no leite. É bom também no cozido. Deve haver uma boa centena de políticos, ministros e juízes que não fariam vergonha nas melhores cozinhas de São Paulo.


A máfia no mundo


Alessandra Dino e Walter Fanganiello Maierovitch, especialistas em matéria de máfias transnacionais, organizaram e lançaram a obra "Novas Tendências da Criminalidade Transnacional Mafiosa". Reúne, em nove perspectivas complementares, as características das organizações criminosas. "A globalização dos mercados aumentou as oportunidades e os modos de colaboração entre máfias e colarinhos brancos". O livro saiu pela Editora UNESP.


Skaf e as concessões


Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, ergue a bandeira da democratização no campo da energia. Aciona o TCU para que a Corte faça cumprir a disposição normativa de abrir as concessões no setor elétrico, evitando a prática antidemocrática de renovação automática. Nos anos de 2015/2016, deverão ser renovadas 112 concessões de empresas de geração de energia, 9 linhas de transmissão e 27 linhas de distribuição. A abertura das licitações, segundo estudos realizados pela FIESP, traria muitos benefícios à sociedade, a partir, por exemplo, do barateamento do custo da energia.


"Só quero os ócro"


O oftalmologista Manoel Teixeira de Araújo recebeu a mulher em seu consultório, em São João do Sabugi, para um exame de vista. Convidou a paciente para ler a tabuleta, para a qual a apontava: "Por favor, a senhora pode ler estas letras"? Em sua sertaneja ingenuidade, a mulher respondeu com calma e muita convicção: "Doutor, ler mesmo eu não sei não, mas essa menina que tá aqui pode fazer isso por mim. O que eu quero mermo é os ócro. Só os ócro". Divertido causo narrado por Valério Mesquita.


Recesso e tumulto


Cresce a expectativa na esfera política com o fim do recesso do Congresso. O pano de fundo reúne ingredientes que ainda não foram de todo digeridos pelo corpo parlamentar: a faxina no Ministério dos Transportes, a lerdeza no preenchimento de cargos do segundo escalão; a votação da PEC 300 e da Emenda 29; a pauta fiscal/tributária, encaminhada pelo Executivo. Vai haver certo tumulto. Os líderes começam a encomendar escudos mais duros.


Lixo, prioridade um


A questão do lixo, em São Paulo, foi motivo de uma audiência pública no dia 25 último. A logística para a operação do lixo é muito complicada. Quanto maior a área a ser cuidada, maior a complexidade da operação. A questão é: um grupo novo pode, em pouquíssimo tempo, preparar e apresentar um plano de trabalho de alta envergadura ?


200 aterros


Ainda sobre lixo: o Estado de São Paulo precisa regularizar cerca de 200 aterros sanitários para substituírem os famosos lixões irregulares. Coisa urgente. Uma licença para esta atividade aguarda na fila há quase três anos. A situação carece solução urgente, mas o Poder Público retarda o processo. A continuar assim, a regularização dos aterros não será vista por nenhum dos leitores. Coisa de um século.


Igrejas sortidas


Edir Macedo, o bispo-mor da Igreja Universal e comandante do Grupo Record, pede aos fiéis 20 dias de abstinência de comunicação. Nada de TV, rádio, jornais ou revistas. Como ficaria a Record sem os fiéis da Universal? Bem, muito bem. O contingente de telespectadores é pequeno. A Record captou outros públicos. E, claro, com os fiéis enchendo os cultos, mais dízimo. Ou seja, trata-se de uma operação lucrativa. Já a Igreja Mundial do Poder de Deus, do pastor Valdemiro Santiago, está negociando o uso do SBT nas madrugadas. Por uma bolada de R$ 300 milhões por ano.


Sede de poder


Nordeste, capital da sede
E é com sede que a sede cresce
E o Poder a poder da sede
Não deseja que a sede cesse.

Quem sepulta um cristão na rede
Vai vivendo a poder de prece
É sertão num pé de parede
Vendo tudo morrer de "EDE"
Pois ali já beberam o "S".

(Prosa Morena - Jessier Quirino)


Conselho às autoridades monetárias


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos. Hoje, sua atenção se volta às autoridades monetárias:

1. Os EUA estão na iminência de um calote, caso o governo Obama não consiga aumentar o teto da dívida americana em US$ 2,4 trilhões.

2. A Zona do Euro vive intensa expectativa ante a situação crítica da Grécia, que poderá desandar e puxar pela ladeira as pedrinhas do dominó, gerando uma crise em cadeia nas economias interdependentes.

3. Diante dessa moldura, as autoridades monetárias devem abrir todos os sentidos, aproveitando a oportunidade para tomar medidas de precaução, não deixando as decisões essenciais para a última hora.


(Gaudêncio Torquato)

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